Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O sucesso da logística reversa no
Brasil que, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), deve
estar implantada até 2015, pode esbarrar nas distorções das normas, segundo
avaliação do economista Sabetai Calderoni, que preside o Instituto Brasil
Ambiente e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável.
O especialista em economia ambiental alerta para
pontos que definiu como equivocados, como o tratamento previsto para pilhas,
baterias e material eletrônico. Neste caso, segundo Calderoni, a política
determina que a indústria recicle 100% do material utilizado, devolvido pelo
comércio. Uma meta, na avaliação dele, difícil de ser monitorada. “Ninguém vai
controlar quanto o consumidor mandou para o comércio e quanto o comércio mandou
para a indústria. É uma falsa meta. É uma forma de burlar a intenção da lei”,
disse o economista.
Calderoni, no entanto, cita pontos positivos. A
determinação de procedimentos sobre pneus é um exemplo que pode garantir o
sucesso da medida. Pela proposta, a indústria teria que reciclar cinco pneus, a
cada quatro que produzir. “Ou seja, vai reciclar os quatro que produziu e mais
um que estava no estoque, acumulado por um período anterior à existência da
lei”, disse.
O economista acredita que a resposta dos
consumidores a estímulos econômicos pode ser um das soluções para o sucesso na
aplicação da logística reversa. A ideia é reproduzir incentivos como o praticado
há anos no caso de garrafas de bebidas. “Se eu disser que uma pilha nova fica
mais barata, se você levar e entregar a pilha velha, as pessoas vão se
interessar em levar a pilha e não jogar fora. A mesma coisa com a lâmpada, o
computador, celular e as baterias em geral. E não precisa custar mais caro para
a indústria, que pode aumentar o preço um pouco para quem não faz a entrega”,
explicou.
Pelas contas de Calderoni, o custo não seria maior
nem no caso do transporte desse material utilizado, já que as fábricas poderiam
usar o mesmo veículo que leva a mercadoria nova para o comércio para recolher o
produto descartado. A reciclagem desses produtos exige um investimento em
processamento do material. Mas, pela avaliação do economista, esse custo seria
compensado com a energia ou com a matéria-prima que essa reciclagem pode trazer
para os fabricantes.
“Se no final da conta [o fabricante] tiver
prejuízo, é responsabilidade de quem produziu. Ele tem que começar a fazer a
conta. O produtor não pode privatizar lucros e socializar perdas para o meio
ambiente e para as pessoas e não arcar com os custos disso”, disse.
Edição: Aécio Amado
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