Por Priscila Guilayn
(granderio@oglobo.com.br) | Agência O
Globo – dom, 18 de mar de
2012
MADRI - Na Espanha, a consciência ecológica evolui com rapidez e
as três esferas da administração pública (municipal, regional e central) dão
resposta aos esforços dos cidadãos para separar em suas casas as embalagens, os
papéis e os vidros: 66% do lixo são reciclados, sendo que a média europeia ronda
50%. Em 1998, com a aprovação da lei de embalagens, este percentual estava em
4,8%. Com a implantação do Plano Nacional de Resíduos Urbanos, dois anos mais
tarde, que obrigou a construção de plantas de classificação e compostagem, pulou
para 34%. Segundo uma pesquisa recente, em 83% das residências consultadas
existe o hábito de reciclar.
- Está bem visto reciclar e mal visto não reciclar. A evolução na Espanha tem
sido bem rápida, principalmente se levarmos em conta que a reciclagem aqui é
voluntária. Não há multas, como acontece em alguns países, para quem não
recicla. Na Espanha se soube transmitir as vantagens da reciclagem. É uma
conscientização que começa, por exemplo, com as crianças, nos colégios - conta o
engenheiro Paco Colomer, pesquisador do Grupo Ingres (Grupo de Engenharia de
Resíduos), da Universidade Jaume I.
Para dar vazão ao esforço cidadão, costuma haver trios de contêineres - um
para embalagens, outro para papel e outro para vidro - a cada 250 metros,
atendendo uma população de cerca de 500 pessoas. Todo o lixo depositado é levado
para as unidades de classificação e, de lá, encaminhados para reciclagem. O lixo
que a população não seleciona também é classificado nas unidades de compostagem
e cerca de 50% conseguem ser reciclados. Uma parte do que é descartado vira
fertilizante agrícola (no caso dos resíduos biodegradáveis) e a outra é
acumulada como lixo ou é incinerada.
Este trabalho é responsabilidade dos 'sistemas integrados de gerenciamento'
(SIG) de resíduos, empresas sem fim lucrativo custeadas pelas taxas que os
fabricantes de embalagens e as companhias que usam estas embalagens em seus
produtos pagam, financiando assim - além de uma verba municipal - a coleta, a
classificação e a reciclagem: as embalagens que têm o símbolo de um círculo com
duas setas são de empresas que pagam a taxa. Aos SIG estão associadas dezenas de
empresas recicladoras (seleção e transformação dos resíduos previamente
classificados): cerca de 300 de papel, 250 de plástico, 200 de metal e 30 de
vidro. Desta maneira, organismos públicos e privados trabalham juntos para
minimizar a utilização de fontes naturais, muitas vezes não renováveis. O
governo central, através do Ministério de Agricultura, Alimentação e Meio
Ambiente, coordena os SIG; os governos regionais (na Espanha há 17 comunidades
autônomas) fazem os planos de gerenciamento de resíduos; e as prefeituras
recolhem o lixo. Há 18 sistemas integrados de gerenciamento: embalagens; vidros;
remédios; pilhas e baterias; aparelhos elétricos e eletrônicos; aparelhos de
iluminação; óleo (industrial e de cozinha); pneus etc.
O que mais se recicla é o papel (84%), seguido do metal (71%), do vidro (55%)
e do plástico (45%). Na Espanha, o contêiner de 'embalagens' contempla todas que
sejam de plástico, lata e tetra pak. Em 2011 a reciclagem atingiu mais de 1,2
milhão de toneladas de embalagens, ou seja, mais de duas em cada três embalagens
consumidas.
Com a crise econômica, aumentou muito o número de catadores (na Espanha são
chamados de 'rebuscadores'), principalmente de metais, que é o mais rentável -
conta Paco Colomer.
Embora haja boa vontade por parte dos espanhóis, a reciclagem é um
aprendizado: nos contêineres de plático costumam ser encontrados 20% de resíduos
classificados de maneira errada; 5% nos de vidro, e 10% nos de papel.
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