RIO - Mesmo se toda a população do Rio participasse da cruzada
pela reciclagem, a Comlurb não estaria estruturada para tanta demanda. Das três
usinas de separação de lixo, que custaram aos cofres públicos R$ 79 milhões, uma
foi desativada, outra funciona com um terço de sua capacidade e a terceira opera
precariamente.
Inaugurada durante a Rio-92, com pompa e circunstância, a usina de triagem do
Caju sempre foi uma dor de cabeça para os gestores ambientais da prefeitura.
Segundo a atual administração da Comlurb, o Rio comprou gato por lebre: a
tecnologia francesa já estava defasada.
Usina do Caju, uma constante dor de cabeça
A usina do Caju teria dupla função: a de compostagem (processo de
transformação da matéria orgânica em fertilizante) e a de separação do material
reciclável, para ser devolvido ao setor produtivo. Mas não foi o que
aconteceu.
- Compraram em 1992 (no governo do prefeito Marcello Alencar) uma tecnologia
totalmente ultrapassada. A usina então não fez nem a compostagem nem a
reciclagem da maneira adequada. Tanto que, dois anos depois, fechou as portas.
Em 2000, por força de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) exigido pelo
Ministério Público estadual, a usina voltou a funcionar. Só que ela tem
capacidade de processar mil toneladas por dia, metade para o orgânico e a outra
metade para o reciclável. Hoje processa em torno de 300 toneladas, sendo apenas
10% de material reciclável. Na verdade, a usina não tem uma manutenção constante
- diz o gerente da usina do Caju, José Emídio de Araújo Neto, acrescentando que
a Comlurb já negocia para que a iniciativa privada assuma a unidade.
Secretário municipal de Obras na gestão de Marcello Alencar entre 1989 e
1992, o atual deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) argumenta que o
problema não foi a tecnologia ultrapassada das usinas:
- A tecnologia era francesa e considerada de ponta. O problema foi falta de
manutenção ao longo do tempo. Ajustes teriam de ter sido feitos.
A falta de cuidados técnicos indispensáveis à operação da usina do Caju é
facilmente observável. Apenas uma das duas unidades de separação funciona. E o
lixo domiciliar orgânico é jogado no mesmo fosso do reciclado, não havendo
divisão entre eles.
- É claro que seria melhor se houvesse um fosso só para lixo reciclável -
disse um funcionário, sem se identificar.
A 31 quilômetros do Caju, a Usina de Jacarepaguá, inaugurada em 1993, mantém
galpões vazios, onde deveria haver a separação do lixo. A estrutura chama a
atenção pela grandiosidade, em contraste com a falta de atividade. De acordo com
a presidente da Comlurb, Angela Fonti, com o surgimento de condomínios de classe
média alta no entorno da usina - localizada numa área residencial - houve muitos
protestos contra a presença das instalações, levando a empresa a
desativá-las.
Na usina de Irajá, em operação desde 1977, sequer há esteiras para a
separação do lixo. Nesse quadro, o percentual de 0,27% de reciclagem parece até
muito.
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