sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Pesquisador do JBRJ participa de estudo sobre árvores da Amazônia publicado na Science

Pesquisador do JBRJ participa de estudo sobre árvores da Amazônia publicado na Science
21/10/2013

O estudo “Hyperdominance in the Amazonian Tree Flora”, publicado em 18 de outubro de 2013 na revista Science, estima que a Amazônia abriga 16 mil espécies de árvores, e que metade de todas as árvores da floresta, cujo total pode chegar a 400 bilhões, pertence a apenas 1% das espécies. Ou seja, há 227 espécies arbóreas hiper-dominantes naquele bioma. A pesquisa envolveu especialistas de 120 instituições de todo o mundo, incluindo 25 pesquisadores brasileiros, entre os quais o diretor de Pesquisas Científicas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rogério Gribel.
O estudo foi liderado por Hans ter Steege, pesquisador do Naturalis Biodiversity Center, no sul da Holanda, e resulta da análise de dados de 1.170 levantamentos florestais em todos os principais tipos florestais da Amazônia. “Esta meta-análise chama a atenção, de forma pioneira, não somente para a ocorrência de cerca de duas centenas de espécies dominantes na floresta amazônica, mas também para a existência de milhares de espécies que são naturalmente muito raras, e que contribuem com a maior parte da diversidade das árvores da floresta” diz Rogério Gribel.
O professor Ken Feeley, da Florida International University e pesquisador do Fairchild Tropical Botanical Garden explica que “a presença destas espécies hiper-dominantes talvez nos ajude a obter um entendimento razoável de como a Amazônia funciona, e mais importante, como irá ou não funcionar no futuro. Uma vez que entendemos a ecologia destas espécies, nós teremos pelo menos metade das peças necessárias para montar o quebra-cabeça que é a Amazônia.”
Em contraste com a presença das hiper-dominantes, o estudo também indica que cerca de 6.000 espécies de árvores da Amazônia são naturalmente muito raras, tendo provavelmente populações menores do que 1.000 indivíduos, o que automaticamente as qualificaria para inclusão na Lista de espécies ameaçadas pelos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). De fato, algumas dessas espécies são tão raras, que os cientistas talvez nunca as encontrem. Miles Silman, um ecólogo da Wake Forest University e co-autor do trabalho, chama esse fenômeno de ‘matéria escura da biodiversidade’. “Dois terços das espécies de árvores da Amazônia são mais difíceis de encontrar do que uma agulha num palheiro. Esta é a mesma situação na cosmologia, onde nós sabemos que existe muito material no universo que não podemos ver. Os físicos chamam isso de ‘matéria escura’. Na Amazônia sabemos que estas espécies super-raras representam uma grande parte do sistema, mas encontrá-las é difícil mesmo” diz Silman.
Os dados da pesquisa não revelam a razão pela qual 227 espécies são hiper-dominantes. Entre as possíveis explicações, os autores sugerem que algumas dessas espécies talvez sejam comuns por terem sido cultivadas pelos grupos indígenas antes de 1492, mas isso ainda é um assunto em discussão. Outra questão que instiga os pesquisadores, segundo Gribel, é como as populações das outras espécies, extremamente raras, conseguem se manter: “Como elas se reproduzem? Como os polinizadores podem localizar e se movimentar entre os poucos indivíduos destas espécies, no meio de uma matriz com milhões de copas de outras árvores? Como suas sementes são encontradas pelos animais e dispersas? Seria a raridade uma estratégia para evitar patógenos e predadores? Talvez ocorram adaptações complexas, que ainda não conhecemos, permitindo a manutenção no longo prazo de milhares de espécies super-raras na Amazônia”.
Esses e outros questionamentos mostram que a descoberta das hiper-dominantes, embora seja importante, está longe de ser suficente para dar conta do conhecimento necessário à compreensão da Amazônia. “Se temos esperanças de entender e proteger espécies raras, e consequentemente toda a diversidade da floresta tropical, nós vamos necessitar muito mais que 1.000 levantamentos florestais” diz Feeley.
Leia o artigo completo (em inglês)
http://www.sciencemag.org/content/342/6156/1243092.abstract?rss=1

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