Publicação: 10/08/2012 15:38 Atualização:
Todos os dias o ser
humano produz lixo. São as garrafas plásticas dos refrigerantes, o resto da
comida do almoço, os vidros, milhões de embalagens e por aí vai. Em uma escala
maior, há também os resíduos produzidos pela agricultura, mineração, indústria,
produção energética, entre tantos outros processos. Ao fim de cada ano,
estima-se que o mundo produza quase um bilhão de toneladas de lixo, de acordo
com a Organização das Nações Unidas (ONU). Mas, disso tudo, o que, de fato, é
resíduo e tão somente desperdício?
Grande parte do que é tratado enquanto
lixo pode se tornar verdadeiro tesouro se bem aproveitado, segundo a edição de
hoje da revista Science. A publicação científica, uma das mais renomadas do
mundo, dedicou várias páginas a uma série especial sobre o lixo produzido nos
mais diversos países. Além de pontuar os problemas, destacou formas inteligentes
encontradas por cientistas e engenheiros para trabalhar com os resíduos para
minimizar o impacto ambiental e transformá-los em produtos rentáveis. No ditado
brasileiro, aquela história de transformar o lixo em
luxo.
Confira, na íntegra, a entrevista feita com Rodrigo
Sabatini,presidente do Instituto Lixo Zero Brasil, sobre a questão da produção e
destino final do lixo no país.
A Science
é uma das mais renomadas revistas científicas do mundo. Como o senhor encara uma
edição inteira dedicada ao tema do lixo? Qual é a importância dessa
discussão?
Fundamental. Esperamos que este tema cresça cada vez
mais em todos os veículos de comunicação, desde os programas, documentários, até
as propagandas de uma forma geral, materiais institucionais, discussões nos
meios educacionais, indústria, domicílios, bairros, etc.
O tema tem se
destacado mais freqüentemente em grandes mídias nos últimos dois anos. Na
televisão também, algumas emissoras de grande repercussão têm dado destaque ao
tema no Brasil e mundo. Mas é preciso que ele seja incorporado no dia-a-dia das
pessoas, global e localmente, para que as atitudes mudem automaticamente. O
problema é de todos. O que é gerado no outro lado do mundo está tendo
conseqüências aqui e vice-versa. É um assunto complexo, especialmente porque
envolve mudanças de comportamento, valores, atitude e sérias questões políticas
e econômicas.
O Instituto Lixo Zero Brasil busca trabalhar a
co-responsabilidade de todos neste assunto, reunir empresários, organizações,
órgãos públicos e os cidadãos comuns para discutir o assunto e quanto mais a
mídia trata o assunto, mas as pessoas despertam o interesse para gerar
mudanças.
Como é o panorama do lixo no
Brasil? Produção e destinação final?
Nossos relatórios e dados
geralmente se baseiam em organizações importantes como: ABRELP, IPEA e IBGE e
SNIS, CEMPRE.
De acordo com o Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos
Urbanos, realizado pelo SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento),
referente ao ano de 2007, a quantidade de lixo coletado diariamente por um
brasileiro gira em torno de 0,71Kg por cada habitante nas cidades menores (com
até 30 mil habitantes) e 1,17 Kg nas cidades com mais de três milhões de
moradores. Deste montante aproximadamente 50% é orgânico, 30% reutilizável ou
reciclável e 10% é o rejeito ou o que realmente consideramos lixo. Mas
poderíamos reduzir este percentual de lixo/rejeito a 5%.
No Brasil,
segundo a ABRELP - Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(de 2009), das 150 mil toneladas de lixo coletadas por dia no Brasil, 43% não
têm destinação final adequada, e apesar de ter sido constatada uma evolução na
adequação da destinação do RSU(resíduos sólidos urbanos) de 2008 para 2009, este
montante, que representa quase 22 milhões de toneladas por ano, ainda é disposto
de forma inadequada em aterros não controlados ou lixões, que não garantem a
devida proteção ambiental.
A produção de resíduos per capta aumentou em
6,6% de 2008 para 2009. Um estudo sobre a relação do brasileiro com o lixo,
consta que 6,7 milhões de toneladas destes resíduos deixaram de ser coletados no
ano de 2010, e, por conseqüência, tiveram destino impróprio. O país perde cerca
de R$ 8 bilhões por ano por deixar de reciclar os resíduos que poderiam ter
outro fim, mas que são encaminhados aos aterros e lixões das cidades
(IPEA);
O potencial de reciclagem ainda é muito inferior ao potencial
apontado pelo IPEA que é de 30,4% de materiais recicláveis. O Brasil ainda
possui 2.906 lixões distribuídos por 2.810 municípios que precisam ser
erradicados até 2014, segundo informação do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), sobre o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS);
Os
aterros sanitários são considerados locais adequados por serem devidamente
impermeabilizados e equipados com sistemas de proteção ambiental e à saúde. Já
os lixões a céu aberto e aterros controlados são considerados inapropriados por
serem terrenos sem condições técnicas para o depósito de resíduos
sólidos.
No Brasil, a maioria de
nossos resíduos vai parar nos aterros. Essa é a melhor
solução?
Métodos como a incineração seria melhor do ponto de vista
ecológico e econômico?Não é a melhor solução, contudo, para o Brasil, pode ser
considerado a solução mais viável economicamente. Já ecologicamente falando,
somente poderá ser uma solução viável se estivermos falando de Aterros
Sanitários, que são espaços planejados e preparados para a deposição final de
resíduos sólidos, para captar e tratar dos gases/líquidos resultantes e devem
seguir uma série de normas e regulamentos, diferentes do que vemos hoje (aterros
controlados e lixões).
Não é tão fácil se chegar a um consenso pois ambos
apresentam razões mais ou menos válidas, com valores muito relativos que
dificultam um acordo. Também depende da realidade da localidade, país, etc. No
Brasil, nossa dimensão territorial ainda nos permite ter aterros (com limites e
prazos de uso), o que não acontece em outros continentes, países menores. Na
Europa grande maioria dos resíduos é direcionada para os incineradores,
principalmente por questões de espaço físico e geração de energia. Mas há outros
fatores envolvidos nesta decisão. O ideal seria que atingíssemos a Meta Lixo
Zero, ou metas de redução constantes. Quanto menos lixo, menor a necessidade de
aterros ou incineradores. Mas o caminho é longo.
Como podemos aproveitar o nosso lixo de forma
inteligente e sustentável?
Tudo começa pelo ato de consumo e nas
escolhas que fazemos a todo instante. O Instituto adota e defende os Conceitos
Lixo Zero para cidadãos e organizações, são ações práticas que consistem
em:
Comprar produtos mais duráveis e dizer não aos descartáveis.
Não
utilizar copos plásticos (ter uma caneca próxima), usar menos papel, reutilizar
produtos (garrafas de água, utensílios em geral), isso significa pensar em todas
as formas de utilização do objeto antes de se desfazer deste no que a maioria
chama de lixo, mas que está cheio de recursos descartados de forma
impensada.
Buscar pontos de coleta seletivas ou quem colete utensílios que
não serão mais reaproveitados em casa/escritório, mas poderão ser aproveitados
nas mãos de outras pessoas, etc.
A internet já disponibiliza formas
diferentes de reuso e reciclagem com os mais diferentes objetos. Vale a pena uma
reportagem só sobre reutilização de materiais com tudo o que pode ser feito.
Utensílios domésticos, decoração de casa, construções sustentáveis e criativas
com reaproveitamento de resíduos, etc.... Móveis, com madeiras recicladas e
pneus, carteiras e bolsas feitas de tetra pack, sacolas feitas de restos de
banners, tapetes (restos de tecido).
Separar o orgânico. Parece simples,
mas tão difícil das pessoas fazerem ainda. Já há diversas formas de separar o
orgânico do resíduos seco. É preciso dar uma destinação, mas não faltam
alternativas: Há composteiras práticas, minhocários para apartamentos e outras.
Com isso já se reduz 50% do nosso lixo doméstico.
As pessoas precisam
agir mais, buscar criatividade e principalmente mudar hábitos.
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