Favela de país africano tem o maior depósito mundial de e-lixo, com toneladas de eletrônicos de vários países, descartados de maneira incorreta
Fernando Poffofernando.poffo@folhauniversal.com.br
Novidades eletrônicas não param de ser lançadas e o consumidor, seduzido pela última geração da vez, faz questão de “se atualizar”. Não seria melhor pensar na real necessidade da compra? Como cada produto é fabricado e onde o antigo é despejado?
O cineasta David Fedele precisou de 3 semanas para produzir o filme “e-wasteland” (terra do descartável), que mostra, em 20 minutos, imagens do maior lixão de eletrônicos do mundo. “Eu queria exibir visualmente um ambiente peculiar, mostrá-lo do modo mais verdadeiro e dar às pessoas a responsabilidade de pensar sobre essas questões”, disse Fedele ao site “Mongabay”.com sobre o que o motivou a fazer o documentário.
Situada em Acra, capital de Gana, a favela de Agbogbloshie virou um depósito de eletrônicos de países de todos os continentes. É grande a chance de consumirmos no Brasil um material que ajuda a abastecer as milhões de toneladas do lixão exibido por Fedele, um dos existentes na África – continente que recebe até 50 milhões de toneladas do e-lixo descartado no mundo.
Em Agbogbloshie, mais de 40 mil pessoas sobrevivem separando e queimando lixo para transformá-lo e vendê-lo em seguida. A necessidade faz com que elas convivam com materiais extremamente tóxicos como chumbo, cádmio e mercúrio, entre outros. “Esses materiais contaminam o solo, as águas, os vegetais, são absorvidos por animais e, no topo da cadeia alimentar, os homens acabam consumindo metais pesados, que muitas vezes são cancerígenos, causam problemas cardiorrespiratório, neurológicos”, aponta Helio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu, organização que trabalha pela mobilização da sociedade para o consumo consciente.
Apesar dos registros de Fedele serem de Gana, a situação do e-lixo é preocupante no Brasil. O mais recente relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) aponta que o País é o que mais gera lixo eletrônico por habitante, a cada ano, entre as nações emergentes. O e-lixo descartado por pessoa, no Brasil, equivale a 0,5 (meio) quilo por ano, enquanto na China a taxa por pessoa é 0,23 quilo e, na Índia, 0,1 quilo. E não há sinais de queda desse consumo. “Há uma estimativa que só em 2012 serão descartados 122 milhões de celulares no Brasil, 400 mil por dia”, alerta Mattar, que não tem dados sobre outros eletrônicos, mas lembra que só 60% de todo lixo do Brasil é descartado corretamente, o que revela o risco tóxico representado pelo e-lixo nacional.
A questão do celular faz Mattar chamar a atenção para o consumidor, que, segundo ele, precisa ser mais criterioso na hora de comprar ou trocar qualquer produto. “As pessoas são o que são, e não o que compram. Comprar por status é uma forma de se depreciar. O pior é que muitas pessoas se endividam para ter algo que não precisam. Assim, desvalorizam o próprio trabalho. O que importa na vida são as relações. A pessoa deve pensar no bem-estar e não em comprar”, diz.
Descarte correto no Brasil
Segundo o Instituto Akatu, 28% dos consumidores desejam reciclar o que consomem. No caso dos produtos eletrônicos, não existe um serviço federal para o problema, mas os sites das secretarias estaduais indicam locais adequados para o descarte desse material, assim como entidades não governamentais como a www.e-lixo.org ewww.cempre.org.br/locaisreciclagem.php. Para quem mora em São Paulo, vale consultar o sitewww.coopermiti.com.br
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