Já foi provado que o desenvolvimento de uma sociedade sempre
é proporcionalmente inverso à quantidade de lixo que ela produz. Isso não
significa que as sociedades mais abastadas produzem menos detritos. Nos países
de primeiro mundo a reciclagem já é um hábito arraigado e ao olhar estrangeiro é
um absurdo que povos com recursos mais escassos, como o Brasil, por exemplo,
ainda não tenham despertado para a enorme economia que se pode fazer com este
processo e a reutilização da maior parte do que é dispensado, literalmente, como
lixo. As correntes ecológicas já hastearam a bandeira da reciclagem, mas, na
prática, ainda falta muito que esclarecer à população, pois a maior parte do
pouco que é reciclado vem de ações isoladas da indústria, o que explica que
apenas 2% de todo o lixo produzido no País seja reaproveitado, segundo
Associação das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro). Nesse cenário, nenhum
material é mais injustiçado que um componente que há anos embala os nossos
alimentos e bebidas, além de servir para uma infinidade de usos industriais,
domésticos e construção civil: o vidro. Acredita-se, erroneamente, que o fato do
vidro ter um prazo de decomposição indeterminado no meio ambiente torne o
produto, ainda que indevidamente descartado em rios e aterros, uma ameaça à
flora e à fauna local; mas o que pouca gente sabe é que, de tudo que é produzido
pelo homem, o vidro é o material que menos agride o ambiente e não causa dano à
vida, sendo o que melhor se integra à natureza. Claro que isso não diminui a
necessidade de que se tenha cada vez menos vidro nos lixões e aterros. Mas o
motivo principal não é para diminuir a quantidade de lixo e, sim, aproveitar uma
matéria-prima muito desperdiçada, capaz de causar um impacto real na economia e
vida local, com ações que não requerem grandes investimentos. O aspecto mais
interessante do ponto de vista ecológico e econômico é que as embalagens de
vidro, além de reutilizáveis e retornáveis, são as únicas 100% recicláveis. Ou
seja, um quilo de vidro (seja como embalagem inteira ou mesmo em ‘cacos‘) pode
ser ‘remoldado‘ dando origem a exatamente um quilo de vidro novo, que pode ser
reciclado outras vezes. Isso significa uma exaustão de matérias-primas naturais
muito menor. Dados coletados pela Abividro mostram que das cerca de 800 mil
toneladas de vidro produzidas por ano no Brasil para embalagens apenas 35% são
recicladas, um índice muito baixo em relação, por exemplo, a Alemanha (cerca de
75%) ou a Suíça (cerca de 84%). O que ajuda esses países a terem índices altos,
além da oferta maior de informação à população, é a herança cultural que coloca
o vidro como um vasilhame nobre e indicado para o comércio de alimentos.
Enquanto isso, por aqui, fabricantes que têm como público-alvo os consumidores
mais exigentes e uma excelência maior em seus produtos sabem que o vidro é o
único material que não compromete o paladar ou a aparência do conteúdo, pois
dispensa qualquer ingrediente químico para adaptar-se a embalagem. O vidro está
para a indústria de bebidas e alimentos assim como a seda ou o algodão está para
a indústria têxtil. A sua nobreza e o seu valor são automaticamente absorvidos
pelo seu conteúdo. Vinhos e cervejas são os melhores exemplos de como essa
embalagem é indispensável em produtos cujo sabor é determinante. O que se espera
da indústria de bebidas e alimentos é que ela desperte para as possibilidades de
reciclagem. O consumidor brasileiro está cada vez mais exigente, seja em relação
ao que consome, seja na sua responsabilidade social, portanto, o toque de
despertar para essa consciência já está dado.
Fonte: Américo Denes (Gazeta
Mercantil)
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