sábado, 14 de dezembro de 2013

Menos sujeira, mais dinheiro para as empresas

Menos sujeira, mais dinheiro para as empresas


São Paulo – A americana P&G, uma das maiores empresas globais de bens de consumo, anunciou recentemente com alarde que 48 fábricas, de um total de 158 que tem por todo o mundo, realizaram a façanha de não enviar mais para aterros sanitários sequer 1 grama de lixo.
Entre elas a fábrica da companhia em Manaus, que desde 2012 converte o lodo de sua estação de tratamento de efluentes em combustível para fornos de cimenteiras e reutiliza rebarbas das hastes das lâminas da Gillette, antes descartadas, na produção de novos aparelhos de barbear. O anúncio da P&G é fruto de um movimento que começou lá fora há menos de uma década e vem ganhando força no Brasil: a onda zero waste, por aqui chamada de “aterro zero” ou “resíduo zero”.
A primeira fábrica da P&G a abandonar os aterros foi a de Budapeste, na Hungria, em 2007. Outras companhias, como a empresa química DuPont e a montadora GM, entraram na onda logo depois. Todas elas motivadas por uma razão pragmática: nos países ricos, o custo da disposição dos resíduos em aterros está cada vez mais alto.
Na Europa, desde 2004 a legislação ambiental impõe uma série de impostos sobre a prática. Lá, o preço médio que uma empresa paga hoje para aterrar 1 tonelada de lixo é 140 euros. Aqui, mandar o lixo para os aterros é bem mais barato: o valor oscila de 60 a 120 reais por tonelada devido à concorrência desleal com formas inadequadas de disposição, como lixões clandestinos.
Há, porém, uma tendência inexorável de que esse custo suba e, por isso, as empresas estão se mexendo. Além disso, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em 2010, prevê que as companhias façam uma gestão mais criteriosa de seus resíduos. Outro fator é que a maioria não quer ter suas fábricas associadas a imagens de poluição e sujeira.
Na corrida rumo ao “aterro zero”, as empresas no Brasil estão em estágios diferentes de evolução. A fábrica da P&G em Manaus é a única da companhia no país que já se livrou dos aterros, mas suas outras quatro unidades localizadas aqui devem se juntar ao grupo em breve — todas têm um índice de aproveitamento de resíduos igual ou superior a 80%.
O desempenho da Ambev, que tem 36 fábricas, é ainda mais surpreendente. Sua unidade de Manaus já rea­proveita 100% dos resíduos, e todas as demais estão prestes a chegar lá. O que move a companhia de bebidas não é só o desejo de não mandar nada para aterros. Os gerentes das fábricas perseguem metas agressivas de geração de receita a partir de tudo o que sobra da produção de cervejas e refrigerantes.Rico em proteínas, o bagaço de malte, um subproduto do mosto — mistura de água, malte e lúpulo que forma a base da cerveja —, é vendido a fabricantes de ração animal. Com essa e outras práticas de reaproveitamento, 96 milhões de reais foram adicionados ao caixa da empresa em 2012. “Somos pressionados para que essa receita cresça a cada ano”, diz Beatriz Oliveira, gerente de meio ambiente da Ambev.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo sua participação e opinião !