terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Como cuidar do lixo e do esgoto sem gerar gases de efeito estufa?

Como cuidar do lixo e do esgoto sem gerar gases de efeito estufa?Débora Spitzcovsky 

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Apenas 48% das casas brasileiras têm esgoto sanitário, segundo o Ministério das Cidades, e cerca de 30% dos municípios do país não têm nenhuma iniciativa de coleta seletiva, de acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Os números – comentados por especialistas durante o seminário de lançamento do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil, promovido em 07/11, em São Paulo, pelo Observatório do Clima – deixam claro que a população do Brasil ainda sofre com a ausência de serviços básicos.
Na lista de desejos (e necessidades) dos brasileiros, a universalização do acesso ao serviço de saneamento básico e a destinação correta dos resíduos produzidos no país estão entre as primeiras posições. “Mas melhorar esses serviços implica em aumento considerável de emissões, o que exige estratégia do Brasil”, alerta Renato Morgado, pesquisador do Imaflora e um dos responsáveis pela produção daEstimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil 2012 na área de resíduos sólidos.
Morgado revelou que o setor de resíduos ainda é o menos expressivo (3,2%) na matriz de emissões brasileiras, mas está aumentando sua participação. Entre 1990 e 2012, a liberação de gases de efeito estufa do setor cresceu 67%, passando de 29 MtCo2e para 46,9 MtCo2e. E a tendência é aumentar ainda mais.
Políticas como o Plano Nacional de Resíduos Sólidos e o Plano Nacional de Saneamento Básico instituem medidas importantíssimas para o país, mas provocam oaumento de emissões no setor de resíduos sólidos. Morgado explica por quê: “Os resíduos de um lixão têm potencial 1 de geração de GEE, enquanto um aterro sanitário, com melhores condições anaeróbicas, tem potencial 2,5. No tratamento de esgoto acontece o mesmo: quando os resíduos são jogados numa lagoa ou reator anaeróbico, eles produzem oito vezes mais metano do que se fossem despejados num rio qualquer”. (Leia também: Substituir lixões por aterros aumentará emissão de metano)
A solução? A melhoria dos serviços de saneamento e a destinação correta de resíduos têm que ser implantadas junto com políticas que estimulem a captação e o reaproveitamento desses gases poluentes para a geração de energia. “Até porque em ambientes mais propícios, como os aterros sanitários, a captação desses gases é bem mais fácil”, comenta Morgado. Segundo a Abrelpe, o Brasil tem potencial para produzir mais de 280 megawatts de energia a partir do biogás capturado em unidades de destinação de resíduos sólidos, o que daria para abastecer cerca de 1,5 milhão de pessoas.
MENOS PRODUÇÃO E CONSUMO
Convidado para debater o tema, Carlos Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe, lembra que ações para reduzir o consumo e incentivar a reciclagem também são fundamentais para diminuir as emissões do setor de resíduos. “A geração de lixo no Brasil está numa curva ascendente e tem relação com o aumento do poder aquisitivo das pessoas. Em 10 anos, a produção de resíduos cresceu 21%, enquanto a população aumentou 9,65%”, afirma Silva Filho, que completa: “Não é possível reduzir emissões sem reduzir o consumo”.
Juliana Simões Speranza, pesquisadora do Núcleo de Economia Socioambiental da FEA-USP, concorda e acredita que repensar as formas de produção também é importante. “Temos que desmaterializar a economia, o que significa diminuir a quantidade de materiais e resíduos na fonte. Quando o assunto é lixo, o conceito deresponsabilidade compartilhada no Brasil é muito forte e isso é positivo, mas às vezes tira o foco dos grandes players. As empresas têm o dever de rever sua forma de produção”, diz Speranza.
Confira os principais resultados da Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil 2012, produzida pelo SEEG, no setor de resíduos
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(clique aqui para ver o infográfico em tamanho real) 
Foto: Agência Brasil

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