A era do computador que aprende – e age – sozinho
De acordo com a IBM, os próximos cinco anos serão marcados pela popularização de computadores capazes de reconhecer as necessidades dos usuários, e atendê-las prontamente
RAFAEL CISCATI
Kindle
E se os computadores pudessem interagir com as pessoas, reconhecer suas necessidades e, sozinhos, realizar atividades complexas? Era nisso que Fábio Gandour, cientista chefe da IBM Brasil, pensava no começo do ano, enquanto tentava entrar em contato com seu banco. Durante uma viagem aos Estados Unidos, o cartão de crédito de Gandour foi bloqueado. Baseado no histórico de compras do cientista, os computadores do banco acharam que algo estava estranho – afinal, as compras eram feitas em outro país – e que havia chances de o cartão ter sido roubado. Não tinha. Ao tentar telefonar para resolver o mal entendido, Gandour deu de cara com linhas telefônicas ocupadas e funcionários desinformados. “Mas, e se o mesmo computador que bloqueou meus cartões percebesse que eu estava tentando entrar em contato com o banco e relacionasse as duas coisas para resolver meu problema?”. Esse tipo de máquina, capaz de entender o que se passa no ambiente e agir por conta própria, compõe aquilo que os cientistas chamam de computação cognitiva. Para a IBM, gigante do setor de tecnologia, serão elas as protagonistas das principais inovações tecnológicas dos próximos cinco anos.
Anualmente, a IBM publica uma previsão do futuro tecnológico para os 5 anos seguintes: o IBM 5 IN 5. Para a empresa, esse exercício ajuda a definir os rumos que a companhia deve tomar em suas pesquisas. Segundo a edição de 2013, divulgada nesta terça-feira (17), os próximos cinco anos serão marcados pelo uso cotidiano de computadores que aprendem e interagem com o ambiente. As inovações devem afetar cinco principais áreas: a forma como aprendemos nas escolas; a forma como compramos; a forma como organizamos nossas cidades; as maneiras como cuidamos de nossa saúde e de nossa segurança.
O flerte da IBM com computação cognitiva é antigo. Remonta a 2003, quando a empresa divulgou o projeto do Watson, seu sistema inteligente capaz de interagir com seres humanos. O Watson ficou famoso quando, em 2011, venceu um popular jogo de perguntas e respostas na TV americana, competindo contra dois jogadores humanos.
No ano passado, as apostas da empresa para o futuro já incluíam a popularização de aparelhos com essas habilidades, e previam a adoção de tecnologias capazes de imitar os sentidos humanos: celulares que transmitem a textura de roupas à venda do outro lado do mundo e sensores inteligentes capazes de escutar os sinais do ambiente para prever uma enchente, por exemplo. Este ano, a IBM retoma o tema para reavaliar o impacto – e as possíveis aplicações – da computação cognitiva no cotidiano das pessoas. “A gente tinha uma visão muito otimista do mundo no ano passado”, diz Gandour. “Achamos que a disseminação desses conceitos seria muito mais rápida”.
Em 2013, uma das previsões mais ousadas diz respeito ao setor de varejo. Menos pela tecnologia utilizada que pelo fator comportamental envolvido. Em 2012, as compras pela internet alcançaram a cifra de US$1 tri em todo o mundo, e continuam a crescer. Mesmo assim, de acordo com a IBM, os próximos cinco anos vão assistir ao desenvolvimento das lojas físicas, em prejuízo das compras online. “Se as vendas online continuarem a crescer, o mundo vai ficar muito sem graça”, diz Gandour. “A evolução da tecnologia de vanguarda é pendular. Vai e volta até encontrar um ponto de equilíbrio. O mesmo deve acontecer com as vendas online”. De acordo com o relatório, os comerciantes locais vão aprender a driblar a web, incorporando as melhores experiências disponíveis na internet ao mundo offline. As lojas poderão tornar visível a avaliação dos consumidores em relação a dado produto. Ou usar o histórico de compras do cliente para prever preferências e próximas aquisições. Ao abordar o cliente, o vendedor saberá exatamente o que ele precisa e o que quer. Tudo isso de maneira quase automática, a partir de dados armazenados online.
A previsão contraria as tendências atuais, mas a IBM já trabalha em aplicativos capazes de, se usados em lojas físicas, oferecer experiências similares a essas. Resta saber se essas ferramentas vão se tornar populares. Gandour diz estar seguro. Tem motivos para isso: a empresa coleciona acertos. Em 2008, o IBM 5 in 5 preconizava a utilização de mapeamento genético para prever e evitar doenças. Hoje, a técnica existe e, apesar das críticas quanto a sua eficácia, vem se popularizando: é possível examinar seus genes para prever, inclusive,qual o melhor exercício físico para você. Mas a empresa também comete seus excessos – em 2007, anunciava que, até 2012, nossos “celulares seriam capazes de ler mentes”. Ainda não chegamos lá. Quem sabe nos próximos cinco anos.
O que esperar do futuro...
...nas escolas – As salas de aula entenderão as necessidades de cada aluno. A partir de dados armazenados online, o professor vai poder descobrir quais as principais dificuldades e aptidões de cada estudante, para oferecer programas de ensino individualizados.
...na medicina – Baseados na análise de seu DNA, os médicos poderão definir qual o melhor tratamento para cada tipo de câncer. Um computador inteligente poderá vasculhar bases de dados de registros médicos e, cruzando esses dados com as características de cada paciente, indicar tratamentos personalizados. Bastará ao médico perguntar.
...na segurança pessoal – Mais de 12 mil pessoas tiveram suas identidades roubadas nos Estados Unidos em 2012. Senhas, aparentemente, não bastam para evitar esse tipo de fraude. Um computador inteligente, que conhecesse seus hábitos de consumo, poderia evitar que falsários fizessem compras em seu nome. Segundo a IBM, esse tipo de “guardião digital” será popular até 2018.
...na vida urbana – Até 2050, sete em cada dez pessoas viverão em cidades. A tecnologia pode ajudar a tornar a convivência dessa população menos conflituosa. Seu celular vai saber que lugares você gosta de frequentar, e poderá te avisar da realização de um novo evento que possa te interessar. Mais que isso, sistemas inteligentes podem avaliar quando há mais pessoas nas ruas, e aumentar ou diminuir o número de ônibus em circulação.
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