SÃO PAULO E RIO - O Itaú Unibanco anunciou na segunda-feira que vai doar R$ 1 bilhão para um fundo que coordenará ações de apoio ao SUS e a estados e municípios na crise do coronavírus. A doação é a maior já feita no Brasil para uma causa única e eleva a pelo menos R$ 2,2 bilhões o valor levantado em filantropia no país para o combate aos efeitos da pandemia, segundo a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR).
A conta não considera, porém, doações de valor não divulgado, como a compra de testes por Vale e Petrobras.
A doação para a criação do fundo Todos pela Saúde se soma a outros R$ 250 milhões que o banco já havia divulgado. Os recursos sairão do caixa do banco, sem usufruir de qualquer benefício fiscal, e ficarão em um fundo dentro da Fundação Itaú Unibanco, sob a gestão de um time de sete médicos e especialistas em saúde liderados por Paulo Chapchap, diretor do Sírio Libanês.
O fundo Todos pela Saúde ficará aberto para receber doações de outras empresas e atuará de forma coordenada com gestores estaduais e municipais na gestão da crise.
O presidente do Itaú, Candido Bracher, disse acreditar que os investidores do banco concordarão com a doação, que foi aprovada por unanimidade pelos acionistas controladores e pelo conselho:
- Nenhuma instituição pode ser melhor do que o país em que ela se encontra. Achar que uma instituição pode ir bem num país que não vai bem não está certo. Tenho certeza de que os acionistas saberão reconhecer que o Itaú está assumindo sua responsabilidade como cidadão corporativo.
O presidente do Itaú também respondeu a críticas de que a doação, embora expressiva, represente uma fração de 3,5% do lucro do banco no ano passado, de R$ 28,4 bilhões:
- Podemos sempre discutir o percentual. Mas essa é a maior doação privada já feita no Brasil para uma causa específica. E é muito importante ressaltar que não basta ter dinheiro só, é importante conseguir alocá-lo.
Segundo integrantes de movimentos filantrópicos, o cheque do Itaú muda o patamar das doações corporativas e deve incentivar iniciativas mais incisivas de outras empresas.
— É um marco histórico, porque o dinheiro sai do balanço do banco, não de uma fundação. Demonstra ao setor que é possível fazer algo tendo o país como prioridade, sem depender do governo — disse Carola Matarazzo, do Movimento Bem Maior, iniciativa filantrópica de empresários Elie Horn (Cyrela) e Eugenio Mattar (Localiza).

Mais de cem campanhas

Para João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR, a pandemia está sendo um divisor de águas nos hábitos de filantropia dos brasileiros. Ele lembra que há mais de cem campanhas de financiamento coletivo em curso no país:
- A gente espera que o exemplo do Itaú funcione como mais um incentivo para que outras empresas façam doações de grande porte.
Os R$ 2,2 bilhões contabilizados pela ABCR não capturam todas as ações solidárias das empresas. A Vale, por exemplo, anunciou a doação de 5 milhões de testes rápidos e 15,8 milhões de equipamentos de proteção, mas não informou quanto custaram.
A Petrobras vai doar 600 mil testes do tipo RT-PCR, o mais assertivo, mas também não divulgou o preço. Outro exemplo é o Grupo Pão de Açúcar, que está doando 300 toneladas de alimentos sem informar o custo.
Entre os valores divulgados, os maiores cheques têm vindo do setor financeiro. O conglomerado do Banco do Brasil doou R$ 55,5 milhões, enquanto o BTG Pactual deu R$ 50 milhões. O Bradesco, além de participar de iniciativa com Itaú e Santander para doar 5 milhões de testes, está dividindo com os concorrentes R$ 50 milhões para a compra de 15 milhões de máscaras.
Já a XP está doando R$ 30 milhões para o combate à fome. O Banco Votorantim doou R$ 30 milhões para a compra de respiradores e espera acrescentar mais R$ 10 milhões com uma campanha de arrecadação digital, enquanto o Safra doou R$ 30 milhões para a compra de insumos hospitalares e está distribuindo dez mil cestas básicas.

Drauzio: além do dinheiro

Segunda pessoa mais rica do país, Jorge Paulo Lemann tem mirado suas ações na área de educação, foco de sua fundação, e vem ajudando o poder público a desenvolver soluções para o ensino à distância.
As que desenvolvem apps e outros recursos para 40 milhões de alunos da rede pública. As empresas de Lemann também estão envolvidas em iniciativas na área de saúde, como a doação de um milhão de frascos de álcool em gel e três milhões de máscaras.
A Americanas.com somou esforços com Rede D’Or, Bradesco Seguros, Safra e IBP para montar um hospital de campanha no Rio, ao custo de R$ 45 milhões.
Mas o médico e escritor Drauzio Varella, que também participará da gestão do fundo do Itaú, pondera que apenas destinar recursos não é suficiente:
 — Não é questão de dinheiro só, tem que saber para onde destinar os recursos. Estamos vendo o preço alto de viver na desigualdade. Não podemos ter tanta gente pobre em um país que, em dois ou três dias de isolamento, as pessoas começam a passar fome.

Algumas doações já feitas

Em valores (R$)

  • Itaú: R$ 1 bilhão para fundo de saúde e R$ 250 milhões em outras ações
  • BB: R$ 55,5 milhões em diversas ações
  • BRF: R$ 50 milhões para hospitais
  • BTG Pactual: R$ 50 milhões para hospitais
  • Cacau Show: R$ 32,5 milhões, sobretudo em chocolates para ONGs
  • Banco Safra: R$ 30 milhões para hospitais
  • Banco Votorantim: R$ 30 milhões para hospitais e vulneráveis
  • XP: R$ 30 milhões para combate à fome

Sem valores:

  • Petrobras: 600 mil testes RT-PCR para o SUS e 20 mil equipamentos de proteção individual (EPIs)
  • Vale: 5 milhões de kits de testes rápidos, 15,8 milhões de EPIs e 100 toneladas de insumos
  • Braskem: 370 toneladas de resina de máscaras
  • Raízen: 1,1 milhão de litros de álcool 70%
  • Ambev: 3 milhões de máscaras e 1 milhão de frascos de álcool em gel
  • J&F: 12 mil EPIs, 21 toneladas de alimentos e 405 toneladas de produtos de higiene