terça-feira, 20 de agosto de 2013

Religião pode ser grande aliada da conservação ambiental

Religião pode ser grande aliada da conservação ambiental

Em um mundo onde 80% da população segue alguma religião, o catolicismo, o protestantismo e o budismo, entre tantas outras crenças, podem ser importantes aliados na popularização da mensagem de preservar o meio ambiente. Parceiro da Aliança de Religiões e Conservação, o WWF investe neste trabalho mundo afora. Na América do Sul, o foco está em disseminar a importância da conservação da Amazônia, juntamente com a Igreja Católica, uma das religiões mais populares da região

Débora Spitzcovsky

ashleyrosex/Creative Commons


Os números da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontece no Rio de Janeiro, são prova de que a religião tem o poder de mobilizar milhões de pessoas: por dia,1,5 milhão de fiéis devem passar pela cidade para participar do evento. E esse fenômeno não é exclusividade do catolicismo. 80% da população mundial é adepta de alguma religião. 



Cláudio Maretti é especialista em conservação ambiental e líder da Iniciativa Amazônia Viva, do WWF
Por que, então, não transformar essa fé em uma poderosa aliada do meio ambiente? Este é o trabalho que o WWF - enquanto parceiro da Aliança de Religiões e Conservação (ARC) - está fazendo ao redor do mundo por meio do programaTerra Sagrada. "Acreditamos que não vamos conseguir ummundo melhor, mais justo e sustentável, se ficarmos exclusivamente falando para nós mesmos. Precisamos conversar com milhões, bilhões, movimentar a sociedade toda. Se existem entidades que conseguem essa mobilização e carecem do conhecimento em conservação ambiental que temos, por que não unir forças?", defendeCláudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva, do WWF. 


A instituição atua com diferentes lideranças religiosas, em diversas partes do planeta, de acordo com as necessidades de cada local. No Himalaia, por exemplo, onde o trabalho do WWF já está mais desenvolvido, vários monastérios budistas estão implantando programas de reflorestamento e incentivo às energias alternativas. NaÁfrica oriental, a rede dialoga com líderes de religiões tradicionais e, também, daIgreja Católica, para criar ações de combate à matança e ao tráfico ilegal de animais. Já nos EUA, a conversa é com representantes do protestantismo e catolicismo, sobretudo para discutir mudanças climáticas, assunto em que a "nação do Tio Sam" é peça-chave no cenário mundial. 


"Cada religião tem uma maneira diferente de se relacionar com a natureza, mas há um ponto em comum: todas as crenças moralmente defensáveis, ou seja, aquelas que não são cultos satânicos ou coisas do tipo, têm uma visão positiva do meio ambiente", diz Maretti. "Os católicos, por exemplo, defendem que ao homem foi dado o dom e a tarefa de viver na Terra e cuidar da criação divina. Para sobreviver, precisamos da natureza, mas o Papa Francisco diz que a tarefa não pode se sobrepor ao dom. Ou seja, que a extração dos recursos naturais não deve se sobrepor à capacidade de amá-la e respeitá-la", explica o especialista em conservação ambiental. 


Por sua popularidade na América do Sul, a Igreja Católica uniu forças com o WWF para defender a preservação da Amazônia. "O diálogo começou há cerca de um ano e meio, já pensando na Jornada Mundial da Juventude. Ainda estamos dando os primeiros passos nessa parceria, mas já estamos vendo resultados muito positivos", conta Maretti. 


A organização participou de dois eventos, durante a JMJ, para debater a relação entre fé e conservação ambiental. Em um deles, inclusive, jovens de vários lugares do mundo apresentaram um manifesto pela sustentabilidade. "A principal conclusão desses encontros foi que é responsabilidade do homem cuidar do meio ambiente, como parte da criação divina, assim como assegurar uma natureza sã que garanta que as futuras gerações também tenham a opção de investir no desenvolvimento sustentável. Enfim, conclui-se que o futuro que queremos depende da Amazônia que conseguiremos preservar", afirma Maretti. 


EXPECTATIVAS NO PAPA 
Bento XVI já demonstrava apreço pelas questões da sustentabilidade e costumava tuittar a respeito das mudanças climáticas. A expectativa é de que o Papa Franciscocontinue esse trabalho e vá além. Os motivos? "Além de ser latino-americano e, portanto, entender melhor a importância da Amazônia e a necessidade de preservá-la, o Papa Francisco já mostrou que é o Papa dos Pobres e sabemos que o combate às mudanças climáticas é ainda mais importante para essas pessoas. Aqueles que têm menos condições serão os que sofrerão primeiro e com mais intensidade os efeitos de toda essa bagunça climática que estamos vivendo", explica Maretti. 



Ciente do carisma e poder de mobilização do Pontífice, o WWF está fazendo campanha para que ele transmita uma mensagem sobre a Amazônia nesta Jornada Mundial do Meio Ambiente. O Papa Francisco ainda não se pronunciou sobre o assunto, mas Maretti não se abala. "Em comunicados anteriores, o Papa já falou sobre natureza em uma linguagem muito concordante com o WWF. Eu gostaria que ele mencionasse meio ambiente e, eventualmente, Amazônia na Jornada, mas, se ele achar que não é o momento adequado para isso, vamos entender. Até porque esse não é o único esforço que estamos fazendo nesse evento e já colhemos resultados muito positivos", diz Maretti. Ele explica: "O mais importante é construir lideranças intermediárias, em diferentes setores, para que a bandeira da conservação ambiental siga sendo carregada. Nesse sentido, os debates de que participamos na Jornada foram um sucesso".

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