Paraísos intocados
Em seu novo trabalho, o fotógrafo Sebastião Salgado registrou mais de 30 lugares pouco modificados pelo homem e conviveu com populações primitivas Isabella D´Ercole
Sebastião Salgado
Foram oito anos percorrendo as regiões mais remotas do planeta. A proposta era capturar imagens de lugares que se mantiveram longe da ação do homem e, por isso, exibem paisagens intactas, assim como comunidades que ainda vivem de maneira primitiva, sem qualquer tecnologia ou luxo da vida moderna. No percurso, o festejado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, 69 anos, cruzou desertos africanos, explorou a biodiversidade exótica de ilhas como Galápagos e enfrentou temperaturas na casa dos 40 graus negativos no Círculo Polar Ártico. Os trajetos foram feitos a bordo de barcos, aviões pequenos e até a pé. A rica experiência resultou na exposição Gênesis, que estreou no Museu de História Nacional de Londres, em abril. "Há muitos anos queremos fazer algo com foco na preservação do planeta", conta a mineira Lélia Wanick Salgado, mulher do fotógrafo e curadora da mostra, que soma 245 imagens, selecionadas entre milhares, e irá rodar o mundo.
No Brasil, as fotos podem ser vistas no Rio de Janeiro, desde 29 de maio até 26 de agosto, no Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico. Depois, elas seguem para São Paulo, onde serão exibidas no Sesc Belenzinho a partir do dia 4 de setembro. A mostra, que ainda visita Porto Alegre, Belo Horizonte e Vitória, é apenas uma parte do projeto Gênesis, que inclui um livro com mais de 500 páginas, editado pela alemã Taschen Books, com versão especial para colecionadores. As expedições também renderam as cenas e entrevistas do longa-metragem Sombra e Luz, documentário sobre o fotógrafo dirigido pelo filho dele, Juliano Salgado, e pelo cineasta Wim Wenders.
A fotografia de ambientes naturais e de animais é pouco comum no trabalho de Sebastião Salgado. Ele é famoso por retratar pessoas em condições extremas, como fez em Trabalhadores e Êxodos, projetos anteriores. Mas o interesse por temas ecológicos vem de longe. Começou pra valer há 15 anos, quando ele e a mulher fundaram oInstituto Terra, na cidade mineira de Aimorés, para promover o desenvolvimento sustentável da região do Vale do Rio Doce. A seguir, Sebastião revela um pouco dos bastidores das duas fotos da atual exposição mostradas nesta reportagem: uma feita no calor de rachar da África e outra no frio quase paralisante da Sibéria.
O ELEFANTE BRAVO
Salgado chegou à Namíbia, na África, em 2010 para clicar balões, a pedido de um amigo. Ele ia a campo somente de manhã, pois a força dos ventos impedia os voos depois. Com o restante do dia livre, o fotógrafo decidiu se aventurar pelo Parque Nacional Etosha para fazer alguns cliques dos animais que vivem ali. "Como existem muitos caçadores, os bichos reconhecem os humanos como uma ameaça. Então, ao ouvir o barulho do carro, um elefante partiu para nos atacar. O motorista deu ré e só assim ele percebeu que não queríamos machucá-lo. A foto foi feita quando ele já estava indo embora", conta.
A VIDA NO ÁRTICO
Os nenets são uma comunidade nômade de mais de 500 pessoas que vive na Sibéria, no Círculo Polar Ártico. Eles se movimentam em trenós puxados por renas e viajam até 12 horas diariamente. Sebastião Salgado seguiu-os por 47 dias. "Encontrei-os ao sul do Rio Ob, na Rússia, e atravessamos em direção ao norte", lembra o fotógrafo. "A temperatura variava entre 35 e 45 graus negativos, mesmo sendo início de primavera. Como minhas roupas não me aqueciam suficientemente para suportar aquele frio, eles tiveram que me emprestar algumas peças para eu não congelar." Sem poder tomar banho, o fotógrafo passava lenços umedecidos pelo corpo deitado no saco de dormir. Para comer, levou um estoque de petiscos na mala, mas, por causa do clima, teve que ceder à dieta baseada em carne e sangue de rena. "Passar por essas situações fazia parte da experiência."
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