Como o joão-de-barro: a história de uma casa sustentável
Dá para sentir na pele o conforto proporcionado pelas paredes de terra que ajudei a construir Giuliana Capello
Giuliana Capello é jornalista especializada em sustentabilidade e blogueira do Gaiatos e Gaianos,que integra o movimento Planeta Sustentável, da Editora Abril. No fim deste mês, ela lança o livro Meio Ambiente Ecovilas (Senac São Paulo)
Dez anos atrás, ouvi falar de ecovilas e fiquei fascinada com a ideia de morar numa comunidade sustentável. Tempos depois, comprei um terreno na Clareando, em Piracaia, interior de São Paulo. Foi então que, com a ajuda da amiga e arquiteta Lara Freitas, me lancei na aventura de construir minha casa. Mas como ela seria? Eu passava por uma fase de intensa revisão de conceitos, hábitos de consumo, relação com a natureza, e queria que o projeto refletisse tudo isso. Ouvia de amigos sobre a morada ser nossa terceira pele (as roupas representariam a segunda) e imaginava que tipo de "pele habitável" eu poderia ter.
De que forma ela comporia um todo orgânico, coerente, harmonioso? Participei ativamente de cada fase da construção, que se tornou um mosaico de técnicas típicas da . Ajudei a erguer paredes feitas de vários materiais: pau a pique (com trama de bambu e reboco de terra), adobe (os tijolos foram feitos em fôrmas, com barro cru), garrafas de vidro, madeira reflorestada que sobrou da estrutura. Na maior parte do tempo, não havia pedreiros. Apenas eu, meu companheiro na época e os amigos que chegavam para ajudar.
Juntos brincamos de joão-de-barro, e sentimos na primeira pele que as paredes naturais respiram de verdade e tornam o interior mais salubre e agradável. Descobri o valor do sol para os ambientes, a importância de armazenar a água da chuva e tratar o esgoto criando jardins funcionais. Percebi que um telhado verde realmente oferece o tal do conforto térmico, e que vidros, portas e janelas usados merecem a chance de uma vida mais longa, recondicionada.
No caminho, aprendi a pintar as paredes com a argila do meu próprio terreno. Hoje, quando recebo a lua cheia em minha sala graças aos enormes painéis de vidro reaproveitado, quando sinto a casa fresca no verão e acolhedora no inverno, ou, ainda, quando trabalho no escritório até o anoitecer sem precisar de luz artificial, vejo que conquistei o que desejava: uma casa mais leve para o planeta, saudável para mim, inspiradora para os que vêm me visitar. Toda vez que contemplo algum cantinho, descubro que cada escolha teve uma razão de ser. Todas elas, agora, se traduzem em histórias, lembranças e lições impressas em tijolos, barro e madeira.
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