segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Nem São Pedro salva

Nem São Pedro salva

O governo culpa a longa estiagem pelo funcionamento contínuo das termelétricas no país. Estudo de uma consultoria do setor mostra que a história pode ser diferente

-  A  A  +
Gladinston Silvestrini
Exame - 2014
portland general/Creative Commons/Flickr

Desde outubro de 2012, as termelétricas brasileiras trabalham a todo vapor. A explicação oficial é que isso tem sido necessário para cobrir o que as hidrelétricas, afetadas pela falta de chuvas, não dão conta de produzir. Um estudo da PSR, consultoria especializada no setor elétrico, revela uma outra realidade. "O volume de chuvas nos últimos dois anos não foi baixo a ponto de diminuir tanto assim a geração das hidrelétricas", diz Mario Veiga, presidente da PSR. "Ocorre que seus reservatórios estão esvaziando mais rapidamente do que era de esperar."

Em outras palavras, a capacidade de geração das represas é hoje menor do que pensamos, algo que a volta da chuva não vai resolver. Os motivos para isso não estão claros - o assoreamento dos reservatórios, o desvio de água para irrigação e as perdas de eficiência nas turbinas são as principais hipóteses.

Outro problema: as termelétricas do país foram projetadas para funcionar de modo intermitente e atender às necessidades pontuais de energia. Quando ligadas por tempo demais, aumentam os custos com manutenção. São mais riscos para o setor elétrico.

Veja no infográfico abaixo como nos últimos anos vem crescendo a participação das usinas termelétricas na geração de energia do país e como isto não está relacionado com o volume de águas que chega nos reservatórios brasileiros.

AS HIDRELÉTRICAS ESTÃO SOB PRESSÃO
São as seguintes as hipóteses que podem explicar por que a capacidade de geração hidráulica está abaixo do esperado:

ASSOREAMENTO DOS RESERVATÓRIOSAs correntes dos rios podem ter depositado lama e sedimentos no fundo dos lagos das hidrelétricas, diminuindo o volume de água disponível para gerar energia

ROUBO DE ÁGUAA água dos rios que deveria ajudar a encher os reservatórios pode estar sendo desviada ilegalmente para irrigação de terras agrícolas

PERDAS DE EFICIÊNCIAAs hidrelétricas mais antigas não costumam passar por testes para verificar a eficiência de seus equipamentos — e, com o tempo, elas podem ter se tornado menos produtivas

CONCLUSÃOMesmo que nos próximos anos as chuvas venham com força, a perda de capacidade das usinas hidrelétricas terá de ser levada em conta. Será preciso contar cada vez mais com a força das termelétricas para suprir a necessidade de energia do país. Com esses e outros problemas acumulados no setor elétrico, como o rombo financeiro das distribuidoras, a única certeza é que a conta de luz vai ficar mais cara.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo sua participação e opinião !