Falta de sanitários provocou morte de dez milhões de crianças no mundo, diz WaterAid
ONU lança o ‘Dia mundial do banheiro’ para chamar atenção para a falta de saneamento
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LONDRES - Num mundo em que 14% da população no século XXI ainda defeca ao ar livre, as crianças permanecem entre os mais vulneráveis à falta de sanitários, à contaminação de dejetos humanos e à água poluída.
Os jovens sofrem o impacto de uma crise de saúde e desenvolvimento que já ceifou as vidas de, pelo menos, dez milhões de crianças com menos de 5 anos desde o ano 2000. Isso se deve, basicamante à falta de acesso a um banheiro, de acordo com um relatório da organização de desenvolvimento internacional WaterAid.
A ONU, que lançou esta quarta-feira, 19 de novembro, como o “Dia mundial do banheiro”, para destacar o saneamento como uma prioridade do desenvolvimento, informou que cerca de 35% da população mundial — 2,5 bilhões das sete bilhões de pessoas do planeta — vivem sem unidades sanitárias, como banheiros e latrinas. Isto num período em que as pessoas têm mais acesso a smartphones do que a um toalete.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Unicef, cerca de 1,8 bilhão de pessoas bebem água contaminada.
Apesar disso, o quadro de água e saneamento não é de todo cinza, disse Jack Sim, o fundador cingapuriano da Organização Mundial do Banheiro, responsável pelo evento de quarta-feira na ONU. De 1990 a 2012, 2,3 bilhões de pessoas em todo o mundo obtiveram acesso a fontes melhores de água potável, segundo dados das Nações Unidas.
Neste período, a mortalidade infantil causada por diarreia — fortemente associada à água de má qualidade, falta de saneamento e higiene — caiu de cerca de 1,5 milhão para cerca de 578 mil crianças de 4 anos ou menos, que morreram por doenças associadas à diarreia, mostrou um estudo da Lancet, publicado em outubro.
‘MORTES EVITÁVEIS’
A OMS estima que 88% da mortalidade por diarreia entre os jovens pode ser atribuída a falta de acesso a saneamento, água potável e higiene. Esse percentual, segundo a WaterAid, representa a morte de cerca de 508 mil crianças no ano passado porque estes serviços não estavam disponíveis — “mortes evitáveis”, segundo Sim.
Em muitos países mais pobres, a falta de acesso a sabonete e água para lavar as mãos e práticas sanitárias inadequadas estimulam a propagação de doenças, não apenas nos lares e comunidades, mas em escolas e centros de saúde. Más condições de água, saneamento e higiene em comunidades e cenários institucionais, especialmente unidades de saúde, exacerbaram a epidemia de Ebola na África Ocidental, segundo autoridades médicas.
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Na Índia, talvez o “ground zero” na batalha contra a falta de saneamento e contaminação fecal, o governo marcou o aniversário de 150 anos de Mahatma Gandhi em 2019 como meta para estabelecer o “saneamento total”, inclusive acesso a banheiros para toda a população do país, de 1,2 bilhão de pessoas.
A Índia sozinha abriga cerca de 60% da população global sem acesso a toalete, o maior índice do mundo. Os excrementos de origem humana e animal contaminam os campos, poluindo poços de água, cultivos e nascentes e provocando diarreia e cólera.
Além da falta de acesso, há ainda um problema cultural e de comportamento, uma vez que muitas pessoas na Índia não utilizam latrinas, apesar de possuí-las, afirmou Payal Hathi, diretor-associado do Instituto de Pesquisa para uma Economia Compassiva.
CRENÇAS ENRAIZADAS
Um survey amplo em cinco estados indianos de 22 mil pessoas descobriu que em 56% das famílias pesquisadas, cada membro defecava ao ar livre. Apenas 26% dos lares usavam latrinas. Em 40% das residências com banheiro externo, pelo menos uma pessoa não o utilizava.
Pessoas que receberam toaletes dentro do programa do governo indiano, que pretende construir 111 milhões de unidades em cinco anos, são duas vezes mais propensos a defecar ao ar livre, disse Hathi. O instituto prevê que mais da metade dos lares vai continuar defecando ao ar livre, apesar do programa de construção de banheiros.
— Nossa pesquisa mostra crenças fortemente enraizadas nas percepções de poluição e impureza — disse Hathi. — Muitos creem que ter um toalete no imóvel polui a casa. Além disso, limpar banheiros e fossas é uma atividade que tem sido associada a certas castas. Também há muitos que acreditam que caminhar ao ar livre nas manhãs bem cedo para defecar nos campos ou em espaços abertos faz bem à saúde.
Este é um dos desafios do premier indiano, Nerendra Modi, na sua luta para combater o problema de saneamento, que custa ao país 600 mil vidas anualmente devido à diarreia. Estima-se que 1,1 milhão de litros de excrementos desaguam no Rio Ganges a cada minuto, o rio sagrado de 2,525 quilômetros que Modi prometeu limpar.
SÍMBOLO DE STATUS
Além disso, essa situação expõe as mulheres indianas ao risco de estupros e assédio sexual, um perigo que chamou a atenção da opinião pública mundial em maio, depois que duas jovens da cidade Uttar Pradesh foram estupradas e enforcadas em uma mangueira, após saírem para defecar ao ar livre.
O ato de defecar ao ar livre tem uma taxa de 50% na Índia, o que contrasta com 3%, em Bangladesh e 1% na China, segundo um relatório da OMS e Unicef, divulgado em maio. No ano passado, Modi prometeu que se foram eleito construiria “banheiros primeiro, templos depois”.
— Sejamos otimistas — disse Sim, acrescentando que Modi representa o futuro e aqueles relutantes a aceitar a construção de banheiros em toda a Índia deveriam “pensar no toalete como algo normal, um estilo de vida, uma moda, um símbolo de status”.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/falta-de-sanitarios-provocou-morte-de-dez-milhoes-de-criancas-no-mundo-diz-wateraid-14611493#ixzz3KH0FevQY
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