quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Falta de sanitários provocou morte de dez milhões de crianças no mundo

Falta de sanitários provocou morte de dez milhões de crianças no mundo, diz WaterAid

ONU lança o ‘Dia mundial do banheiro’ para chamar atenção para a falta de saneamento

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LONDRES - Num mundo em que 14% da população no século XXI ainda defeca ao ar livre, as crianças permanecem entre os mais vulneráveis à falta de sanitários, à contaminação de dejetos humanos e à água poluída.
Os jovens sofrem o impacto de uma crise de saúde e desenvolvimento que já ceifou as vidas de, pelo menos, dez milhões de crianças com menos de 5 anos desde o ano 2000. Isso se deve, basicamante à falta de acesso a um banheiro, de acordo com um relatório da organização de desenvolvimento internacional WaterAid.

Empregados da ONU instalam a escultura inflável de uma privada para celebrar o Dia mundial do banheiro - JEWEL SAMAD / AFP
A ONU, que lançou esta quarta-feira, 19 de novembro, como o “Dia mundial do banheiro”, para destacar o saneamento como uma prioridade do desenvolvimento, informou que cerca de 35% da população mundial — 2,5 bilhões das sete bilhões de pessoas do planeta — vivem sem unidades sanitárias, como banheiros e latrinas. Isto num período em que as pessoas têm mais acesso a smartphones do que a um toalete.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Unicef, cerca de 1,8 bilhão de pessoas bebem água contaminada.
Apesar disso, o quadro de água e saneamento não é de todo cinza, disse Jack Sim, o fundador cingapuriano da Organização Mundial do Banheiro, responsável pelo evento de quarta-feira na ONU. De 1990 a 2012, 2,3 bilhões de pessoas em todo o mundo obtiveram acesso a fontes melhores de água potável, segundo dados das Nações Unidas.
Neste período, a mortalidade infantil causada por diarreia — fortemente associada à água de má qualidade, falta de saneamento e higiene — caiu de cerca de 1,5 milhão para cerca de 578 mil crianças de 4 anos ou menos, que morreram por doenças associadas à diarreia, mostrou um estudo da Lancet, publicado em outubro.
‘MORTES EVITÁVEIS’
A OMS estima que 88% da mortalidade por diarreia entre os jovens pode ser atribuída a falta de acesso a saneamento, água potável e higiene. Esse percentual, segundo a WaterAid, representa a morte de cerca de 508 mil crianças no ano passado porque estes serviços não estavam disponíveis — “mortes evitáveis”, segundo Sim.
Em muitos países mais pobres, a falta de acesso a sabonete e água para lavar as mãos e práticas sanitárias inadequadas estimulam a propagação de doenças, não apenas nos lares e comunidades, mas em escolas e centros de saúde. Más condições de água, saneamento e higiene em comunidades e cenários institucionais, especialmente unidades de saúde, exacerbaram a epidemia de Ebola na África Ocidental, segundo autoridades médicas.
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“Sou uma das 2,6 bilhões de pessoas que não têm banheiro”, diz o cartaz levado por uma das crianças indianas que participaram do Dia Mundial do Banheiro - Mahesh Kumar A / AP
Na Índia, talvez o “ground zero” na batalha contra a falta de saneamento e contaminação fecal, o governo marcou o aniversário de 150 anos de Mahatma Gandhi em 2019 como meta para estabelecer o “saneamento total”, inclusive acesso a banheiros para toda a população do país, de 1,2 bilhão de pessoas.
A Índia sozinha abriga cerca de 60% da população global sem acesso a toalete, o maior índice do mundo. Os excrementos de origem humana e animal contaminam os campos, poluindo poços de água, cultivos e nascentes e provocando diarreia e cólera.
Além da falta de acesso, há ainda um problema cultural e de comportamento, uma vez que muitas pessoas na Índia não utilizam latrinas, apesar de possuí-las, afirmou Payal Hathi, diretor-associado do Instituto de Pesquisa para uma Economia Compassiva.
CRENÇAS ENRAIZADAS
Um survey amplo em cinco estados indianos de 22 mil pessoas descobriu que em 56% das famílias pesquisadas, cada membro defecava ao ar livre. Apenas 26% dos lares usavam latrinas. Em 40% das residências com banheiro externo, pelo menos uma pessoa não o utilizava.
Pessoas que receberam toaletes dentro do programa do governo indiano, que pretende construir 111 milhões de unidades em cinco anos, são duas vezes mais propensos a defecar ao ar livre, disse Hathi. O instituto prevê que mais da metade dos lares vai continuar defecando ao ar livre, apesar do programa de construção de banheiros.
— Nossa pesquisa mostra crenças fortemente enraizadas nas percepções de poluição e impureza — disse Hathi. — Muitos creem que ter um toalete no imóvel polui a casa. Além disso, limpar banheiros e fossas é uma atividade que tem sido associada a certas castas. Também há muitos que acreditam que caminhar ao ar livre nas manhãs bem cedo para defecar nos campos ou em espaços abertos faz bem à saúde.

Mulher filipina mostra como limpar uma privada, em uma comunidade pobre em Manila - Aaron Favila / AP
Este é um dos desafios do premier indiano, Nerendra Modi, na sua luta para combater o problema de saneamento, que custa ao país 600 mil vidas anualmente devido à diarreia. Estima-se que 1,1 milhão de litros de excrementos desaguam no Rio Ganges a cada minuto, o rio sagrado de 2,525 quilômetros que Modi prometeu limpar.
SÍMBOLO DE STATUS
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Além disso, essa situação expõe as mulheres indianas ao risco de estupros e assédio sexual, um perigo que chamou a atenção da opinião pública mundial em maio, depois que duas jovens da cidade Uttar Pradesh foram estupradas e enforcadas em uma mangueira, após saírem para defecar ao ar livre.
O ato de defecar ao ar livre tem uma taxa de 50% na Índia, o que contrasta com 3%, em Bangladesh e 1% na China, segundo um relatório da OMS e Unicef, divulgado em maio. No ano passado, Modi prometeu que se foram eleito construiria “banheiros primeiro, templos depois”.
— Sejamos otimistas — disse Sim, acrescentando que Modi representa o futuro e aqueles relutantes a aceitar a construção de banheiros em toda a Índia deveriam “pensar no toalete como algo normal, um estilo de vida, uma moda, um símbolo de status”.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/falta-de-sanitarios-provocou-morte-de-dez-milhoes-de-criancas-no-mundo-diz-wateraid-14611493#ixzz3KH0FevQY 

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