quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Própolis funciona... E como!

Própolis funciona... E como!

Pesquisadores confirmam o poder antimicrobiano e antioxidante dos exemplares cultivados no Brasil. Ensinamos a tirar proveito desse reforço à imunidade

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Regina Célia Pereira
Saúde - 06/2014
Deborah Maxx


Se você pesquisar a origem da palavra própolis, vai descobrir que o nome foi criado pelos gregos e significa em defesa (pro) da cidade (polis). Certamente os antigos passaram um bom tempo observando as colmeias e notaram que o composto é fabricado pelas abelhas com o propósito de blindar a casa delas. "Ele promove o isolamento do ambiente, impede a entrada de luz e de umidade, além de resguardar o local de intrusos", explica o farmacêutico Pedro Luiz Rosalen, professor da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. E essa mesma proteção diante de inimigos microscópicos se dá no corpo humano quando utilizamos o preparo resinoso. Não param de sair estudos apontando sua eficácia contra vírus, bactérias e fungos. Daí o sucesso nas temporadas mais frias do ano, quando gripes e resfriados insistem em nos atacar.

Uma das novas pesquisas que confirmam esse papel foi realizada por Rosalen juntamente com estudiosos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, no interior paulista. O time de cientistas avaliou as capacidades antimicrobiana e antioxidante de amostras da própolis orgânica brasileira. "Elas foram coletadas em regiões certificadas, matas de preservação permanente, florestas de araucárias e áreas de reflorestamento no sul do Paraná e norte de Santa Catarina", conta o engenheiro agrônomo Severino Matias de Alencar, professor da Esalq.

As análises em laboratório revelaram que, além de combater o excedente de radicais livres, já associado ao envelhecimento precoce e a danos celulares, a própolis se mostrou bastante eficaz frente aos micróbios. "Seus compostos interferem na membrana celular das bactérias", exemplifica Alencar. Tal efeito desestabiliza esses seres microscópicos de tal maneira que eles acabam mais facilmente exterminados do pedaço.

Embora essa atuação seja reconhecida há milhares de anos - os egípcios já utilizavam a resina para evitar a deterioração das múmias -, os novíssimos testes ajudam a entender como e até que ponto ela funciona. E fica clara a vantagem de ser orgânica, isto é, livre de pesticidas e contaminantes. Ainda que boa parte desse tipo seja exportado, dá para encontrá-lo, sim, por aqui, especialmente na Região Sul, uma grande produtora. O segredo é prestar atenção nos rótulos e conferir se há certificação de que o produto é, de fato, orgânico.

O que torna a resina fabricada pelas abelhas tão poderosa é uma verdadeira miscelânea de substâncias. Mas, em meio a essa vastidão bioquímica, um grupo se destaca nas pesquisas: os compostos fenólicos. Dentro dessa classe, os queridinhos são os flavonoides e os ácidos cumárico, cafeico e gálico. Nomes estranhos que, no corpo, estão por trás das aclamadas propriedades antioxidante e antimicrobiana. A médica Norma Leite, da Associação Brasileira de Nutrologia, chama a atenção para outro ingrediente da família, a galangina. "É que ela tem ação anti-inflamatória", aponta.

Esse efeito, junto à sua vocação analgésica (sim, é efeito que não acaba mais...), responde pela popularidade da própolis contra as dores de garganta. "As versões em spray formam uma película no local e aliviam o incômodo", justifica a nutróloga. Sem contar que, geralmente, as infecções nas vias aéreas superiores, caso da amidalite, são provocadas por bactérias gram-positivas. "E experimentos demonstram que a própolis tem uma atividade antibacteriana mais pronunciada em micro-organismos desse tipo", conta Norma. "Ela inclusive amplificaria a resposta dos antibióticos", acrescenta.

Até as bactérias da boca saem perdendo com o produto das abelhas. "Os compostos fenólicos contribuem para a integridade do esmalte dentário e ajudam a prevenir cáries e a doença periodontal", afirma Rosalen, que se dedica a pesquisas nessa área. Não à toa, já existem empresas incluindo o ingrediente na receita de seus cremes dentais.

MODO DE USAR
Pelos dados disponíveis até agora, a própolis parece ter tanto potencial terapêutico como preventivo. Mas isso não significa usar o extrato, a forma mais consumida por aqui, como se fosse água. "Ingerir 15 gotas em jejum já seria suficiente para fortalecer o sistema imune", sugere Norma. Já o imunologista José Maurício Sforcin, professor da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, no interior de São Paulo, recomenda recorrer ao produto por um curto prazo, pois o uso contínuo e exagerado faz com que o organismo fique tolerante às substâncias e elas deixem de agir direito. "E é importante ter o aval do médico", lembra. Em seus estudos, Sforcin também tem observado a participação da própolis em prol da imunidade. "Suas substâncias promovem maior ativação das células de defesa, favorecendo o reconhecimento e a destruição dos micróbios", explica.

Mais um entusiasta do material resinoso é o professor Gilberto Franchi Júnior, da Unicamp. Só que por outra razão. "Observando células, notamos que uma das variedades, a própolis vermelha, é tóxica para aquelas que são cancerosas", revela. A linha de pesquisa é recente, mas promissora: se confirmado o efeito em estudos maiores, o produto renderia apoio extra na luta contra tumores.
Franchi conta que ele próprio faz uso da própolis pelo menos três vezes ao ano. E dá até uma dica para acabar com o amargor dos extratos: "Depois de pingar as gotas na água, espere uns minutos até que se forme uma nata. Quando a camada estiver formada, retire com a ajuda de um palito". Garante-se o benefício sem aquele sabor duro de engolir.

A engenheira de alimentos Beatriz Mello, da Universidade Federal de São Carlos, no interior paulista, recomenda, ainda, verificar cuidadosamente a embalagem do extrato ou do spray e procurar selos de agências regulatórias, caso do Ministério da Agricultura. "Também vale observar a presença de álcool na formulação, já que nem todo mundo pode ingeri-lo", lembra a professora, que investiga a extração das substâncias da própolis vantajosas à saúde. Ao que tudo indica, apesar de o uso ser um tanto antigo, a ciência tem muito o que descobrir nessa mistura protetora pornatureza.

VARIEDADE QUE VEM DA COLMEIA
"Hoje, no Brasil, temos catalogados 13 tipos de própolis", conta o professor Severino Alencar. "A classificação é feita com base na composição química e nas suas atividades biológicas", explica. Como nosso país tem uma baita biodiversidade, as abelhas dispõem de inúmeras matérias-primas entre o reino vegetal para fabricar a resina. E isso tem impacto nas características da própolis, bem como em sua coloração - que vai do esverdeado ao vermelho-escuro.

DEFESA NATURAL
Como as abelhas produzem a própolis que chega à sua casa
Erika Onodera (Ilustração)
1. Para fabricar a própolis, as abelhas da espécie Apis mellifera colhem resina e secreções de folhas, brotos, troncos, cascas e outras partes das árvores.
2. Os insetos se valem de bolsinhas em suas patas para carregar o material e adicionam a ele secreções salivares, além de cera e pólen.
3. Pronta, a mistura é utilizada para vedar a colmeia e protegê-la de micro-organismos. E ainda é empregada para embalsamar insetos mortos dentro desse lar.
4. A resina é extraída com coletores que recortam tiras de própolis. O material entra em contato com um solvente e nasce, assim, o extrato.

NO MERCADO
A própolis é usada para diversos fins, e isso se reflete na prateleira
Deborah Maxx
No pote
A mistura de mel e própolis é bem-vinda pela ação expectorante e há indícios de que ela ajuda a atenuar a constipação intestinal. Mas os experts lembram que a alta carga de açúcar pede moderação pelos diabéticos.
No extrato
É o derivado que concentra maior quantidade de compostos benéficos. Os produtores costumam usar álcool de cereais como solvente para fabricá-lo, mas já existem versões com água.
No sabão
Além do aroma agradável, a própolis pode liberar na pele substâncias de ação antibacteriana. Daí por que especialistas chegam a recomendar seu sabonete a pessoas que sofrem com a acne.
Na pasta de dente
Pesquisas já provaram que o produto das abelhas enfrenta a cárie. Por isso ele foi incorporado a cremes dentais. Ainda assim, a pasta também precisa conter uma boa dose de flúor para garantir proteção.
No spray
Ele reina nos meses mais frios por resguardar a garganta. Geralmente vem combinado com gengibre, romã e outros ingredientes. Pela sua essência antibacteriana, também combate o mau hálito.

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