sábado, 19 de outubro de 2013

Pesquisadores traçam mapa da dispersão da pupunha nas Américas

Primeiros exemplares podem ter surgido no sudoeste da grande floresta.

Índios aguarunas estão entre os pioneiros do domínio da pupunha.

Do Globo Natureza com informações do Globo Rural
As comunidades indígenas tiveram papel importante no domínio de alimentos que fazem parte do dia a dia das pessoas. Entre esses alimentos está a pupunha. Os pesquisadores descobriram quase tudo sobre a pupunha e traçaram um mapa da dispersão da palmeira pelas Américas. A história da domesticação dessa árvore começa no Peru.
Em poucos lugares do mundo a natureza é tão generosa e, ao mesmo tempo, tão desafiadora e surpreendente. É impossível chegar a qualquer lugar de Iquitos, a maior cidade da Amazônia peruana, na beira do Rio Amazonas, sem cruzar com centenas de mototaxi. Em meio a uma confusão fica o mercado Belém, onde é vendido de tudo.
Um dos produtos oferecidos é o pihuaio, nome espanhol da pupunha. Os frutos da árvore são unanimidade na Amazônia. Na época de colheita, que vai de janeiro a abril, esses frutos são os reis dos mercados. Eles cumprem a função de reforçar a dieta dos povos floresta.
Segundo o biólogo americano Charles Clement, a pupunha é a única palmeira amazônica, entre as 150 conhecidas, considerada totalmente dominada pelo homem, uma vez que culturas como a do açaí ainda estão em processo de domesticação. “Domesticação nada mais é que pegar algo que uma vez foi silvestre e transformar em algo que é mais agradável pra nós humanos, pra nossa vivência para nosso uso”, diz.
O biólogo acredita que há 15 mil espécies de plantas em todo o bioma amazônico, mas apenas três mil são de uso humano e apenas 20 são consideradas totalmente dominadas. “O mais importante, sem sombra de dúvida, é mandioca. Das frutas tem uma dúzia. Então, começando com pupunha, passando por abacaxi, passando por nomes que você não conhece comumente como abil, sapota, mapati e cubiu”, diz.
Os pesquisadores descobriram quase tudo sobre a pupunha e traçaram um mapa da dispersão da palmeira pelas Américas. De acordo com os estudos, os primeiros exemplares podem ter surgido no sudoeste da grande floresta. Depois, seguindo pelo Rio Madeira, chegaram ao Pará, região chamada pelos cientistas de Amazônia Oriental. O outro caminho, pelo lado ocidental, teria sido pelo estado do Amazonas e entrou no Peru até chegar a América Central.
O Rio Marañon, na Amazônia peruana, é um dos maiores rios afluentes do Amazonas. O barco é o único meio de transporte para chegar a Santa Maria Nieva, quase na fronteira com o Equador.
Não há registros históricos sobre o local exato do começo da domesticação da pupunha, mas sabe-se que entre os pioneiros do domínio estão os índios aguarunas, que vivem na região do Rio Marañon. O conhecimento e a técnica de manejo adquiridos há muitos anos se espalharam rio abaixo.
A aldeia Au Au Hun é uma das mais isoladas da etnia aguaruna. Visita na aldeia é motivo de festa. Como em toda celebração, há sempre uma bebida de boas vindas. A bebida servida é um licor conhecido por massato, que nunca falta nas comunidades indígenas peruanas. O estranho, para os padrões comuns, é o modo de preparo. A raiz da mandioca é a matéria-prima. O resto é feito na base mastigação.
Nas comunidades indígenas as palmeiras servem para quase tudo: telhado das aldeias, as paredes e até a arma de caçar. Mesmo o que parece imprestável tem serventia.
Na região do Rio Marañon, no extremo norte do Peru, conhecida como um dos paraísos das águas amazônicas, fica uma das aldeias dos índios boras yutoto. Esta etnia peruana ocupa grandes faixas de terra na Amazônia perto das fronteiras do Peru com a Colômbia e o Brasil. A aldeia tem 65 famílias que ocupam oito mil hectares de floresta.
Para chegar ao pupunhal da aldeia é preciso atravessar igapó. Só quem conhece os atalhos da floresta consegue encontrar as palmeiras mais carregadas. Se a safra é boa, em único dia é possível garantir pupunha para toda semana.

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