sábado, 8 de setembro de 2012

Reciclagem se apresenta como nicho promissor de mercado


Somente o alumínio reciclado no Brasil movimenta na economia em torno de R$1,8 bilhão por ano


O que tinha como destinação lixões e aterros sanitários virou um dos mais promissores nichos de mercado não só no Brasil como em todo o mundo. Os resíduos produzidos diariamente nos lares, comércio e na indústria estão retornando ao dia a dia após passarem por processo de reciclagem e ser reaproveitados pelos segmentos produtivos .

Latas, garrafas, ferro, plástico, papel e até restos de podas de árvores estão sendo recuperados e transformados para gerar dividendos financeiros. A cada dia, surgem novas oportunidades de negócio tendo como matéria-prima aquilo que há alguns anos era desprezado nas calçadas e nos contêineres.



"Esse é um mercado que continua promissor e que cresce a cada dia. Com o advento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a tendência é de se aproveitar mais resíduos gerados. Com isso, vão surgir mais empresas voltadas para a reciclagem e aumentará o número de empregos", garante o presidente do Sindicato das Empresas de Reciclagem e Resíduos Sólidos Domésticos e Industriais do Estado do Ceará (Sindiverde), Marcos Augusto Albuquerque.



Argamassa



Para Albuquerque, a cada momento o mercado descobre novas formas de lidar com o reaproveitamento de materiais que antes eram levados para aterros ou descartados de forma nociva ao meio ambiente. "Um exemplo disso é a sobra de material da construção civil que está sendo transformado em argamassa e retornando assim ao mercado".



Levantamento realizado bianualmente pelo Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre) corrobora com o entendimento do Sindiverde. A pesquisa realizada junto a 443 municípios brasileiros em 2010 comprova que o papel/papelão lidera em termos de material reciclado, com 39,9%, seguido pelo plástico (19,5%), o vidro (11,9%), metais (6,8%), embalagem longa vida (1,9%), alumínio (0,9%) e eletrônicos (0,2%).



Por região, a Sudeste lidera em termos de realização da coleta seletiva, com 50%, seguida pela Sul (36%), Nordeste (10%), Centro-Oeste (3%) e Norte (1%).



Custo



Outro dado importante é que o custo desse tipo de coleta é hoje quatro vezes mais caro do que a maneira tradicional de se coletar o lixo. Entretanto, a disparidade já foi maior. Em 1994, o custo era dez vezes maior.



Em relação à maneira como a coleta seletiva é processada, 78% é da forma mais tradicional, de porta em porta; 44% em postos de entrega voluntária e 74% através de cooperativas de catadores. Vale salientar que muitos municípios trabalham com mais de uma opção, daí a aparente distorção (acima de 100%) do percentual total.



No que diz respeito aos agentes envolvidos no serviço, 62% são de cooperativas, 52% das próprias prefeituras e 26% particulares. Os números ainda são tímidos, se levarmos em consideração que apenas 8% dos municípios brasileiros realizam a coleta seletiva, o que atinge 22% da população.



Papel



O campeão no mercado da reciclagem é o papel, incluindo aí suas variações, inclusive o papelão. Responsável por 39,9% desse nicho de mercado, para se ter uma ideia do reaproveitamento, nada menos do que 28% de tudo o que circulou no País nesse segmento em 2010 foi fruto da reciclagem, conforme o Cempre. Isso corresponde a aproximadamente um milhão de toneladas de papel de escritório. No mesmo ano, o consumo per capita brasileiro de papel de escritório foi de 44 quilos por habitante ao longo de um ano. Nos Estados Unidos, no mesmo período, atingiu-se a cifra de 288 quilos.



PET



Em 2010, o Brasil consumiu 505 mil toneladas de Poli Tereftalato de Etileno (PET) pós-consumo. Desse montante, 56% veio da reciclagem, num total de 282 mil toneladas. As garrafas são recuperadas principalmente através de catadores e cooperativas, além de fábricas e da coleta seletiva das prefeituras.



Para se ter uma ideia da riqueza desse material, com ele é possível se fabricar a fibra de poliéster para a indústria têxtil, para ser utilizada como fios de costura, forrações, tapetes e carpetes, mantas de tecido não tecido (TNT), dentre outras aplicações conhecidas.



Em 2009, o Brasil foi o segundo país do mundo em reciclagem de PET, com 56%, perdendo para o Japão, que atingiu índice de 72,1%. Além de evitar o envio do material para os aterros, o reaproveitamento implica em grande racionalização de energia já que utiliza apenas 0,3% do que seria necessário para a produção da resina virgem. Além do mais, pode ser reciclado inúmeras vezes sem que o produto final sofra prejuízo.



Vidro



O Brasil produz em média 980 mil toneladas de embalagens de vidro por ano. Cerca de 45% da matéria-prima empregada é reciclada na forma de cacos. Segundo o Cempre, o principal mercado para recipientes de vidros usados é formado pelas vidrarias que compram os cacos dos sucateiros ou recebem diretamente de suas campanhas de reciclagem. Pode ser ainda aplicada na composição de asfalto e pavimentação de estradas, construção de sistemas de drenagem contra enchentes, produção de espumas e fibra de vidro, bijuterias e tintas reflexivas.



Latas de aço



O mercado de sucata de aço é bastante importante e tende a crescer sempre, pois a indústria siderúrgica precisa do material para poder atingir uma nova produção. Em 2010, foram geradas 33,3 milhões de toneladas de aço bruto no País, das quais, 604 mil toneladas foram de folhas de aço para embalagens. Trata-se do material mais reciclado no mundo. Em 2010, foram nada menos do que 424 milhões de toneladas que passaram pelo processo em todo o planeta, incrementando empregos.



Pneus



Tapetes de automóveis, mantas para quadras esportivas, pisos industriais e borrachas de vedação são alguns itens produzidos a partir da reciclagem de pneus que, após triturados, recebem óleos aromáticos e produtos químicos desvulcanizantes, formando um tipo de borracha.



O número de postos de coleta de pneus usados no País ainda é relativamente pequeno, apenas 600. Conforme a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, o Brasil reciclou em 2010 cerca de 311 mil toneladas, o que corresponde a aproximadamente 62 milhões de unidades.



Alumínio



Trata-se do material mais reaproveitado através de processos de reciclagem no Brasil. Em 2010, o percentual atingiu 98%. Para se ter uma ideia do que isso representa, movimentou R$ 1,8 bilhão na economia nacional, segundo o Cempre.



Somente a etapa de coleta (compra de latas usadas) injetou R$ 555 milhões, o equivalente à geração de emprego e renda para 251 mil pessoas. A lata de alumínio é usada normalmente como embalagem de bebida. Cada brasileiro consume, em média, 54 latas por ano.



Pneus

311 mil toneladas de pneus foram recicladas em 2010, conforme a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos. Isso equivale a cerca de 62 milhões de unidades



FIQUE POR DENTRO
Outros materiais começam a ser reaproveitados

Mais recentemente, além do aproveitamento do material da construção civil para fabricar argamassa, outras atividades de reciclagem vão ganhando espaço no mercado. É o caso da fabricação de briquetes, uma espécie de carvão ecológico que substitui a lenha. É produzido com sobra de coco, palha de coqueiro, pó de serraria e também com restos de poda de árvores. Para se ter uma ideia, mensalmente, são recolhidas em Fortaleza 1.800.000 quilos de podas que eram levados para o aterro sanitário e hoje são reaproveitados pelos produtores de briquetes. O material, além de ter maior poder de fogo que a lenha, ocupa quatro vezes menos espaço e ainda poupa a natureza. Outro item que vem sendo utilizado com sucesso é o óleo de cozinha usado que está sendo processado e transformado em biodiesel. Antes, era lançado nos esgotos, causando grande prejuízo ao meio ambiente. Hoje, é coletado em restaurantes, hotéis, padarias, lanchonetes, bares e restaurantes e vendidos à usina de biodiesel da Petrobras que funciona em Quixadá. O chamado lixo eletrônico também começa a ganhar um outro destino nas mãos de empresas que passaram a se interessar por ele.



FERNANDO MAIA
REPÓRTER 

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