Ação 2020, caminho mais curto para construção de um novo Brasil
MARINA GROSSI
07/11/2014 15h56
Somos hoje 203 milhões de pessoas, das quais mais de 80% vivem em centros urbanos. Os congestionamentos de trânsito no Rio e São Paulo geraram um custo de R$ 98 bilhões no ano passado, quantia superior ao PIB de 17 estados brasileiros. Despejamos no meio ambiente, todos os anos, 26 toneladas de lixo e ainda não universalizamos o saneamento básico: mais da metade do esgoto produzido no país não recebe qualquer tipo de tratamento e 36 milhões de pessoas não tem acesso à água limpa.
Para apontar soluções e contribuir para vencer esses e outros enormes desafios até o final desta década, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) acaba de lançar a plataforma “Ação 2020”, mostrando que existem modelos de negócios capazes de superar passivos sociais e ambientais de grande vulto e propondo uma forte aliança entre empresas, governos, setor acadêmico e a sociedade civil organizada.
Inspirada no Action 2020, desenvolvido pelo World Business Council for SustainableDevelopment (WBCSD), a construção do “Ação 2020” tem o mérito de traduzir as mensagens da ciência para o mundo dos negócios, formulando um conjunto de propostas estratégicas para solucionar os problemas mais urgentes do Brasil nos próximos cinco anos.
Durante todo este ano de 2014, especialistas de empresas, do setor acadêmico e da sociedade civil participaram das discussões para adaptar o documento original do WBCSD numa plataforma de ações concretas para o nosso país. Foram identificados os objetivos da sociedade para sete áreas prioritárias da agenda do desenvolvimento sustentável: mudança do clima; água; direitos e necessidades básicas; produção e consumo sustentável; biodiversidade e serviços ecossistêmicos; uso da terra, mudança do uso da terra e segurança alimentar; e emprego e capacitação.
Para viabilizar a aplicação das propostas nessas sete áreas-chave, será necessário implementar os chamados “fatores viabilizadores”, mecanismos necessários para ultrapassar as barreiras que hoje dificultam ações sustentáveis, impedindo que ganhem escala. Entre os fatores viabilizadores, estão o financiamento, conhecimento e educação, estabelecimento de parcerias, regulamentações, políticas públicas, entre outros.
No processo de formulação teórica e da seleção de áreas prioritárias, uma das preocupações centrais era a de que todas as ações devem ser mensuráveis e verificáveis para que possam ser replicadas de diferentes formas e em diferentes regiões. O estímulo dessas ações lideradas por grandes empresas globais ou nacionais – movimentando na mesma direção suas respectivas cadeias de valor – está na capacidade do setor empresarial transformar em oportunidades de negócios os desafios que se apresentam, por mais complexos que sejam.
Já existem muitas ações e casos de sucesso em diferentes áreas, mas que precisam ser estruturadas e, assim, ganhar escala. O Clube dos Produtores, do grupo Walmart Brasil, é um bom exemplo. O programa, implantado há 12 anos, abriu a possibilidade para que pequenos e médios fornecedores de alimentos – carne, pão, queijos, carnes, peixes, hortifrutigranjeiros – comercializem seus produtos diretamente nas lojas da rede. Todos são beneficiados: o consumidor tem a possibilidade de adquirir alimentos frescos e saudáveis a preços compatíveis; os produtores têm o mercado assegurado sem as pressões dos intermediários; e o Walmart oferece a seus clientes produtos diferenciados. O programa hoje beneficia a quase nove mil produtores em 18 estados brasileiros. Um outro caso de sucesso emblemático é o Movimento CYAN, da Ambev, destinado a estimular o uso racional da água. Ao lançar o programa, a empresa, além de apoiar a mobilização da sociedade para o tema, assume publicamente o seu compromisso de atingir metas de redução de consumo em seus processos de produção. Vale lembrar que a crise hídrica vivida especialmente na região Sudeste do país não só ameaça o abastecimento de água para consumo nas cidades, como também exerce forte impacto na economia, afetando geração de energia, indústria e agricultura.
Além do Brasil, outros 31 países que integram a rede liderada pelo WBCSD estão envolvidos na implementação nacional ou regional do Action 2020, evidentemente com adaptações internas. A versão brasileira do Action 2020 corresponde a um segundo passo depois do lançamento do relatório “Visão Brasil 2050”, apresentado à sociedade brasileira em 2012 durante a Rio + 20, no qual projetamos um país mais justo e sustentável para o final da metade deste século, quando seremos 226 milhões de habitantes com acesso à educação e saúde de qualidade, moradia, transporte, segurança e lazer.
Além de oferecer soluções práticas para acelerarmos o nosso processo de desenvolvimento e atingir as metas traçadas para 2050, o Ação 2020 será de fundamental importância para a aplicação do documento “Agenda CEBDS – por um país sustentável”, um conjunto de propostas concretas encaminhadas aos três principais candidatos à Presidência da República durante a campanha eleitoral. Assim, fatores viabilizadores já começam a se desenhar. A partir de agora, vamos debater tais propostas com mais profundidade com os assessores diretos da presidente reeleita Dilma Roussef.
Estamos certos de que o Ação 2020 será um instrumento importante na formulação dos novos caminhos que precisamos escolher para mudar profundamente o nosso modelo de desenvolvimento. As soluções de negócios têm grande potencial de impactar positivamente os objetivos que a ciência e a sociedade apontam e de que partimos.
Não seria exagero afirmar que encontramos um atalho para que as inovações tecnológicas e os modelos de gestão mais eficientes, hoje presentes nas empresas líderes de mercado, possam ganhar escala e velocidade para mudar o cenário desafiador do país.
Marina Grossi é presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)
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