Latas de alumínio e garrafas de plástico viram moeda
de troca numa campanha de preservação do meio ambiente. O Programa Vale-Água,
lançado pela Copasa, no aglomerado Santa Lúcia, na região Centro-Sul de Belo
Horizonte, alcançará, numa primeira etapa, pelo menos 30 mil pessoas. O
consumidor que entregar produtos recicláveis na agência da empresa que atende a
comunidade ganha desconto na conta de água. Até o fim do ano, o projeto de
redução dos poluentes em rios e córregos será estendido a outras áreas carentes
da capital e do interior.
Logo cedo, no lançamento do projeto, as ruas do
Morro do Papagaio, um dos núcleos do Santa Lúcia, foram invadidas por fanfarras
e grupo de teatro, com lições de educação ambiental, para mudar a rotina da
aposentada Maria Júlia Campelo, de 80 anos, e de seus 20 netos e bisnetos.
Moradora do aglomerado há mais de 40 anos, ela não perdeu tempo e fez as contas
na ponta do lápis. “Mandei a família toda juntar latinhas e garrafas pet, que
estavam espalhadas no quintal e na rua. Conseguimos quase meio quilo de alumínio
e mais de dois quilos de plástico. Mesmo não sendo muito, essa economia de R$
1,52 vai ajudar a pagar a conta”, diz.
Na troca dos recicláveis na
agência de atendimento da Rua São Tomás de Aquino, 473, a Copasa paga pelo
material o valor de mercado. Para um quilo de alumínio (pouco mais de 60
latinhas), o desconto é de R$ 2,90; para um quilo de plástico (26 garrafas de
dois litros), abatimento de R$ 0,17 na conta de água. A embalagem plástica, para
ser aceita, deve ter, em sua base, o símbolo da reciclagem – um triângulo
formado por três setas, com o número 1 ou a palavra pet no centro. Para as
latas, não há restrições.
Consciência
“Maria Fofoqueira” e “Seu Zé”,
personagens do Grupo do Beco, subiram o Morro do Papagaio à frente da banda
Arautos do Gueto, que animou a manhã com instrumentos musicais feitos de
materiais reutilizados. Panfletos, com o slogan “Vale-Água. Preservar o meio
ambiente é um bom negócio”, foram distribuídos nas mais de 5 mil casas do Santa
Lúcia. “O trabalho de recolher latas e garrafas já é feito no morro como forma
de subsistência de muitas famílias. Vamos mostrar à comunidade que a atividade é
importante também para a preservação do meio ambiente. Com o tempo, as pessoas
terão consciência de que é preciso cuidar da natureza como se zela pela própria
casa”, afirma o coordenador do Grupo do Beco, Nil César, que representou o “Seu
Zé”.
Além do desconto na conta de água, a Copasa espera que o projeto
ajude a reduzir a poluição em rios e córregos. “Qualquer morador do aglomerado
pode participar e não depende do tipo de imóvel. Pode ser comercial, residencial
ou igreja. O incentivo é importante, porque 60% dos moradores estão incluídos na
tarifa social da empresa e pagam o valor mínimo. Com a diminuição do lixo no
meio ambiente, será possível evitar enchentes, entupimento de redes e acúmulo de
produtos não biodegradáveis na natureza. O projeto-piloto foi implantado no
Santa Lúcia por ser o único aglomerado de BH com a agência de atendimento da
empresa. E a expansão da iniciativa só depende do aperfeiçoamento e das
alterações a serem feitas”, diz o presidente da Copasa, Márcio
Nunes.
Mesmo sem estimativa do volume de material que será arrecadado
mensalmente, o apoio da comunidade ao projeto está garantido. “Pago entre R$ 15
e R$ 20 pela água e o desconto pode me ajudar a comprar até uma cesta básica no
fim do ano. Vou pedir ajuda aos meus filhos, porque é de centavo em centavo que
consigo fazer economia”, diz a dona-de-casa Jocelina da Silva, de
71.
Reaproveitamento
Iniciativas como essa ajudam a manter o Brasil
como campeão mundial de reciclagem de alumínio, com um índice de 96,2% de
reaproveitamento do metal, segundo a Associação Brasileira de Fabricantes de
Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas). E se as latinhas lideram o ranking, a
reutilização das garrafas pet ainda tem muito o que avançar. No ano passado, não
ultrapassou a média de 47%, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria
do pet (Abipet).
Dos 9,6 bilhões de latas de alumínio produzidas em 2005,
apenas 3,8% continuaram no mercado transformadas em artesanato e utensílios
domésticos ou foram descartadas na natureza, onde demoram mais de 40 anos para
se decompor. As garrafas pet, embalagem de quase 70% dos refrigerantes
produzidos no país, ainda são pouco reaproveitadas. No ano passado, a reciclagem
de 167 mil toneladas do plástico não representou nem 50% do volume produzido no
Brasil.
Fonte: Jornal Estado de Minas -
MG
Fonte:C:\Documents and Settings\Gabinete\Meus documentos\DOWNLOADS\Lixo por água (1).mht
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