RIO E PETRÓPOLIS- No oitavo dia de incêndio de áreas verdes no interior fluminense, a devastação chegou ontem a quatro unidades de conservação, levou medo aos moradores e apreensão aos governos. Desde sábado já foram transformados em cinzas aproximadamente 2,5 mil hectares de cobertura vegetal — o equivalente a mais da metade da área do Parque Nacional da Tijuca. O estrago, antes restrito a Petrópolis, chegou aos municípios de São José do Vale do Rio Preto e Teresópolis, na Região Serrana, e Areal, próximo a Três Rios.
Brigadistas, bombeiros e voluntários encontram dificuldades no combate às chamas. Dos seis helicópteros que seriam destinados à região, apenas dois puderam sobrevoar pela manhã, devido ao nevoeiro. À tarde, dois continuaram com os lançamentos de água, mas as labaredas ainda estavam se espalhando. Em Brasília, o sinal de alerta foi dado pelo presidente do Instituto Chico Mendes (ICMBio), responsável pela gestão do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o mais atingido até o momento. — O fogo se alastrou e ameaça condomínios. A situação não está sob controle — reconheceu o presidente do órgão, Roberto Vizentin. — Temos feito todos os esforços, estamos com mais de 80 agentes treinados na região. Mas a falta de visibilidade tem prejudicado. Algumas aeronaves não conseguiram sequer decolar do Rio. O reforço das operações será discutido hoje, em uma reunião de emergência na Prefeitura de Petrópolis. O diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Guido Gelli, considerou a situação “a mais grave” dos últimos 40 anos: — Não me lembro de nada semelhante. Os reservatórios estão secos e há muita dificuldade de captação de água. Estamos recorrendo a pequenos lagos e fontes de propriedades privadas. Tivemos que puxar água até da piscina do Gilberto Gil, em Araras.
MENOS BRIGADISTAS
Vizentin não descartou a possibilidade de terem ocorridos “falhas pontuais” no combate aos incêndios: — De todo o nosso orçamento, a única área na qual não há contingenciamento de recursos é a proteção a incêndios e fiscalização. No entanto, um ofício enviado este ano pela Coordenação de Emergências Ambientais (Coem), do ICMBio, a gestores ambientais, alertou para uma redução na contratação de brigadistas. O documento relata que a previsão para este ano é a contratação de 1.589 brigadistas, o que representa uma queda de 9% em relação ao contingente contratado no ano passado, de 1.743 profissionais. Um retrato da catástrofe na Região Serrana é a seca das nascentes dos rios que alimentam a Bacia Hidrográfica do Guandu, responsável pelo fornecimento de água a mais de 9 milhões de pessoas na região metropolitana e no Sul Fluminense. Segundo um relatório da ONG SOSMata Atlântica, cerca de 37,8% da bacia está degradada — entre outros motivos, pela falta de conservação dos mananciais. — A Região Serrana é fundamental para a Bacia do Guandu — alerta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica. — A queimada muitas vezes é iniciada por produtores rurais, quando tratam da terra, mas o estado extremo da seca e as condições geológicas facilitam a passagem das labaredas de uma montanha para outra. A estiagem destrói a floresta e deixa o solo frágil, tornando a região ainda mais vulnerável quando vierem as grandes chuvas. As tempestades provocarão a queda de encostas e o bloqueio do fluxo dos rios. — Os eventos extremos, seja a seca ou as grandes chuvas, comprometem a estabilidade do solo e a conservação das nascentes. A população está sempre sob risco — lamenta.
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