por Inés Acosta*
Um acordo entre Montevidéu e o Banco Mundial permitirá aliviar a
contaminação de uma cidade que tem nos resíduos sólidos seu principal calcanhar
de aquiles ambiental.
Montevidéu, Uruguai, 16 de janeiro de 2012 (Terramérica).- O governo da
capital uruguaia pretende reduzir os gases-estufa emitidos pelo lixo produzido
por seus 1,3 milhão de habitantes. O correspondente plano estará operacional em
março e os créditos de carbono que gerar serão comprados pelo Banco Mundial.
O Projeto de Recuperação de Gás do Aterro Sanitário, da prefeitura de
Montevidéu, consiste em projeto, execução e acompanhamento de uma unidade de
coleta, extração, tratamento e queima do gás metano liberado pelo depósito de
resíduos urbanos.
“As obras devem estar prontas em março, e a empresa responsável, a Aborgama
SA, tem um ano para operar o sistema e monitorá-lo, prazo no qual se verá se
alcança o rendimento necessário”, declarou ao Terramérica o coordenador técnico
do Departamento de Desenvolvimento Ambiental da prefeitura, Jorge Alsina.
Aproximadamente 2.200 toneladas de lixo sólido são jogados diariamente no
Sítio de Disposição Final Felipe Cardoso, um amplo terreno com várias áreas,
localizado no bairro de Malvín, em Montevidéu, onde os caminhões coletores
circulam constantemente abrindo passagem entre milhares de gaivotas que buscam
seu alimento. Depois, os resíduos são compactados e enterrados por uma máquina
especial, o que implica que a área cresça consideravelmente.
O monte verde
Duas unidades de processamento, ou tanques, do complexo Felipe Cardoso foram
fechadas no final da década de 1990 porque atingiram o limite de sua capacidade,
formando hoje uma espécie de “monte verde” de 40 metros de altura. Deste
depósito inativo se desprende o gás metano, cujo efeito estufa é 25 vezes mais
forte do que o do dióxido de carbono (CO²), liberado pela queima de combustível
fóssil, segundo afirmam os especialistas no assunto.
“O gás metano é capturado por um sistema de poços que se faz no local, depois
é extraído e conduzido através de uma tubulação onde posteriormente é limpo e
queimado”, explicou ao Terramérica o especialista sênior da Unidade de Carbono
do Banco Mundial, Manuel Luengo. Ao queimar, produz CO², que também é liberado
na atmosfera mas com um efeito menos nocivo, o que permite reduzir o impacto
ambiental que leva à mudança climática.
Segundo informou ao Terramérica o diretor de Desenvolvimento Ambiental da
prefeitura de Montevidéu, Juan Canessa, “os resíduos sólidos são a segunda
principal fonte de emissões (de gases contaminantes na capital uruguaia), depois
da geração elétrica”. “O projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
firmado entre a municipalidade de Montevidéu e o Banco Mundial tem o objetivo de
reduzir o efeito estufa produzido quando este gás é liberado”, disse Manuel.
Tal como estipula o contrato, o Banco Mundial comprará 377.500 créditos de
carbono equivalente, que significa 50% do valor projetado da redução de emissões
que a prefeitura conseguirá na medida em que começar a extrair e queimar o gás
no período 2012-2017. Manuel afirmou que “existe a opção de comprar os 50%
restantes se chegar a produzir a quantidade estimada, embora historicamente os
projetos MDL de aterro sanitário apresentem uma geração de créditos inferior à
prevista”. “Contudo, se produzir os 100% estipulados, o Banco Mundial estaria
interessado em comprá-los”, destacou.
Jorge explicou que cada tonelada de CO² equivalente que se evita lançar na
atmosfera gera um crédito de carbono, cujo preço pode diminuir no final deste
ano devido à incerteza que paira sobre o mercado, diante da ausência de um
acordo internacional sobre mudança climática. Além disso, existe a possibilidade
de geração de eletricidade com o metano capturado, mas, segundo informou Juan,
este acordo ainda não se concretizou e depende, em parte, da quantidade de gás
que se consiga extrair.
Seleção e reciclagem
A municipalidade da capital uruguaia leva adiante outros projetos para
melhorar a gestão de resíduos. “Este mês começará a construção de uma usina de
tratamento de chorume, que custará 75 milhões de pesos”, explicou Juan. Também
será construída uma unidade para disposição de lixo industrial perigoso,
financiada e gerida pela câmara empresarial do setor, e outra para Resíduos de
Obras Civis (ROC), que não podem ser compactados e não são biodegradáveis.
Porém, estes avanços não bastam para que as autoridades de Montevidéu fiquem
despreocupadas, pois temem pelo pouco espaço para aterro sanitário que resta
aterro Felipe Cardoso. Jorge estima que terá lugar para processar resíduos até
2018. Juan, entretanto, garantiu que a prefeitura poderá reduzir a quantidade de
lixo que é levada para esse local por meio da coleta seletiva e da separação
pelas famílias para, assim, facilitar a reciclagem.
Em Felipe Cardoso funciona uma cooperativa de classificadores com essa
tarefa. Por dia é processado o conteúdo de “dez a 14” caminhões, disse ao
Terramérica o presidente da Cooperativa Felipe Cardoso (Cofeca), Richard
Rodríguez. “São montanhas de lixo que deve ser removido a mão, pois falta
infraestrutura e maquinário”, queixou-se. “Só temos a mão de obra e a vontade de
progredir. Somos guerreiros contra a poluição”, afirmou o líder deste grupo
criado há cinco anos, que reúne cerca de 60 pessoas.
Consultado pelo Terramérica sobre o alcance social do Projeto de Recuperação
de Gás do Aterro Sanitário, Ricardo Schusterman, consultor e especialista social
no projeto MDL, declarou que “em tudo que o Banco Mundial financia se verifica
que as ações a realizar não signifiquem impactos sociais negativos, ou que sejam
minimizados e compensados”.
“Entendo que a Cofeca passa por dificuldades em sua organização como
cooperativa, que fazem a prefeitura da capital não ter desembolsado a ajuda
financeira que lhe destinara, a fim de melhorar suas condições de trabalho”,
explicou Ricardo. Segundo ele, “o Banco Mundial continuará supervisionando o
fortalecimento da Cofeca para que as melhorias nas condições de trabalho possam
ser aproveitadas por seus membros”, e para a própria meta da municipalidade de
reduzir os depósitos de lixo.
* A autora é colaborador da IPS.
Um acordo entre Montevidéu e o Banco Mundial permitirá aliviar a
contaminação de uma cidade que tem nos resíduos sólidos seu principal calcanhar
de aquiles ambiental.
Montevidéu, Uruguai, 16 de janeiro de 2012 (Terramérica).- O governo da
capital uruguaia pretende reduzir os gases-estufa emitidos pelo lixo produzido
por seus 1,3 milhão de habitantes. O correspondente plano estará operacional em
março e os créditos de carbono que gerar serão comprados pelo Banco Mundial.
O Projeto de Recuperação de Gás do Aterro Sanitário, da prefeitura de
Montevidéu, consiste em projeto, execução e acompanhamento de uma unidade de
coleta, extração, tratamento e queima do gás metano liberado pelo depósito de
resíduos urbanos.
“As obras devem estar prontas em março, e a empresa responsável, a Aborgama
SA, tem um ano para operar o sistema e monitorá-lo, prazo no qual se verá se
alcança o rendimento necessário”, declarou ao Terramérica o coordenador técnico
do Departamento de Desenvolvimento Ambiental da prefeitura, Jorge Alsina.
Aproximadamente 2.200 toneladas de lixo sólido são jogados diariamente no
Sítio de Disposição Final Felipe Cardoso, um amplo terreno com várias áreas,
localizado no bairro de Malvín, em Montevidéu, onde os caminhões coletores
circulam constantemente abrindo passagem entre milhares de gaivotas que buscam
seu alimento. Depois, os resíduos são compactados e enterrados por uma máquina
especial, o que implica que a área cresça consideravelmente.
O monte verde
Duas unidades de processamento, ou tanques, do complexo Felipe Cardoso foram
fechadas no final da década de 1990 porque atingiram o limite de sua capacidade,
formando hoje uma espécie de “monte verde” de 40 metros de altura. Deste
depósito inativo se desprende o gás metano, cujo efeito estufa é 25 vezes mais
forte do que o do dióxido de carbono (CO²), liberado pela queima de combustível
fóssil, segundo afirmam os especialistas no assunto.
“O gás metano é capturado por um sistema de poços que se faz no local, depois
é extraído e conduzido através de uma tubulação onde posteriormente é limpo e
queimado”, explicou ao Terramérica o especialista sênior da Unidade de Carbono
do Banco Mundial, Manuel Luengo. Ao queimar, produz CO², que também é liberado
na atmosfera mas com um efeito menos nocivo, o que permite reduzir o impacto
ambiental que leva à mudança climática.
Segundo informou ao Terramérica o diretor de Desenvolvimento Ambiental da
prefeitura de Montevidéu, Juan Canessa, “os resíduos sólidos são a segunda
principal fonte de emissões (de gases contaminantes na capital uruguaia), depois
da geração elétrica”. “O projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
firmado entre a municipalidade de Montevidéu e o Banco Mundial tem o objetivo de
reduzir o efeito estufa produzido quando este gás é liberado”, disse Manuel.
Tal como estipula o contrato, o Banco Mundial comprará 377.500 créditos de
carbono equivalente, que significa 50% do valor projetado da redução de emissões
que a prefeitura conseguirá na medida em que começar a extrair e queimar o gás
no período 2012-2017. Manuel afirmou que “existe a opção de comprar os 50%
restantes se chegar a produzir a quantidade estimada, embora historicamente os
projetos MDL de aterro sanitário apresentem uma geração de créditos inferior à
prevista”. “Contudo, se produzir os 100% estipulados, o Banco Mundial estaria
interessado em comprá-los”, destacou.
Jorge explicou que cada tonelada de CO² equivalente que se evita lançar na
atmosfera gera um crédito de carbono, cujo preço pode diminuir no final deste
ano devido à incerteza que paira sobre o mercado, diante da ausência de um
acordo internacional sobre mudança climática. Além disso, existe a possibilidade
de geração de eletricidade com o metano capturado, mas, segundo informou Juan,
este acordo ainda não se concretizou e depende, em parte, da quantidade de gás
que se consiga extrair.
Seleção e reciclagem
A municipalidade da capital uruguaia leva adiante outros projetos para
melhorar a gestão de resíduos. “Este mês começará a construção de uma usina de
tratamento de chorume, que custará 75 milhões de pesos”, explicou Juan. Também
será construída uma unidade para disposição de lixo industrial perigoso,
financiada e gerida pela câmara empresarial do setor, e outra para Resíduos de
Obras Civis (ROC), que não podem ser compactados e não são biodegradáveis.
Porém, estes avanços não bastam para que as autoridades de Montevidéu fiquem
despreocupadas, pois temem pelo pouco espaço para aterro sanitário que resta
aterro Felipe Cardoso. Jorge estima que terá lugar para processar resíduos até
2018. Juan, entretanto, garantiu que a prefeitura poderá reduzir a quantidade de
lixo que é levada para esse local por meio da coleta seletiva e da separação
pelas famílias para, assim, facilitar a reciclagem.
Em Felipe Cardoso funciona uma cooperativa de classificadores com essa
tarefa. Por dia é processado o conteúdo de “dez a 14” caminhões, disse ao
Terramérica o presidente da Cooperativa Felipe Cardoso (Cofeca), Richard
Rodríguez. “São montanhas de lixo que deve ser removido a mão, pois falta
infraestrutura e maquinário”, queixou-se. “Só temos a mão de obra e a vontade de
progredir. Somos guerreiros contra a poluição”, afirmou o líder deste grupo
criado há cinco anos, que reúne cerca de 60 pessoas.
Consultado pelo Terramérica sobre o alcance social do Projeto de Recuperação
de Gás do Aterro Sanitário, Ricardo Schusterman, consultor e especialista social
no projeto MDL, declarou que “em tudo que o Banco Mundial financia se verifica
que as ações a realizar não signifiquem impactos sociais negativos, ou que sejam
minimizados e compensados”.
“Entendo que a Cofeca passa por dificuldades em sua organização como
cooperativa, que fazem a prefeitura da capital não ter desembolsado a ajuda
financeira que lhe destinara, a fim de melhorar suas condições de trabalho”,
explicou Ricardo. Segundo ele, “o Banco Mundial continuará supervisionando o
fortalecimento da Cofeca para que as melhorias nas condições de trabalho possam
ser aproveitadas por seus membros”, e para a própria meta da municipalidade de
reduzir os depósitos de lixo.
* A autora é colaborador da IPS.
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