Escassez de água pode limitar crescimento
econômico nas próximas décadas, diz ONU
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Publicado em 22/03/2016
América Latina está particularmente vulnerável, uma vez
que a maior parte de suas economias é dependente de matérias-primas; setores
como mineração e agricultura são intensivos no uso de água.
Relatório da UNESCO apontou efeitos da escassez e do mau uso dos
recursos hídricos para as economias dos países. Foto: EBC.
Três
em cada quatro empregos do mundo são forte ou moderadamente dependentes de
água, segundo estimativa de relatório das Nações Unidas publicado nesta
terça-feira (22), na ocasião do Dia Mundial da Água.
Consequentemente,
a escassez e os problemas de acesso à água e ao
saneamento podem limitar o crescimento econômico e a criação de empregos no
mundo nas próximas décadas, de acordo com o documento, que citou a falta
de investimentos em infraestrutura e os altos índices de vazamentos nos
sistemas hídricos das cidades globais, inclusive de países
desenvolvidos.
“A
água e o emprego estão indissociavelmente ligados em vários níveis, quer seja
na perspectiva econômica, na ambiental ou na social”, disse a diretora-geral da
UNESCO, Irina Bokova.
A
América Latina e o Caribe estão particularmente dependentes da água na criação
de empregos, porque a maior parte de suas economias é ligada à exploração de
recursos naturais, como mineração e agricultura (incluindo
biocombustíveis). Em países como Brasil, Argentina, Chile, México e Peru,
a irrigação também é responsável por uma parte importante da produção agrícola,
particularmente para exportação.
“Apesar
de a região (América Latina e Caribe) ter cerca de um terço da provisão de
água no mundo, o uso intenso desse recurso em suas economias e sua dependência
dos recursos naturais e dos preços internacionais das matérias-primas impõem
importantes desafios para o crescimento econômico e a criação de empregos”,
disse o relatório.
“As
secas são frequentes na região. Secas severas podem levar a um aumento do
desemprego, particularmente entre a população rural”, completou.
Segundo
o relatório, os efeitos da escassez de água já puderam ser verificados em casos
como o da cidade de São Paulo, cuja economia foi prejudicada em 2014 e
2015 pelas frequentes enchentes e secas severas.
Pressão crescente
O
relatório citou o problema da crescente pressão sobre os recursos de água
potável no mundo, exacerbado pelos efeitos das mudanças climáticas.
Enquanto
a taxa de extração de águas subterrâneas cresce a 1% ao ano no mundo desde
1980, a população global deverá crescer 33% (de 7 bilhões para 9 bilhões
de pessoas) entre 2011 e 2050, junto com um aumento de 60% da demanda por
alimentos.
A
expectativa é que, para cada grau de aquecimento global, aproximadamente 7% da
população mundial enfrente uma diminuição de quase 20% dos recursos
hídricos renováveis, segundo avaliação do Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática (IPCC).
O
relatório da ONU apontou também forte ineficiência da infraestrutura de gestão
de recursos hídricos dos países. A estimativa é que, globalmente, 30% da
extração de água seja perdida em vazamentos. Em Londres, a taxa é de 25%, e na
Noruega, de 32%.
“Essa
projeção de escassez de água exigirá recursos hídricos não convencionais, como
aproveitamento de águas pluviais, águas residuais recicladas e drenagem
urbana”, disse o relatório. “O uso desses recursos hídricos alternativos criará
novos empregos no desenvolvimento de pesquisas e tecnologias e na implementação
de seus resultados.”
A
expectativa é que outra fonte crescente de empregos sejam as energias
renováveis. Segundo o relatório, em 2014, em torno de 7,7 milhões de pessoas no
mundo foram empregadas (direta ou indiretamente) pelo setor, sendo que o
segmento de energia solar foi o que mais empregou, com 2,5 milhões, seguido pelos
biocombustíveis, com 1,8 milhão.
“A
crescente criação de empregos foi notada em todos os tipos de energias
renováveis”, disse o relatório, afirmando que os países que mais empregaram
nesse setor foram China e Brasil, seguidos por Estados Unidos, Índia, Alemanha,
Indonésia, Japão, França, Bangladesh e Colômbia.
A
reciclagem também é citada como uma nova fonte de ocupação e uma
contribuição importante para reduzir a demanda global por produtos
manufaturados. Contudo, o documento lembrou que, em alguns países, os
empregos relacionados à reciclagem são insalubres e perigosos.
Segundo
o documento, o Brasil emprega cerca de 500 mil pessoas no setor de reciclagem,
enquanto nos EUA esse número é de 1,1 a 1,3 milhão, e na China, de 10 milhões.
Ban
Ki-moon: tema não recebe a atenção que merece
O
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, observou que, apesar da sua importância
fundamental, a água como um setor geralmente não recebe a atenção que merece.
“A
água é fundamental para a sobrevivência humana, para o meio ambiente e para a
economia”, destacou Ban, lembrando que a data é uma oportunidade para que todos
possam aprender mais sobre questões relacionadas ao tema, serem inspirados a
transmitir o conhecimento a outros e tomarem medidas que façam a diferença.
Ban
Ki-moon destacou em
sua mensagem que as pessoas com menos acesso à água e ao saneamento muitas
vezes não têm acesso a cuidados de saúde e empregos estáveis, perpetuando o
ciclo da pobreza.
“Estou
especialmente preocupado com as lacunas entre as cidades e o campo, homens e
mulheres, e ricos e pobres. O fornecimento básico de serviços adequados de
água, saneamento e higiene em casa, na escola e no local de trabalho permite
uma economia robusta, contribuindo para uma população saudável e produtiva,
incluindo os trabalhadores”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
O
diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e atual presidente
da UN-Water (ONU-Água, em português), Guy Ryder, comentou o
relatório. “Essa análise destaca o fato de que a água é fonte de trabalho – ela
exige dos trabalhadores a gestão hídrica segura e, ao mesmo tempo, ela pode
gerar emprego e melhorar suas condições”, disse.