Brasil pode ser exemplo de uso de fontes renováveis de energia
A participação da hidreletricidade é um dos destaques na matriz energética brasileira
por Sabrina Craide, da Agência Brasil
Érico Hiller
Usina de etanol de cana-de-açúcar no interior de São Paulo: o Brasil detém a tecnologia no setor
No que depender do uso de fontes renováveis de energia, o Brasil pode se apresentar como um exemplo durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. No ano passado, o país chegou a 44,1% de utilização de fontes como energia hidráulica, eólica, etanol e biomassa na sua matriz energética, enquanto a média mundial é 13,3%.
Além da combinação de recursos naturais favoráveis, como grande quantidade de rios, vento, sol e solo apropriados para a utilização de fontes renováveis, o Brasil ainda desenvolve tecnologias nacionais que favorecem, por exemplo, a construção de usinas hidrelétricas sem reservatórios e também o aumento da produção de etanol.
“O setor energético é uma vitrine para o país. Todo brasileiro pode se orgulhar de sua matriz energética porque realmente poucos países têm esse quadro, tanto na geração de energia elétrica como no setor de transportes”, avalia Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão público responsável por estudos e pesquisas que servem para subsidiar o planejamento do setor energético.
A participação da hidreletricidade é um dos destaques na matriz energética brasileira. O país tem o terceiro maior potencial hidráulico do mundo, atrás da China e da Rússia, e até agora só utilizou um terço desse potencial. “É claro que temos um desafio porque grande parte do que falta ser explorado está na região amazônica, que tem uma riqueza de biodiversidade que deve ser preservada. Mas não é incompatível o objetivo de preservação da Amazônia e a construção de hidrelétricas”, diz Tolmasquim.
Outra fonte com potencial de crescimento no país é a eólica, aquela que gera energia com a força dos ventos. O potencial instalado de geração eólica é 143 mil megawatts-hora (dez vezes mais que a geração da Usina Hidrelétrica de Itaipu). Hoje, o país está em vigésimo lugar em geração de energia em termos mundiais e deve chegar ao fim deste ano em décimo lugar.
Os leilões de energia eólica que vêm sendo realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) têm contribuído para aumentar a participação dessa fonte na matriz energética, aumentando a escala de produção de equipamentos, o que acaba barateando o custo dessa energia. A estimativa da EPE é chegar ao final de 2012 com mais de 3 mil megawatts de potencial instalado de energia eólica e, ao final de 2014, o país deve chegar a 7 mil megawatts.
Já o uso de energia solar é pequeno, pois essa fonte ainda é bastante cara no país. Mas Tolmasquim acredita que a aprovação da Aneel para a instalação de pequenos geradores residenciais de energia solar para a troca eletricidade com as distribuidoras poderá impulsionar o mercado. “As perspectivas são muito boas. A tendência é que ela [energia solar] rapidamente vá ficando mais competitiva”.
Nos próximos dez anos, a expectativa do governo é aumentar o percentual de participação do conjunto das fontes renováveis de energia. Segundo estimativas da EPE, a presença desses recursos vai passar dos atuais 44,1% para 46,3% em 2020. “O nosso maior desafio é garantir o desenvolvimento do país mantendo a participação de renováveis na produção de energia. E a resposta é sim, o Brasil pode crescer mantendo alto nível de renováveis seja nos recursos de rios, biomassa, vento e sol. Temos um grande potencial”, prevê Tolmasquim.
Apesar de reconhecer o avanço na diversificação da matriz energética desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92), realizada há 20 anos, o coordenador da Campanha de Energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo, avalia que o país poderia estar mais bem posicionado no desenvolvimento de outras fontes renováveis, como biomassa e pequenas centrais hidrelétricas, que, na sua avaliação, estão sendo “desprestigiadas”.
Ele também critica os altos investimentos previstos no país para os próximos anos nos setores de petróleo e gás, incluindo a área do pré-sal, em detrimento de fontes renováveis. “Estamos bem avançados no desenvolvimento de fontes renováveis, mas, na hora de ver os investimentos, eles estão indo com maior intensidade para o petróleo”. Para o Greenpeace, a Rio+20 não vai resultar em avanços significativos em relação ao setor energético. “A gente ainda carece de uma política nacional para fontes renováveis”, diz Baitelo.
A matriz elétrica brasileira, que inclui apenas as fontes que servem para a geração de energia elétrica, tem uma participação de 88,8% de fontes renováveis. A média mundial é 19,5% e, entre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média é 18,3%.
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