Instituto Butantan: Depois das cinzas
Importante ponto turístico da capital paulista, o Instituto Butantan – responsável pela produção de soros e vacinas – reinaugura edifício destruído por incêndio em 2010
Nathalia Zaccaro
Renato Nascimento
Localizado na Zona Oeste da capital, o Instituto Butantan ocupa uma área com mais de 80 hectares que concentra quatro museus e diversos centros de pesquisa. Responsável pela produção de soros e vacinas, o complexo criado em 1901 se transformou também em um importante ponto turístico da capital, chegando a receber 300 000 pessoas por ano. Entre as principais atrações estão os artrópodes, vertebrados, répteis e anfíbios que integram o Museu Biológico e o serpentário do local. Sua história ganhou um capítulo trágico às 7h30 de 15 de maio de 2010. O superaquecimento de um aparelho no edifício das coleções, onde estavam guardados milhares de animais conservados mortos para pesquisa, causou um incêndio que destruiu cerca de 500 000 espécimes. Havia mais de 200 000 litros de álcool armazenados dentro do prédio, que ficou completamente destruído. Em janeiro deste ano, o Ministério Público denunciou cinco ex-funcionários da instituição por imprudência e negligência, entre eles o ex-diretor Otavio Mercadante. Se condenados, eles podem pegar pena de até 24 meses de detenção.
Nos últimos anos, o fluxo de visitantes e grande parte dos trabalhos ali realizados continuaram a ocorrer normalmente. O edifício destruído e a coleção perdida demandaram um longo tempo para ser recuperados. Agora, finalmente, o Butantan se prepara para reabrir. A previsão é que isso ocorra no próximo dia 19. "Estou ansioso para fazer a mudança. Desde que tudo pegou fogo não tenho mais estrutura para trabalhar", lamenta o pesquisador Antonio Brescovit. Seu laboratório hoje se resume a um porão acanhado, escondido sob a escadaria do Edifício Lemos Monteiro, uma das construções do complexo. Ele divide ainda seu pouco espaço com milhares de aranhas conservadas em álcool. Todo o precioso acervo do Butantan está atualmente espalhado em diversas pequenas salas como a de Brescovit. "Sabemos que as condições não são adequadas e por isso fizemos questão de construir um local seguro e totalmente adaptado para receber o material", diz seu diretor Jorge Kalil.
Dos 5,5 milhões de reais investidos na obra, quase metade foi destinada à segurança. Os 1 600 metros quadrados da nova construção estão distribuídos em dois pisos. O primeiro receberá os animais e o segundo, os laboratórios. O local deverá abrigar cerca de 1 milhão de espécimes. A reconstrução do catálogo consumiu um grande esforço. Cerca de 4 200 bichos são doados por ano pela população. Outra parte chega até ali como resultado das expedições dos pesquisadores a vários cantos do Brasil e do mundo. "Há três meses fui ao Chile e voltei com 3 000 aranhas, entre elas uma caranguejeira inédita para nosso portfólio", conta Brescovit. "Esse prédio é uma vitória do instituto", comemora Kalil, que só fez uma ressalva ao projeto. "A fachada é horrível! Pedi até que colocassem uns tijolinhos para melhorar um pouco o aspecto", brinca.
AS MELHORIAS JÁ REALIZADAS
Espaço
A nova construção tem dois andares e 1 600 metros quadrados. A antiga era uma espécie de galpão de 1 200 metros quadrados.
Tecnologia contra incêndio
Na época da tragédia só estavam disponíveis extintores manuais e não havia detector automático de fumaça. Hoje, o prédio conta com pelo menos três modernos sistemas de proteção já instalados, além de um time exclusivo de onze bombeiros.
Pesquisa
Estarão disponíveis para os especialistas equipamentos para análises genéticas, uma novidade para o departamento, antes focado apenas na observação e classificação dos bichos.
Organização
O acervo não vai mais ser armazenado em um só ambiente. Sete salas receberão os animais, agrupados de acordo com suas características. Os laboratórios também ficarão em áreas separadas, para evitar o contato desnecessário com o acervo.
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