domingo, 22 de setembro de 2013

Alívio colateral em casos de radioterapia


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Liana John FONTE PLANETA SUSTENTÁVEL


Quem já enfrenta as agruras da radioterapia não merece sofrer com doses extras de efeitos colaterais. Convencida disso, a doutora em Odontologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ana Carolina Lyra de Albuquerque, resolveu estudar a fundo o uso de fitoterápicos para aliviar os sintomas da mucosite, uma doença que afeta a boca de pacientes irradiados na cabeça e pescoço para controle de câncer (neoplasia).
“Como o cabelo cai, a mucosa da boca também é acometida: fica atrofiada e sensível ou atrófica, como se diz tecnicamente. É muito mais do que um incômodo, pois alguns pacientes não conseguem nem se alimentar”, explica. “E os médicos não costumam receitar nada, no máximo um chá para aliviar um pouco. Ou prescrevem um tratamento a laser para mucosite, o que não é recomendável”.
Preocupada em encontrar uma solução mais eficaz, Ana testou um arbusto originário da região Nordeste, cujas folhas são popularmente empregadas contra males tão diversos como acneaftascaspapiolhosfungosmicose (pano-branco), sarna e até chulé. Chamada de alecrim-pimenta, alecrim-grande ou estrepa-cavalo, a planta é cientificamente conhecida como Lippia sidoides e já foi assunto aqui do Biodiversa há um mês, por seu bom desempenho ao substituir fungicidas sintéticos no armazenamento de grãos. 
Conforme comprovou a pesquisa realizada na UFPB, o extrato de alecrim-pimenta tem atividade antimicrobiana, controlando diversos agentes patogênicos presentes na boca, com potencial para se transformarem em problemas quando o sistema imunológico fica debilitado: Streptococcus mutansStreptococcus mitis,Streptococcus sanguinisStreptococcus sobrinus e Lactobacillus casei (sim, o mesmo lactobacilo auxiliar de processos digestivos, usado em laticínios e bebidas láticas).
“O extrato ainda é anti-inflamatório, então coloquei em um gel para facilitar a aplicação e para ficar aderido à mucosa por mais tempo. Funcionou muito bem e logo vamos dar entrada em uma patente”, comemora a especialista. Ela quer produzir em breve um medicamento para dar suporte a pacientes submetidos à radioterapia. “Não é um medicamento para o câncer, é para dar alívio, para combater esse efeito colateral na boca, para melhorar a qualidade de vida de pacientes irradiados”, enfatiza.
Em cinco anos, Ana Albuquerque fez mestrado e doutorado sobre esse tema. Contou com bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com a contribuição dos pesquisadores Jane Sheila Higino, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria do Socorro Vieira Pereira e Maria Sueli Marques Soares, da UFPB, e Jozinete Vieira Pereira, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Agora, Ana dá continuidade ao seu trabalho na UFCG, em Patos, no sertão daParaíba, com o objetivo de avaliar os efeitos contra microrganismos dos gênerosStaphilococcus e Candida, incluindo Candida albicans, causador do famigerado “sapinho” ou candidose, a infecção crônica mais comum dos consultórios odontológicos e ginecológicos. O material vegetal sai direto do horto de plantas medicinais, mantido na universidade, para o laboratório de pesquisa e tecnologia.
É, de fato, um alívio saber que uma plantinha tão fácil de cultivar sirva para desafogar quem já está sobrecarregado com um câncer!

Foto: Liana John (com a colaboração de Ílio Montanari Junior do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas – CBQBA/Unicamp)

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