terça-feira, 23 de outubro de 2012

Roma proíbe comida nas ruas do centro histórico

Multa pode chegar a US$ 650; monumentos em péssimo em estado de conservação.

Turista aproveita o sol na Fontana di Trevi: desrespeito generalizado ao patrimônio histórico da cidade
Foto: Andrew Medichini / AP
Turista aproveita o sol na Fontana di Trevi: desrespeito generalizado ao patrimônio histórico da cidadeANDREW MEDICHINI / AP
ROMA - Roma declarou guerra aos turistas famintos que, empurrados pela crise ou pela pressa, aproveitam a sombra do Panteão para comer um pedaço de pizza ou transformam a escadaria da Praça de Espanha num restaurante com vista. Até o dia 31 de dezembro, comer nas ruas do Centro Histórico da Cidade Eterna está rigorosamente proibido. Logo no primeiro dia, policiais com uniformes azuis e brancos patrulhavam o centro histórico em busca de comilões. Diante de um grupo de holandeses sentado diante do Coliseu, avisaram:
- Andem, andem.
Segundo o decreto publicado na quinta-feira pelo prefeito Gianni Alemanno, do PDL - o partido do ex-premier Silvio Berlusconi -, turistas podem comer enquanto caminham, mas não podem parar saboreando um saco de batatas fritas ou se sentarem para comer um sanduíche. Os infratores podem ter que pagar uma multa de US$ 32 a US$ 650, independente do tamanho do lanche ou se o comem com os pés mergulhados numa fonte.
Não é um exagero. Cenas como esta e mais estranhas são vistas todos os dias no centro histórico da capital italiana. Roma sofre. Não apenas porque seus principais monumentos caem literalmente aos pedaços. Ou porque as hordas de turistas que a invadem atrás de um guia com uma bandeirinha e um alto falante só podem caminhar entre as infinitas fileiras de mesa dos restaurantes, homens vestidos de centuriões ou músicos de rua e amplificadores. Roma sofre, sobretudo, pelo desdém daqueles que deviam protegê-la e não o fazem.
A última medida do prefeito Alemmano - batizada de “lei antisanduíche” - foi recebida com ceticismo:
- Nesta cidade, se pode fazer tudo - disse Viviana Di Capua, integrante da associação de vizinhos do centro histórico - É necessário recuperar o respeito e a educação. Este decreto pode ser um primeiro passo, mas precisamos de muitos mais.
Um dos passos necessários, por exemplo, é fazer com que as leis que já existem sejam cumpridas. Um dos casos mais curiosos é o dos restaurantes que, de maneira abusiva, invadem sistematicamente as ruas e as praças mais bonitas de Roma. O fenômeno já tem até um apelido: “mesas selvagens”. Apesar de um decreto limitar o número de mesas e a distância que elas devem estar dos monumentos históricos, ninguém respeita. Talvez seja por simples falta de vontade ou talvez porque debaixo das ordens municipais atue uma rede de favores e relações mais antigas que o Estádio de Domiciano.
O último decreto proíbe, basicamente, “beber, comer ou qualquer forma de acampamento” junto às joias arquitetônicas do centro histórico de Roma. O objetivo é forçar o respeito - não só de turistas, mas também de romanos - “às normas mais elementares de decoro urbano”. Talvez a crise dos cofres municipais obrigue os pacíficos policiais do centro romano a lançar uma caçada aos devoradores de pizza ao ar livre. O espetáculo, como sempre em Roma, está servido.


 http://oglobo.globo.com/mundo/roma-p

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