segunda-feira, 22 de julho de 2013

A TERRA VAI NOS AGUENTAR?

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A mais velha preocupação do Homem é, obviamente, sobreviver. E, durante milénios, a Humanidade viveu com um nível de vida estável em virtude do equilíbrio que existia entre aquilo que produzia e o crescimento da população. A regra que a história nos revela é que poucas pessoas tinham mais do que o estritamente necessário para o quotidiano. O desenvolvimento que vimos conhecendo, nos últimos 250 anos, trouxe consigo uma transformação tão significativa, intensa e consistente que revolucionou por completo a vida da população mundial.
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O planeta Terra visto do Apollo 17 (Wikicomons, NASA).
O problema é que esta sociedade do well fare e do conforto, caracterizada por elevadíssimos níveis de saúde e pelos melhores níveis de vida, inclui um repertório de vantagens cujo preço ainda hoje não é possível contabilizar.
O problema não é o desenvolvimento ou o progresso em si mesmo mas, ao invés, a passividade e incapacidade da sociedade em encontrar vias que conciliem a um só tempo o desenvolvimento sustentado e equilibrado orientado por princípios de equidade, não só relativamente à nossa espécie, mas também relativamente às outras espécies que partilham connosco este espaço.
Ao longo da história, nunca foi necessário preocuparmo-nos com o controle e dimensão da população porque a Natureza, funcionando como regulador primário desta, encarregava-se dessa função, por via das doenças e epidemias. Na opinião dos historiadores, a população do planeta não diminui desde a peste negra do século XIV. O desenvolvimento das ciências médicas foi, sem dúvida, a gota de água. Se as epidemias e doenças de largo espectro desapareceram, há urgentemente que buscar formas alternativas para parar o aumento da população. Mas não só vivemos mais e melhor, como há tantas mulheres em todo o mundo em idade fértil (cerca de 1.800 milhões) que a população mundial continuará a crescer pelo menos durante algumas décadas (ainda que cada mulher tenha menos filhos do que outrora). Sobretudo na África subsaariana, as taxas de fecundidade mantêm-se elevadas (a Sul do Saara, a descendência média é de cinco filhos por mulher).

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Tanzânia, criança africana transportando vegetação de bicicleta (Wikicommons, Muhammad Mahdi Karim).

Por volta de 1750, a população mundial era de 700 milhões de pessoas. Actualmente, já ultrapassou os 7 mil milhões. Este crescimento deixa antever inúmeras preocupações. Mas esta voracidade do crescimento populacional encontra uma barreira natural na Terra: a sua superfície. A tendência será para a ocorrência de fortes migrações nas próximas décadas (potenciadas pelo aquecimento do planeta) rumo a zonas hoje inabitáveis, da Sibéria e do Canadá.

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Mapa mundial da densidade populacional (Wikicommons).
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Distribuição mundial do PIB (riqueza e população) por região (Wikicommons).
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Gráfico da população mundial

Escusado será referir a enorme pressão, já sentida, sobre os recursos naturais existentes - terra, água, fontes energéticas e ambiente. Hoje, os recursos naturais são, em geral, dotados de um qualificativo que, desde há pouco, adquiriu um grande prestígio aos olhos dos habitantes do planeta: são raros. Esta raridade não é nova em si mesma; aliás, deslocou-se ao longo dos séculos de um elemento para o outro. Neste panorama levanta-se uma questão: a água e o ar, até agora estranhos à origem dos confrontos entre Estados, irão tornar-se elementos vitais capazes, pela sua raridade, de gerar conflitos? Esta ideia não é de hoje. Em 1798, Thomas Malthus enunciou uma lei demográfica que apontava exactamente para um desfecho trágico resultante deste “cancro” do crescimento demográfico.
Um outro efeito, mais económico, é a reforma da população mais velha. Este problema, que é comum em todo o mundo, tem sido debatido em Portugal a propósito da Reforma da Segurança Social. A dúvida é simples: como sustentar uma população em envelhecimento? Em 2050 haverá pessoas suficientes para pagar as pensões? Frans Willekens, director do Instituto Demográfico Interdisciplinar Holandês, afirma que não…

Deslocando para os dias de hoje o olhar que deve, nestes problemas, estar focado no amanhã, é inequívoco que as populações na Terra com maiores taxas de crescimento são, nada mais, nada menos, as que registam mais miséria. Será assim o futuro? Basta visitar Deli (com cerca de 22 milhões de habitantes) ou a China (que alberga um quinto da população mundial) para compreender as consequências.


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Mercado em Deli (imagem da esquerda), (Wikicommons).Rua Najing em Shangai (imagem da direita), (Wikicommons).
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Rua de Dhaka, Bangladesh (Wikicommons).

Mas será que existe alguma solução técnica para o problema do sobrepovoamento na Terra? Há quem diga que é tempo de uma revolução verde apelando à invenção de medidas tecnológicas orientadas para o cultivo e aproveitamento dos mares ou até de alternativas ao milho ou ao trigo. Ainda é possível produzir géneros alimentares em quantidade suficiente mas fazê-lo sem esgotar os recursos finitos será um desafio. Sim, o número de pessoas é importante, mas a forma como as pessoas consomem os recursos importa mais.
Ainda assim, na maior parte do mundo a família diminui drasticamente. Os casais geram menos filhos, é certo, mas o impacto demográfico demora ainda uma geração…. E as estimativas dizem que, mesmo que cada mulher só tenha dois filhos, a população continuará a crescer em flecha, sem controlo, durante mais um quarto de século.

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