domingo, 8 de março de 2015

Quanto custa preservar a Mata Atlântica?


Quanto custa preservar a Mata Atlântica?

PUBLICADO . EM BIODIVERSIDADE

Estudo comprovou que com 0,01% do PIB daria para restaurar uma área de floresta equivalente a 424 mil campos de futebol
POR ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA
Segundo estimativas do Ministério do Meio Ambiente, hoje em dia não resta no Brasil mais do que 22% da área originalmente coberta pela Mata Atlântica. Desta porção, somente 7% pode ser considerada bem conservada, com fragmentos superiores a 100 hectares de extensão. A legislação em vigor prevê que os proprietários rurais que ocupem a região do bioma devem preservar o equivalente a 20% de floresta em seus terrenos – mas especialistas descobriram que, para se ter uma preservação eficaz das espécies e mananciais, seria preciso que estas reservas correspondessem a no mínimo 30% das terras.
A boa notícia é que esta expansão, além de comercialmente viável, já conta também com certa vontade política para sair do papel. “Existe agora um interesse do Ministério do Meio Ambiente, além das secretarias correspondentes em alguns estados e de ONGs, mas faltava ter um valor e dizer quanto e onde preservar”, diz Cristina Banks-Leite, bióloga brasileira e professora do Imperial College de Londres. A solução, segundo ela, seria o governo pagar taxas diretamente aos proprietários para que eles zelem pelo reflorestamento de 10% de suas propriedades.
Proposta é pagar taxa a 37 mil proprietários rurais para que reflorestem 10% de suas terras
Cristina é a principal autora do estudo publicado semana passada na revista Science que propõe que os incentivos não se restrinjam à esfera local e passem a integrar uma diretriz nacional. A equipe de pesquisadores elegeu 37 mil áreas prioritárias espalhadas por toda a Mata Atlântica que já preservam os 20% exigidos, e descobriu que R$ 445 milhões por ano viabilizariam a iniciativa. Apesar de parecer um montante significativo, corresponde a menos de 0,01% do PIB nacional, e 6,5% do que o país paga em subsídios agrícolas.
A região reflorestada abrangeria 424 mil hectares – como um campo de futebol equivale a cerca de um hectare, o número é o mesmo. De acordo com os pesquisadores, o custo seria mais elevado nos primeiros três anos, devido aos gastos diretos com a recuperação. Depois disso, cairia para cerca de 0,0026% do PIB. “Já há uma certa quantidade de animais e plantas vivendo ali, de maneira que a recuperação seria mais simples”, explica a bióloga. Além do mais, a perda na produtividade seria mínima (cerca de 0,61% do PIB agrícola) e os lucros dos agricultores não seriam comprometidos, já que eles estariam recebendo para cuidar do bioma.


Fonte: Revista Galileu, publicado originalmente na Revista FAPESP.

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