Perda de energia pode ser maior que o estimado
Para especialistas, dados sobre furto no setor elétrico mascaram desperdício e rede precisa ser modernizada
POR HENRIQUE GOMES BATISTA 14/03/2015
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, afirma que os investimentos na distribuição de energia das grandes cidades são antigos e geram perdas desnecessárias para as empresas.
RIO - No momento em que as discussões sobre a crise do setor elétrico destacam a combinação de consumo em alta e níveis historicamente baixos dos reservatórios das hidrelétricas, especialistas voltam as atenções para uma das principais fontes de desperdício de energia no país: as perdas técnicas das distribuidoras. Analistas afirmam que o Brasil poderia economizar até 7% de toda a energia modernizando o sistema de entrega ao consumidor final.
Roberto D’Araujo, diretor do Instituto do Desenvolvimento do Setor Elétrico (Ilumina), avalia que as perdas no Brasil são pouco discutidas e poderiam, se resolvidas, anular o crescimento do consumo de dois anos seguidos. Para D’Araujo, grande parte do que se considera roubo de energia no Brasil é, na verdade, perda técnica no setor de distribuição:
— Os postes do Brasil são dispostos com emaranhados de fios. Estes fios, pela proximidade com a rede elétrica, geram perdas. Quando vemos desperdício na Cedae, isso fica nítido, é água escorrendo no chão. Se energia fosse líquida, nossos postes seriam molhados, de tantos problemas, inclusive nas áreas nobres do Rio e de São Paulo — disse o especialista, afirmando que a Califórnia conta com postes com fios aéreos e compartilhados, mas com distância mínima de um metro em relação aos cabos de telefonia, internet e televisão.
PERDAS CHEGAM A 13,5% NO PAÍS
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estima que as perdas chegam a 13,5% da energia gerada em 2013, mas apenas 7,5% seriam perdas técnicas, o restante seria roubo. No mundo desenvolvido, as perdas técnicas somam 6%. Mas na Light, que atende o Rio e a região metropolitana, a perda chegou a 22,57%. Na Ampla, que abastece Niterói e o interior, somou 18,54%. Na Eletropaulo, de São Paulo, as perdas totais foram de 9,15% em 2013.
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, afirma que os investimentos na distribuição de energia das grandes cidades são antigos e geram perdas desnecessárias para as empresas.
— O sistema de distribuição do Brasil é muito antigo, mas os investimentos do setor são caros, ainda mais neste momento de alta de tarifas — disse ele, que só acredita em ampla modernização da distribuição com investimentos públicos ou com um programa de incentivo.
Nelson Leite, presidente da Associação Brasileira de Empresas Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee) discorda. Ele afirma que as empresas do setor estão próximas dos padrões mundiais.
— Seguimos rígidos padrões de qualidade, mesmo nos postes compartilhados há regras, não temos problemas de perdas técnicas —disse.
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