terça-feira, 10 de março de 2015

7/03/2015 16:44
Manchetes do Globo online e da Folha de S. Paulo online
Manchetes do Globo online e da Folha de S. Paulo online


Era o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues, que a divulgação da lista do MPF com pedidos de investigação de políticos por envolvimento no Petrolão provocaria um furacão na política. Porém, confesso que estou assustado com a quantidade de notícias publicadas em colunas políticas dando conta de vinganças articuladas por Renan Calheiros e Eduardo Cunha contra o governo e o Ministério Público Federal. Existe o risco de um crise institucional no país se prevalecer esse espírito por parte dos presidentes do Senado e da Câmara.

Renan e Cunha culpam governo e MPF pelo que dizem ser "perseguição" ou "tentativa de enfraquecer o Congresso" por estarem na lista dos investigados do Petrolão. Mas com toda a indignação não tiveram coragem de agir como eu e Rosinha fizemos no final do mandato dela como governadora, quando tomamos a iniciativa de enviar ao MP Estadual um documento onde espontaneamente abrimos mão dos nossos sigilos bancário e fiscal para que não pairasse nenhuma dúvida sobre a nossa lisura e probidade. Coragem para isso não tiveram.

Agora agem como se fossem donos do Senado e da Câmara, ameaçando retaliações, CPIs, aprovação de projetos contrários ao interesse do governo, mudanças na estrutura do MPF, veto a nome de indicado para o STF. Ambos têm muito poder pelo cargo que ocupam, mas é bom não esquecer que esse poder é maior ou menor na medida do apoio, omissão ou oposição que tiverem dos líderes partidários e respectivas bancadas.

Neste momento com dezenas de parlamentares e vários partidos sob suspeita de receberem propinas do esquema do Petrolão é natural que muitos deputados e senadores, num primeiro momento, sigam a tendência de bater palmas para o enfrentamento que Renan e Cunha pretendem fazer. Conheço bem como funcionam as coisas no Legislativo. Os "tubarões" da Câmara chegam no ouvido de deputados novos, sem experiência política, e começam a dizer: "Você precisa fechar com a gente. Querem enfraquecer o Congresso. Amanhã pode ser você a ser acusado de alguma coisa. Temos que nos apoiar, uma mão lava a outra". E posso lhes dizer pela minha experiência como deputado federal que muitos novatos, por mais bem intencionados que sejam, cedem a essa pressão.

Faço aqui só um parênteses, antes de continuar meu raciocínio para que vocês não me interpretem equivocadamente. Não estou aqui - de maneira alguma - defendendo o governo, como alguns leitores dizem muitas vezes porque apoiei Dilma, alguns chegam a afirmar que eu me aliei ao PT. Não tenho nada com o PT nem com o governo. Respeito a Presidente Dilma porque sempre me tratou com respeito, com dignidade, nos conhecemos da época do PDT, de Brizola. Como deputado federal apoiei o governo em votações, como votei contra quando considerei os projetos contrários ao interesse do povo, principalmente em questões envolvendo o Rio de Janeiro. Nenhum mandato foi mais transparente do que o meu. Vocês são testemunhas disso. Não tenho rabo preso com ninguém. Todos vocês acompanharam as notícias na imprensa de que me ofereceram o cargo de vice-presidente do Banco do Brasil e não aceitei. Nunca estive atrás de cargos. Quando Lula se elegeu em 2002, contra Serra, na eleição onde tive 15 milhões de votos e quase fui para o 2º turno, me ofereceram um ministério ou uma estatal. Não aceitei naquela época, como fiz agora. Não tenho apadrinhados no governo. Se apoiei Dilma na eleição presidencial não foi por decisão pessoal. Os leitores do blog sabem que foi a decisão mais democrática possível, o único caso no Brasil, onde mais de 30 mil filiados (do PR - RJ) votaram e decidiram por esse apoio. Acho importante esses esclarecimentos para que vocês entendam que as minhas análises da conjuntura política não poderiam ser mais independentes, são mais isentas do que é publicado pela grande maioria da imprensa. Dito isso voltamos à questão do Congresso e do Petrolão.

Espero que o final de semana sirva para acalmar os ânimos. Na próxima semana a CPI da PETROBRAS começa a efetivamente a trabalhar, obviamente sob os efeitos da Lista de Janot. Teremos duas manifestações, na sexta, da CUT, MST, com apoio do PT; no domingo, do PSDB e da oposição. As manchetes vão repercutir a lista do Petrolão. Espero que a maioria dos deputados e senadores entenda que não existe nenhuma ação deliberada contra o Congresso, apenas contra alguns detentores de mandato. Líderes e bancadas não podem esquecer que representam o povo, o Congresso é a casa do povo, não podem aceitar servir de massa de manobra para os interesses pessoais dos presidentes do Senado e da Câmara. Que cada um dos senadores e deputados que serão investigados use o seu direito de se defender, de provar sua inocência, se for possível. E que a maioria dos senadores e deputados cumpra o seu papel democrático, soberano pela vontade popular, de defender o povo, o Brasil e a Constituição, jamais de servir aos interesses mesquinhos dos presidentes do Senado e da Câmara, ou o país será arrastado para uma crise institucional com uma guerra entre dois poderes da República, Legislativo e Executivo, onde - não tenham dúvidas - restará ao Supremo Tribunal Federal, o Judiciário, assumir um papel de poder moderador (para resolver contendas entre os poderes), como existiu na primeira Constituição brasileira, de 1824. 

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