por
Redação IHU
“Considero um avanço o fato de que a maioria dos
brasileiros seja a favor de utilizar as sacolas reutilizáveis. O próximo passo é
fazer com que isso se torne um hábito”, avalia a gerente de comunicação do
Instituto Akatu.
“A briga contra as sacolinhas plásticas não é uma briga com o plástico em si,
é uma briga contra a descartabilidade”, esclarece a gerente de comunicação do
Instituto Akatu, que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade
para o consumo consciente. Em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone,
Ludmila Frateschi explica que as sacolas plásticas geram impactos ambientais em
dois momentos: primeiro, ao serem fabricadas, pois demandam uma série de
recursos naturais; e, posteriormente, ao serem descartadas após pouco tempo de
uso. “Cada uma demora mais de cem anos para se decompor no meio ambiente”,
alerta. No entanto, enfatiza, o setor do plástico desempenha um papel
fundamental ao oferecer a matéria-prima para desenvolver material descartável
para hospitais, pois evita a contaminação. “Os produtores de plástico não
deveriam estar tão preocupados com a mudança, porque nós precisamos muito do
plástico para viver”, frisa.
Além do lento processo de decomposição, Ludmila enfatiza que o “plástico tem
uma tendência de se fragmentar em pequenos espaços, fazendo com que ele se
espalhe rapidamente, contaminando muitos ambientes. Além de contaminar a água,
ele acaba matando a fauna e a flora que vivem na água. Por essas e outras
razões, as sacolas plásticas estão sendo consideradas um problema”.
Segundo ela, os sacos de lixo preto e azul são menos agressivos ao meio
ambiente, uma vez que são fabricados a partir de um plástico que já foi
utilizado. Entretanto, assegura, as sacolas reutilizáveis continuam sendo a
melhor alternativa para minimizar os impactos ambientais. “As sacolas
biodegradáveis não deveriam ser uma opção; elas deveriam ser uma escolha para
quem esqueceu a sua sacola, fez uma pequena compra, teve algum imprevisto. No
dia a dia, a opção deveria ser utilizar a mesma sacola reutilizável várias
vezes”, destaca.
Ludmila Frateschi é psicóloga, formada pela Universidade de São Paulo – USP,
e especialista em comunicação corporativa, formada pela Escola de Comunicação e
Artes da mesma instituição. Há oito anos atua em planejamento e gestão de
comunicação para a sustentabilidade, construção de reputação e relacionamento
institucional. Trabalha no Akatu desde 2007, onde é gerente de comunicação do
instituto.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual é o impacto das sacolinhas plásticas no meio
ambiente?
Ludmila Frateschi – O impacto das sacolas é muito grande,
pois como são descartáveis, elas são utilizadas uma vez e, posteriormente, são
jogadas no lixo. Isso significa que todo o processo produtivo que envolve a
fabricação das sacolinhas é desperdiçado, desde a água que é utilizada até a
matéria-prima do plástico, a mão de obra e o transporte.
Depois que as sacolas são descartadas, elas geram outro impacto ambiental,
porque cada uma demora mais de 100 anos para se decompor no meio ambiente. Isso
significa que a quantidade de sacolas utilizadas gera uma grande quantidade de
lixo, que sobrecarrega os lixões e aterros sanitários. O mundo está em uma
situação em que não há mais espaço para depositar o lixo que se produz. Tal
material fica no aterro sanitário e não se degrada. Pior do que isso, é que o
plástico tem uma tendência de se fragmentar em pequenos espaços, fazendo com que
ele se espalhe rapidamente, contaminando muitos ambientes. Além de contaminar a
água, ele acaba matando a fauna e a flora que vivem na água. Por essas e outras
razões, as sacolas plásticas estão sendo consideradas um problema.
IHU On-Line – O argumento da indústria de que a sacola plástica é
reutilizável em lixeiras domésticas e não é descartável é um bom
argumento?
Ludmila Frateschi – Esse é um argumento frágil, primeiro
porque o problema é justamente utilizar a sacola plástica uma ou duas vezes. Há
diferença entre utilizar uma sacola duas vezes e 30 ou 50 vezes, por exemplo.
Usar um produto uma ou duas vezes faz com que ele seja descartável.
No que se refere a encontrar uma maneira de acomodar o lixo, temos muitas
questões a serem discutidas. De fato, precisamos de uma alternativa mais
adequada para o descarte do lixo. As empresas precisariam desenvolver sacos
grandes de lixo biodegradáveis. Além disso, precisaríamos demandar do poder
público uma coleta seletiva adequada.
IHU On-Line – Os sacos de lixo que são vendidos no supermercado têm
uma composição diferente da sacolinha plástica? Ele é menos danoso ao meio
ambiente, ou na prática acaba causando os mesmos problemas?
Ludmila Frateschi – Os sacos de lixo preto e azul são feitos
de material reciclado e causam um impacto menor ao meio ambiente, porque eles
são produzidos a partir de um plástico que já foi utilizado antes. Então, há uma
sustentabilidade maior nesse processo, apesar de não ser uma alternativa
biodegradável.
IHU On-Line – Por que a indústria plástica é tão refratária ao
banimento das sacolas plásticas?
Ludmila Frateschi – As sacolas plásticas são um produto
bastante disseminado e lucrativo. Então é natural que os produtores, que talvez
terão de se adaptar a produzir outros produtos de plástico, se sintam
atrapalhados com essa mudança de comportamento do consumidor. Do ponto de vista
do Akatu – e nós temos dialogado bastante com essa área da indústria –, os
produtores de plástico não deveriam estar tão preocupados com a mudança, porque
nós precisamos muito do plástico para viver. Ele é importante quando produz
material descartável para hospitais, uma vez que evita contaminação; é
importante quando é utilizado como matéria-prima de coisas duráveis, limpas,
laváveis, que podem ser utilizadas várias vezes. Então, a briga contra as
sacolinhas plásticas não é uma briga com o plástico em si, é uma briga contra a
descartabilidade. Não deveríamos produzir facilmente os produtos descartáveis.
Deveríamos ter um modelo de consumo que valorizassem a reutilização.
IHU On-Line – Qual é o papel que os grandes supermercados desempenham
nesse contexto?
Ludmila Frateschi – Os supermercados podem desempenhar
alguns papéis. Em São Paulo, por exemplo, foi feito um acordo entre o governo do
estado e a Associação Paulista de Supermercados – APAS, que acabou motivando a
retirada das sacolas plásticas dos supermercados. Foi um acordo setorial de alta
regulamentação, ou seja, não se trata de uma lei, mas os supermercados optaram
por banir as sacolas plásticas das lojas.
Outro caminho importante é o da conscientização do consumidor. As pessoas
precisam ter consciência de que existem alternativas para carregar as compras
(sacolas retornáveis, caixas).
IHU On-Line – E nessa questão da conscientização, como vê a cultura
do brasileiro e a compulsividade no consumo de sacolas plásticas? É possível
vencer essa cultura?
Ludmila Frateschi – Acredito que sim. Se as pessoas tiverem
consciência do impacto que as sacolas plásticas provocam e tiverem alternativas
que não pesem no bolso, que não modifiquem a vida delas de uma maneira
complicada, podem, sim, adquirir um comportamento mais consciente. Os nossos
trabalhos vêm mostrando que, quando as pessoas têm noção dos impactos, tendem a
se mobilizar e conseguem modificar os comportamentos do cotidiano.
IHU On-Line – Como as pessoas estão reagindo a essa decisão de banir
as sacolas do supermercado?
Ludmila Frateschi – As pessoas têm algumas dificuldades, e
as mudanças são difíceis. Nas primeiras semanas de janeiro, a reação dos
consumidores foi mais complexa. Eles estavam incomodados, principalmente porque
as sacolas biodegradáveis e as reutilizáveis estavam sendo vendidas. O
consumidor sentiu que foi obrigado a mudar de comportamento rápido demais, sem
uma contrapartida do supermercado. No entanto, foi feito um acordo entre o
Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor – Procom e a APAS para que,
durante dois meses, existisse um período de adaptação do consumidor. Ficou
estabelecido que o supermercado seria obrigado a oferecer alternativas gratuitas
e também oferecer sacolas reutilizáveis a preço de custo. Depois dessa
iniciativa, os consumidores ficaram um pouco mais calmos e estão se esforçando
para se adaptar. Há algumas dificuldades práticas. Algumas delas são: “Como
organizar as minhas compras numa única sacola? É melhor ter uma ou duas
sacolas?”. Elaboramos um texto, que está publicado no nosso site, o qual
responde aos seis maiores incômodos do consumidor. Quem tiver interesse, pode
acessar em http://www.akatu.org.br.
IHU On-Line – Não é contraditório o fato de que a maioria dos
brasileiros apoie o fim das sacolinhas, mas ao mesmo tempo não utilizem a sacola
retornável e tampouco se disponha a pagar pelas sacolas
biodegradáveis?
Ludmila Frateschi – Acredito que isso não seja exatamente
uma contradição. Todo processo de mudança acontece desta maneira: primeiro, nos
conscientizamos que temos que fazer uma mudança, e depois vamos conseguindo
mudar na prática, até que a nova atividade vire um hábito. Todos os processos de
conscientização passam por esse processo. Então, considero um avanço o fato de
que a maioria dos brasileiros seja a favor de utilizar as sacolas reutilizáveis.
O próximo passo é fazer com que isso se torne um hábito. As sacolas
biodegradáveis não deveriam ser uma opção; elas deveriam ser uma alternativa
para quem esqueceu a sua sacola, fez uma pequena compra, teve algum imprevisto.
No dia a dia, a opção deveria ser utilizar a mesma sacola reutilizável várias
vezes. Nesse sentido, planejar as compras é importante. São essas mudanças de
hábito que o consumidor deve fazer.
IHU On-Line – Em sua opinião quais são os passos a serem dados para
uma política de superação do uso das sacolas plásticas?
Ludmila Frateschi – Em primeiro lugar, é preciso uma
campanha de conscientização em que se apresenta o problema gerado pelo uso das
sacolas plásticas, seja no âmbito ambiental ou econômico. Posteriormente, é
preciso convidar as pessoas a avaliar o impacto das mudanças de suas atitudes e,
enfim, o impacto da mudança de atitude da sociedade como um todo. Passando por
essa fase de conscientização, há uma fase complementar que é a oferta de
alternativas fáceis, possíveis e com um preço acessível para as pessoas, como as
sacolas reutilizáveis.
IHU On-Line – Quando compramos verduras e frutas, elas vão dentro de
um saco e depois ainda vão dentro da sacola. Esse também é um
problema?
Ludmila Frateschi – Em alguns casos, os saquinhos plásticos
das frutas, legumes e verduras se justificam. Por exemplo, quando a vida útil do
produto é muito frágil, como da ameixa ou do pêssego, a sacola aumenta essa vida
útil. Isso é bom, porque reduz o desperdício de alimentos. O ideal é que esse
saco tenha o mínimo de plástico possível e seja feito com uma matéria prima que
possa ser biodegradável. Em outros casos, como a banana, não há necessidade de
sacolinha plástica. O consumidor deve aprender a avaliar quando há ou não
necessidade de usar sacola plástica.
Fonte: IHU
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