segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O velho sofá revive em bolsas customizada 

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selo-economia-criativa-especial-XTirar o couro de sofás descartados foi a melhor ideia da designer Anneke van der Heide, de Amsterdam (esta é mais uma reportagem da série especial de Economia Criativa, realizada a partir de convite do Ministério das Relações Exteriores de Amsterdam). A ideia virou meio de vida: ela deixou seu trabalho como estilista e montou uma empresa de reciclagem de couro – chamada Xofa – onde também dá aulas, organiza oficinas e acolhe estagiários dispostos a transformar resíduos nobres em bolsas, carteiras, porta-niqueis e pastas customizadas.
Tudo começou em 2012, quando Anneke pedalava rumo ao trabalho, no centro da capital holandesa, e passou por um sofá de couro branco disposto na calçada, no dia de coleta seletivade móveis e utensílios domésticos. Ela já havia reparado no descarte de sofás de couro antes e isso a incomodava: muitas vezes o couro estava em bom estado e a destinação para o lixo não parecia certa. No dia do sofá branco, porém, o incômodo passou da conta. Anneke voltou para casa em busca de uma faca e retirou todo couro do sofá ali mesmo, na rua. Depois colocou a criatividade de designer para funcionar e fez as primeiras nove bolsas.
O teste mostrou que cada bolsa ou pasta levaria, em média, duas a três horas para ficar pronta. O consumidor poderia encomendar o modelo e acrescentar ou tirar bolsos, divisórias e fechos. O preço de venda ficaria entre 169 e 450 euros. E fazer carteiras e porta-níqueis aumentaria a taxa de aproveitamento dos retalhos.
Daí para calcular o descarte de todo aquele couro como fonte potencial de matéria prima foi um pulo: entre 300 e 400 sofás de couro são destinados ao lixo todos os anos, apenas em Amsterdam, a maioria em bom estado e com grande variedade de cores. Mesmo que algumas partes estejam danificadas, sempre tem um pedaço aproveitável, cuja vida útil pode ser prolongada. Para as empresas responsáveis pela coleta, pulverização e incineração dos sofás, a retirada do couro é um favor, pois o material não queima bem e ainda emite muito carbono.
A designer então montou um plano de negócios; fez um acordo com as empresas de coleta; levantou o capital inicial por meio de “vaquinha virtual” ou crowdfunding (16 mil euros); arrumou um espaço para funcionar como estoque de couro, oficina de costura e escola de design e largou o emprego para montar a Xofa. Hoje a retirada do couro é feita por moradores de rua e grupos sociais assistidos pelo exército da salvação, que ganham por quilo retirado. As peças customizadas são produzidas pela própria designer ou por seus alunos de design.
“Iniciamos com vendas online e fizemos um trabalho de divulgação no aeroporto de Schiphol, com bons resultados. Aos poucos, as lojas estão descobrindo a marca e a história desustentabilidade por trás dela”, comenta Anneke van der Heide. “Isso mostra como até as pequenas mudanças podem ter grandes impactos”.
Na primeira imagem, que abre este post, a designer Anneke van der Heide em sua oficina de reciclagem de couro. Abaixo, mais algumas imagens e um vídeo que produzi – Do sofá ao Xofa -, que revela mais detalhes de seu trabalho.
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O “esqueleto” do antigo sofá agora exibe os produtos do couro reciclado
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Nas fotos acima e abaixo, a paleta de cores é variada e a qualidade do couro, excelente
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Acima e abaixo, os retalhos que sobram da fabricação de bolsas servem para fazer carteiras
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A marca Xofa começa a ser conhecida como símbolo de sustentabilidade
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Economia Criativa

Esta reportagem faz parte do Especial que apresenta uma série de 10 reportagens sobre reciclagem de resíduos na Holanda que realizei a convite do Ministério das Relações Exteriores daquele país. Lá, visitei empresas recicladoras holandesas que podem nos servir de exemplo e inspiração para o desenvolvimento de uma Economia Circular brasileira.

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