terça-feira, 5 de junho de 2012

O DESTINO DO LIXO URBANO: O grande desafio da Sociedade Moderna.



Por: Débora Brustolin Ludwig – Cientista ambiental.


Segundo Leonice S. Dias e Raul B. Guimarães (2009), um dos maiores desafios que a sociedade moderna encontra é a questão do lixo urbano. Além do expressivo crescimento da geração de resíduos sólidos, sobretudo nos países em desenvolvimento, observam-se, ainda, ao longo dos últimos anos, mudanças significativas em suas características. Essas mudanças são decorrentes principalmente dos modelos de desenvolvimento adotados e da mudança nos padrões de consumo.



J. F. T. Jucá (2002), em seu trabalho abordando a questão, diz que o crescimento da população, aliado à intensa urbanização, acarreta a concentração da produção de grandes quantidades de resíduos e a existência cada vez menor de áreas disponíveis para a disposição desses materiais. Juntam-se a esses fatos as questões institucionais, o que torna cada vez mais difícil para os municípios dar um destino adequado ao lixo produzido.



A grande quantidade de resíduos sólidos gerados no Brasil não é compatível com as políticas públicas, com o desenvolvimento tecnológico e com os investimentos para o setor. Há um longo caminho a trilhar em que a capacitação técnica e a conscientização da sociedade são fatores imprescindíveis (CASTILHOS JR, 2003).



Hoje são produzidos no país 182.400 toneladas/dia sendo que 40.000 ficam sem destinação racional, pois 40% dos municípios não recebem nenhum serviço de coleta de lixo. Das que são coletadas 76% fica a céu aberto, 10% vão para aterros sanitários, 13% para aterros controlados, 0,9% para usinas de compostagem, 0,1% são incineradores e uma insignificante parte é recuperada em centrais de reciclagem, visto que, a coleta seletiva é praticada em pouco mais de 80 municípios brasileiros, basicamente nas regiões sul e sudeste do País. Considerando ainda que, perdem-se, no mínimo, R$ 4,6 bilhões de recursos por ano, ao não se reaproveitar o lixo produzido fica evidente a necessidade de agir imediatamente para reverter tal situação.



Os resíduos Orgânicos:



Cada habitante produz em média quinhentos gramas de lixo por dia, podendo chegar a mais de um quilo conforme o poder aquisitivo. Sua composição média é de 25% de papel, 4% de metal, 3% de vidro, 3% de plástico e 65% de matéria orgânica, que formarão os resíduos orgânicos dando origem à produção de lixiviados que poderão contaminar os cursos de água e provocar infiltrações no solo, se depositados em aterros construídos sem recursos técnicos. Ainda, a fermentação do lixo leva à produção de gases perigosos que contaminam a atmosfera e a problemas de saúde pública, na medida em que o lixo orgânico pode ser um veículo transmissor de doenças. 



Os resíduos orgânicos podem ser valorizados se forem recolhidos seletivamente, tratados por compostagem ou digestão anaeróbica e transformados em composto. Tal processo, chamado de valorização orgânica, pode ser recomendado para as condições de municípios pequeno porte, como o de Campo Magro, objetivando a produção de adubos para a fertilidade de seus solos agricultáveis. 



Processos de separação e destinação de resíduos orgânicos:



Misturar os materiais recicláveis com o restante do lixo prejudica o reaproveitamento, por isso a coleta seletiva é apontada como a primeira etapa para o processo de reciclagem dos resíduos orgânicos, pois este processo consiste na separação dos resíduos orgânicos do resto do lixo direto na fonte, ou seja, na nossa própria casa. Já a triagem é um processo de separação manual ou mecanizada de resíduos potencialmente recicláveis oriundos de uma coleta seletiva, onde é preciso avaliar a quantidade e a qualidade dos resíduos orgânicos coletados antes de serem utilizados no processo conjugado de compostagem da matéria orgânica, da reciclagem dos materiais propriamente ditos (papel, plásticos, vidro e metal) e, por fim, na destruição do material inaproveitável por intermédio da incineração. 



A compostagem:



A melhor forma para se reciclar resíduos orgânicos é a compostagem, processo este que envolve transformações (decomposição biológica) promovidas por microorganismos do solo, que têm na matéria orgânica sua fonte de energia, nutrientes minerais e carbono. Por essa razão, o composto não é apenas um monte de lixo orgânico empilhado ou acondicionado em um compartimento. É um modo de fornecer as condições adequadas a esses microorganismos para que degradem a matéria orgânica e disponibilizem nutrientes para as plantas. No final da decomposição, origina-se um material rico em nutrientes, com estrutura fofa, cheiro agradável, temperatura ambiente, pH próximo de 7 (sete), livre de agentes patogênicos e de sementes de ervas daninhas (DORNELLES, 2011). A compostagem é largamente utilizada em jardins e hortas, como adubo orgânico devolvendo à terra os nutrientes de que necessita, aumentando sua capacidade de retenção de água, permitindo o controle de erosão e evitando o uso de fertilizantes sintéticos. Quanto maior a variedade de matérias existentes em uma compostagem, maior vai ser a variedade de microorganismos atuantes no solo.
O processo de compostagem apresenta vantagens como a economia do aterro, propiciando o aproveitamento agrícola da matéria orgânica e a reciclagem de nutrientes para o solo. Trata-se de um processo ambientalmente seguro, com a eliminação de patógenos no solo, diminuindo consideravelmente o impacto do lixo urbano no ambiente.
A compostagem já é utilizada há muito tempo no meio rural utilizando-se de restos vegetais e esterco animal. Pode-se, também, utilizar a fração orgânica do lixo domiciliar, desde que de forma controlada, em instalações industriais chamadas usinas de triagem e compostagem. No contexto Brasileiro a compostagem tem grande importância já que cerca de 50% do lixo municipal é constituído por matéria orgânica (LIMA, 2005). 



Educação Ambiental:



Ao finalizar, é importante destacar que tudo isto até agora apresentado não teria sentido e praticidade sem a conscientização do povo através da educação ambiental. Quando se define a educação ambiental que se deseja fazer, é preciso ter claro que o problema ambiental não está na quantidade de pessoas que existe no planeta e que necessita consumir cada vez mais recursos naturais para se alimentar, vestir e morar. É necessário entender que o problema está no excesso de consumo desses recursos por uma pequena parcela da humanidade e no desperdício e produção de artigos inúteis e prejudiciais à qualidade de vida (REIGOTA, 1994). 



Conforme Milaré (2000) indicou, “a sustentabilidade do Planeta, sem duvida alguma, esta nas mãos do homem, o único ser capaz de, com suas ações romper o equilíbrio dinâmico produzido espontaneamente pela interdependência das forças da natureza e modificar os mecanismos reguladores que, em condições normais, mantêm ou renovam os recursos naturais e a vida na Terra”. Não se trata de ser contra o progresso, mas de promover o desenvolvimento sustentável, utilizando e conservando de modo racional os recursos naturais, e solidarizando-se sincronia e diacronicamente com toda a humanidade. O destino das gerações futuras encontra-se, assim, nas mãos das presentes gerações.

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