terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Alameda dos Baobás em Madagascar compõe uma das paisagens mais belas do planeta

A grandiosa árvore é símbolo da diversidade biológica da ilha no oceano Índico e metáfora de sua riqueza natural

HAROLDO CASTRO E GISELLE PAULINO (TEXTO E FOTOS) | DE MORONDAVA, MADAGASCAR 11/2015 
No asteroide do Pequeno Príncipe, os baobás são uma metáfora para os aspectos negativos que podem tomar conta de nosso caráter, quando bem enraizados. Mas no planeta Madagascar os baobás representam todo o contrário. A grandiosa árvore é um símbolo da diversidade biológica do país e metáfora da riqueza natural da quarta maior ilha do mundo, onde mais de 80% das plantas são endêmicas – só vivem lá.
Adansonia grandidieri é a árvore ícone de Madagascar (Foto: © Haroldo Castro/Época )
Existem nove espécies de baobás no mundo, todas do gêneroAdansonia. Uma na Austrália, duas no continente africano – incluindo uma nova espécie identificada em 2012 – e seis em Madagascar.
Na ilha, a espécie Adansonia grandidieri – assim chamada para homenagear o botânico francês Alfred Grandidier – é a mais imponente de todas. Os malgaxes batizaram a árvore de Reniala, a Mãe da Floresta. As mais antigas podem ter mil anos de idade, as mais jovens entre 200 e 300 anos. Seu tronco cilíndrico eleva-se até 30 metros de altura, onde os galhos – sem folhas durante metade do ano – assemelham-se a raízes. Por isso, o baobá é chamado de “árvore de cabeça para baixo”.
A espécie vive em uma região bem particular do sudoeste de Madagascar, nas proximidades de Morondava, em uma faixa próxima ao litoral de 250 km de extensão por 20 km a 30 km de largura. Um exemplo claro de endemismo!
A razão principal para realizar uma viagem de van de 700 km, durante dois dias, da capital Antananarivo até Morondava, é ver centenas de baobás bem de perto. A chamada Alameda dos Baobás é um lugar com uma das maiores aglomerações dessas árvores. A Rodovia Nacional RN 8 atravessa a multidão de Grandidieris e, embora eles não tenham sido plantados por humanos, os enormes baobás parecem acompanhar a estrada de terra. 
Chegamos uma hora antes do pôr do sol e, enquanto escolhemos os melhores enquadramentos fotográficos para o entardecer, vamos nos deleitando com as árvores gigantescas. Resolvemos contar quantos baobás observamos ao nosso redor: de um lado da estrada, avistamos uns 25; do outro, mais de 30.    
Crianças da etnia Sakalava brincam em uma lagoa (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Uma menina Sakalava na Alameda dos Baobás (Foto: © Haroldo Castro/Época)
O momento mágico das cores cambiantes no céu começa a acontecer. As poucas nuvens ajudam a colorir o quadro pintado, de forma dramática, pela Mãe Natureza. Não há dúvida: depois de conhecermos tantos cantos pelo mundo, podemos dizer que esse lugar é um dos mais belos da África – até mesmo do planeta.
O sol se esconde e o céu troca seu azul pelo violeta rosado. A temperatura de 25 graus é perfeita, a brisa refresca aqueles que vieram de tão longe para reverenciar esses seres gigantescos.
baobás aglomeram-se às margens da rodovia (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, o baobá Grandidieri está na lista de plantas ameaçadas de extinção. A razão principal para a preocupação dos conservacionistas é a perda do habitat original. Hoje, a faixa estreita de terra que hospeda a espécie rara perdeu quase toda sua vegetação natural e foi transformada em plantações de arroz. Apenas sobraram pequenas reservas isoladas ao norte da Alameda dos Baobás.
Outra preocupação dos conservacionistas é a dificuldade de encontrar baobás pequenos e jovens. Isso poderia significar que a polinização das flores do baobá Grandidieri – por uma mariposa e um lêmure noturno – estaria com dificuldades de ser concretizada. Por demorar décadas para crescer, as acanhadas mudas de baobás também podem estar sendo destruídas, de forma despercebida, pelo gado que povoa as terras Sakalava. Ou, pior, pelo fogo atado no mato pelas populações nativas. Uma iniciativa de plantio de mudas na própria Alameda dos Baobás está em andamento.
Campos de arroz cercam alguns baobás isolados na planície de Morondava (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Durante nossa jornada na região de Morondava e rumo ao norte, conseguimos observar três das seis espécies nativas de baobás malgaxes. Além da Adansonia grandidieri, encontrada em maior número, conhecemos também o baobá Fony (Adansonia rubrostipa), cujo tronco tem uma coloração mais avermelhada e é menor de altura, e o baobá Za (Adansonia za), de cor mais escura e com uma forma afunilada no topo.
A 7 km da Alameda por uma estrada de areia, dois baobás Za entrelaçados, chamados de “Baobás Apaixonados”,  tornaram-se atração obrigatória. Não há casal de namorados que não queira ser fotografado ao lado das árvores que se abraçam. Infelizmente, os dois baobás acabaram sendo vítimas das paixões cegas que fizeram questão de gravar suas iniciais no tronco.
“Baobás Apaixonados” talhados em madeira  (Foto: © Haroldo Castro/Época)
A Alameda dos Baobás não está incluída em nenhuma área protegida, nacional ou privada. Os habitantes locais, conscientes da importância das árvores como destino turístico, organizaram-se para estabelecer um estacionamento fora da estrada – e fora das lentes fotográficas – e montar barraquinhas de venda de artesanato e de refrigerantes. Mas tantas outras iniciativas poderiam ser realizadas.
Os baobás solitários, sem o apoio de uma floresta que os cerquem, merecem muito mais. É indispensável que o governo de Madagascar continue cumprindo sua promessa realizada em 2003 de triplicar as áreas protegidas no país e criar uma na região para que a Reniala, a Mãe da Floresta, seja preservada!

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