quarta-feira, 12 de junho de 2013

Um plus a mais, por Luis Fernando Veríssimo

Passei por uma loja que vendia roupa “plus size” para mulheres. Levei algum tempo para entender o que era “plus size”. “Plus”, em inglês, é mais. “Size é tamanho. Mais tamanho? Claro: era uma loja de roupas para mulheres grandes e gordas, ou com mais tamanho do que o normal.

Só não entendi isto logo porque a loja não ficava em Miami ou em Nova York, ficava no Brasil. Não sei como seria uma versão em português do que ela oferecia, mas o “plus size” presumia 1) que a mulher grande ou gorda saberia que a loja era para ela, 2) que a mulher grande ou gorda se sentiria melhor sendo uma “plus size” do que o seu equivalente em brasileiro, e 3) que ninguém mais estranha que o inglês já seja quase a nossa primeira língua, pelo menos no comércio.
A invasão de americanismos no nosso cotidiano hoje é epidêmica, e chegou a uma espécie de ápice do ridículo quando “entrega” virou “delivery”.
Perdemos o último resquício de escrúpulo nacional quando a nossa pizza, em vez de entregue, passou a ser “delivered” na porta. Isto não é xenofobia nem anticolonialismo cultural americano primário, nem eu acho que se deva combater a invasão com legislação, como já foi proposto.


O inglês, para muita gente, é a língua da modernidade. Todos queremos ser modernos e, nem que seja só na imaginação, um pouco americanos. E nada contra quem prefere ser “plus” a ser mais e ter “size” em vez de altura ou largura. Só é triste acompanhar esta entrega — ou devo dizer “delivery”? — de identidade de um país com vergonha da própria língua.

PAPO VOVÔ
Engana-se quem acha que os avôs vivem num paraíso enquanto os pais padecem com as crianças. Ser avô também requer pratica e habilidade e, acima de tudo, versatilidade. Ainda mais quando a neta tem uma imaginação ativa, como a Lucinda, e vive mudando a distribuição de papéis nos seus faz de contas.
Você um minuto é príncipe e no outro é pai, no outro é caçador e no outro é monstro, e pode passar rapidamente de rei a cachorro. O que exige do avô um talento histriônico fora do comum, além de preparo físico.
Uma das minhas encarnações é a de marido. Já nos casamos várias vezes, e como marido tenho um direito que nenhum outro personagem tem, nem o cachorro: o de ser chamado de “meu amor”. É o meu papel preferido.

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