sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A Revolução das Cidades - Hidroanel de São Paulo

A Revolução das Cidades - Hidroanel de São Paulo

Elas guardam os grandes problemas da nossa época. Mas também apresentam as soluções. Descubra os projetos que estão construindo as metrópoles do futuro

por Luiz Romero
Vivemos no século em que as cidades venceram. Pela primeira vez na história, existe mais gente vivendo entre prédios e avenidas do que entre pastos e animais. Em 2008, os moradores de metrópoles viraram mais da metade da população do planeta. E, em 2011, cidades americanas cresceram mais do que os subúrbios pela primeira vez desde 1920. O fato é que centros urbanos tendem a ser mais "verdes" que subúrbios. A ilha de Manhattan, com todos aqueles prédios, é considerada um dos lugares mais verdes dos EUA: lá, só 25% das famílias têm carro, por exemplo, contra 92% no resto do país. Sim, as cidades venceram e podem ser mais ecologicamente corretas do que o senso comum imagina. Mas, claro: ainda existe muito o que corrigir. Os problemas você conhece: trânsito, sujeira, poluição... Mas as metrópoles também contêm as soluções para estas questões. É o que vamos ver nas próximas páginas.
Hidroanel de São Paulo
Os rios da maior cidade do Brasil são mais do que um esgoto: podem revolucionar o trânsito, a coleta de lixo e a qualidade de vida da metrópole

Trânsito e lixo. Esses dois agentes são a dor de cabeça de qualquer cidade grande desde o Império Romano. Em São Paulo, então, a dor é muito mais aguda. Considerando que a frota de carros na capital só cresce (foram de 1 milhão para 7 milhões dos anos 70 para cá) e que a velocidade média dos veículos no trânsito só cai (indo de 27 km/h para 17 km/h nesse meio tempo), o problema parece sem solução. Mas só parece. Um grupo de pesquisadores da USP tem um projeto para colocar ordem neste caos. E a resposta vem do lugar mais improvável: os rios da cidade.

O Hidroanel Metropolitano pretende resolver São Paulo em dois momentos. O primeiro envolve a construção de uma série de portos na borda dos rios e das represas que circundam a cidade. Eles serviriam para receber a quantidade enorme de sujeira produzida pela metrópole. Desde os saquinhos que os moradores colocam na porta de casa até a terra e o entulho de construções e demolições. Passando por outros dejetos, como a sujeira retirada dos córregos e das estações de tratamento.

Estas cargas seriam levadas para os portos de caminhão mesmo. Mas existe uma diferença importante. Com a construção dos portos para recebimento do lixo, as distâncias percorridas pelos veículos de carga seriam encurtadas de 30 km para apenas 8 km em média. Sem precisar atravessar a cidade, eles desafogariam o trânsito. Os barcos que esperam a sujeira atracados nos portos serviriam para percorrer o resto do caminho. Enquanto cada caminhão transporta apenas oito toneladas, um barco consegue movimentar 400 toneladas.

Mas para onde estes barcos iriam? Este é o segundo passo. O Hidroanel Metropolitano prevê um enorme círculo de água em volta da cidade. Ele contaria com os dois rios e as duas represas que cortam a borda de São Paulo, mais um canal artificial ligando as pontas soltas. Além dos portos, existiriam três centros de processamento de lixo prontos para receber 800 toneladas de lixo por hora. E todas aquelas cargas públicas - que saíram das ruas, percorreram os rios e chegaram aos centros - seriam recicladas, transformadas em matéria-prima novamente.

"O Hidroanel constitui uma infraestrutura de saneamento, mobilidade e transporte, que tem como espinha dorsal o canal navegável. Ele serve também como um arco irradiador de desenvolvimento", resume Alexandre Delijaicov, professor da USP e um dos responsáveis pelo projeto. Contando com a iniciativa dos governos que se sucedem na capital, ele poderia ficar pronto até 2045. E, mesmo grandioso, começa a virar realidade: já está planejada uma construção no rio Tietê que aumentaria em 14 quilômetros o trecho em que ele pode ser navegado, possibilitando que os barcos trafeguem por um trecho maior e iniciando a construção do círculo de águas. Nada mal para uma cidade que há décadas só vê seus rios como esgotos a céu aberto.
REFORMA HIDROGRÁFICA
Conheça uma São Paulo possível: com avenidas fluviais, reciclagem em massa e mais áreas verdes.

1. Das ruas aos rios
Com o Hidroanel, toda a sujeira produzida por São Paulo - como a terra e o entulho das construções e o lixo das casas - teriam um novo destino: portos fluviais. Como existiriam mais portos do que lixões, o trânsito ficaria aliviado dos caminhões que transportam a sujeira. Dos portos, eles seriam carregados nestes barcos de carga.

2. Caminhos equilibrados
Os barcos viajariam por um círculo de águas - composto pelos rios Tietê e Pinheiros, pelas represas Billings e Taiaçupeba e por um canal artificial criado para completar o Hidroanel. A conexão entre todos eles, além do transporte de cargas, possibilitaria o equilíbrio das águas. Ou seja, quando um dos rios enchesse, o excesso de águas poderia ser direcionado para outros trechos do sistema. Resultado: menos enchentes.

3. Centros de transformação
Todos os materiais recebidos nos portos e carregados nos barcos seguiriam até centros gigantescos de processamento. Seriam apenas três espalhados pelas margens dos rios, suficientes para reciclar 800 toneladas de cargas por hora. Ali cacos de vidro voltam a ser garrafas de vidro, latinhas amassadas viram lingotes de alumínio...

4. Renovação de bairros
Mas o Hidroanel vai além do lixo, das enchentes e do trânsito. Ele ajuda no desenvolvimento das regiões que ficam nas bordas dos rios. Hoje, muitas delas, como o bairro paulistano do Jardim Pantanal, estão destruídas. Estes bairros renasceriam com o movimento gerado pelos rios. E contariam com áreas verdes, ciclovias, bondes - além de prédios que juntam moradia e trabalho, evitando longas viagens pela cidade.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Vulcão de Yellowstone pode ser ainda maior do que se pensava

  • Estudo de cientistas americanos mostra que câmara magmática pode ser até 2,5 maior do que estimativas anteriores



Yellowstone. O parque nacional visto do céu
Foto: Terceiro / Yann Arthus-Bertrand / Divulgação

Yellowstone. O parque nacional visto do céu Terceiro / Yann Arthus-Bertrand / Divulgação
WASHINGTON - O super-vulcão que se encontra debaixo do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, é ainda maior do que se pensava anteriormente, afirmam cientistas. Um estudo apresentado durante o encontro da American Geophysical Union Fall Meeting, em San Francisco, acaba de mostrar que a câmara magmática do vulcão, que tem capacidade de destruir todo o território norte-americano caso entre em erupção, é cerca de 2,5 maior do que as estimativas sugeridas anteriormente. A equipe descobriu que a caverna se estende por mais de 90 quilômetros e contém 200-600 quilômetros cúbicos de rocha derretida.

— Nós registramos tremores de terra e em torno de Yellowstone, e medimos as ondas sísmicas à medida que elas se deslocam através do solo — detalhou o Dr. Jamie Farrell, da Universidade de Utah, à rede BBC.A descoberta surpreendeu os próprios cientistas. A equipe usou uma rede de sismógrafos que estavam situadas em torno do parque para mapear a câmara de magma.
Como as ondas circulam mais lentamente através do material quente e parcialmente fundido, a equipe conseguiu medir o que está por baixo. O grande reservatório subterrâneo de magma que abastece o vulcão se revelou gigantesca, alcançando profundidades entre 2 km e 15 km (1-9 milhas), a caverna era cerca de 90 km (55 milhas) de comprimento e 30 km (20 milhas) de largura. Trata-se, segundo os cientistas, do maior vulcão já mapeado.
A descoberta deve aumentar ainda mais as preocupações em torno do vulcão, cuja última grande erupção aconteceu há cerca de 640 mil anos. Os cientistas acreditam que o super-vulcão poderia sair uma vez a cada 700 mil anos.
No entanto, um dos pesquisadores do estudo, o professor Bob Smith, admite que é preciso mais dados para que um padrão seja confirmado.
— Sim, é um sistema muito maior ... mas eu não acho que isso faz com que o risco de Yellowstone maior — disse ele, referindo-se à última pesquisa.

   http://oglobo.globo.com/ciencia/revista-amanha/vulcao-de-yellowstone-pode-ser-ainda-maior-do-que-se-pensava-11037226#ixzz2ndu2fNr7 

Cristo Redentor - Descubra o que forma a famosa estátua do Rio de Janeiro


Cristo Redentor - Descubra o que forma a famosa estátua do Rio de Janeiro

Mais de mil toneladas de concreto (3,8 toneladas na cabeça, 8 em cada mão), algumas disputas e um milagre formam o Cristo Redentor, nossa maravilha carioca

por André Bernardo
Outra obra
O padre francês Pierre Boss foi o primeiro a vislumbrar, no século 19, um monumento a Cristo no Corcovado (ainda chamado de Pináculo da Tentação). Mas só em 1921, como comemoração dos 100 anos de independência, foi aberto um concurso para escolher um projeto. Segundo o desenho original, Jesus seguraria um globo terrestre e uma cruz nas mãos.

A religião
A cessão do terreno do Corcovado para o Cristo irritou a Igreja Batista. Mas o presidente Epitácio Pessoa autorizou a obra usando um argumento curioso: a Igreja Católica levou porque pediu primeiro. Pessoa não foi o único a se render à causa: o mestre de obras Heitor Levy era judeu quando começou o trabalho. Ao final da obra, se converteu ao cristianismo.

Melhor que a Liberdade
O Cristo levou 5 anos para ser erguido, metade do tempo da Estátua da Liberdade. Também foi mais barato: custou 2 500 contos de réis (R$ 9,5 milhões) enquanto a Estátua da Liberdade custou 60 mil. E, embora seja um projeto perigoso - a 710 metros do chão - não houve acidentes graves entre os mil trabalhadores. Um milagre do Cristo.

Recadinhos
A coroa de espinhos na cabeça é, na verdade, um para-raios: o Cristo já perdeu sobrancelha, lábio inferior e um dedo para os raios. A estátua tem dois corações: um externo e um interno, onde está o nome da família de Levy. Há nomes também atrás dos pedaços de pedra-sabão que a forram. São amigos e familiares das mulheres que fizeram o revestimento.

Nos tribunais
Não brinque com o Cristo: quando, em 2009, cartazes do filme 2012 mostraram a estátua sendo destruída, a Arquidiocese do Rio não ficou feliz. Notificou judicialmente a Columbia Pictures, que se retratou e tirou a montagem. É nos tribunais também que corre outro processo: até hoje, os herdeiros de Heitor Costa, o arquiteto, e de Paul Landowski, o escultor, brigam para saber quem é o "pai" do Cristo.

Fontes: Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro; Corcovado - A Conquista da Montanha de Deus, de Jorge Scévola de Semenovitch; Cristo Redentor do Corcovado, de Monsenhor Maurílio Cesar de Lima; De Braços Abertos, de Bel Noronha

Capacete feito de jornal facilita vida de ciclistas e preserva o ambiente

Capacete feito de jornal facilita vida de ciclistas e preserva o ambiente


À primeira vista esse capacete não demonstra grande atrativo, ao menos estético, para o consumidor. Mas devemos lembrar também que equipamentos de segurança não são considerados referência no mundo da moda, e esse capacete não é exceção. No entanto, com ele você poderá contribuir com uma causa nobre: a diminuição dos impactos do consumo sobre o meio ambiente. Isso porque o produto é fabricado a partir de jornais reciclados, forma bacana de reaproveitar o papel dando continuidade ao ciclo de vida do material.
O conceito do Paper Pulp Helmet (ou Capacete de Polpa de Jornal, tradução livre) foi criado por um grupo de artistas com a intenção de garantir segurança e comodidade aos ciclistas de um programa de compartilhamento de bicicletas em Londres, semelhante ao Bike Sampa ou Bike Rio.
Os criadores dos capacetes: Tom Gottelier, Bobby Petersen e Ed Thomas, todos graduados no Royal College of Art de Londres, acreditam que os equipamentos são realmente úteis para segurança, além de poderem ser vendidos por apenas £1 (R$ 3,40) em lojas ou máquinas automáticas próximas às estações das bicicletas, tornando assim mais prático o uso do serviço.
Além do valor de venda acessível, por ser fabricado a partir da polpa extraída de jornais abandonados em estações de metrô e ônibus , o equipamento contribui de forma importante para a preservação do meio ambiente. Após transformar o jornal em matéria prima, esta é moldada em uma cesta de frutas cujo formato se assemelha ao dos capacetes tradicionais de bicicletas. Após secagem, uma cinta é encaixada de maneira que o ciclista possa prender fixar o capacete no queixo, garantindo-lhe maior segurança. Pronto! Simples assim.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Mudanças climáticas estão em ritmo acelerado na região árabe, aponta estudo de agência da ONU

Mudanças climáticas estão em ritmo acelerado na região árabe, aponta estudo de agência da ONU


Depois de uma chuva, em março, um pequeno lago sobe perto das dunas de Erg Chebbi (ou Dunas de Merzouga) no Saara, Marrocos. Crefit: Alex Lichtenberger/Flickr.com via UNEP.org
Depois de uma chuva, em março, um pequeno lago sobe perto das dunas de Erg Chebbi (ou Dunas de Merzouga) no Saara, Marrocos. Crefit: Alex Lichtenberger/Flickr.com via UNEP.org
As mudanças climáticas parecem estar acontecendo mais rapidamente na região árabe, aponta um novo estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicado na última terça-feira (10). O documento afirma que o ritmo de desenvolvimento econômico e social acelerado tem ajudado a agravar esse quadro.
A pesquisa “A Região Árabe: Atlas das Nossas Mudanças Climáticas” analisa alterações ambientais que ocorreram em mais de 80 locais da região usando uma combinação de fotografias, imagens atuais e antigas de satélite e conhecimento científico.
Através desse material é possível fazer uma comparação entre a geografia antiga e atual e mostrar os efeitos das ações do ser humano nos países estudados.
Os resultados mostram claramente que o ritmo de crescimento da região causou mudanças no uso da terra, no desenvolvimento urbano, a degradação de áreas marinhas e costeiras, encolhimento dos corpos d’água, perda de habitat e alterações climáticas.
Os maiores problemas da região se concentram nos recursos limitados de água doce, rápida urbanização, esgotamento dos recursos naturais, vulnerabilidade de muitos assentamentos, desertificação e degradação do solo, poluição, perda de biodiversidade e desmatamento.
Apesar dos desafios apresentados, o atlas aponta respostas inovadoras que estão sendo implementadas na região, como as plantações no deserto fronteiriço entre o Kuwait e o Iraque para conservar os recursos hídricos, a aquicultura da tilápia no rio Nilo para complementar a indústria da pesca e a agricultura na Síria para controlar a seca, melhorar a eficiência da produção e atender à crescente demanda por alimentos.
O estudo pretende ajudar na formulação de políticas para um futuro mais sustentável, mirando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e a agenda de desenvolvimento pós-2015.
Ele faz parte da edição mais recente de uma série de atlas coordenados pelo PNUMA, que começou em 2005 com o lançamento do atlas “Um Planeta, Muitas Pessoas”. O estudo foi feito em parceria com a Iniciativa de Abu Dabi para o recolhimento de Dados sobre o Meio Ambiente Global e apoiado pela Agência de Meio Ambiente de Abu Dabi.

Pais envelhecem

Pais envelhecem

Quando o jovem estiver velho, e a memória enxovalhada, a lembrança do amor dará sentido a qualquer história

ISABEL CLEMENTE


A menina ainda está assustada, coração acelerado dentro do peito, o medo premindo os lábios. Quer chorar, mas o pai está brigando com o cavalo.
“Seu pangaré!! É minha filha que está aí em cima. Cavalo besta!“.
A menina agora quer rir mas não pode. O pai quando briga, briga mesmo. Está bravo ele. Com o cavalo, não com ela. Bravo como ficaria com uma grande e grave desobediência. Papai não tem muita paciência, ainda mais com um animal que sai disparado com a criança em cima gritando. Não fizera por mal, o bicho. Queria retomar o caminho para o ponto onde se reuniria aos demais cavalos e charretes do lago.   
“Eu não quero mais, pai."
“Vamos completar a volta. Eu estou segurando."
“Quero descer.“
“Fica aí. Confia em mim! Segura firme na rédea. Não solta“.  
Com passos firmes, o pai fala dos tempos em que serviu à cavalaria do Exército. Cavalgava animais muito maiores, treinados e bonitos. Aqueles sim eram de raça. Tinha até Puro Sangue. Um pangaré não iria fazer ele de bobo. Nunca mais. Não se preocupe. Um cavalo tem várias marchas, como um carro. São diferentes formas de andar. Antes de cavalgar, trotam. Sabe o que é trote, filha? Não é muito confortável. A gente sacode muito em cima do animal. Eu sacudi agora! Viu? Você trotou com o cavalo. Mas é só acelerar para ficar mais gostoso. O pai sabe tudo. Palavras difíceis, informações curiosas. Tem uma memória danada. E quer que a menina busque informação, consulte o dicionário. Fala palavras desconhecidas só para provocar. Papai sempre foi um provocador.  
De volta ao ponto de partida, o pai pega a menina no colo, com seus braços fortes, talhados na mania de carregar coisas. O pai faz serviços variados com o serrote e outras ferramentas no quintal, como podar árvores. Sobe também no sótão. Desce no porão. Um dia, o pai levou a menina ao sótão e ao porão. Ela ficou encantada, mas teve medo. Vai que tem morcego. Vai que tem barata. Confia em mim, dizia o pai. E lá ia a menina com medo confiar. Às vezes, ela hesitava muito e frustrava o pai. E se conseguisse se superar em algum obstáculo, o pai ria satisfeito e os olhos verdes ficavam bem apertados. Ganhavam um rabicho cheio de dobras no canto do rosto, como a cauda de uma estrela cadente, pensava. Soube depois, eram pés de galinha.
De um impulso, o pai desceu a filha da cela do cavalo. Ela pisou no chão com o alívio que só a terra firme oferece a quem acabou de cavalgar a contragosto. O cheiro do estrume lhe dava náuseas. Sempre ficava apreensiva com tantos cavalos ao redor, mas o pai foi logo brigando. Toma esse pangaré. Pangaré, ela achava, era uma ofensa para o bicho. Não fala assim não, pai, ela tinha vontade de falar, mas não dizia. E o dono do animal, que fazia jeito de quem não tinha gostado, amarrava a cara.
“Vamos pai, vamos!“ 
À medida que caminhavam para longe dos animais, o medo ia passando, dando lugar à euforia da grande experiência vivida.
“Eu puxava a rédea, e ele não me obedecia!“
“Eu vi.“
“Eu tentei frear, mas o cavalo disparou!“
“E eu atrás!“ 
“Você correu muito também!“, ela diz, com vontade de rir. “Você correu muito! Pegou o cavalo!“
Tinham uma grande história para contar em casa, quando chegassem. Ela teria uma grande história para lembrar mais de 30 anos depois, quando os músculos do pai não estivessem mais lá, nem os passos firmes. Quando o menor dos obstáculos fosse um inimigo à espreita. Quando a memória falhasse. Se pudesse, a filha correria atrás dela, a memória-pangaré, e alcançaria em nome do pai o cavalo em disparada. Quando as palavras, antes fartas, escapulissem na hora exata em que o pai precisasse delas. Reverenciadas no dicionário, estavam se escondendo por aí, ingratas, deixando frases incompletas. Menos uma, eterna em significado. Eu te amo. 

No calor, os animais precisam de atenção redobrada

No calor, os animais precisam de atenção redobrada

FERNANDA FRAGATA

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Cães brincam em parque (Foto: Skip Bolen/Getty Images)

Nesta época do ano, os termômetros não param de subir, as crianças entram em férias, muitas pessoas diminuem o ritmo de trabalho, e a vontade de sair com a família toda pra passear é grande. Os parques ficam cheios. Os cães não ficam de fora da farra do verão. Mas cuidado. Eles precisam de atenção especial para que a saúde não fique em risco.
A pelagem densa, a proximidade do corpo com o asfalto quente e a dificuldade em regular a própria temperatura são alguns dos fatores que prejudicam a adaptação dos cães ao calor excessivo. Eles não suam pela pele para controlar a temperatura do corpo como nós. Tentam regular a temperatura através da respiração. Por isso ficam mais ofegantes no calor. Com a expectativa de dias cada vez mais quentes, é bom redobrar a atenção. Crianças, cães e gatos podem ter hipertermia, a popular insolação. Por isso, é bom evitar passeios nas horas mais quentes do dia, entre às 10h e às 16h. Deve-se evitar também andar com eles de carro, com as janelas fechadas e sem ar condicionado. Os gatos são ainda mais suscetíveis a problemas quando passeiam em dias de calor. Normalmente, o estresse de sair de casa já os deixa ofegantes. Com o calor, podem ter um quadro de hipertermia também. Sombra e água fresca são requisitos indispensáveis para o bem estar de nossos amigos de quatro patas.
É importante cuidado para não confundir os sintomas com um quadro respiratório. Quando os animais ficam ofegantes e com dificuldade de respirar, muitos donos os tratam como se fosse apenas falta de ar. O ideal é considerar o histórico. O dia está ou estava muito quente, ele passeou sob o sol ou o local em que está ou estava é muito abafado, então, as chances de que a temperatura deles esteja alta é grande.
Animais com hipertermia apresentam temperaturas acima de 40°C (o normal varia entre 37,5° a 39,3°C), ficam muito ofegantes, o coração dispara, a mucosa da boca e a língua ficam ressecadas, a saliva pode ficar espessa, eles deitam e relutam em sair do local. Alguns chegam a desmaiar ou a ter convulsões. No caso de animais com histórico de convulsões, cuide de esfriá-lo. Se tiver convulsão por causa de hipertemia, não adianta só dar remédio. É importante baixar a temperatura do animal, com urgência.
A indicação é dar um banho frio rápido e enrolar o animal numa toalha molhada fria. Ter um termômetro é muito útil nessas horas. Mas evite o termômetro anal, que normalmente é de vidro. O risco é o animal se mexer, quebrar o aparelho e se machucar. Deixe esse modelo para o veterinário usar. No calor, sempre que possível dê água gelada para os animais. Isso ajuda a evitar que a temperatura suba muito.
O risco de hipertemia é maior em animais obesos, que podem ter a síndrome mesmo em temperaturas mais amenas. As raças de cães mais predispostas são weimaraner, beagle, schnauzer, cocker e dachshund. Raças que têm  focinho curto (braquicefálicas), como pug, lhasa-apso, shih-tzu, boxer e buldogue, têm maior dificuldade em perder calor pelo ato de ofegar e também correm mais riscos de ter hipertermia. Entre os gatos, o persa e o maine-coon costumam  ter maior incidência.
Nunca deixe um animal sozinho dentro do carro, nem por alguns minutinhos. O final desse episódio costuma ser trágico. Ao sair de casa leve sempre uma garrafinha de água para refrescá-lo, respeite os limites de seu animal, fique atento a toda alteração de comportamento e em caso de mal estar, procure o veterinário.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Garotinho deu autonomia financeira à Justiça do Rio que hoje oferece segundo melhor serviço no país



Reprodução Portal G1
Reprodução Portal G1

Essa notícia não me surpreende nem um pouco. O Maranhão, que ostenta os piores indicadores sociais do país e é governado com mão de ferro há anos pelo clã Sarney, não poderia apresentar um resultado diferente. O senador José Sarney é oriundo da ditadura militar e nunca seguiu a cartilha democrática. Não quer que o povo tenha direitos. Era de se esperar que a população do Maranhão tivesse o pior acesso à Justiça no país, como apontou estudo elaborado pelo Ministério da Justiça em parceria com universidades, instituições públicas e entidades.

Chamo a atenção que o Estado do Rio de Janeiro que apresentou o segundo melhor índice atrás do Distrito Federal. E nesse sentido destaco minha contribuição quando governador, ao sancionar a Lei 3.217, em maio de 1999. Essa lei determinou a transferência da arrecadação das taxas judiciárias e da contribuição de 20% sobre os atos extrajudiciais para o Fundo Especial do Tribunal de Justiça.

Com essas receitas, que antes ficavam nos cofres do governo do Estado, o Poder Judiciário se modernizou e teve assegurada a sua autonomia. E o resultado apareceu rapidamente com a construção de 45 fóruns e a reforma de 21 prédios no estado, incluindo a construção do novo prédio anexo do Tribunal de Justiça do Rio, no Centro da cidade. 

Ciberativismo

Ciberativismo

Como a internet reconfigura o ativismo social, ampliando seu alcance e colocando pautas no centro do debate público – e quais os limites do ciberativismo.
Nos últimos meses de junho e julho, brasileiros de todas as idades, cores, crenças, partidos e gêneros marcharam suas mágoas cívicas sobre o asfalto de mais de 320 cidades do País. Nem coquetel molotov, nem pedras, nem vinagre. A arma mais poderosa que cada um carregava consigo era o smartphone. Com a internet inteira no bolso e o palanque das mídias sociais a um clique, ativistas germinados no Facebook deram as mãos a militantes com anos de asfalto para escrever um novo capítulo de nossa história. Valendo-se da capilaridade das redes sociais, conseguiram amplificar, além de pleitos e reivindicações, um debate sobre o futuro da mobilização social em tempos de internet.

Não foi só por vinte centavos, avisaram os cartazes. Foi para inaugurar um jeito novo de exercer a cidadania, que alguns já começam a chamar de ciberativismo. “A internet leva um número maior de pessoas a se manifestar, sem que haja a necessidade de estarem vinculadas a alguma organização mais formal. Assim, há um empoderamento dos indivíduos, dos cidadãos”, diz o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, centro de pesquisas sociais e culturais do Recife, Pernambuco, ligado ao Ministério da Educação.

A primeira explicação para tanta mobilização, na avaliação de Túlio, é meramente matemática. Em condições normais de temperatura e pressão social, lembra, a população de brasileiros já é tida como a que mais cresce entre os usuários de Facebook do mundo. Só em 2012, segundo pesquisa realizada pela consultoria SocialBakers, foram mais de 29 milhões de novas adesões. Hoje em dia, já somos os que mais usam smartphones para navegar em redes sociais, à frente dos habitantes dos Estados Unidos, da Rússia, da Índia e da China, de acordo com a empresa de pesquisas Nielsen. Cada internauta, de acordo com o relatório Brazil Digital Future in Focus, da empresa de pesquisa de mercados virtuais comScore, passa, em média, 27 horas por mês online – a maior parte delas conectado a redes sociais. Simplesmente a média mais alta de toda a América Latina.

Apesar de seu comprovado entusiasmo online, não foram os brasileiros que descobriram o poder das mídias sociais para fins revolucionários. “Os primeiros e mais importantes movimentos sociais que se valeram da internet para se organizar foram o Ocupe Wall Street, nos Estados Unidos, Os Indignados, na Espanha, e a Primavera Árabe, no Oriente Médio”, diz Túlio Velho Barreto (saiba um pouco mais sobre esses movimentos clicando aqui). Cada um com suas motivações, mas todos, na avaliação do sociólogo catalão Manuel Castells, um dos maiores especialistas em ciberativismo do mundo, sintomas inequívocos de amadurecimento coletivo. Para Castells, essas insurreições populares são um ponto de inflexão na história social e política da humanidade.

No livro Redes de Indignação e Esperança (Editora Zahar), Castells dedica o posfácio, datado de julho de 2013, às passeatas brasileiras e tudo que elas desencadearam em nossa sociedade. “De forma confusa, raivosa e otimista, foi surgindo a consciência de milhares de pessoas, que eram, ao mesmo tempo, indivíduos e um coletivo, pois estavam – e estão – sempre conectadas em rede e enredadas na rua, mão na mão, tuítes a tuítes, post a post, imagem a imagem”, diz, para depois acrescentar que o emponderamento dos cidadãos é irreversível. Assim como a “autonomia comunicativa” dos jovens. “Tudo que sabemos do futuro é que eles o farão. Móbil-izados.”

Na avaliação do universitário Pedro Joseph, do Movimento Passe Livre, entidade “autônoma, apartidária e independente” que protagonizou os protestos recentes pelo País, a maior contribuição política da web no Brasil foi dinamizar modelos tradicionais de representação e mobilização. “O que antes levava quatro, cinco, seis reuniões presenciais para ser debatido, hoje é definido em discussões que travamos permanentemente em fóruns virtuais”, diz o integrante do movimento, criado em 2006, em Florianópolis, Santa Catarina, para lutar por um transporte público gratuito e de qualidade. Como as ruas mostraram durante aqueles dois intensos meses, diz Pedro, os movimentos sociais estão menos burocráticos e mais produtivos com o advento do que Castells chama de “sociedade em rede”, que se auto-organiza e auto-mobiliza, superando as barreiras da censura e da repressão historicamente impostas pelo Estado. “Movimento social começa a ser um conceito horizontal e efetivamente coletivo”, diz Joseph.

O cidadão comum, por sua vez, passa a ter acesso amplo e – quase – irrestrito a todo tipo de informação em tempo real, a partir de ângulos distintos, e acaba quedando-se, pelo menos potencialmente, mais politizado. “As pessoas despertaram para o fato de que é possível e necessário reivindicar. Perceberam que somos, sim, sujeitos políticos. Por isso estamos, enquanto povo, migrando da postura reativa para a propositiva. Tudo isso desencadeado, de certa forma, pela internet”, avalia o ativista do Passe Livre.

Mas não basta estar online. Segundo o jornalista Ivan Moraes Filho, do Centro de Cultura Luiz Freire, ONG de direitos humanos com foco em educação, cultura e comunicação sediada em Olinda, Pernambuco, a internet é só uma ferramenta eficiente. “Ela é meio. Nunca fim. Pode ser fundamental para uma articulação, mas pode atrapalhar pelo excesso de informação, de boa e de má qualidade”, pondera. Para Ivan, as redes sociais serão cada vez mais utilizadas nessa perspectiva política, mas é um erro acreditar que elas são um caminho que conduz inevitavelmente ao esclarecimento e à liberdade de opinião. “A maioria [das redes] são empresas privadas com normas rígidas de conteúdo – e até de censura”, diz Ivan, que lembra ainda outro dois fatores que podem amenizar o entusiasmo cibercidadão: nem todo brasileiro tem interesse em virar ativista, seja “de sofá” ou de carteirinha. E nem todo brasileiro tem acesso à internet.

Segundo estimativa divulgada no último mês de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira ultrapassou o patamar de 200 milhões de habitantes. Dos quais cerca de 100 milhões, segundo o Ibope, tem acesso regular à internet: de casa, do trabalho, do celular ou da lan house.

É gente suficiente para operar uma revolução de paradigmas cívicos, afirma, categórico, o professor, mestre e doutor em comunicação e culturas contemporâneas Bruno Nogueira. “Estamos redescobrindo, na internet, o sentido de democracia e de cidadania” diz. Um fluxo histórico inevitável que, assegura, não começou nas passeatas, mas bem antes, quando o conceito de comunidade foi, coletivamente, “hackeado”. “Como estamos todos conectados, fica mais fácil ter acesso a conhecimentos que antes eram restritos a certos grupos. Em termos práticos: a internet nos ajudou a construir um novo sentido de comunidade. Algo que [o filósofo francês] Pierre Lévy chama de comunidades de conhecimento, mais fundamentadas por afinidades ideológicas que por referências geográficas ou físicas propriamente ditas.” A partir dessa lógica “ciberplanetária”, diz Nogueira, só uma “ciberdemocracia” poderia fazer sentido.

E embora haja os que acusem a internet – e as redes sociais em particular – de ser uma seara infértil em termos de reflexão crítica, mais propícia a mobilizações políticas superficiais, Lola Aronovich, doutora em Literatura pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e autora do blog Escreva Lola Escreva, que trata de feminismo e cidadania, rebate: “Pelo contrário, ela tem o potencial de nos fazer acordar.” Militância virtual, defende, funciona, sim. E mobiliza mais e melhor que qualquer panfletagem. “Se houve uma coisa que as ruas nos ensinaram este ano é que havia muita gente jovem que nunca tinha participado de uma manifestação e estava morrendo de vontade de fazê-lo. E ainda há.”

Poder público
Se os cidadãos estão descobrindo poder, força e representação na rede, os governos não haveriam de manter-se offline. Em setembro, um importante passo foi dado pelo Governo Federal em direção ao ciberespaço: a reformulação do Portal Brasil, agora com direito até a perfil no Facebook. “Nossa ideia é mudar o governo de analógico para digital”, disse a presidente Dilma Roussef, na cerimônia de estreia do serviço, realizada no Palácio do Planalto. A estratégia, explicou, é ampliar a oferta de serviços e informações disponibilizados pela web aos cidadãos, além de garantir uma maior participação da população na tomada de decisões. “Queremos construir uma prática sistemática de ouvir as ruas, o que querem as universidades, o que querem as pessoas do campo, dos diferentes segmentos sociais, e ouvir as redes sociais, ter com elas uma interação.” Uma política que ela batizou de Gabinete Digital. O governo também apostou numa rede social própria. Lançado em julho deste ano, na ressaca pós-protestos, o chamado Participatório da Juventudedestina-se a discussões e debates de cunho cívico. “A rede é baseada em três pilares: a institucionalização de um mecanismo de participação política dos jovens, a produção conjunta de conteúdo e o fomento de espaços de mobilização virtuais”, explica Carla Bezerra, uma das responsáveis pelo projeto. “Colaboração, afinal, é a essência da web 2.0”.

Além de estabelecer canais de comunicação, muitos governos estão tratando de prestar contas na internet. A tendência dos chamados dados abertos ganhou o mundo a partir dos Estados Unidos, quando Barack Obama, há exatos quatro anos, assinou um documento institucionalizando a transparência como política pública. A partir daí, passou a disponibilizar na web um volume enorme de dados públicos sobre os mais variados aspectos da sociedade americana, como saúde e educação. No Brasil, essa política de democratização virtual de estatísticas, institucionalizada pela Lei de Acesso à Informação, de 2011, teve dois principais desdobramentos: o Portal Brasileiro de Dados Abertos, que conta com mais de mil bases de dados, e o Portal da Transparência, ambos lançados em 2012.

Mas o Governo Federal não está online sozinho. Vários estados e prefeituras também caíram na rede para prestar serviços. Só em Pernambuco, segundo levantamento da consultoria digital Le Fil, 100 dos 185 municípios pernambucanos estão devidamente representados na web. No Twitter, 31 prefeituras marcam presença. No Facebook, 96. E no Youtube, 13.

Abrir uma conta institucional, porém, é apenas o primeiro passo. “A eficácia dessas plataformas para o poder público depende da realização de três fases: estar presente, ou seja, postar ações e projetos políticos; ter uma personalidade digital, com grade de conteúdo, monitoramento e análise; e responder às demandas da população. Nenhum município pernambucano conseguiu ainda sair da primeira”, diz a diretora executiva da Le Fil, Socorro Macedo.

Além disso, disponibilizar tabelas e números brutos na internet não significa, necessariamente, esclarecimento da população, que nem sempre é capaz de decifrá-los. É aí que entra outra boa arma do ciberativismo: os hackathons. Maratonas de programação computacional, essas competições tecnológicas vêm sendo usadas para estimular os participantes a desenvolverem aplicativos que transformem os sisudos dados disponibilizados pelos governos em algo mais palatável, acessível e, portanto, efetivo para a comunidade. “É uma forma de nos apoderarmos e pensarmos juntos em soluções, literalmente, para o País”, diz Kiev Gama, da Universidade Federal de Pernambuco, um dos idealizadores do Cidade Inteligente, primeiro grande hackathon em curso naquele estado, concebido à imagem e semelhança dos que já foram realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Todo mundo sai ganhando em cidadania.”

Os dados abertos também são uma bandeira do “hackerativista” Pedro Markum. “É preciso abrir a caixa preta do sistema. Descobrir como ele funciona para poder subverter toda lógica que oprima. Enquanto não dominarmos esses trâmites burocráticos, seremos sempre dominados por eles”, diz Markum, que fundou, em 2010, uma comunidade de desenvolvedores cidadãos, a chamada Transparência Hacker, que hoje já conta com mais de 800 pessoas empenhadas em melhorar o País “com código, com tecnologia e com inteligência”. O grupo já disponibilizou na internet, entre muitos outros produtos, um clone do Blog do Planalto aberto à participação do cidadão e o site Jogo da Vida do Processo Legislativo, onde todo e qualquer cidadão pode pesquisar a quantas anda o trâmite de vários projetos de lei. A comunidade conta até com uma unidade móvel, batizada de Ônibus Hacker, que circula pelo Brasil, desenvolvendo para melhorar o País.

Para Pedro, não faz mais sentido discutir se a internet ajuda ou não a garantir cidadania. “Não é que eu acredite que a web seja capaz de transformar a sociedade. Estou vendo isso acontecer. A música, o cinema, o jornalismo. Tudo foi impactado. Porque a política não seria? A lógica é a mesma: é preciso acabar com a indústria da intermediação. E a política representativa como a conhecemos hoje não deixa de ser uma representação.” Hoje em dia, garante, todo mundo tem que ser um poucohacker para ter direito a autonomia.

Limites
Definir os limites do ciberativismo, projeta Jô Gamba, do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, é o desafio da sociedade brasileira agora. “Não temos como abdicar completamente da mobilização tradicional, corpo a corpo”, pondera.Rosane Bertotti, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), uma das entidades responsáveis por cunhar o conceito de sindicalismo no País, concorda. Para ela, não basta postar, curtir e compartilhar. Ativismo, diz, só se faz de verdade no mundo real. “Internet ajuda, mas precisa ser encarada como um meio. Não como fim.”

Websites, provoca Pedro Joseph, do Movimento Passe Livre, não sentam à mesa para negociar. “Por isso essa filosofia do movimento pulverizado, sem representação nem liderança, tem que ser vista com bastante cuidado”, diz o ativista. Para Manuel Castells, o que mudou essencialmente do sindicalismo ao ciberativismo na mesa de negociação é a substituição do conceito de liderança pelo de representação. “Por serem uma rede de redes, eles podem se dar ao luxo de não terem um centro identificável, mas ainda assim garantir as funções de coordenação, e também de deliberação, pelo inter-relacionamento de diversos grupos. Desse modo, não precisam de uma liderança formal, de um centro de comando ou de controle, nem de uma organização vertical.” Essa estrutura descentralizada, defende, maximiza as chances de participação no movimento, que consegue seguir se reconfigurando de acordo com o nível de envolvimento da população em geral.

O próximo passo é encontrar o equilíbrio entre o digital e o analógico, garante Pedro Joseph. “Só offline, com os pés bem fincados no chão, conseguiremos mudar o mundo.”