sábado, 9 de maio de 2015

Com ajuda de minhocas, SP reduz lixo em aterros sanitários e incentiva vida saudável

Com ajuda de minhocas, SP reduz lixo em aterros sanitários e incentiva vida saudável

Projeto pioneiro mobiliza população para transformar resíduo em adubo, mas depende de recursos para se expandir

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Cláudio Spínola é idealizador do “Composta SP”, programa que “transforma resíduos em flores”. - Marcos Alves / Agência O Globo
SÃO PAULO. Três caixas de plástico, um saco com minhocas e uma porção de serragem. É simples assim um kit de compostagem doméstica, usado para transformar o lixo (ou melhor, resíduo) vegetal em adubo natural para plantas, com a ajuda de minhocas. No ano passado, uma organização da sociedade civil, concessionárias de limpeza urbana de São Paulo e a prefeitura distribuíram 2 mil desses a moradores de várias partes da cidade. Os frutos da iniciativa, pioneira no país, começam a ser conhecidos a partir de agora, graças à compilação de resultados de uma ampla pesquisa realizada com os beneficiários, cujo resultado preliminar foi obtido pelo GLOBO.
A redução do volume de lixo orgânico a ser processado pelo poder público na cidade, ainda que simbólica, é a consequência mais imediata da iniciativa. Mas está longe de ser a mais interessante. Ter uma composteira em casa levou usuários a consumir mais frutas, legumes e verduras, cujos restos alimentam as minhocas (elas não podem ficar na mão). Casas e apartamentos ficaram mais verdes por causa da demanda de uso do adubo resultante do processo. E a busca por folhas secas, fundamentais ao processo de compostagem, passou a levar mais gente aos parques da cidade.
Quase 1,6 mil usuários responderam voluntariamente aos questionários enviados pelo “Composta SP”, que constatou ter ocorrido incorporação do sistema aos hábitos de casa em 78% dos casos. Pelo menos 95% indicariam o método para outras pessoas e 98% disseram considerar a compostagem uma boa solução para o tratamento de resíduos. Um terço dos usuários contaram ter ajudado outras pessoas a montar uma composteira doméstica, o que amplia ainda mais o alcance do programa.
EXPANSÃO
Ao custo de pouco mais de R$ 800 mil, o “Composta SP” foi financiando pelas concessionárias do lixo como contrapartida pelos serviços prestados na cidade, negociadas em contrato. A ideia dos organizadores é expandir a iniciativa neste ano, mas, dessa vez, ainda falta definir de onde virão os recursos. Na primeira etapa, iniciada no ano passado, 10 mil pessoas se inscreveram para receber um kit. O plano inicial era atender à maior parte dessa demanda, ainda neste ano, além de expandir a atuação para escolas e órgãos públicos. Pela atual estrutura, o programa garante uma redução diária de 1,5 tonelada de lixo a ser levado para aterros.
A possível expansão ainda não aproxima a cidade da meta do Plano de Gestão Intregrada de Resíduos Sólidos, que almeja 1 milhão de domicílios com compostagem doméstica até 2034. Mas, não deixa de ser um passo prático e simbólico para a cidade. Na avaliação de Antonio Storel, da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb), os resultados até aqui "surpreendem muito positivamente" e o papel do poder público nos próximos meses, para ele, deverá ser o de manter o incentivo à prática.
- Não basta oferecer um manual, nosso papel deve ser estimular a iniciativa fornecendo informação de qualidade às pessoas, apostando sempre na vontade do cidadão. A composteira é uma grande educadora ambiental e de vida saudável dentro de casa - defende.
Mais de uma centena de oficinas de compostagem no âmbito do programa nos últimos meses. O grupo do “Composta SP” no Facebook conta com 5,6 mil membros e quase 10 mil curtidas. Lá, participantes trocam experiências, postam dúvidas e soluções para problemas encontrados no percurso. Compartilham também maneiras de aproveitar melhor alimentos e técnicas de plantio em ambiente urbano. Vários deram nomes para suas minhocas. E falam sobre um pesadelo frequente: se o ambiente das minhocas é contaminado por produtos químicos, por algum motivo qualquer, elas se enroscam, formam uma grande bola e cometem suicídio coletivo.
PARAFUSO DO SISTEMA
A transformação de uma prática até então restrita a poucas famílias em política pública na cidade de São Paulo é obra, em grande parte, da determinação de um grupo liderado por Cláudio Spínola, de 39 anos, fundador da ONG Morada da Floresta, em São Paulo. Nascido em Brasília, ele mudou-se para São Paulo na adolescência, época em que se considerava "mais revoltado e questionador do que alguém capaz de apontar soluções". Formou-se em artes plásticas na USP, mas percebeu que o mundo da arte era "pequeno para seu propósito de vida”. Naquela época, não imaginava que anos depois a compostagem seria sua ferramenta para colocar em prática o desejo de "não ser apenas um parafuso do sistema".
O engajamento na causa ocorreu ainda jovem, quando teve os primeiros contatos com a permacultura, conceito inspirado na ideia de “agricultura permanente”, que busca um ambiente sustentável, socialmente justo e financeiramente viável. Na casa que dividia com amigos no bairro Butantã, na Zona Oeste de São Paulo, testou primeiro a compostagem com tonéis e aprimorou a técnica quando conheceu o sistema de caixas e minhocas, aplicando-o experimentalmente em caixas de feira.
Em 2011, tentou transformar em adubo os descartes do sacolão do bairro, mas esbarrou em uma penca de entraves burocráticos que o impediam, por exemplo, de transportar resíduo sem caminhão compactador ou usar lotes para recolher resíduos sem ter problemas com os órgãos de fiscalização do município.
- Por uma lado você tinha uma política nacional de resíduos incentivando a compostagem. Mas a estrutura estava organizada para atender a aterros sanitários - conta.
Com a ajuda do então secretário do Verde e Meio Ambiente da prefeitura, Eduardo Jorge, conseguiu levar sua mensagem a representantes de órgãos governamentais e promover a discussão sobre o tema no âmbito do poder público. Trabalhou para equilibrar a força junto ao governo de empresas que lucram com o descarte tradicional, como incineradoras de lixo. Foram muitas audiências públicas, seminários e mobilizações com apoio de entusiastas do método, até que se compreendesse os benefícios da compostagem descentralizada para o tratamento de resíduos orgânicos na cidade e a ideia fosse finalmente comprada pelo poder público.
Em junho do ano passado, Spínola entregou pessoalmente uma composteira doméstica ao prefeito Fernando Haddad, para que ele usasse em seu apartamento, no Paraíso, na Zona Sul de São Paulo. Para os envolvidos na causa, o apoio dele foi fundamental para que o projeto saísse do papel e também será para que continue com o mesmo vigor. No entanto, procurado pelo GLOBO por meio de sua assessoria, por dois dias, o prefeito preferiu não comentar como estaria sendo a experiência com sua família.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/com-ajuda-de-minhocas-sp-reduz-lixo-em-aterros-sanitarios-incentiva-vida-saudavel-16085184#ixzz3ZYWLhV00 
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