sexta-feira, 1 de junho de 2012

Nova lei de resíduos sólidos impacta obras

Por: Paula Cristina
São Paulo
A forte movimentação dentro da economia brasileira para se adequar ao Plano Nacional de Resíduos  Sólidos (PNRS), (Lei 12.305/2010) parece chegar lentamente na cadeia da construção civil. 
No Estado de São Paulo, apenas 39% das cidades começam a caminhar para uma política de recolhimento dos detritos, de acordo com dados do Sindicato da Construção (Sinduscon-SP). Estimativas do mercado apontam que para se enquadrar às novas regras as obras podem sofrer alta de até 20% do valor inicial.
A ação é fruto da Resolução 448 do Conselho Nacional do Meio Ambiente determina que os municípios e o Distrito Federal (DF) elaborem os planos de Gestão de Resíduos de Construção Civil até janeiro de 2013, e o coloquem em prática até seis meses depois. “A gente percebeu que existe muita
iniciativa pontual nos municípios, mas que não são adequados à regulamentação por falta de conhecimento do assunto. E toda essa questão de regulamentação de resíduo da construção está sendo muito nova”, disse a coordenadora-técnica do Comitê de Meio Ambiente do Sinduscon, Lilian Sarrouf.

A pesquisa da entidade, aponta que ainda há necessidade de se caminhar bastante em busca desoluções para o setor.  “De modo geral, as cidades maiores estão mais atualizadas. 
E também as cidades em área de preservação e cidades turísticas. As que já têm esse conceito da sustentabilidade, também já demonstraram que estão buscando o gerenciamento correto ”, diz Sarrouf.
O Sinduscon tem a expectativa que o percentual de cidades com legislação específica sobre o tema aumente rapidamente em razão da pressão da sociedade. “Haverá certamente uma pressão crescente de instituições sociais, do Ministério Público e do próprio estado, para que os planos municipais sejam desenvolvidos, disciplinando todos os resíduos sólidos e, inevitavelmente, os resíduos da construção civil”, diz.
Alternativas
E quem encontrou nesse mercado uma oportunidade de negócio foi a Ecco Sustantável. Com a criação de um sistema inteligente para gerir a capacidade das bocas de lobo  a empresa pretende investir R$ 5 milhões este ano e reverter, em apenas um ano de existência, um lucro considerado alto. “A perspectiva é de um faturamento em torno de R$ 25 milhões este ano, ano passado foi nosso  primeiro ano, e tivemos um faturamento de R$ 200 mil pois iniciamos a operação em outubro”, explica Carlos Chiaradia, sócio diretor da Ecco sustentável.
O produto inserido no mercado pelo empresário trata-se de um filtro confeccionado em material termoplástico com capacidade para 300 litros, com a função de reter os resíduos, impedindo  o envio destes aos rios, além de evitar o entupimento de bueiros. De acordo com o executivo o foco para este ano será as atividades nas regiões sudeste. “Escolhemos esta região em função da alta demanda inicial. Porém é certo que expandiremos nossas atividades para todo território nacional”.
A chegada no mercado, de acordo com Chiaradia, vai muito além das proximidades com a Copa  do Mundo e Olimpíadas, prevista para os próximos anos. 
“Outro fator que influiu muito para o inicio de nossos serviços foi a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos [PNRS], que obriga que as prefeituras tenham até 2014 um Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos, o que significa que o lixo que caem nas ruas e bueiros tenham um tratamento adequado, daí nossa solução para este problema”, detalha. Para os próximos anos o objetivo da empresa é ousado. “Projetamos um crescimento de 50% para os próximos dois anos e 100% até 2016”, afirma o executivo, explicando que o maior diferencial do produto do grupo é a transmissão em tempo real das condições de cada bueiro. “Trata-se de um sistema em desenvolvimento e que permitirá que o nosso Ecco Filtro instalado nos bueiros informem automaticamente quando este atingir 80% de sua capacidade, o que nos fará emitir uma Ordem de Serviço automaticamente para a empresa operadora para limpeza do bueiro”, detalha.
Para este ano o executivo também não descarta a possibilidade de encontrar investidores estratégicos. E conta que já há interesse em levar o produto para fora do País. “Já tivemos países do Mercosul interessados em nossas soluções [Argentina e Chile], porém nosso objetivo é consolidar o mercado brasileiro que já é muito grande”, conta.
Licitações
Outro impacto direto da nova lei dentro das empresas de construção civil são as licitações. Segundo o professor de Economia e Meio Ambiente da Universidade São Paulo (USP) Paulo Lins, as empresas do setor precisam começar a se organizar para atender as futuras licitações. “Será necessário encontrar a solução até o meio do ano que vem, quando a lei entrará oficialmente em vigor. De fato as prefeituras começaram a cobrar das empresas que participarem de projetos de licitações soluções inteligentes para lidar com os resíduos.”
Na opinião do analista o primeiro impacto do investimento para recolhimento dos resíduos pode gerar alguma alta no valor final da obra. “Falamos de um investimento inicial, que não é tão baixo, mas que terá retorno certo, já que será usado em outras obras”.
Lins estima que a alta pode chegar a 20% em um primeiro momento, “mas esse valor será abatido com o passar do tempo, já que as empresas passarão a reutilizar boa parte dos detritos recolhidos”, argumenta.
Da mesma opinião partilha Emerson Ribeiro Castro, diretor de Sustentabilidade da construtora baiana Asus. De acordo com o executivo, as obras do segundo semestre já serão enquadradas nas novas regras. “Por realizarmos obras em muitas cidades turísticas a necessidade de se enquadras foi maior”, explicou.
Sem abrir números o empresário afirmou que o valor não será repassado. “Fizemos parceria com cooperativas que recolhem detritos, demos treinamento para os trabalhadores sobre como reutilizar material e, dessa forma, não será necessário que o consumidor final sinta a diferença no bolso”, finaliza.

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