sexta-feira, 8 de junho de 2012

Palavrão no trabalho: use com moderação


Falar palavras de baixo calão no ambiente corporativo pode ser fatal para uma carreira

O GLOBO, COM INFORMAÇÕES DO WALL STREET JOURNAL
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Carol Bartz, ex-presidente do Yahoo, acredita que os palavrões em certos contextos "mostram entusiasmo e dedicação"
Foto: Wall Street Journal
Carol Bartz, ex-presidente do Yahoo, acredita que os palavrões em certos contextos "mostram entusiasmo e dedicação"WALL STREET JOURNAL
RIO - Depois que o deputado Sílvio Costa (PTB-PE) insultou, na semana passada, o senador Pedro Taques (PDT-MT) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, veio à baila a discussão sobre o uso de palavrões em público, em especial no ambiente de trabalho — caso dos parlamentares. Costa até pediu desculpas na reunião da última terça-feira. Tarde demais: o estrago já estava feito.
Mas o uso de palavras de baixo calão não é exclusividade de nossos parlamentares — nem de profissionais do nosso país. Carol Bartz, demitida como diretora-presidente da americana Yahoo Inc. em setembro passado, gostaria ter agido de modo diferente durante seu conturbado mandato.
“Eu provavelmente não teria dito aquela palavra que começa com F,” disse Bartz em uma conferência sobre “Mulheres na Economia”, organizada recentemente pelo The Wall Street Journal. Segundo o jornal, colegas de Carol no conselho do Yahoo chegaram a aconselhá-la a não dizer palavrões.
No entanto, Carol, que tem 63 anos, costumava usar palavrões para incentivar os funcionários a derrotar os concorrentes durante seu bem-sucedido mandato de 14 anos na liderança da Autodesk Inc. Recentemente, ela admitiu que os funcionários da Autodesk “a amavam” e os palavrões eram uma maneira de “mostrar entusiasmo e dedicação”.
De modo geral, dizem consultores de RH e recrutadores de executivos, falar palavrões no trabalho pode ser fatal para uma carreira. Segundo eles, os executivos que usam palavras de baixo calão parecem não-profissionais e fora de controle.
Mas esse nem sempre é o caso, diz Jeffrey Cohn, especialista em planejamento sucessório de executivos. Usado no momento certo e na situação certa, um palavrão bem escolhido pode motivar uma equipe, dissolver tensões ou conquistar o público.
“As empresas cada vez mais preferem líderes autênticos”, afirmou Cohn ao Wall Street Journal. “Usar uma linguagem viva pode ser algo a seu favor — contanto que você também demonstre empatia e bom discernimento para negócios.”
Considere o exemplo de Michael Dubin, fundador de uma firma novata de comércio eletrônico, a Dollar Shave Club. Ele aparece em um vídeo on-line dizendo, com orgulho, que as lâminas de barbear da sua firma “são F...!”. Mesmo assim, ele substituiu a palavra por um “bip”.
O vídeo comunicou “a mesma intensidade”, sem ter que reproduzir a palavra, explica Dubin, cuja empresa tem cinco funcionários de tempo integral.
“As pessoas sabem que a palavra está lá. Essas palavras podem exercer o efeito desejado, mas você tem que conhecer o seu ambiente”, acrescenta.
É por isso que Dubin nunca diz palavrões em seus discursos para promover a empresa a investidores de risco, que até agora já deram US$ 1 milhão à Dollar Shave em financiamento inicial.
Soltar palavrões durante uma entrevista de emprego é quase sempre um tiro no pé — mas nem todo mundo percebe isso.
“Um diretor financeiro do setor de hotelaria perdeu a chance de conseguir o mesmo cargo em uma empresa rival, de alto nível, em parte porque descreveu seu chefe com palavras muito pesadas 10 minutos depois de me conhecer”, lembra Jane Howze, diretora administrativa do Alexander Group, empresa de recrutamento de executivos de Houston, no Texas. “Eu pensei: esse cara não tem a menor inteligência emocional.”
Ainda assim, Howze diz que já recomendou candidatos a altos cargos que usaram palavrões, ocasionalmente, para descrever suas realizações profissionais com mais ênfase.
Para Brent Sherwin, diretor de uma filial da Schwan Food Co., essa linguagem fazia parte da sua personalidade no trabalho. Os motoristas de caminhão da empresa “ainda adoram me ouvir falar palavrões”, observa ele. No entanto, seu patrão o repreendeu por dizer palavrões em apresentações maiores, onde há executivos no público.
Ajudado por um coach de executivos, Sherwin diz que percebeu que dizer palavrões no trabalho é como colocar pimenta em uma refeição: “Usado com moderação, é muito eficaz”.
Quando se dirigia a uma reunião nacional de vendas da Schwan em dezembro passado, Sherwin disse um palavrão apenas uma vez. Ele esperou até o fim para mobilizar os funcionários a derrotarem a concorrência, incentivando-os a “dar um chute na bunda deles, p...!”, lembra ele. Dessa vez, a tática funcionou: “Até os executivos de alto escalão se levantaram e aplaudiram”, conta ele.
Usar palavrões com critério já ajudou uma sócia de uma firma de advocacia especializada em litígios da costa oeste americana a deixar à vontade seus clientes homens.
“Esses clientes começam a falar com franqueza mais rapidamente quando sentem que sou 'um cara' como eles” diz a advogada veterana, que preferiu não se identificar para não ser vista como uma não-profissional.
“Os homens veem que se você não se abala com a linguagem chula, não vai se abalar com alguma coisa que o advogado adversário vai atirar em cima de você”, continua ela.
As mulheres executivas que usam palavrões correm mais riscos de carreira do que os homens, dizem os especialistas.
“Considera-se inadequado que uma mulher diga palavrões. Para nós, mulheres, há um padrão mais elevado”, diz Dee Soder, sócia-gerente da CEO Perspective Group, firma de consultoria de executivos.
  http://oglobo.globo.com/emprego/palavrao-no-trabalho-use-com-moderacao-5142189#ixzz1xBxPRYGu

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