PREMIAR QUEM TROCA O GRAMADO POR PLANTAS QUE EXIGEM MENOS ÁGUA
A rega dos quintais californianos responde por mais da metade da conta de água dos moradores das casas. Diversas cidades já estipulam dias, horários e equipamentos específicos para molhar o quintal. Entre os apetrechos indicados estão timer para
esguichos e irrigação por gotejamento. As empresas fornecedoras de água também passaram a oferecer dinheiro a quem troca a grama por
plantas nativas, menos "sedentas". Os moradores recebem até 10 dólares por metro quadrado de grama substituído. Algumas empresas de água da Califórnia também subsidiam a compra de máquinas de lavar louça e roupa mais eficientes. Os descontos variam de 50 a 200 dólares.
EVITAR VAZAMENTOS NAS TUBULAÇÕES
Na Califórnia, cerca de 10% do volume bombeado pelas tubulações subterrâneas é perdido em vazamentos. Para localizá-los, os funcionários colocam sobre o asfalto dispositivos que detectam o som da vazão no subsolo. O processo é realizado de madrugada, quando há menos barulho. Descoberto o ponto, eles cavam um buraco e fazem os
reparos necessários. No Brasil também existem técnicas para detectar falhas. A diferença é que os defeitos em tubulações respondem por perdas muito maiores, de até 28%. Considerando as ligações irregulares, os "gatos", o desperdício chega a 37%. Uma fiscalização maior reduziria isso.
VALORIZAR A SUJEIRA
Na cidade de Ventura, as autoridades do departamento de água, em parceria com uma rádio local, criaram o desafio
"Don’t wash your car" (Não lave seu carro, em inglês). Os moradores são incitados a ficar ao menos um mês sem limpar o automóvel e postar fotos dele no Facebook do departamento. Os donos das imagens que recebem mais curtidas ganham serviço completo em lava-rápidos locais que reciclam a água. Circular com o carro todo empoeirado virou sinal de status politicamente correto entre as celebridades de Hollywood. No Brasil, a ONG The Nature Conservancy tem a campanha
"Não chove, não lavo" , que estimula as pessoas a postar fotos de seus veículos no Instagram com a hashtag
#naochovenaolavo, mas a campanha ainda não conseguiu mudar os hábitos da maioria dos motoristas.
DISTRIBUIR GRATUITAMENTE MEDIDORES INDIVIDUAIS, OS HIDRÔMETROS
Uma pesquisa realizada pela Agência de Proteção Ambiental americana concluiu que famílias que têm relógio para medir o uso da água gastam em média 28% menos que as que não têm. Por isso, o governo da cidade de Santa Clara passou a oferecer hidrômetros eletrônicos gratuitamente. Como resultado, a
vazão dos reservatóriosque abastecem o condado já caiu em um quarto desde janeiro. No Brasil, edifícios mais antigos costumam ter um único hidrômetro. Como a conta total é dividida entre todos os apartamentos, muitos moradores não enxergam incentivos para economizar. O custo para fazer a "individualização" da conta de água passa dos 300 reais e pode chegar a 3 mil reais, o que leva muitos condomínios a protelar a mudança.
REAPROVEITAR A ÁGUA DO RALO
Sem grande acesso a aquíferos nem rios, San Diego sempre foi muito castigada pelas estiagens. Na cidade, a água que vai pelos ralos e pias e pode ser reaproveitada, chamada de
gray water (água cinza), é separada do esgoto,
black water (água escura). Agora, San Diego está investindo em uma usina para tratar a água cinza e torná-la potável. Em vinte anos, espera-se que 40% da água consumida seja reciclada. Os prédios e shoppings no Brasil com encanamentos distintos para a água dos ralos e das privadas são muito raros.
TRATAR O ESGOTO E USÁ-LO PARA BASTECER OS LENÇÓIS FREÁTICOS
Repulsiva para muitos, essa ideia já está em pleno vigor no condado de Orange, um dos mais ricos da Califórnia, desde 2008. O esgoto passa por vários processos, como uma
microfiltração para tirar as partículas sólidas e o uso de luz ultravioleta, que mata germes e bactérias. Em seguida, o produto final, potável, é devolvido aos lençóis freáticos.
No Brasil, essa técnica não existe, apesar do uso cada vez mais intenso dos poços artesianos, dos quais cerca de 85% são clandestinos. A superexploração dos lençóis freáticos, por estarem interligados com rios e lagos, também pode secar a água da superfície. Além disso, os aquíferos dependem igualmente da chuva para se reabastecer e, é óbvio, sofrem com as secas. Por fim, muitos deles foram contaminados por esgoto, metais pesados ou outras substâncias.
TIRAR O SAL DA ÁGUA DO MAR
Por ser um processo muito caro, as unidades que retiram sal da água do mar só prosperam em lugares onde praticamente não existe alternativa, como em Singapura ou Israel. A seca na Califórnia, contudo, levou ao investimento de 1 bilhão de dólares na Planta de Dessalinização Carlsbad. A obra ficará pronta em um ano e meio. O objetivo é produzir 190 milhões de litros de água doce por dia, o equivalente a 5% do consumo da Grande São Paulo. "Se Carlsbad der certo, a técnica poderia ser reproduzida em cidades litorâneas do Brasil, para aliviar o uso dos mananciais que abastecem a capital de São Paulo", diz Tim Quinn, diretor executivo da Associação das Agências de Água da Califórnia.