sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

As cidades tratam a água da chuva como lixo

Tim Duggan: "As cidades tratam a água da chuva como lixo"

O arquiteto da ONG Make it Right, dedicada a projetos ambientais, diz que as cidades têm de consumir água de chuva e não depender de represas

MARCELO MOURA
20/11/2014 07h00 
ÁGUA RARA Tim Duggan, arquiteto da ONG Make it Right. Ele  diz que a falta d’água veio para ficar (Foto:  )
São Paulo enfrentou transtornos contraditórios no início do mês. Cidades como Itu sofreram, ao mesmo tempo, alagamento por causa das chuvas fortes e seca nas torneiras devido ao baixo nível nas represas que abastecem o Estado. No modelo atual das cidades, drenamos para longe a água da chuva, que chega a todas as casas, grátis e com razoável qualidade. E trazemos de longe, a alto custo, água de reservatórios, filtrada e bombeada por dezenas de quilômetros. “O consumo de água nas grandes cidades segue um padrão de 100 anos atrás, insustentável nas próximas décadas”, afirma Tim Duggan, arquiteto da ONG Make it Right.
Fundada pelo ator Brad Pitt, ela desenvolve técnicas e ergue estruturas mais amigas do meio ambiente. Esse conhecimento já foi usado na reconstrução de Nova Orleans, devastada em 2005 pelos furacões Rita e Katrina, que deixaram 80% da cidade debaixo d’água. Nove anos após a tragédia, Nova Orleans tornou-se exemplo de área urbana sustentável. Além de erguer casas eficientes, a Make it Right reconstruiu ruas e calçadas com concreto poroso, capaz de absorver chuva. Além de evitar enchentes, o piso filtra a água, para aproveitamento em jardins e reservatórios. No Brasil, a onda de construção de edifícios dos últimos anos foi, em grande parte, desperdiçada – poucos deles captam e reúsam água. Duggan veio ao Brasil a convite do ciclo de palestras Arq.Futuro e contou como incentivar a construção de edifícios e casas mais modernos.
ÉPOCA – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três Estados mais ricos e desenvolvidos do Brasil, enfrentam risco de ficar sem água. A crise de abastecimento é um problema local?
Tim Duggan –
 A falta d’água nos grandes centros urbanos é um problema mundial. Veio para ficar. Em Phoenix, no Arizona, ou em Los Angeles, Califórnia, enfrentamos situação parecida. As duas cidades têm mais habitantes do que recursos hídricos. Bombeamos água de toda a região sudoeste dos Estados Unidos para essas áreas. Cidades que excederam a capacidade do ecossistema representam um problema. São insustentáveis.
ÉPOCA – O que há de errado no sistema de abastecimento d’água dos grandes centros urbanos?
Duggan – 
As cidades exploram recursos hídricos da mesma maneira há mais de 100 anos. Nesse período, a população urbana foi multiplicada por 20, de 160 milhões de habitantes para mais de 3 bilhões. Os centros urbanos são meros consumidores de água, com participação mínima na captação. A água das chuvas escorre pelo ralo, descartada como se fosse lixo. Água é como petróleo: um recurso natural hoje valioso, mas por muito tempo desprezado. Se não mudarmos nossos hábitos e a infraestrutura das cidades, veremos conflitos globais pela posse da água, não mais por petróleo, no próximo século.

ÉPOCA – O que os governantes podem fazer para afastar o risco de falta d’água?
Duggan – 
As cidades precisam capturar a água para o consumo de suas comunidades. Em vez de investir em sistemas caros de captação, tratamento e bombeamento até as torneiras, nossa ONG encara cada gota d’água como um recurso, e a capturamos quando ela cai. Para isso, temos “jardins pluviais”, biorreservatórios e cisternas. Usamos cada gota d’água de acordo com as possibilidades previstas em cada projeto. Precisamos estudar como reaproveitar a mesma gota d’água várias vezes, como se faz hoje com a reciclagem de plásticos.
ÉPOCA – Formas de captar e reaproveitar água tornam as cidades e seus edifícios necessariamente mais caros?
Duggan – 
A resposta a essa pergunta é relativa. Se você não começar a pensar proativamente, em captar e reaproveitar água nas cidades, terá custos mais altos para bombear e tratar a água, cada vez mais poluída, de fontes mais distantes. Temos de buscar métricas para avaliar os custos de curto e de longo prazo. Só assim você terá uma métrica adequada. Olhar apenas para o investimento inicial é uma forma imprecisa de avaliar uma iniciativa sustentável. Temos de ponderar o custo do investimento e os impactos sociais, ambientais e econômicos.
ÉPOCA – Grande parte da população sabe da escassez de água. Mesmo assim, nem sempre se sente responsável pela solução. Como mobilizar os consumidores?
Duggan – 
A falta de engajamento é, infelizmente, um problema em muitos lugares no mundo. É importante começar uma campanha agressiva de conscientização popular. Os líderes políticos têm papel fundamental para informar suas comunidades sobre a gravidade do problema e defender investimentos em reformas.

ÉPOCA – A maioria dos edifícios no Brasil tem apenas um hidrômetro. Como pedir consumo responsável a moradores que nem sabem quanto gastam?
Duggan –
 Isso é um problema. Esforços individuais passam despercebidos numa conta unificada. Poder acompanhar o consumo individual é o primeiro passo no esforço pelo consumo consciente. A escassez de água deixa de ser um problema difuso, sem dono, quando se torna possível enxergá-lo nas questões cotidianas.
ÉPOCA – Adotar medidores individuais demanda uma reforma dos apartamentos cuja despesa, para o morador, raramente é compensada pela economia trazida pela redução no consumo. O principal ganho é coletivo. Como o Estado poderia incentivar o investimento em casas mais eficientes?
Duggan –
 Vários governos investem em diferentes formas de estimular o desenvolvimento e a adoção de soluções para reduzir o consumo de água. Os Estados Unidos incentivam o setor imobiliário com redução de impostos e privilégios na concessão de licenças de construção. Estimulado, o mercado apresenta resultados concretos e já começa a andar por conta própria.
"Sem reúso, pagaremos para bombear água cada vez mais poluída, de mais longe"
ÉPOCA – Qual o papel de uma ONG, como a Make it Right, no desenvolvimento de casas de menor impacto ambiental?
Duggan – 
Os objetivos de nossa organização não são os mesmos de uma construtora comum. Nossa missão é aplicar os princípios do desenvolvimento sustentável e mudar as comunidades, em vez de auferir lucro. Procuramos erguer casas “verdes” e economicamente viáveis no longo prazo, mesmo que não no curto. As primeiras casas que construímos em Nova Orleans não foram baratas. Custou caro chegar a um produto barato. Com fins lucrativos, certas inovações são impossíveis. Tivemos de encontrar formas de baixar o custo a cada nova construção. Finalmente, hoje temos partes principais das casas padronizadas em kits, de forma a fazer habitações com desenho sofisticado, capazes de atingir altos níveis de sustentabilidade, sem estourar o orçamento. Desenvolvemos diferentes projetos em diferentes lugares da América, todos com o objetivo de custar menos e respeitar mais o meio ambiente.
ÉPOCA – A construção civil não pareceu evoluir, nas últimas décadas, no mesmo ritmo de setores da manufatura, como fábricas de componentes eletrônicos ou automóveis. Por quê?
Duggan –
 Não precisa ser assim. Cada edifício é único, mas seus princípios podem ser reproduzidas. Uma equipe pode adaptar técnicas padronizadas de construção à realidade local. A melhor forma de multiplicar inovação é formar uma equipe de designers, arquitetos, planejadores e engenheiros que entendem de projeto sustentável e sabem como aplicá-los ao terreno, qualquer que ele seja.
ÉPOCA – A transformação de Nova Orleans numa cidade verde foi facilitada pela tragédia do Furacão Katrina, que desabrigou cerca de 80% da população. A necessidade de modernizar as casas tornou-se indiscutível e urgente, uma vez que já estavam destruídas. O governo federal investiu na reconstrução. Gente inovadora e influente do mundo inteiro dedicou-se a ajudar.  Sem a tragédia, a ONG Make it Right nem existiria. Como transformar cidades sem depender de uma circunstância tão extrema?
Duggan –
 Muitas comunidades enfrentam desastres econômicos, não apenas desastres naturais como o Furacão Katrina. Podem, da mesma forma, transformar a crise em oportunidade. Em Nova Orleans, concluímos que a mudança não viria no primeiro dia. Teríamos de formar uma equipe persistente em torno de uma grande ideia, capaz de resistir até haver massa crítica e mobilização. Começamos com um projeto pequeno, até que as comunidades se engajaram. Não apenas um setor da sociedade é dono desse movimento. Os moradores de Nova Orleans pressionaram as autoridades a apoiar uma política diferente.
ÉPOCA – Como é trabalhar com Brad Pitt?
Duggan – 
Ele é um líder feroz, que nos encorajou a inovar em cada passo do projeto. É maravilhoso fazer parte de uma equipe que realmente quer fazer o bem e mudar o mundo, em termos de urbanismo.

MÃOS NA TERRA

A moçada interferiu em seu entorno

Com o projeto de recuperação de um córrego, estudantes de uma escola do Rio de Janeiro aprenderam mais sobre mata ciliar e conseguiram trazer de volta à vegetação ao local

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Sophia Winkel
Nova Escola - 08/2014
Jose Luis Cernadas Iglesias/Creative Commons


As chuvas intensas que caíram sobre a região da Serra Fluminense em 2011 erodiram o solo, destruíram a vegetaçãodas margens dos rios e deixaram centenas de mortos e desabrigados. O professor de Geografia Rafael Pereira Machado, do Centro Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi, na zona rural de Teresópolis, a 94 quilômetros do Rio de Janeiro, transformou o acontecimento em uma possibilidade de aprendizagem para os alunos do 9º ano, desenvolvendo um projeto de intervenção ambiental que ocorre todos os anos desde então.

Assim, a garotada estudou a mata ciliar e aprendeu a importância de preservá-la para minimizar as consequências de desastres enquanto planejava a recuperação do córrego que passa pela escola. Em sala, Machado começou questionando os jovens sobre o que eles conheciam a respeito da mata ciliar. Alguns nunca tinham ouvido falar nesse tipo de vegetação. O educador explicou que ela ficava nas margens de rios, igarapés, lagos e represas e perguntou se eles achavam importante evitar seu desflorestamento.

Uma parte da turma respondeu que não, justificando que a área poderia ser utilizada para o plantio - uma das principais atividades econômicas do local é o cultivo de hortaliças, e muitas famílias das redondezas se dedicam a esse trabalho. Por isso, a preocupação com a disponibilidade de terras agricultáveis faz parte do dia a dia dos adolescentes.

O professor levou à sala um material - planejado e preparado previamente por ele - que trazia informações sobre as matas ciliares, indicando ocorrência, características gerais e principais espécies de fauna e flora ali encontradas. Ele também continha textos sobre o processo de erosão e o cálculo dos índices pluviométricos. Os alunos foram orientados a fazer a leitura como tarefa de casa. Na aula seguinte, todos discutiram os dados descobertos.

Na sequência, por meio de slides com fotos e notícias de 2011, Machado contou sobre o desastre natural da época. Ele comentou que a ocupação irregular das encostas das montanhas provocara o deslizamento de terras e o desabamento de casas. Explicou também que muitas moradias que ocupavam as margens dos rios foram alagadas com a cheia e que a força da água de grandes enxurradas havia derrubado a floresta. Jovens que perderam parentes ou que ficaram desabrigados compartilharam suas experiências.

Sueli Furlan, docente da Universidade de São Paulo (USP), sugere explicar que osleitos dos rios receberam materiais vindos dos chamados movimentos de massa (deslizamentos de encostas que estavam encharcadas pelas chuvas). Com menos espaço e mais chuva (houve um alto índice pluviométrico no período), os rios invadiram uma área maior, que era ocupada pela vegetação e por pessoas. Machado discutiu que, se houvesse maior preocupação em impedir o desflorestamento e a instalação de casas perto dos rios, a mata estaria abundante e poderia protegê-los, além de colaborar para o escoamento de água.

Ao longo do projeto, o professor fez paralelos entre fatos conhecidos por todos e os conceitos de Geografia estudados nas aulas. Ele comentou, por exemplo, que era preciso ter água para a produção de hortaliças, pois essa cultura depende de muita irrigação. Tal recurso provém dos rios, que só poderiam ser utilizados se fossem protegidos pelas matas ciliares.

Em seguida, o professor previu a necessidade de envolver os pais dos alunos, muitos deles agricultores que dependem da perenidade dos rios da cidade. Por isso, Machado sugeriu que a garotada conversasse com os familiares sobre o que estava aprendendo em sala, falando sobre o papel desse tipo de vegetação, a importância de preservá-la e sua relação com a disponibilidade de recursos hídricos.

INTERVENÇÃO CONSCIENTE
Na etapa seguinte, Machado e os estudantes foram ao riacho da escola - o Córrego da Toca, um braço da bacia hidrográfica do Rio Bengala, que abastece a cidade, para observar o impacto das chuvas abundantes. Eles encontraram uma paisagem devastada, que incluía arbustos tombados, muitas áreas com o solo exposto e margens erodidas. Após a identificação dos problemas, todos delimitaram com cordas e varetas as zonas mais críticas, sem mata ou onde ela poderia estar mais densa. O professor aproveitou a visita de campo para fazer alguns registros fotográficos do processo.

A classe notou que parte da vegetação havia sido perdida e, mesmo com as restaurações feitas pelas turmas dos três anos anteriores, ainda não estava em boas condições. Iniciativas como essa são de médio e longo prazos, pois as plantas nativasdemoram anos para crescer. Além disso, uma ação desse tipo não pode ser de responsabilidade exclusiva da comunidade escolar. "A recuperação de áreas destruídas e a prevenção de acidentes são dever do poder público", afirma a geógrafa e formadora de professores Ana Lúcia dos Santos.

Machado convidou os alunos a pensar quais intervenções poderiam ser feitas para recuperar a região do córrego. "Ainda em campo, muitas ideias surgiram para revitalizar a área", relembra. Em conjunto, os estudantes e o professor decidiram plantar mais 50 mudas, entre as que já haviam sido introduzidas nos anos anteriores, para que a mata crescesse mais densa. Os jovens também escolheram aplicar um volume extra de terra para aumentar a camada de solo, prevendo a erosão das margens. Além disso, instalaram telas de proteção entre as plantas e o córrego e acrescentaram pilhas de sacos de areia para evitar novos desabamentos.

Nos casos em que não há um rio próximo à escola, a opção é levar a classe para conhecer um local parecido dentro da própria cidade. Maquetes também podem ser usadas para simular o impacto das chuvas. "Dá para construir a vegetação ciliar e verificar como ela interfere nos cursos de água. É possível simular um desabamento das encostas das montanhas com e sem plantas, por exemplo, e entender como cada uma das situações age sobre o leito dos rios", explica Ana Lúcia.

Vale lembrar que uma recuperação como a realizada pela turma de Machado só será efetiva se seguir aspectos técnicos. O professor recorreu a materiais da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Rio de Janeiro para orientar a classe. Como alternativa, Sueli sugere usar o documento Cadernos da Mata Ciliar bit.ly/mata-ciliar, elaborado pela Associação Ação Nascente Maquiné (Anama). Ambos contêm orientações de como fazer esse tipo de intervenção.

Ao fim do projeto, o córrego tinha recuperado seu curso normal. E a turma reconheceu a necessidade de colaborar com a preservação de seu entorno usando para isso os conhecimentos adquiridos durante o percurso do estudo.

1. LEITURAS SOBRE A MATA CILIAR
Selecione textos que tragam conceitos sobre esse tipo de vegetação e recomende a leitura em casa. Em classe, proponha um debate sobre o material.

2. AULAS PARA APROFUNDAR
Em aulas expositivas aprofunde os conceitos abordados nos textos. Estimule a participação dos alunos.

3. PROJETO DE INTERVENÇÃO
Sugira uma visita a um rio para que todos avaliem as condições da vegetação de suas margens. Estimule a garotada a pensar em medidas para revitalizar a área.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Japoneses têm planos de construir apartamentos submarinos

Japoneses têm planos de construir apartamentos submarinos

Estrutura seria esférica e ficaria a cerca de 500 metros de profundidade

Terra
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A construtora japonesa Shimizu Corp revelou que planeja construir apartamentos submarinos. As informações são do jornal The Independent.
Segundo a publicação, o imóvel chamado "Espiral Oceânica" abrigaria cinco mil pessoas e incluiria centros de pesquisa para a escavação em busca de fontes de energia alternativa.

A estrutura seria esférica e ficaria localizada a cerca de 500 metros de profundidade. De lá, um caminho em espiral faria a conexão com o centro de escavação aproximadamente três a quatro quilômetros abaixo. O caminho espiral teria 15km.

Os humanos viveriam próximos à superfície e as espirais serviriam para que a correnteza do mar não afetasse a estrutura do edifício. Segundo a construtora, o projeto deve custar cerca de R$ 65 bilhões e não tem prazo para ficar pronto.

O bem mais precioso dos povos

O bem mais precioso dos povos

A escassez de água é uma das causas ocultas de guerras armadas no Oriente Médio e na África. No futuro, as alterações nos padrões climáticos de outras regiões do mundo podem alimentar novos confrontos

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Barefoot Photographers of Tilonia/Creative Commons

*Este texto faz parte do Especial Água; veja os outros textos que integram este especial no box ao lado.

Nos livros de história, as explicações mais comuns para as guerras são as que apontam para as disputas por riqueza, território, poder ou para as divergências étnicas e religiosas. Essas análises podem ser corretas, mas nem sempre identificam a causa oculta de muitos conflitos, a escassez de água. O crescimento da população mundial e mudanças drásticas no clima tendem a transformar a água em um fator mais determinante para o início de guerras. O caso mais recente é a guerra civil na Síria, que já matou mais de 200 mil pessoas. Entre 2006 e 2011, cerca de 60% do país enfrentou uma prolongada seca, que empurrou de 2 a 3 milhões de sírios para uma situação de pobreza extrema.

No início de 2011 surgiram os primeiros protestos contra o governo de Bashar Assad, que acabaram ganhando corpo e envolvendo diversos grupos armados, entre os quais se destacam os terroristas islâmicos que atualmente estão sendo bombardeados por uma coalizão de países liderada pelos Estados Unidos. "Não é coincidência que o epicentro das primeiras manifestações na Síria tenha sido a cidade rural de Daraa, que foi atingida duramente pela seca e recebeu pouca ajuda do governo Assad", diz o biólogo e cientista político holandês Patrick Huntjens, chefe do programa de Diplomacia da Água do Instituto Hague para Justiça Global.

A percepção de que os recursos hídricos se tornariam um elemento cada vez mais relevante nas disputas levou à criação do termo "guerras de água", ainda nos anos 1990. Há, claro, sempre outros fatores pressionando a paz. As guerras que envolvem exclusivamente a disputa pela água costumam ser mais localizadas e afetam grupos populacionais pequenos. A África está cheia de exemplos. Na região de Darfur, no Sudão, desavenças entre grupos étnicos pela água estão na origem da guerra que teve início em 2003. Em 2012, pastores do Quênia atravessaram a fronteira com Uganda em busca de água e melhores pastagens e com isso se envolveram em lutas com pastores locais.

Alguns cientistas alertam para a possibilidade de que o aquecimento global crie conflitos onde antes reinava a mais absoluta paz. Aproximadamente 2 bilhões de pessoas se encontrarão em situação de escassez total de água em 2025, e dois terços do mundo estarão em áreas onde faltam recursos hídricos.

Um dos principais focos de conflito são os rios transnacionais. Aproximadamente 40% da população mundial é abastecida por eles. Quando esses rios separam duas nações historicamente em disputa, a exploração do recurso pode se tornar uma agravante. É o caso da Índia e do Paquistão, que sempre andaram às turras e que, para desespero dos vizinhos, dispõem de armas nucleares. Em 1960, os dois governos assinaram um tratado para compartilhar as águas do Rio Indus, que serve tanto para gerar energia elétrica quanto para irrigação.

Outro rio problemático é o Jordão, que divide Israel e a Jordânia, hoje amigos. Alguns historiadores consideram a construção de um aqueduto israelense nesse rio um dos vários fatores que levaram à Guerra dos Seis Dias, em 1967. A obra teria enfurecido a Liga Árabe, que respondeu construindo seus próprios canais. Atualmente, os israelenses estocam água para os jordanianos, que não possuem reservatórios próprios.

Até na Europa e nos Estados Unidos a questão da água tem provocado instabilidade interna. No início do mês, mais de 50 mil pessoas protestaram nas ruas de Dublin, na Irlanda, contra o fim da gratuidade da água, previsto para o ano que vem. A decisão tem como objetivo aumentar as receitas para, assim, oferecer melhores serviços. Até agora, a Irlanda é o único integrante da OCDE, organização que reúne os países mais desenvolvidos do mundo, que não cobra pela água. "Dos rios para o mar, a água da Irlanda deve ser gratuita", entoavam os manifestantes.

Em Detroit, nos Estados Unidos, houve protestos contra cortes no fornecimento de água. Na cidade, que perdeu importância econômica com a migração de fábricas de carros, cerca de 8% dos consumidores estavam inadimplentes. Fazendo coro com os manifestantes, um grupo das Nações Unidas visitou a cidade para pressionar contra os cortes, alegando que a água é um direito humano. No mês passado, um juiz negou o pedido para interromper os cortes de água. Se o mundo se tornar um lugar menos pacífico, será porque ficou mais árido.

O MEDITERRÂNEO POTÁVEL

Uma das regiões mais áridas do planeta transformou a desvantagem natural em liderança. Ao longo dos anos, Israel só podia contar com o curto inverno para reabastecer seus reservatórios de água, que supriam apenas metade da demanda. Nos anos de pouca chuva, eram recorrentes as campanhas pedindo aos habitantes que reduzissem o consumo. A necessidade fez com que o país investisse em tecnologia e se tornasse uma referência mundial em processo de dessalinização da água do mar. Desde 2005, o país inaugurou quatro usinas que já atendem a 80% do consumo interno, o que inclui tanto o uso residencial quanto o industrial e o da agricultura. De cada 3 litros bebidos por um israelense, 1 vem do Mar Mediterrâneo. Mesmo em anos de baixa precipitação, como o atual, a disponibilidade de água é suficiente para a população.

A usina de Sorek, a maior de Israel, tem capacidade de tratar 624 milhões de litros por dia. Tubos com mais de 2 metros de diâmetro captam a água do mar e a levam para grandes piscinas, próximo ao litoral. A água passa por duas filtrações com carvão e areia antes de ser submetida à osmose reversa. Nessa etapa, é exercida uma forte pressão para que o líquido atravesse várias membranas e chegue ao outro lado sem sal e outros elementos, que depois são devolvidos ao mar e rapidamente absorvidos. Todo o processo leva em média trinta minutos e é totalmente automatizado. "Israel não tem mais problemas de água porque aqueles que têm poder de decisão incentivaram os processos de dessalinização, enquanto no Brasil eram construídos estádios de futebol", diz o engenheiro ambiental carioca Fredi Lokiec, executivo da IDE Technologies, que mora em Israel.

A empresa é responsável por três das quatro unidades israelenses de dessalinização. A água dessalinizada, porém, é muito cara. Custa, em média, o dobro do que se paga por água potável de outra origem no resto do mundo. Para os 9 milhões de israelenses, o valor compensa. "Quanto alguém pagaria pela última Coca-Cola do deserto?", brinca Lokiec. Israel tornou sem sentido o verso de Samuel Taylor Coleridge sobre um marujo sedento: "Água, água em todo lugar, e nenhuma gota para beber".

Plantas que curam

Plantas que curam

A ciência já reconheceu o poder curativo e preventivo de muitas espécies - e novas pesquisas não param! Conheça dez plantas que tratam emergências do dia a dia

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Patrícia Affonso
Máxima - 08/2014
Muséum de Toulouse/Creative Commons
Conheça abaixo os benefícios para a saúde de várias plantas e alimentos que podem ser plantados na horta da sua casa:

ALCACHOFRA - AJUDA A EMAGRECER
O coração e as folhas da alcachofra podem ser utilizados em chás, tinturas ou comprimidos. A planta auxilia na quebra de gordura e favorece a perda de peso. "Ainda melhora o trânsito intestinal e estimula o fígado, o que promove a desintoxicação do organismo", diz o fitoterapeuta André Resende (SP). Não deve ser usada por gestantes.

Contra obesidade: bata no liquidificador 1 colher (sobrem.) de extrato de alcachofra em pó, 1 colher (sobrem.) de farinha de fibra verde, 2 folhas de hortelã e 200 ml de suco de abacaxi. Beba 1 copo 20 minutos antes do almoço e do jantar.

GUACO - EXPECTORANTE
A planta quebra o muco e facilita a expectoração. "Também é anti-inflamatória e antibactericida: combate males nos pulmões, na garganta e nas vias aéreas", destaca Vanderli Marchiori* (SP). Proibido para quem tem doenças crônicas do fígado, pressão alta ou toma anticoagulantes.

Contra catarro: ferva 250 ml de água com a mesma medida de açúcar cristal por oito minutos. Junte 2 xícaras (chá) de folhas de guaco e ferva por mais dois minutos. Aguarde 30 minutos, coe e adicione 1/2 copo de mel e 1/2 colher (café) de conhaque. Guarde num recipiente com tampa. Tome 4 colheres (sopa) por dia.

QUEBRA-PEDRA - EVITA CÁLCULO RENAL
Pesquisas comprovaram que o remédio natural atua sobre duas frentes para evitar as pedras nos rins: ele relaxa a musculatura lisa do ureter (o canal que liga o rim à bexiga), ajudando o cálculo a ser excretado mais facilmente; e combate a agregação dos componentes responsáveis pela formação das pedras, prevenindo reincidências. A planta não é recomendada para grávidas e lactantes.

Contra pedras nos rins: ferva 1 litro de água. Adicione 2 colheres (sopa) da planta seca. Tampe a panela e deixe a bebida descansar, com o fogo apagado, por cinco minutos. Coe e tome aos poucos, ao longo do dia.

HORTELÃ - DIGESTIVA
O mentol e a mentona presentes nas folhas de hortelã provocam frescor e agem como relaxante muscular. "A erva estimula a secreção de bile, tornando-se uma aliada de pacientes com cálculos na vesícula", afirma o fitoterapeuta Alex Botsaris (RJ). Pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, confirmaram a capacidade anti-inflamatória da hortelã para reduzir os sintomas dolorosos da síndrome do intestino irritável. Crianças menores de 6 anos podem não reagir bem à erva.

Contra má digestão: adicione 1 colher (chá) rasa de hortelã em 200 ml de suco de abacaxi. Bata no liquidificador e beba.

MELISSA - ANTIDEPRESSIVA E ANALGÉSICA
Também conhecida como erva-cidreira, é calmante. "Os seus óleos essenciais têm uma discreta ação contra a depressão", garante Alex Botsaris. Esses mesmos óleos combatem resfriados. A melissa se destaca ainda por ser analgésica e antiespamódica. Evite se você apresentar hipersensibilidade à planta.

Contra enxaqueca e cólica: em 1 xícara (chá) coloque 1 colher (sobrem.) de folhas e ramos frescos. Adicione água fervente. Abafe, espere amornar e coe. Tome uma xícara de manhã e outra à noite.

ANGÉLICA - ALIVIA TPM
Ela age como fitoestrógeno, imitando o efeito do hormônio estrógeno nas células. Assim, combate os sintomas da tensão pré-menstrual e da menopausa. "Na TPM, a planta ajuda a excretar o excesso do hormônio. No climatério, supre a carência dele", explica Vanderli. A angélica deve ser evitada por pessoas com problemas no estômago, gestantes e lactantes.

Contra desconfortos hormonais: ferva 500 ml de água e adicione 2 colheres (sopa) de angélica seca. Abafe por dez minutos, coe e beba.

CENTELHA ASIÁTICA - ATIVA A MEMÓRIA E COMBATE A CELULITE
Com efeito vasodilatador, a centelha melhora a circulação sanguínea em várias partes do corpo. "Com mais sangue circulando, o cérebro funciona melhor e aumenta a capacidade da memória e do aprendizado. O estímulo sanguíneo também combate a celulite", diz Alex. Sofre de gastrite e úlcera? Não invista.

Contra celulite: faça uma infusão com 6 colheres (sopa) de folhas picadas em 1 litro de água fervente. Depois de morno, aplique compressas nas áreas afetadas com celulite.

PASSIFLORA - CALMANTE
poder sedativo dessa espécie está nas folhas. "Os flavonoides presentes na composição agem no sistema nervoso central, promovendo uma desaceleração sutil da atividade cerebral", esclarece Alex Botsaris. Indicada para combater doenças como ansiedade, irritabilidade, insônia e até depressão leve. No entanto, é contraindicada para pessoas com pressão arterial baixa.

Contra tensão: numa xícara (chá), coloque 1 colher (sopa) de folhas de passiflora bem picadas e adicione água fervente. Abafe por dez minutos e coe. Beba duas xícaras por dia.

URTIGA - DIURÉTICA
É excelente para tratar a síndrome da bexiga irritável. "Além disso, possui ativos que previnem o crescimento desordenado de células na próstata, que pode levar ao câncer", destaca Alex. Macerações feitas com gaze e aplicadas sobre ferimentos, aceleram a cicatrização e combatem a dor. Gestantes não devem utilizar.

Contra retenção de líquidos: coloque 1 colher (sopa) das folhas secas em 1 litro de água. Leve ao fogo e deixe cozinhar por quatro minutos após levantar fervura. Desligue a chama, tampe a bebida e mantenha abafada por dez minutos. Tome ao longo do dia.

AMORA - CONTROLA A PRESSÃO
Graças à alta concentração de flavonoides, as folhas combatem os sintomas que antecedem o ciclo menstrual e os da menopausa. Mais: "O efeito diurético ajuda a controlar a pressão arterial, evitando os picos. Aliada a uma dieta balanceada, a amora também é capaz de prevenir o diabetes, já que equilibra a glicemia", ressalta André Resende. Não é recomendado fazer uso contínuo da planta.

Contra hipertensão: ferva 1 litro de água e retire do fogo. Acrescente 1 colher (sopa) de folhas de amora (secas ou frescas) e espere descansar por cinco minutos. Coe e beba apenas três xícaras por dia.

* Vanderli Marchiori é nutricionista e vice-presidente da Associação Paulista de Fitoterapia
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Própolis funciona... E como!

Própolis funciona... E como!

Pesquisadores confirmam o poder antimicrobiano e antioxidante dos exemplares cultivados no Brasil. Ensinamos a tirar proveito desse reforço à imunidade

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Regina Célia Pereira
Saúde - 06/2014
Deborah Maxx


Se você pesquisar a origem da palavra própolis, vai descobrir que o nome foi criado pelos gregos e significa em defesa (pro) da cidade (polis). Certamente os antigos passaram um bom tempo observando as colmeias e notaram que o composto é fabricado pelas abelhas com o propósito de blindar a casa delas. "Ele promove o isolamento do ambiente, impede a entrada de luz e de umidade, além de resguardar o local de intrusos", explica o farmacêutico Pedro Luiz Rosalen, professor da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. E essa mesma proteção diante de inimigos microscópicos se dá no corpo humano quando utilizamos o preparo resinoso. Não param de sair estudos apontando sua eficácia contra vírus, bactérias e fungos. Daí o sucesso nas temporadas mais frias do ano, quando gripes e resfriados insistem em nos atacar.

Uma das novas pesquisas que confirmam esse papel foi realizada por Rosalen juntamente com estudiosos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, no interior paulista. O time de cientistas avaliou as capacidades antimicrobiana e antioxidante de amostras da própolis orgânica brasileira. "Elas foram coletadas em regiões certificadas, matas de preservação permanente, florestas de araucárias e áreas de reflorestamento no sul do Paraná e norte de Santa Catarina", conta o engenheiro agrônomo Severino Matias de Alencar, professor da Esalq.

As análises em laboratório revelaram que, além de combater o excedente de radicais livres, já associado ao envelhecimento precoce e a danos celulares, a própolis se mostrou bastante eficaz frente aos micróbios. "Seus compostos interferem na membrana celular das bactérias", exemplifica Alencar. Tal efeito desestabiliza esses seres microscópicos de tal maneira que eles acabam mais facilmente exterminados do pedaço.

Embora essa atuação seja reconhecida há milhares de anos - os egípcios já utilizavam a resina para evitar a deterioração das múmias -, os novíssimos testes ajudam a entender como e até que ponto ela funciona. E fica clara a vantagem de ser orgânica, isto é, livre de pesticidas e contaminantes. Ainda que boa parte desse tipo seja exportado, dá para encontrá-lo, sim, por aqui, especialmente na Região Sul, uma grande produtora. O segredo é prestar atenção nos rótulos e conferir se há certificação de que o produto é, de fato, orgânico.

O que torna a resina fabricada pelas abelhas tão poderosa é uma verdadeira miscelânea de substâncias. Mas, em meio a essa vastidão bioquímica, um grupo se destaca nas pesquisas: os compostos fenólicos. Dentro dessa classe, os queridinhos são os flavonoides e os ácidos cumárico, cafeico e gálico. Nomes estranhos que, no corpo, estão por trás das aclamadas propriedades antioxidante e antimicrobiana. A médica Norma Leite, da Associação Brasileira de Nutrologia, chama a atenção para outro ingrediente da família, a galangina. "É que ela tem ação anti-inflamatória", aponta.

Esse efeito, junto à sua vocação analgésica (sim, é efeito que não acaba mais...), responde pela popularidade da própolis contra as dores de garganta. "As versões em spray formam uma película no local e aliviam o incômodo", justifica a nutróloga. Sem contar que, geralmente, as infecções nas vias aéreas superiores, caso da amidalite, são provocadas por bactérias gram-positivas. "E experimentos demonstram que a própolis tem uma atividade antibacteriana mais pronunciada em micro-organismos desse tipo", conta Norma. "Ela inclusive amplificaria a resposta dos antibióticos", acrescenta.

Até as bactérias da boca saem perdendo com o produto das abelhas. "Os compostos fenólicos contribuem para a integridade do esmalte dentário e ajudam a prevenir cáries e a doença periodontal", afirma Rosalen, que se dedica a pesquisas nessa área. Não à toa, já existem empresas incluindo o ingrediente na receita de seus cremes dentais.

MODO DE USAR
Pelos dados disponíveis até agora, a própolis parece ter tanto potencial terapêutico como preventivo. Mas isso não significa usar o extrato, a forma mais consumida por aqui, como se fosse água. "Ingerir 15 gotas em jejum já seria suficiente para fortalecer o sistema imune", sugere Norma. Já o imunologista José Maurício Sforcin, professor da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, no interior de São Paulo, recomenda recorrer ao produto por um curto prazo, pois o uso contínuo e exagerado faz com que o organismo fique tolerante às substâncias e elas deixem de agir direito. "E é importante ter o aval do médico", lembra. Em seus estudos, Sforcin também tem observado a participação da própolis em prol da imunidade. "Suas substâncias promovem maior ativação das células de defesa, favorecendo o reconhecimento e a destruição dos micróbios", explica.

Mais um entusiasta do material resinoso é o professor Gilberto Franchi Júnior, da Unicamp. Só que por outra razão. "Observando células, notamos que uma das variedades, a própolis vermelha, é tóxica para aquelas que são cancerosas", revela. A linha de pesquisa é recente, mas promissora: se confirmado o efeito em estudos maiores, o produto renderia apoio extra na luta contra tumores.
Franchi conta que ele próprio faz uso da própolis pelo menos três vezes ao ano. E dá até uma dica para acabar com o amargor dos extratos: "Depois de pingar as gotas na água, espere uns minutos até que se forme uma nata. Quando a camada estiver formada, retire com a ajuda de um palito". Garante-se o benefício sem aquele sabor duro de engolir.

A engenheira de alimentos Beatriz Mello, da Universidade Federal de São Carlos, no interior paulista, recomenda, ainda, verificar cuidadosamente a embalagem do extrato ou do spray e procurar selos de agências regulatórias, caso do Ministério da Agricultura. "Também vale observar a presença de álcool na formulação, já que nem todo mundo pode ingeri-lo", lembra a professora, que investiga a extração das substâncias da própolis vantajosas à saúde. Ao que tudo indica, apesar de o uso ser um tanto antigo, a ciência tem muito o que descobrir nessa mistura protetora pornatureza.

VARIEDADE QUE VEM DA COLMEIA
"Hoje, no Brasil, temos catalogados 13 tipos de própolis", conta o professor Severino Alencar. "A classificação é feita com base na composição química e nas suas atividades biológicas", explica. Como nosso país tem uma baita biodiversidade, as abelhas dispõem de inúmeras matérias-primas entre o reino vegetal para fabricar a resina. E isso tem impacto nas características da própolis, bem como em sua coloração - que vai do esverdeado ao vermelho-escuro.

DEFESA NATURAL
Como as abelhas produzem a própolis que chega à sua casa
Erika Onodera (Ilustração)
1. Para fabricar a própolis, as abelhas da espécie Apis mellifera colhem resina e secreções de folhas, brotos, troncos, cascas e outras partes das árvores.
2. Os insetos se valem de bolsinhas em suas patas para carregar o material e adicionam a ele secreções salivares, além de cera e pólen.
3. Pronta, a mistura é utilizada para vedar a colmeia e protegê-la de micro-organismos. E ainda é empregada para embalsamar insetos mortos dentro desse lar.
4. A resina é extraída com coletores que recortam tiras de própolis. O material entra em contato com um solvente e nasce, assim, o extrato.

NO MERCADO
A própolis é usada para diversos fins, e isso se reflete na prateleira
Deborah Maxx
No pote
A mistura de mel e própolis é bem-vinda pela ação expectorante e há indícios de que ela ajuda a atenuar a constipação intestinal. Mas os experts lembram que a alta carga de açúcar pede moderação pelos diabéticos.
No extrato
É o derivado que concentra maior quantidade de compostos benéficos. Os produtores costumam usar álcool de cereais como solvente para fabricá-lo, mas já existem versões com água.
No sabão
Além do aroma agradável, a própolis pode liberar na pele substâncias de ação antibacteriana. Daí por que especialistas chegam a recomendar seu sabonete a pessoas que sofrem com a acne.
Na pasta de dente
Pesquisas já provaram que o produto das abelhas enfrenta a cárie. Por isso ele foi incorporado a cremes dentais. Ainda assim, a pasta também precisa conter uma boa dose de flúor para garantir proteção.
No spray
Ele reina nos meses mais frios por resguardar a garganta. Geralmente vem combinado com gengibre, romã e outros ingredientes. Pela sua essência antibacteriana, também combate o mau hálito.