Débora Spitzcovsky 7 de dezembro de 2012
2013 está logo aí e, para dar boas vindas ao novo ano e inspirar você a se envolver, cada vez mais, com a sustentabilidade – que, aliás, está em todos os lugares –, o Planeta Sustentável fez uma retrospectiva de 10 grandes momentos do tema em 2012. Confira!
A notícia, fresquinha, foi divulgada no fim de novembro pelo Ministério do Meio Ambiente. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a taxa de desmatamento da Amazônia Legal caiu 27% em doze meses, sendo o menor índice já registrado desde que as medições na região começaram a ser feitas, em 1988.
A novidade deixou o Brasil “bem na fita”:
- conseguimos combater o maior vilão das nossas emissões – o posto inglório, agora, ficou com os setores de energia e agricultura;
- atingimos cerca de 95% da meta de redução do desmatamento que nos comprometemos a alcançar até 2020 e
- fomos aplaudidos pelo mundo na COP18 de Mudanças Climáticas, evento realizado anualmente pela ONU para discutir medidas que resultem na diminuição das emissões globais de CO2e.
A Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU foi proposta pelo governo brasileiro em 2009, com a intenção de fazer um balanço a respeito do que tem sido feito no mundo em prol do desenvolvimento sustentável nos 20 anos que sucederam a Rio92. Mais do que isso, a Rio+20 foi sediada no Rio de Janeiro, em junho deste ano.
O fato do Brasil ser anfitrião do evento deu grande visibilidade ao tema no nosso país. O nível de conhecimento da população a respeito do assunto cresceu muito e a mobilização da sociedade civil foi a maior já vista na história das conferências da ONU sobre meio ambiente. O Planeta Sustentável acompanhou tudo de perto e registrou em um blog exclusivo.
E olha que tivemos muita coisa para contar: 692 compromissos voluntários para o desenvolvimento sustentável foram acordados durante os nove dias de evento por governos,empresas, grupos da sociedade civil e universidades. Juntos, eles destinarão mais de US$ 500 bilhões para áreas essenciais como água, energia, transportes, florestas e agricultura. Sem contar o documento oficial da Conferência, batizado de O Futuro que Queremos, que apesar de bastante criticado, reúne bons resultados. Como definiu Bank Ki-moon, secretário-geral da ONU, ao final da Rio+20, “mais do que documentos, o grande resultado da Conferência é o início de um movimento global por mudanças”.
Em julho deste ano, o Brasil alcançou a meta de doadores de órgãos prevista para o fim de 2013. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontaram que o número de pessoas dispostas a aderir a esse tipo de doação cresceu 29% em 12 meses, atingindo a marca de 13 doadores para cada milhão de habitantes. Como consequência, a quantidade de transplantes também aumentou: foram 7.993 cirurgias deste tipo nos quatro primeiros meses de 2012, revelando um crescimento de 37% em comparação ao primeiro quadrimestre de 2011, quando foram realizados 5.842 transplantes de órgãos no Brasil.
Ações de conscientização a respeito do tema tiveram grande importância nessa marca. Você lembra da campanha que a Santa Casa realizou nas padarias de São Paulo, distribuindo senhas de espera altíssimas para o atendimento, com a intenção de mostrar como é ruim aguardar por aquilo que você precisa? Iniciativas parecidas são realizadas por todo o mundo, afinal a doação de órgãos ainda é um grande tabu para a maioria das pessoas, infelizmente.
O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado em maio pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontou que o desmatamento nesse bioma diminuiu 57% entre 2010 e 2011, sobretudo nos Estados de Goiás, Paraná e Rio de Janeiro.
A boa notícia veio com um alerta: Minas Gerais e Bahia reinam absolutos, há dois anos, como os principais desmatadores do bioma, que no Brasil já perdeu cerca de 93% de sua cobertura original. A Bahia, inclusive, aparece em outra “lista do mal”: junto com o Maranhão, o Estado é um dos que abriga a maior quantidade de municípios que estão no ranking dos que mais desmatam outro bioma brasileiro, o Cerrado. Atenção, Nordeste!
Relatório do Fórum Econômico Mundial analisou, em outubro, a igualdade de gêneros em 135 países ao redor do mundo. Os europeus foram os que se saíram melhor na avaliação, mas oBrasil não fez feio – apesar de continuar mal colocado –: cresceu, em um ano, 20 posições no ranking dos menos desiguais, ocupando o 62º lugar.
O salto se deve, entre outras razões, pelo fato do país ter aumentado, em doze meses, de 7 para 27% o número de mulheres em cargos ministeriais e de ter eleito uma figura feminina,Dilma Rousseff, para o cargo de presidente. Além disso, o Brasil tirou nota máxima na categoriaAcesso à educação, que até o ano passado ainda apresentava defasagem entre gêneros no ensino primário.
A diminuição da desigualdade de gêneros no setor da educação, inclusive, foi geral. Apesar de países como Paquistão, Etiópia, Iêmen e Benim ainda apresentarem grande defasagem na área, de acordo com o relatório, atualmente 93% das desigualdades de gênero no ensino mundial foram eliminadas. No setor da saúde, o mesmo aconteceu: 96% das desigualdades globais foram superadas.
Ainda em 2012, outra boa notícia: durante a Rio+20, ocorreu a 1ª Cúpula de Mulheres Chefes de Estado e de Governo, que resultou em um documento que reconhece que a igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas são fundamentais para atingirmos odesenvolvimento sustentável.
Ok, nós já sabemos que a maioria das pessoas detesta o nome Fuleco, mas o que está em pauta aqui não é a “graça” do mascote da Copa do Mundo de 2014 e, sim, o fato de ele ser um tatu-bola.
Espécie 100% brasileira e ameaçada de extinção por conta da caça predatória e da destruição do seu habitat, o animal – que, inclusive, é o menos conhecido entre as 11 espécies de tatu do Brasil – foi eleito pela Fifa para representar oficialmente o evento mundial de futebol, provando que a sustentabilidade está ganhando cada vez mais espaço nas mais diversas áreas –até os estádios estão acompanhando esse “movimento verde”.
A decisão marcará o começo de uma longa batalha pela sobrevivência do tatu-bola. O título de embaixador dos jogos será um divisor de águas para a espécie, que em breve passará da classificação “vulnerável” para “criticamente ameaçada” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). “Ao ganhar os olhos do mundo, durante a competição, tudo pode mudar”, diz o biólogo Rodrigo Castro, coordenador da campanha que lançou a candidatura do animal a mascote.
Quando o assunto é água, o mundo tem grandes desafios pela frente: uma em cada sete pessoas não tem acesso ao recurso, enquanto 15% da população vive sem esgoto tratado. Se hoje, quando somos sete bilhões de pessoas, não conseguimos resolver o problema, como assegurar que as próximas gerações tenham o básico?
Quem está à frente desse desafio, agora, é um brasileiro. Em novembro, o engenheiro civil e ambiental Benedito Braga foi eleito presidente do Conselho Mundial da Água (WWC), órgão que visa debater a gestão do recurso hídrico no mundo e sensibilizar os governos para os problemas ligados a ele.
O novo ocupante do cargo foi escolhido por meio de votação. O nome de Braga, que nos últimos três anos ocupou a posição de vice-presidente do WWC, foi unanimidade entre os eleitores: os 36 membros do Conselho votaram no brasileiro, que assumirá o posto pelos próximos três anos e, em 2013, receberá ajuda na causa, já que a ONU declarou que este será oAno Internacional da Cooperação pela Água.
O nome dele é Aidan Dwyer. O nova-iorquino de apenas 13 anos desbancou os mais renomados cientistas, de todo o mundo, que dedicam seus dias a pesquisas a respeito do assunto, construindo, sozinho, uma estrutura que capta 20% mais energia solar do que os atuais painéis fotovoltaicos.
E o mais legal: para chegar à nova descoberta, o menino não realizou nenhuma pesquisa exorbitante. Apenas, exercitou o hábito de observar a natureza. Isso porque o projeto de Aidan para captar energia solar imita a estrutura de uma árvore – com galhos e folhas irregulares –, ao invés de utilizar as já “manjadas” placas solares planas.
A descoberta revolucionou o mundo científico em 2012: Aidan foi premiado pelo American Museum of Natural History, dos EUA, e participou da conferência World Future Energy, nos Emirados Árabes, ao lado de importantes nomes, como o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
A novidade pode ser muito útil para o Brasil, onde já é viável produzir energia solar em 15% dos lares, segundo pesquisa divulgada em julho pelo Ministério de Minas e Energia. Tem até estádio no nosso país aderindo à energia vinda do sol…
Podem dar as boas-vindas aos usuários de cadeiras de rodas nos debates a respeito do melhor tipo de carro para se locomover nas cidades. Agora, os cadeirantes têm opção: a Community Car’s, empresa independente do Texas, desenvolveu o Kenguru, veículo elétrico projetado exclusivamente para esse público.
Por enquanto, o Kenguru é vendido, por US$ 25 mil, em apenas algumas regiões dos Estados Unidos e ainda não há previsão de exportação para o Brasil. Ainda assim, o carro serve de inspiração para outras empresas fabricantes de elétricos e é mais uma vitória para os usuários de cadeiras de rodas.
Apesar da boa notícia, não temos muito o que comemorar em 2012 quando o assunto é mobilidade urbana. Você sabia que o brasileiro perde, em média, 80 minutos diários preso em engarrafamentos? Só em São Paulo, o trânsito é responsável por 61% das emissões de gases do efeito estufa. E a situação só tende a piorar: 70 milhões de veículos novos chegam por ano às ruas em todo o mundo. O que fazer para desafogar as cidades de tantos carros?
Ainda há esperança. Essa é, basicamente, a mensagem do relatório The Emissions Gap Report 2012, divulgado pela ONU no fim de novembro. O documento revela que, quando o assunto é aemissão global de CO2e, a situação do planeta está bem crítica, mas ainda é possível manter oaumento da temperatura do planeta abaixo dos 2ºC – limite máximo considerado seguro pelos cientistas para conservar a vida na Terra, da maneira como a conhecemos hoje.
Atualmente, as emissões de CO2e já estão 14% acima do nível que deveriam estar em 2020 e, se mantivermos o ritmo, nos próximos oito anos poderemos chegar à marca de 58 gigatoneladas (Gt) de emissões – sendo que o ideal apontado pela ONU seria reduzir a liberação de CO2e para, no mínimo, 44 Gt até a próxima década. É tanto número que até assusta, né?
Então, como não ultrapassar os 2ºC? A solução apontada pela ONU é a ação imediata dos governos de todos os países, que devem cumprir os compromissos que já existem, no que diz respeito à redução de emissões, e ainda ir além deles. O relatório estima que há grandes possibilidades de diminuir a liberação de CO2e em cerca de 17 Gt até 2020, a partir do corte significativo de emissões em setores como construção, transporte e energia.
A má notícia é que o relatório, lançado antes da Conferência de Mudanças Climáticas, alerta que “o tempo está se esgotando” e, com o resultado do evento da ONU, a situação pode ficar ainda pior. Isso porque o documento assinado na COP18 prorroga o Protocolo de Kyoto até 2020, mas não tem metas de redução de emissões ambiciosas para os países signatários. E, para piorar, quatro países – Japão, Rússia, Canadá e Nova Zelândia – que participaram da primeira fase do acordo, “pularam fora” da sua renovação. Agora, as nações participantes de Kyoto respondem por, apenas, cerca de 15% do total de emissões de gases estufa de todo o mundo, o que torna ainda mais difícil manter o aumento da temperatura abaixo dos 2ºC. O relógio está correndo… 2013 está logo aí!
fonte: http://super.abril.com.br/blogs/planeta/os-10-melhores-momentos-da-sustentabilidade-em-2012/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_super