Ambientalistas alertam para risco de desabastecimento de água em Niterói e São Gonçalo
Técnicos apontam construção de barragem como uma das soluções
POR PAULO ROBERTO ARAÚJO
NITERÓI — O abastecimento de água em Niterói e São Gonçalo está sob risco de colapso em curto prazo se não forem feitas obras urgentes para represar água do Rio Macacu, o principal manancial para as duas cidades. O alerta foi feito pelo biólogo Paulo Bidegain, um dos representantes do Comitê da Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara (CBHBG) na reunião convocada quinta-feira pela direção da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapirimim, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), na sede da APA, em Magé. O quadro preocupante foi confirmado pelo professor Alberto Figueiredo, do Departamento de Geologia da UFF, que faz estudos de hidrologia e qualidade da água no fundo da Baía de Guanabara.
O chefe da APA de Guapimirim, Maurício Muniz, convocou o CBHBG, a Cedae, a Águas de Niterói e outras entidades para mostrar a gravidade da crise hídrica na área de proteção e nos rios Macacu, Guapimirim, Caceribu e Guapiaçu. Além do risco de comprometer o abastecimento, a estiagem prolongada está provocando outro problema grave: com os rios em níveis muito baixos, quase toda água doce é desviada na barragem de Imunana e levada por um canal para a Estação de Tratamento de Laranjal. Com a escassez devido à estiagem, a água salgada do mar está entrando nos canais e pondo em risco o manguezal intacto da APA, que precisa de água doce.
Segundo Maurício Muniz, as medidas de gestão para resolver a crise hídrica na bacia do Rio Macacu “estão aquém do necessário”. Ele disse que seus agentes ambientais e pescadores já viram peixes enormes morrendo por falta de oxigênio e afirmou que “nunca se viu uma situação tão terrível”, referindo-se aos problemas na bacia. Defendeu o reflorestamento das matas ciliares, construção de represas e novo modelo de gestão que, segundo ele, não pode ser baseado em dados históricos da bacia:
— Não vamos voltar à situação climática do passado.
O professor Alberto Figueiredo coordena a equipe que monitora, através de sensores e outros equipamentos, o fundo da Baía de Guanabara e os rios que abastecem Niterói e São Gonçalo. O projeto é financiado pela Petrobras, mas está no fim e sob risco de não ter continuidade. O cientista confirmou a preocupação do chefe da APA.
— A situação é de emergência. Já passamos do tempo de iniciar ações com o reflorestamento das margens dos rios e de conscientização do problema. A frente salina vem avançando e preocupa. Já avançou 16 quilômetros rio adentro. As vazões vêm caindo, e a situação é drástica no Caceribu — lamenta.
CEDAE REFORÇA QUE NÃO FALTARÁ ÁGUA
Representante da Cedae na reunião, Jorge Muniz afirmou que não há risco de crise no abastecimento de água em Niterói e São Gonçalo, mas admitiu que “não estamos no nível de conforto”. Alaildo Malafaia, da cooperativa Manguezal Fluminense, reagiu:
— A Cedae afirma que a água está sobrando, mas a realidade não é esta. A empresa está captando toda a água doce dos rios e a salinização está destruindo o manguezal, que é o berçário, o pulmão da Baía de Guanabara. Desde 1985 nós estamos na luta, pedindo a represa e o reflorestamento das margens dos rios.
Analista ambiental da APA de Guapimirim, Júlio César Andrade diz que só será possível voltar à produção de água do passado com a recuperação das matas ciliares e a construção de barragens:
— As prefeituras, a Petrobras e os proprietários precisam ser envolvidos na luta pela recuperação dos rios. E a Cedae e a Águas de Niterói precisam alertar os consumidores, através das contas, da necessidade de se economizar água — defende.
A APA de Guapirimim é a primeira unidade de conservação brasileira voltada para a preservação do ecossistema manguezal.
FONTE: O GLOBO
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