Florestas demoram até quatro anos para se recuperar de secas
Demora afeta captura de gases de efeito estufa e acelera aquecimento global
RIO — Até pouco tempo atrás, acreditava-se que as árvores recuperavam rapidamente sua capacidade de absorver carbono após serem arrasadas por estiagens. Um novo estudo, publicado esta semana na revista “Science”, derruba esta teoria. Depois de analisar 1.338 sítios florestais no mundo, uma equipe coordenada pelo biólogo William Anderegg, da Universidade de Utah, comprovou que a vegetação leva, em média, de dois a quatro anos para retomar sua taxa de crescimento normal depois das secas.
As florestas são ecossistemas valiosos para conter o aquecimento global, devido ao seu poder para capturar gases de efeito estufa na atmosfera. Sua devastação provocará efeitos cada vez mais graves, devido à previsão de que as estiagens serão mais frequentes e intensas nas próximas décadas.
Segundo Anderegg, algumas florestas “ainda estão correndo atrás” para recuperarem-se da última seca.
A contatação de que o estresse hídrico limita em anos o crescimento das árvores sugere que as florestas já estocam menos carbono do que avaliavam os cientistas.
— Se as florestas não estão capturando o CO2, isso significa que as mudanças climáticas estão acelerando — disse Anderegg, que realizou o trabalho em parceria com outras nove instituições e universidades americanas. — A maioria dos modelos atuais que analisam ecossistema e clima considera que a recuperação da floresta é completa. Mas não é exatamente isso o que acontece.
A taxa de recuperação das secas é desconhecida na grande maioria das espécies de árvores. Anderegg mediu a recuperação do crescimento dos troncos após secas severas registradas desde 1948 em sítios florestais de todo o planeta.
Os pesquisadores descobriram que poucas florestas mostraram efeitos positivos, ou seja, observaram que o crescimento foi maior do que o previsto após a seca, principalmente na Califórnia e na região do Mediterrâneo. Na maioria das florestas no mundo, as árvores sofreram por anos após experimentarem estiagens.
O crescimento é, em média, 9% menor do que o esperado durante o primeiro ano da recuperação, e mantém-se 5% menor no segundo ano. Os efeitos duradouros da seca foram mais visíveis em ecossistemas áridos e entre pinheiros e espécies de árvores com baixos índices de segurança hídrica.
— Estas são as espécies que assumem riscos: elas tendem a usar uma quantidade elevada de água, mesmo quando a seca avança — comenta Anderegg.
O biólogo admite que ainda não é possível explicar por que os efeitos da seca têm uma duração tão longa nos sítios florestais. Há três respostas possíveis: a primeira estaria ligada à perda de folhagem e de reservas de carboidratos, que pode prejudicar o crescimento da árvore nos anos seguintes. A segunda teoria é que pestes e doenças podem acumular-se em árvores estressadas pela seca. Por último, os pesquisadores cogitam que a estiagem, ao afetar os tecidos vasculares da árvore, prejudicam o transporte interno de água.
Embora os cientistas ainda desconheçam detalhadamente como as mudanças climáticas afetarão as precipitações, é certo que elas elevarão os termômetros — e isso é mais um motivo de preocupação para o cientista.
— A seca, especialmente o tipo que afeta as florestas, é fruto do relacionamento entre as precipitações e a evaporação. E a evaporação é fortemente ligada à temperatura — lembra Anderegg. — O fato de que experimentamos o aumento da temperatura em diferentes partes do mundo, como na Costa Oeste dos EUA, é um sinal de que teremos secas mais extremas e severas, reduzindo substancialmente a habilidade da floresta em sugar o carbono da atmosfera.
O impacto da recuperação atrasada pelo seca não é trivial. Em um século, a capacidade de estoque de carbono em ecossistemas semiáridos teria caído cerca de 1,6 gigatoneladas métricas — o equivalente a 25% das emissões anuais dos EUA.
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