quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Mapa do verde em São Paulo

Mapa do verde em São Paulo

Preservar os recursos naturais é um dos maiores e mais importantes desafios que as metrópoles de hoje enfrentam. Em nossa cidade, as áreas da natureza remanescentes estão constantemente ameaçadas - seja pela especulação imobiliária, por falta de ação do poder público, seja pela invasão de plantas estrangeiras. A seguir, apresentamos uma perspectiva do cenário atual

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Luisa Cella
Arquitetura & Construção - 05/2014
rvcroffi/creative commons/flickr
Em meio à preocupação com o baixo índice de água nos reservatórios da cidade - e de atenção mundial à possível escassez de outros recursos -, iniciamos uma pesquisa a fim de descobrir como anda a base natural de São Paulo. Além de benéfica à qualidade de vida, a convivência com áreas de natureza é vital ao ser humano, e a preservação da fauna e da flora nativas, essencial ao equilíbrio do meio ambiente. Mas a forma como nos organizamos hoje, aqui, aponta a direção oposta, e os problemas superam a mera falta de chuva.

A vida num ecossistema pressupõe causas e consequências correlacionadas. Então, se no avanço da mancha urbana se fizeram constantes questões como a especulação imobiliária e o descumprimento às leis e aos projetos urbanísticos, estava ali o embrião de diversos dos atuais problemas: altos índices de impermeabilização do solo, contaminação de mananciais, escassez de trechos verdes, poluição do ar, doenças respiratórias e, claro, uma qualidade de vida ruim. "A mentalidade de que terrenos verdes estão disponíveis como uma reserva a ser usada para o que for necessário se faz bastante comum. Desde o começo do século 20, planos defendiam a criação de parques, mas nada era feito, e os lotes acabavam retalhados por avenidas e prédios", conta Vladimir Bartalini, docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

No centro, por exemplo, os perímetros estipulados para os parques Dom Pedro e Anhangabaú logo deram lugar a outras construções. E é justamente ali onde se chegou ao índice de 0,60 m² de cobertura vegetal por habitante (um dos mais baixos do mundo), enquanto o defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ideal mínimo é de 12 m².

Some-se aí o crescimento de bairros periféricos sem regulamentação que estipule a obrigação de pontos com cobertura natural, o que acentuou a desigualdade do verde.Ou seja, se em Pinheiros o índice de cobertura por habitante consiste em 22,50 m², em outros locais, como São Miguel Paulista e Itaim Paulista, é de apenas 3 m² e 2,10 m², respectivamente. "Por causa disso, a temperatura na metrópole chega a variar até 14 °C de região para região, o maior valor já registrado no planeta", revela a pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Magda Lombardo.

A Zona Sul, onde estão localizadas as Áreas de Proteção a Mananciais (APMs) das represas Billings e Guarapiranga, é considerada um dos maiores eixos de expansão da cidade nas últimas três décadas, com crescimento intensificado nos anos recentes. Segundo o levantamento da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), entre 1991 e 2000, enquanto o avanço urbano em pontos de parques e reservas florestais foi de 15,8%, o número chegou a 28,3% nas APMs. Os dados evidenciam a preocupante falta de conservação das zonas que armazenam nossos recursos hídricos.

No caso da Billings, a margem leste tem predomínio de casas de alto padrão e chácaras, as ruas são pavimentadas, existem iluminação e coleta de lixo. No entanto, a margem oeste revela uma realidade oposta: os terrenos que beiram as águas estão tomados de favelas e domicílios precários, as ruas não são asfaltadas, há carência de infraestrutura, equipamentos públicos e saneamento, além de alta densidade populacional. Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a represa recebe cerca de 400 toneladas de lixo por dia. Com capacidade quatro vezes maior do que a da Guarapiranga, ela teria potencial para abastecer toda a região metropolitana da cidade de São Paulo por um ano. Mas esse mar de água-doce encravado no ABC está poluído, inutilizado e ignorado pelo poder público.

Partindo para o extremo oposto do mapa, na Zona Norte, está em pauta outra questão ecológica, que envolve o Rodoanel e a Serra da Cantareira - perímetro com remanescentes da Mata Atlântica, considerada a maior floresta urbana do país.

Diante dos inevitáveis danos causados por uma construção de tal porte, a pressão dos moradores e de ambientalistas fez com que as obras fossem paralisadas, e o trajeto, repensado mais de uma vez a fim de amenizar impactos.

Engenheiros se associaram a pesquisadores de botânica para encontrar soluções, e ficou estipulado como compensação ambiental o plantio de 1,7 milhão de mudas de espécies nativas. Especialistas atentam à importância de fiscalizar essa medida. "É essencial, para reduzir o dano, que o plantio seja, ao menos, de espécies típicas da região. Não adianta trazer 5 mil pinheiros, pois os benefícios não são os mesmos", alerta o botânico Ricardo Cardim.

Um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica nativa no centro de São Paulo também chama a atenção: desde 2013, a luta pela instalação do Parque Augusta no terreno de 25 mil m² ganhou força. Quando as incorporadoras Setin e Cyrela anunciaram a construção de um condomínio de alto padrão ali - seguindo o processo de verticalização da região, já absolutamente tomada de prédios -, movimentos sociais surgiram para reivindicar um parque público no local.

O atual prefeito, Fernando Haddad, respondeu sancionando o projeto de lei que estabelece sua criação. Contudo, as empresas proprietárias do lote fecharam os portões e anunciaram o uso de 20% do espaço para levantar torres residenciais. "Na minha opinião, elas deveriam doar 100% dessa área a São Paulo, num gesto simbólico de compromisso com a qualidade de vida aqui. Afinal, o que vêm fazendo pela cidade? Estão privatizando os poucos trechos verdes que temos e transformando em condomínios de luxo", comenta o vereador Ricardo Young.

Outro anúncio recente indica nova ameaça a uma área da Mata Atlântica localizada num respiro da tão impermeabilizada e pavimentada margem do Rio Pinheiros, vizinha do Parque Burle Marx, no Panamby. O local, com cerca de 5 mil árvores nativas, foi dividido entre as empresas Cyrela e Camargo Corrêa. Essa última reivindica, segundo a Associação de Moradores do Morumbi e da Vila Suzana (Samovi), pela segunda vez (a primeira foi negada), um alvará para construir no terreno.

Por essas e outras, como podemos ajudar nossa cidade? Pedimos ao botânico Ricardo Cardim para apontar algumas espécies nativas que podem ser cultivadas em casa. Ao optar por plantas locais, e não estrangeiras - que já são a maioria por aqui -, você colabora com o equilíbrio ambiental. Entenda o porquê a seguir.

NÚMEROS DA MATA ATLÂNTICA EM SÃO PAULO

18% é o que resta de Mata Atlântica no estado de São Paulo, com as maiores frações nas serras da Cantareira e do Mar. Abaixo, dados da desigualdade verde no estado, da comparação de áreas de vegetação e construídas, ilhas de calor...
Fontes (gráfico acima): Atlas de Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa); Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica 2011 e 2012; Fundação SOS Mata Atlântica (Sosma); Ilhas de calor nas metrópoles (Magda Adelaide Lombardo); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); Organização Mundial da Saúde (OMS); Prefeitura de São Paulo; Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA).

terça-feira, 16 de setembro de 2014

″Tratamos os animais de forma primitiva″

″Tratamos os animais de forma primitiva″, diz neurocientista parceiro de Stephen Hawking

Em entrevista a INFO, o canadense Philip Low expõe um paradoxo cruel: a ciência já provou que os animais são conscientes. Apesar disso, tratamos os bichos como objetos – utilizados em testes de laboratório ineficazes que podem, em sua opinião, ser substituídos por técnicas mais avançadas

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Marcus Vinícius Brasil e Vanessa Daraya INFO Online - 09/2014
Svenia Schreiner/Creative Commons/Flickr
De passagem pelo Brasil, onde participou do 3º Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-Estar Animal, o neurocientista canadense Philip Low expõe um paradoxo cruel: do ponto de vista científico, sabemos que os cérebros de mamíferos possuem oscilações complexas, como dos humanos. Temos a prova de que eles são conscientes. Apesar disso, tratamos esses animais como objetos -utilizados em testes de laboratório ineficazes que podem, na opinião de Low, ser substituídos por técnicas mais avançadas.

Além dos estudos com animais, uma das abordagens propostas pelo canadense é a de entender melhor o funcionamento do cérebro humano, e tratar doenças antes de os sintomas se manifestarem, quando ainda aparecem apenas como rotinas cerebrais problemáticas.

A empresa que fundou e atua como CEO, a NeuroVigil, temElon Musk entre os investidores e oferece essa solução para grandes laboratórios farmacêuticos, e até para Nasa, que planeja monitorar o cérebro de astronautas da Estação Espacial Internacional.

Low foi ainda responsável pelo desenvolvimento da interface cerebral que ajuda o renomado físico Stephen Hawking a se comunicar.

Confira a seguir a entrevista exclusiva que ele concedeu a INFO.

Você esteve envolvido com pesquisa animal e agora explora o cérebro humano. O que conecta esses campos de pesquisa?iBrain. Ele é o menor monitor de ondas cerebrais do mundo. Temos 3 versões. A primeira, de 2009, está sendo utilizada pelas grandes empresas farmacêuticas. Temos a segunda, que foi desenvolvida para o Stephen Hawking. A terceira, ainda em protótipo, pode ser utilizada pela Nasa para monitorar astronautas em tempo real na Estação Espacial Internacional.

Qual o grande avanço desse dispositivo?É a Matemática. Em minha tese eu desenvolvi um algoritmo capaz de ler e interpretar ondas cerebrais de forma muito sensível. Não é preciso que a pessoa vá até o hospital para que consigamos coletar toneladas de dados. Na eletroencefalografia, se você quiser dados de qualidade, enfrenta o problema de que o escalpo da cabeça suprime muitas frequências cerebrais. Meu algoritmo resolve esse problema trazendo essas frequências de volta ao espectro.

Como o iBrain e seu algoritmo funcionam no estudo da consciência animal?Quando apliquei essa matemática aos animais, percebi que nós os tratamos de forma primitiva. Eles têm oscilações cerebrais muito avançadas, e eu não sou o único a dizer isso. Sou um viciado em dados. Não uso o julgamento de ninguém para me dizer o que é real ou não. Eu olho para os dados.

Você acha que essa abordagem mais técnica pode mudar a opinião das pessoas sobre o uso de animais em testes de laboratório?Essa é uma pergunta complicada. Sei que houve a questão do Instituto Royal aqui no ano passado, e acho que é muito importante que se discuta isso. Mas, por outro lado, é importante que as pessoas não se acusem. Os ativistas costumam achar que cientistas são malignos, e os cientistas acham que os ativistas são estúpidos. E isso não é produtivo para ninguém. Nem para os animais nem para os humanos.

Eu vejo a questão da seguinte forma: se os cientistas usam financiamento público, como qualquer companhia, os investidores têm o direito de saber o que está acontecendo, como o dinheiro está sendo usado. Nesse caso, todos os cidadãos são investidores, afinal, o dinheiro é público. Então minha mensagem é: não ataque os cientistas, eles querem ajudar a sociedade. Se você não gosta do que eles fazem, não os pague para fazer isso. É necessário que os políticos respondam ao público e que haja leis que evitem que esse dinheiro seja usado em desacordo com sua opinião.

Também há o aspecto econômico das pesquisas com animais. Se eu chegasse e dissesse: "Olá, tenho uma companhia que mata milhares de animais todo ano, gasto 40 bilhões de dólares nisso, e a chance de testar em humanos é menor que 6%". Você investiria? Não. Mas é isso o que estamos fazendo como sociedade.

Qual seria a alternativa a isso?Eu prefiro trabalhar analisando o cérebro humano, buscando sintomas antes de eles se manifestarem, poupando os animais e todo o dinheiro gasto com isso. O cérebro tem muitos mecanismos redundantes. Antes do aparecimento de um sintoma, esses sistemas falharam em algum momento. Quando há um sintoma, o dano já é enorme. Então temos duas opções: recriar esses danos em animais e tentar curá-los. Ou podemos interagir antes com o cérebro, usar baixas dosagens e efeito colateral mínimo para os testes.

No caso da esquizofrenia, por exemplo, podemos usar o sono como um mapa dinâmico. Há uma fase do sono em que os esquizofrênicos apresentam falta de um tipo de atividade cerebral. Nós trabalhamos com a Marinha americana nesse campo. Quando soldados voltam do Iraque e do Afeganistão, olhamos para esses marcadores. Se encontramos essa ausência, a pessoa pode estar em risco. Então eu prefiro começar a estudar a pessoa imediatamente, em vez de esperar que ela tenha um ataque. É uma abordagem mais pró-ativa.

Além de problemas psíquicos, podemos usar essa abordagem contra doenças infecciosas?Não posso dizer com certezas. Mas o sistema imunológico pode ser mal regulado se você estiver muito estressado, por exemplo. Você passa dias de estresse e pega uma gripe em seguida. Isso acontece porque você suprimiu seu sistema imunológico. Seus padrões mudaram. Claro, pode haver muitas razões para isso. Mas o ponto é dar às pessoas um modelo probabilístico. Se você souber que tem uma chance de 70% de ter um ataque epiléptico nos próximos 15 minutos, pode tomar um remédio e evitá-lo a tempo. É como um sistema de alarme. Seria mais eficiente. Temos que decidir se queremos, como sociedade, aceitar que estamos machucando outras espécies, e esperando até as pessoas estarem quebradas. Ou investir em outra abordagem, que pode começar devagar, mas que depois trará um retorno no investimento.

Você é a favor de que as pessoas acompanhem os resultados de suas análises cerebrais?Nos Estados Unidos há esse grande movimento do "eu quantificado", e todos querem seus próprios dados. Mas eu não concordo com isso. O que acontece quando alguém sem o conhecimento necessário vê que possui propensão ao Alzheimer? A pessoa pode querer pular pela janela! É preciso cautela. Quero trabalhar de uma forma que as pessoas tenham os seus dados, mas que a análise seja feita de uma forma mais sofisticada.

Como você conheceu Stephen Hawking?Estava num congresso em Nova York em 2010. Fui convidado e me encontrar com ele e, para minha surpresa, havia apenas cinco pessoas. Fomos ao museu Metropolitan e então sua filha se aproximou e disse "ei pai, você conheceu o Philip? Ele é o único cara que tem uma tese de pHD mais curta que a sua". Ele ficou interessado, me fez um monte de perguntas e me convidou para um almoço. Eu lia os livros dele quando adolescente e lá estávamos, só o Stephen e eu, falando sobre as coisas. Foi ótimo.

Como começou o trabalho em sua interface cerebral?Um ano depois, eu ia dar uma palestra em Londres e vi uma mensagem de Stephen pedindo que eu fosse visitá-lo. Era um dia chuvoso e fui vê-lo. Não sabia o que ele queria. Quando cheguei, estávamos na cozinha e ele tentava dizer algo, por meia-hora, e não saía. Então a família dele me disse: "temos medo que a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) seja forte ao ponto de nós o perdermos". Foi muito triste. Eles me perguntaram se eu podia ajudá-lo. Falei que não sabia, mas que poderia tentar. Mas para isso haveria três condições: 1) Que o estudo fosse um teste clínico para todos que têm ELA, e não apenas para Stephen. 2) Eu precisaria de comunicação direta - já que caras famosos sempre têm pessoas em volta bloqueando seu acesso. 3) Ele teria que me dar seu feedback direto e fosse conselheiro no projeto.

Começamos os testes imediatamente, pedindo que ele imaginasse o movimento de seus membros para tentar captar os sinais cerebrais. Quando enviei as informações para os Estados Unidos e rodamos meu algoritmo, enxergamos algo. Em maio de 2013, ele soletrou sua primeira palavra - "comunicar". Depois, "comida". É uma grande honra trabalhar com esses indivíduos. Não apenas com Hawking, mas a comunidade de ELA. Quando você vê como é difícil para eles, isso faz todos nossos problemas parecerem pequenos
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Reprodução do site da revista Exame
Reprodução do site da revista Exame


Agradeço o reconhecimento desse levantamento do Atlas Político, divulgado pelo site da revista Exame. Do Rio de Janeiro só apareço eu e mais um deputado. Tenho a consciência tranquila de que não decepcionei os 700 mil votos que o povo do Rio de Janeiro me deu, a maior votação de um parlamentar na história do nosso estado. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Dupla tempestade solar ruma à Terra e preocupa cientistas

Dupla tempestade solar ruma à Terra e preocupa cientistas

Redação - VEJA.com - 09/2014
Divulgação/Nasa


Uma rara explosão dupla de tempestades solares magneticamente carregadas vai atingir a Terra nesta sexta-feira (12), causando preocupações de que sinais GPS, comunicações por rádio e transmissões de energia possam ser interrompidos, disseram autoridades nesta quinta (11).

Individualmente, as tempestades, conhecidas como ejeções de massa coronal, ou CMEs, não justificariam advertências especiais, mas o curto intervalo atípico e sua rota direta para a Terra levaram o Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos (SWPC) a emitir um alerta.

Dado o nível de intensidade geomagnética esperado, essas tempestades "poderão provocar problemas nas comunicações por rádio e sinal de GPS, assim como irregularidades na voltagem da rede de distribuição elétrica", disse Thomas Berger, diretor do centro.

Os efeitos seriam mais sentidos nas regiões próximas aos polos, onde as interações com o campo magnético terrestre são mais fortes. "Nós não esperamos nenhum impacto incontornável à infraestrutura nacional, mas estamos acompanhando de perto", acrescentou Berger.

Sol está atualmente no pico de seu ciclo de 11 anos, embora o nível de atividade esteja menor do que o típico para um pico solar. Tempestades como as que agora rumam para a Terra ocorrem entre 100 e 200 vezes durante um ciclo solar de 11 anos, explicou Berger. Para o cientista, a imprevisibilidade da dupla explosão solar exige uma maior preocupação. "O fato único sobre este evento é que nós tivemos dois em rápida sucessão e as CMEs poderiam estar interagindo em seu caminho para a Terra, na órbita da Terra ou além. Nós simplesmente não sabemos ainda", disse ele. O SWPC estima que os efeitos das tempestades ainda serão sentidos no planeta no sábado (13).

No lado positivo, os eventos solares devem provocar belas auroras nas regiões polares, incluindo o norte dos Estados Unidos e do Canadá.

HISTÓRICO Em 2012, uma forte tempestade solar quase atingiu a Terra, colocando em sério risco todo o sistema de redes elétricas e ameaçando "reenviar a civilização contemporânea ao século XVIII", revelou a Nasa em julho.

A agência espacial americana estima que o impacto de uma tempestade solar como a de 1859 - conhecida como "evento Carrington" - custaria à economia mundial dois trilhões de dólares e provocaria danos sem precedentes em um mundo inteiramente dependente da eletricidade e da eletrônica.
 

Identificados genes que podem ajudar a salvar araucária do risco de extinção

Identificados genes que podem ajudar a salvar araucária do risco de extinção

Formação embrionária do pinhão, semente do pinheiro-brasileiro, é alvo de abordagem molecular inédita capaz de auxiliar na preservação da espécie

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Wikimedia Commons
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP)identificaram 24.181 genes ligados à formação do embrião da araucária (Araucaria angustifolia) - árvore nativa do Brasil também chamada de pinheiro-brasileiro - e de sua semente, o pinhão

A descoberta poderá auxiliar no estabelecimento de um sistema para a propagação in vitro da espécie, que está sob risco crítico de extinção, de acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), e cuja madeira tem alto valor de mercado.

Com a identificação dos genes, será possível um maior controle sobre o processo de embriogênese somática, ou seja, a formação de um embrião sem que haja fecundação e a partir de células não reprodutivas.

Trata-se de uma das mais promissoras técnicas biotecnológicas de produção de embriões vegetais, que permite a criopreservação (conservação por meio de congelamento) e a clonagem em massa. No caso da araucária, ela é dificultada porque as sementes perdem viabilidade e não sobrevivem por longos períodos de armazenamento.

"Diante dessa dificuldade, é fundamental que se compreenda amplamente o funcionamento desses genes. Somente com o profundo conhecimento dos fatores bioquímicos, fisiológicos e genéticos que controlam o desenvolvimento do embrião zigótico (in vivo) será possível o desenvolvimento embrionário in vitro", explicou Eny Iochevet Segal Floh, coordenadora do Laboratório de Biologia Celular de Plantas (Biocel) do Instituto de Biociências da USP e responsável pela pesquisa Análise da expressão gênica durante o desenvolvimento de embriões somáticos e zigóticos de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze, realizada com o apoio da FAPESP.

Os trabalhos no Biocel, desenvolvidos em parceria com o Laboratório de Genética Molecular de Plantas, também do IB-USP, e coordenado por Maria Magdalena Rossi, centraram-se na análise do transcriptoma, conjunto dos RNAs mensageiros (RNAm) da célula, com o objetivo de descobrir quais genes participam no processo de formação do embrião da araucária.

O sequenciamento do RNA foi realizado no Laboratório Multiusuários Centralizado em Genômica Funcional Aplicada à Agropecuária e Agroenergia, facility instalada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP com o apoio do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU) da FAPESP.

A análise utilizou a tecnologia de sequenciamento em larga escala (RNAseq), que permite explorar a diversidade de RNAm e o perfil dos genes expressos durante o desenvolvimento embrionário.

"O uso desta tecnologia - nova para a maioria dos grupos de pesquisa de biologia molecular no Brasil e ainda pouco utilizada em sistemas vegetais - proporcionou informações importantes sobre a regulação do desenvolvimento embrionário do pinhão", destacou Floh.

Os mais de 24 mil genes identificados permitirão entender e descrever o comportamento do metabolismo durante a formação do embrião. "Além da importância para a biologia vegetal, os dados gerados possibilitarão obter marcadores para o aprimoramento da técnica de micropropagação, que é a produção de milhares de clones a partir de uma única célula ou pedaço de tecido vegetal, utilizando a embriogênese somática", disse Floh.

Os resultados poderão ajudar ainda no estabelecimento de estratégias de conservação para a A. angustifolia, incluindo bancos de germoplasma, o patrimônio genético conservado das plantas, e programas de melhoramento genético que utilizam ferramentas biotecnológicas.

AMEAÇA De acordo com levantamento da IUCN, a araucária já perdeu 97% de sua área original, o que compromete drasticamente sua variabilidade genética e a coloca em risco de extinção. A cobertura dessas árvores correspondia a cerca de 40% da floresta ombrófila mista, um dos tipos de floresta que compõem o bioma da Mata Atlântica.

"A demanda pelo desenvolvimento de programas de manejo sustentável e conservação tem se tornado a cada dia mais urgente, visando à recuperação e à reposição das espécies ameaçadas, além de garantir a manutenção dos recursos que elas representam", defende Floh.

As gimnospermas - plantas terrestres que vivem em ambientes de clima frio ou temperado, grupo do qual a araucária faz parte - representam mais de 50% das reservas florestais do planeta. Além de fornecerem madeira, fibra e energia para a indústria florestal, são importante fonte de biocombustíveis e atenuadores dos efeitos do aquecimento global.

Seu ciclo de vida, contudo, é considerado longo. Uma árvore pode durar séculos, levando em torno de 15 anos até atingir a maturidade reprodutiva. A formação da semente é igualmente demorada, podendo levar até quatro anos - o que, de acordo com a pesquisadora, exige alternativas biotecnológicas ao processo natural de reprodução.

"Diante disso, a clonagem massal in vitro via embriogênese somática, associada à criopreservação e à seleção assistida por marcadores moleculares, vem sendo incorporada aos programas de melhoramento genético e conservação de germoplasma de gimnospermas ameaçadas de extinção", disse.

Os resultados iniciais foram publicados na revista Plant Cell Tissue and Organ Culture e apontam para a viabilização de estratégias biotecnológicas de preservação da espécie. Além de apoio da FAPESP, os estudos também tiveram financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Petrobras.

Segundo ex-diretor, Francisco Dornelles recebeu R$ 1,2 milhão
Reprodução do site da revista IstoÉ
Reprodução do site da revista IstoÉ


A revista IstoÉ revela que o ex-diretor da PETROBRAS Paulo Roberto Costa no seu depoimento à Polícia Federal delatou o senador Francisco Dornelles (PP), vice de Pezão, como beneficiário do esquema de desvios e propinas. Dornelles teria recebido R$ 1,2 milhão de duas empreiteiras. Outro que aparece na lista, e que eu antecipei aqui, é Eduardo Cunha. Ou seja, a chapa de Pezão está atolada na lama do "petrolão", o esquema de desvio de dinheiro da PETROBRAS. Cabral recebia; Pezão recebia através de seu braço-direito, o popular Braguinha; e o vice da chapa, Dornelles, também é acusado de estar na mamata. O povo do Rio de Janeiro não merece uma chapa dessas.


Reprodução do site da revista IstoÉ
Reprodução do site da revista IstoÉ

domingo, 14 de setembro de 2014

David Doubilet: até as profundezas

David Doubilet: até as profundezas

O mais respeitado fotojornalista subaquático de todos os tempos, David Doubilet fala da sua paixão pelo seu trabalho

por David Doubilet
     
Recentemente me indagaram sobre quando ocorreu o meu “momento baleia” – ou seja, quando deixei de ser um mamífero terrestre e me tornei uma criatura anfíbia com uma câmera na mão. A primeira vez em que de fato molhei os pés não resultou de nenhum grande espírito aventureiro, mas do fato de eu ser um menino tímido e curioso com 9 anos de idade. No lago Augur, em Nova York, meus orientadores no acampamento de verão tiveram de lidar com um garoto estranho que sofria de asma e não se misturava com os outros. Por isso, eles me deram uma máscara de mergulho e sugeriram que eu fosse até o lago e retirasse os galhos acumulados sob um cais, lembrando-me de que seria bom se voltasse à superfície de vez em quando para respirar. Mergulhei em um turvo e esverdeado mundo mágico. Vi percas-sóis e lúcios escondidos entre juncos, assim como uma aranha-pescadora gigante que me deixou apavorado. Passei horas ali explorando e até me esqueci de que deveria retirar os tais galhos.
Logo depois, conheci o meu herói, Jacques Cousteau, em Manhattan, por ocasião da estreia de O Mundo do Silêncio, que ganhou o Oscar de melhor documentário. Ao aproveitar os recursos do cinema paramostrar as profundezas do mar, o filme me deixou fascinado. Contei a Cousteau que desejava ser fotógrafo submarino. Ele sorriu e, dando de ombros à maneira francesa, me disse: “Por que não? Vá em frente!”
Minha família tinha duas casas: uma em Manhattan, onde a gente não está longe de um rio, e outra, para as férias, em Elberon, Nova Jersey, perto do mar. Depois daquela primeira incursão subaquática, eu passava os dias de verão a explorar as águas verde-escuras do Atlântico. Quando fiz 12 anos, ganhei uma câmera Brownie Hawkeyede meu pai. Impermeabilizamos a Brownie com um saco de plástico e a prendemos no interior de uma velha máscara de mergulho. Essa foi a minha primeira câmera submarina. Os primeiros resultados foram pavorosos, mas não perdi o entusiasmo.
Ainda adolescente, tornei-me assistente no Laboratório Marinhode Sandy Hook, na costa da Nova Jersey. Junto com os cientistas, mergulhava em um local conhecido como “zona ácida”, onde era lançada boa parte dos rejeitos industriais de Nova York e Nova Jersey. Essa experiência evidenciou que o rigor da ciência não era páreo para minha predileção pela fotografia. Decidi então estudar comunicações na Universidade de Boston, mas também passei boa parte do tempo na outra margem do rio com amigos do Massachusetts Institute of Technology. Um deles era o doutor Harold Edgerton, o lendário inventor do flash estroboscópico. Nossas longas conversas sobre tecnologia se mostraram muito úteis quando comecei a trabalhar para a NATIONAL GEOGRAPHIC. Na minha primeira pauta fui ao lago Ontário documentar um experimento, chamado projeto Sublimnos, que tratava de um hábitat submarino ártico para seres humanos. Logo estava fotografando as mais diversas criaturas, como tubarões, crustáceos e nudibrânquios, permitindo-me mergulhar fundo em paisagens marinhas que pareciam estranhas mas eram de uma beleza excepcional. A primeira vez que me dei conta do esplendor poético dos oceanos foi ao fotografar um campo de enguias-de-jardim. Meu sonho era um novo tipo de imagem que capturasse o delicado balanço dessas enguias, sem qualquer perturbação em seu ambiente. Com muito esforço da equipe, conseguimos isso na costade Eilat, em Israel, com uma câmera oculta na areia controlada a distância e acionada por um cabo comprido que ia até um esconderijo subaquático. Quando a foto foi revelada, sabia que tínhamos afinal um artigo – e também que a fotografia submarina era a minha vocação.
Quanto mais eu mergulhava, mais eu descobria mundos sobre osquais a humanidade pouco sabia e quase nada entendia. A grande “história” da década de 1970 relacionada ao mar foi o filme Tubarão, claro, e a NATIONAL GEOGRAPHIC me enviou em uma viagem ao redor do planeta para fazer uma cobertura mais verdadeira sobre esses animais. Ao lado da doutora Eugenie Clark, observei o universo dos tubarões por um ano e meio, desde a costa do Japão, passando pelo mar Vermelho, até a Austrália. Com a ajuda de vários especialistas, ajudamos a demolir diversos mitos sobre esses animais tão estigmatizados.
Fazer fotos em um ambiente submarino é semelhante a fotografar acidade de Nova York envolta em densa neblina com apenas 50 metros de visibilidade. Além disso, a gente não alcança o nível das ruas, pois só se consegue fotografar de uma altitude de 20 andares e, dependendo das marés e de outros fatores, às vezes temos apenas 15 ou 20 minutos por dia para trabalhar. Também não conseguimos conversar com ninguém, pois não falamos sua língua, e todos se afastam rapidamente, tornando ainda mais difícil obter a imagem de um rosto.
Minha carreira como fotógrafo foi a descoberta de que o mundo sob aquele cais no lago Augur se estende por todo o planeta. Embora agente imagine o mar como um ambiente extraterreno, a maior parte do globo – e grande parte de sua fauna – está, na verdade, sob a superfície da água. Conhecemos tão pouco esse universo oceânico que cada mergulho traz descobertas surpreendentes. Não há como negar que vivemos a Era da Exploração Submarina. Os oceanos, porém, estão sofrendo com a acidificação, a pesca excessiva, a poluição e o aumento na temperatura das águas. A química do planeta está mudando, e os recifes de coral já foram irremediavelmente danificados. Espero que minhas imagens ajudem os leitores a ver o oceano não como uma fronteira remota, mas sim como parte vital do planeta, que deve ser valorizada e preservada para as próximas gerações.