quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Uirapuru-verdadeiro, uma ave cercada de mitos e lendas

Uirapuru-verdadeiro, uma ave cercada de mitos e lendas

por Fábio Paschoal 
     
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Diferentes subespécies de uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus aradus) - Ilustração John Gerrard Keulemans
Diferentes subespécies de uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus aradus) – Ilustração John Gerrard Keulemans
Você já ouviu uma música tão bonita que fez você parar tudo o que estava fazendo só para admirá-la? Assim é o canto do uirapuru-verdadeiro. Há quem diga que quando ele canta as outras aves silenciam para ouvir a melodia. Elas ficam hipnotizadas e passam a ser controladas pelo maestro (para ouvir o uirapuru veja o vídeo no final do post).
O nome uirapuru é dado a algumas aves da AmazôniaPantanal e Mata Atlântica. A maioria faz parte da família dos dançarinos (falei de um membro desse grupo no post Dançarino-da-cabeça-vermelha usa passos de Michael Jackson na dança do acasalamento). Os machos possuem cores vibrantes e fazem coreografias extremamente elaboradas na esperança de conquistar uma fêmea. Mas, quando o assunto é melodia, nenhum dançarino se compara ao uirapuru-verdadeiro, ave da família das corruíras cercada de mitos e lendas.
Uma das histórias se refere a um guerreiro que se apaixona pela esposa do cacique. Como não pode se aproximar dela, o rapaz pede ao deus Tupã para transformá-lo em pássaro. Todas as noites o jovem, em sua forma alada, se aproxima de sua amada e canta para ela. Mas o cacique também ouve a música, e começa a perseguir a ave com a intenção de prendê-la.
O pássaro se esconde na floresta e o cacique não consegue encontrá-lo. Mas o uirapuru não desiste. Ele canta todas as noites para a esposa do cacique na esperança que ela o descubra através de sua melodia.
Outra lenda conta a história de Oribici, uma índia que disputava o amor do chefe de sua tribo com outra mulher. O cacique organizou uma competição de arco e flecha para escolher sua esposa. A derrota foi devastadora para Oribici. Ela chorou tanto que suas lágrimas deram origem a um córrego.
Comovido com a tristeza da índia, o deus Tupã – para compensar pelo amor que Oribici havia acabado de perder – a transformou em um pássaro com um canto extremamente belo, capaz de enfeitiçar todas as aves da floresta.
Uma terceira lenda conta a história de um pássaro que foi atingido no coração por uma flecha disparada por uma moça apaixonada pelo seu canto. A ave se transformou em um belo guerreiro.
Tomado pela inveja, um feiticeiro compôs uma música com sua flauta encantada e fez com que o rapaz desaparecesse para sempre. Tudo o que restou foi o lindo canto do guerreiro, que pode ser ouvido até hoje na floresta.
O uirapuru-verdadeiro é considerado um talismã. Existem pessoas que acreditam que o homem que carregar uma pena da ave será irresistível para as mulheres e terá sucesso nos negócios. Também dizem que a moça que conseguir um pedaço do ninho manterá seu amado, fiel e apaixonado, por toda a vida. Mas essas superstições são prejudiciais à espécie, já que é preciso capturar o animal e destruir o local em que ele cuida dos filhotes.
Prefiro acreditar na lenda que diz que a pessoa que escuta o uirapuru pode fazer um desejo que será realizado no futuro. Assim podemos propagar um dos cantos mais bonitos que se pode ouvir na Floresta Amazônica.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

AMBIENTE PREVÊ CINCO MILHÕES DE VISITANTES NOS PARQUES ESTADUAIS EM 2016

AMBIENTE PREVÊ CINCO MILHÕES DE VISITANTES NOS PARQUES ESTADUAIS EM 2016


 » Ascom SEA
Estima-se que no ano das Olimpíadas comércio e atividades de ecoturismo gerem cerca de R$ 1 bilhão em movimento financeiro

 Com recursos no valor de R$ 64 milhões, a Secretaria do Ambiente tem investido na implementação de estrutura física e na capacitação de profissionais dos 12 parques em funcionamento no estado com a meta de atrair cerca de cinco milhões de visitantes por ano até 2016. O valor aplicado em obras para preparar cada vez mais as áreas preservadas para receber turistas nacionais e internacionais inclui a construção de alojamentos para pesquisadores, centros de convivência, além da sinalização de trilhas bem como ações de qualificação de 280 guarda-parques.

Outros R$38 milhões já foram aprovados para novos investimentos nas unidades de conservação totalizando um montante de mais de R$ 100 milhões. A expectativa da Secretaria de Ambiente é que os recursos aplicados contribuam para oxigenar a economia de vários municípios fluminenses. Estima-se que, no ano das Olimpíadas, hotéis, pousadas, bares, restaurantes e atividades de ecoturismo gerem aproximadamente R$ 1 bilhão em movimento financeiro.

“ Temos investido na regularização fundiária e estamos realizando inúmeras obras, algumas já concluídas.   Estamos implementando cada vez mais trilhas sinalizadas, temos a presença dos nossos guarda-parques orientando e aconselhando os usuários e passando uma consciência ambiental da importância destes espaços.  Além disso, entendemos que a partir do momento em que abrimos parques para visitação com estrutura de qualidade criamos uma série de possibilidades para pequenos e médios empresários, gerando emprego e ativando a economia das regiões “, ressaltou o diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), André Ilha.

 Pórticos, alojamentos para pesquisadores e guardas-parque, centros de visitantes, guaritas, cercamento de áreas, sinalização de trilhas e de mirantes integram o processo de implantação física dos parques estaduais iniciada em 2007. Além da aplicação de recursos em infraestrutura, a Secretaria de Ambiente treinou profissionais e equipou as equipes que atuam nas unidades de conservação. Foram investidos cerca de R$ 10 milhões em equipamentos, veículos e na capacitação dos guarda-parques, que tem uma dupla finalidade: proteger as áreas ambientais e  funcionar como uma espécie de ‘Relações Públicas’, interagindo com turistas, moradores e pesquisadores.

  Projeto Trilhas da Copa

A Secretaria de Ambiente prepara mais uma novidade com foco na Copa do Mundo. Em janeiro será licitado o projeto Trilhas da Copa que sinalizará nos idiomas português e inglês 24 trilhas em três parques estaduais (Pedra Branca, Serra da Tiririca e Três Picos). A ação acontece em parceria com a Secretaria de Turismo.

 "Estamos completamente alinhados com Secretaria de Turismo para transformar os parques numa marca importante do estado assim como a praia, o Cristo Redentor, o Carnaval. Queremos que as áreas naturais protegidas venham a ser em um médio prazo valorizadas pelos moradores e procurada pelos visitantes“, acrescentou o diretor de Biodiversidade do Inea. 

Capacitação para trânsito na faixa de areia do Farol na segunda

Capacitação para trânsito na faixa de areia do Farol na segunda


Por Jualmir Delfino



Tendo em vista a existência de extensa faixa de areia com desovas de tartarugas marinhas e com vegetação de preservação permanente, a Prefeitura de Campos, através da Secretaria de Meio Ambiente, realiza nesta segunda-feira (27) o Curso para Capacitação de Trânsito de Veículos Oficiais na faixa de areia da Praia do Farol de São Tomé. 

O curso é direcionado a servidores estaduais e municipais (bombeiros, policiais militares, agentes da própria Secretaria de Meio Ambiente, da Guarda Civil Municipal e do Projeto Tamar, do Ibama). O curso será realizado das 14h às 18h, na Escola Municipal Cláudia de Almeida, na praia campista.

O secretário de Meio Ambiente, Zacarias Albuquerque, cita a importância do curso para os agentes do Projeto Tamar  e da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Campos, que em ocasiões especiais de fiscalização ou autuações, precisam trafegar na faixa de areia, que tem ninhos com centenas de ovos de tartarugas e vegetação de preservação permanente na praia campista.




Postado por: Francisca de Assis - 25/01/2014 00:04:52


Ondas gigantes invadem praias e ameaçam população do Havaí

Ondas gigantes invadem praias e ameaçam população do Havaí



Nem mesmo os surfistas estão prontos para encarar as ondas que vêm arrebentando no litoral norte do Havaí, provavelmente relacionadas às mudanças climáticas. Ocasionadas por uma tempestade intensa com ventos fortes, as ondas são as maiores em várias décadas e ultrapassam os dez metros de altura e têm provocado estragos em diversas cidades, colocando em risco a atividade econômica e a sobrevivência da população local.
Diversas praias tiveram que ser fechadas e os salva-vidas reforçaram seu trabalho, com objetivo de manter as pessoas bem longe das ondas, que arrebentam na costa, de forma violenta e sem precedentes.  Os especialistas do Serviço de Meteorologia do Havaí deixaram claro que a intensidade das ondas é tão preocupante, que possuem força suficiente para quebrar os ossos, afogar e até causar a morte de banhistas e surfistas.
A ocorrência destas formações na costa norte do Havaí obrigou o cancelamento de uma importante competição de surfe, a “The Quiksilver in Memory of Eddie Aikau”, realizada para homenagear um dos ícones do surfe havaiano, Eddie Aikau. De acordo com o Huffington Post, o torneio deixou de ocorrer porque a mesma tempestade que trouxe as ondas gigantes também desorientou os ventos que sopram na região.
A força das águas ainda pode colocar em risco os habitantes e a economia local, à medida que acontecem alagamentos devido às tempestades e algumas localidades sofrem erosões. A preocupação com a forte maré também é grande, pois, nos casos mais extremos, ameaça residências e construções de serem tragadas pelo oceano. A situação de risco colocou em ação os voluntários da Cruz Vermelha, que distribuirão mantimentos às pessoas necessitadas.
Redação CicloVivo

Ação da Comlurb mostra montanha de lixo deixado em Copacabana durante o feriado

Ação da Comlurb mostra montanha de lixo deixado em Copacabana durante o feriado


Os moradores de Copacabana acordaram na manhã da última terça-feira (21) com uma surpresa na areia da praia: uma montanha de lixo com um laço de fita vermelho. A ação da Comlurb, em parceria com o movimento “Rio Eu Amo Eu Cuido”, teve como objetivo mostrar para a população como ficou a Praia de Copacabana sem limpeza, em apenas um dia de praia lotada. No total, foram amontoadas 40 toneladas de resíduos, largados na areia pelos banhistas no feriado de São Sebastião (20).
“Essa é uma iniciativa para chamar a atenção do carioca para o lixo descartado de forma incorreta e para alertar sobre o que aconteceria se os garis não limpassem, com a mesma intensidade, com que rotineiramente trabalham. Quarenta toneladas é uma quantidade muito grande, que enfeia a praia e cria uma situação insalubre. Por isso, estamos aqui para trazer essa discussão e conscientizar tanto o carioca quanto o visitante de que devem manter a praia e a cidade limpas”, explicou o presidente da Comlurb, Vinicius Roriz.
A Operação Praia Limpa, atuou com 90 trabalhadores durante toda a madrugada da terça-feira para recolher o lixo deixado pela população. Os resíduos que estavam depositados em lixeiras e nos 560 contêineres – que ficam dispostos de 25 em 25 metros na orla do Leme ao Posto 6 - foram devidamente recolhidos pelos caminhões da Comlurb, enquanto os descartados de forma irregular na areia foram acumulados próximo ao Posto 4, na altura da Rua Constante Ramos. Para facilitar o trabalho, foram utilizados quatro tratores, uma pá mecânica, além de caminhões para o transporte dos detritos.
Moradora de Copacabana, a advogada e empresária Márcia Cristina da Cunha ficou espantada com a montanha de lixo no “quintal de casa”, a qual ela se deparou quando saia para andar de bicicleta. “Quando eu vi essa montoeira de lixo aqui fiquei triste e ao mesmo tempo assustada. A Prefeitura faz a sua parte, mas o povo tem que parar com essa mentalidade de querer deixar a responsabilidade apenas para os governantes”.
Para Ana Lycia Gayoso, coordenadora do movimento Rio Eu Amo Eu Cuido, a iniciativa foi a forma encontrada de “chocar para sensibilizar” e tentar mudar as atitudes dos cariocas e visitantes. “Fizemos essa montanha de lixo com o laço de presente e as faixas para mostrar que o carioca deixa na praia presentes horríveis para a cidade. Só se chocando que a pessoa vê o quanto ela está se alienando no seu papel de cidadão”, afirmou Ana.

Juliana Romar – Prefeitura do Rio de Janeiro

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Pacto Brasil-França contra garimpo ilegal de ouro é aprovado

Pacto Brasil-França contra garimpo ilegal de ouro é aprovado
27 de Janeiro de 2014 •


Com a ratificação de um acordo Brasil - França no fim de 2013 os países deverão atuar em conjunto contra o garimpo ilegal de ouro em uma faixa de 150 quilômetros em ambos os lados da fronteira entre a Guiana Francesa e o estado do Amapá. A aprovação do pacto pela Câmara e pelo Senado aconteceu após 5 anos de tramitação, graças à passagem do presidente francês François Hollande pelo Brasil.
Conforme o acordo, “a extração ilegal do ouro ameaça a preservação do patrimônio ambiental do Planalto das Guianas e compromete a saúde e a segurança das populações que extraem os seus meios de subsistência da floresta” e por isso os países “se comprometeram a implantar um regime interno completo de regulamentação e controle das atividades de pesquisa e lavra de ouro nas zonas protegidas ou de interesse patrimonial.
O pacto prevê “a implantação de medidas necessárias para combater toda atividade de extração ilegal e comércio de ouro não transformado, especialmente as atividades de venda e revenda, e toda atividade de transporte, detenção, venda ou cessão de mercúrio efetuada sem autorização” e, ainda, “o confisco e, em última instância, a destruição dos bens, material e instrumentos utilizados para extrair o ouro ilegalmente”. Confira abaixo lista das unidades de conservação e terras indígenas no território atingido pelo acordo.
“O bloco de conservação do escudo das Guianas é de extrema relevância ecológica, pois conecta unidades de conservação ao norte, fora do Brasil, e outras áreas no noroeste do Pará, formando um mosaico com mais de 12 milhões de hectares, a maior faixa preservada de florestal tropical do planeta", lembrou Jean Timmers, superintendente de Políticas Públicas do WWF-Brasil.
"Embora a atividade garimpeira no Amapá ainda seja vista, por vezes, como interessante do ponto de vista socioeconômico, na verdade traz prejuízos grandes aos trabalhadores, devido às péssimas condições de trabalho, além de graves prejuízos às áreas de conservação e às comunidades locais”, ressaltou.
O acordo Brasil - França para banir a exploração ilegal de ouro foi assinado no fim de 2008, nos governos dos então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, no lançamento da obra da ponte que une os dois países sobre o Rio Oiapoque. No entanto, a demora na ratificação do acordo pelo Congresso Nacional, inclusive pela atuação de parlamentares ligados ao garimpo ilegal, fez crescer a degradação socioambiental e a violência na região. Estimam-se em mais de 20 mil os brasileiros atuando com garimpo clandestino na Guiana Francesa.
O garimpo ilegal de ouro usa mercúrio líquido. A substância é extremamente tóxica à saúde e serve para apartar o ouro de outros materiais, mas se dissemina no ambiente, na carne de peixes e de outros elos das cadeias alimentares. Para produzir um quilo de ouro, os garimpeiros clandestinos chegam a usar um quilo de mercúrio. A Rede WWF estima que 30 toneladas de mercúrio sejam descartadas no ambiente natural das Guianas a cada ano, inclusive dentro de áreas protegidas e de terras indígenas.
Na região alta do Rio Maroni (Suriname e Guiana Francesa), um terço dos habitantes de pequenas comunidades sofre com a contaminação por mercúrio, apresentando níveis acima dos estipulados pela Organização Mundial da Saúde. Até 15 milhões de pessoas estariam contaminadas pelo metal na América do Sul, África e Ásia.
A corrida do ouro ganhou força com a alta do preço do minério no mercado internacional após a crise financeira de 2008 e pelo aumento da demanda por joias em países emergentes, como a Índia.
Em outubro passado, cerca de 140 países, incluindo o Brasil, aprovaram o texto final da Convenção de Minamata das Nações Unidas para banimento do uso de mercúrio até 2020. O tratado foi negociado por quatro anos e estabelece medidas de controle e de diminuição do uso e da produção da substância utilizada em vários produtos e processos industriais. A convenção entrará em vigor quando for ratificada por pelo menos 50 países.
"Defendemos e atuaremos para uma solução pacífica e que leve alternativas de trabalho e geração de renda de forma sustentável para as pessoas que hoje atuam com garimpo ilegal. A região tem alto potencial turístico, ampliado com a inauguração da ponte entre Brasil e França, e há possibilidade de concessões florestais para manejo madeireiro, por exemplo", lembrou Jean Timmers, do WWF-Brasil.

Araras colorem o sertão azul

REFÚGIOS NA CAATINGA

Araras colorem o sertão azul

Demorou mais de 100 anos para a arara-azul-de-lear ser encontrada na natureza. Agora, pesquisadores tentam preservar as últimas aves existentes no interior da Bahia

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João Marcos Rosa

Às 9 da manhã, o Sol já castiga os poucos que se habilitam a enfrentá-lo na vastidão semiárida da Estação Biológica de Canudos, na Bahia. Abrigada sob uma rara sombra no paredão de arenito, a bióloga Erica Pacifico, acordada desde as 3 da madrugada, bebe um gole d’água, quente a essa altura, e recebe um chamado no rádio. "Tem filhote. Dois", diz o colega Thiago Filadelfo, de dentro de uma toca a 50 metros de altura. Capacete na cabeça, o guia João Carlos Nogueira Neto corre para pegar uma gaiola especial. O equipamento é içado, e logo Filadelfo, deitado de bruços no local escuro e malcheiroso por causa das fezes de morcego, acomoda com cuidado os jovens passageiros, que saíram do ovo depois de quatro semanas de incubação.

Assim que os pequeninos chegam ao chão, Erica tira medidas, pesa, verifica se o papo está cheio e coleta restos de comida do bico, além de retirar amostras de sangue e de fezes de cada um antes de devolvê-los ao ninho. Por causa da pesquisa, que ela começou em 2008, os dois filhotes de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) terão muito mais chances de chegar à idade adulta - podem viver até 40 anos - do que se tivessem nascido décadas atrás. Contabiliza-se hoje algo entre 800 e 1,2 mil dessas araras na natureza - eram 200 no começo dos anos 2000. "A primeira parte do trabalho era entender melhor a biologia reprodutiva delas, sobre a qual existiam pouquíssimas informações", conta a bióloga, que constatou, por exemplo, que as araras têm um ou dois filhotes por ano, que demoram em média 95 dias para começar a voar.

Toca Velha, como é conhecido esse hábitat das araras azuis em Canudos, começou a ser resguardada em 1993, quando a Fundação Biodiversitas, organização conservacionista sediada em Belo Horizonte, adquiriu 130 hectares da área, com o patrocínio da médica americana Judith Hart. Além dali, as aves vivem em outros dois pontos da região. Um deles é a Área de Proteção Ambiental Serra Branca, no limite sul da Estação Ecológica Raso da Catarina, distante 37 quilômetros de Canudos. Outro é o Boqueirão da Onça, um grande fragmento de Caatinga entre os municípios de Sento Sé e Campo Formoso, onde apenas dois indivíduos foram avistados nos últimos anos. Nos paredões vermelhos da Toca Velha, no fim da década de 1970, o biólogo alemão Helmut Sick (1910-1991) observou pela primeira vez a espécie na natureza - até então, a arara-azul-de-lear era conhecida apenas por exemplares taxidermizados ou em cativeiro. Era o fim de um mistério de mais de 100 anos, uma das maiores sagas da história da ornitologia.

DESCOBERTAHeinrich Maximilian Friedrich Hellmuth Sick desembarcou no Brasil em 1939 com a missão de coletar aves para o Museu de Zoologia da Universidade de Berlim. Com o rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha durante a Segunda Guerra, Sick se escondeu na serra do Caparaó, na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, mas acabou sendo descoberto e encarcerado em 1942. Impossibilitado de estudar aves nos quase três anos que passou detido na Ilha Grande, no Rio de Janeiro, começou a observar invertebrados, formando uma coleção de 24 espécies de cupim, 11 delas inéditas.

Àquela época, ainda era desconhecida a origem da arara de cor índigo, de 70 centímetros de comprimento, 20 a menos do que sua parente mais conhecida, a arara-azul-grande (A. hyacinthinus). Os registros científicos atribuíam seu lar à Amazônia, provavelmente porque era do porto de Belém que os animais saíam para serem vendidos no exterior, junto com as "primas" amazonenses. A espécie havia sido descrita em 1856 por Charles Lucien Bonaparte, com base em uma pele depositada no Museu de Paris e em um animal vivo do Zoológico da Antuérpia. Bonaparte, sobrinho do imperador Napoleão, homenageou o artista inglês Edward Lear, um amigo que, em 1832, publicara em um dos volumes de sua obra Illustrations of the Family of Psittacidae, or Parrots uma ilustração da espécie.

No livro, porém, Lear descreve a ave como sendo uma arara-azul-grande. "Ele certamente notou a diferença entre a arara que havia pintado e representantes legítimos de A. hyacinthinus, que sem dúvida também observou. No entanto, sem autoridade para batizar uma nova espécie, teve que aceitar as diferenças encontradas como variações naturais, como o fizeram também inúmeros de seus contemporâneos", escreveu Sick.

Quando a ave foi reconhecida como nova espécie, Lear já havia abandonado as ilustrações detalhadas de animais para pintar paisagens por causa de uma perda parcial da visão. Mais tarde, o artista se dedicaria à poesia. "Infelizmente, nenhuma carta ou diário sobreviveu para revelar a reação de Lear à homenagem que lhe fora feita. Naquela época, ele estava vivendo e viajando fora da Inglaterra e seu foco era muito mais a pintura de paisagens do que a ornitologia", diz Robert McCracken Peck, estudioso de Lear na Universidade Drexel, nos Estados Unidos.

Depois de sair da prisão com o fim da guerra, Sick se tornou naturalista da Fundação Brasil Central, tendo coletado diversas espécies e descoberto outras enquanto viajava pelo Xingu com os irmãos Villas Bôas. Em 1965, já como pesquisador do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, Sick leu um artigo no qual o ornitólogo holandês Karel Voous afirmava que a espécie não existia de fato: os exemplares existentes eram híbridos de arara-azul-grande e arara-azul-de-glauco (A. glaucus), espécie já extinta, de menor tamanho entre as três desse gênero. O que o holandês não sabia era que Sick já tinha pistas de que o animal vinha de algum lugar no baixo rio São Francisco graças a relatos de outros ornitólogos.

Depois de três expedições nos anos 1970, em 29 de dezembro de 1978, o veterano cientista e os iniciantes Dante Martins Teixeira e Luiz Pedreira Gonzaga, seus alunos no Museu Nacional, chegaram a Euclides da Cunha, para onde as evidências apontavam ser a morada mais provável da espécie. "A gente procurava gaiola pendurada na porta das casas, sinal de que ali tinha gente interessada em ave", diz Gonzaga, hoje professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, assim como Teixeira.

O dono de uma farmácia, colecionador de passarinhos, levou os pesquisadores para conhecer um fazendeiro que poderia ter informações. Enquanto falavam com ele, um homem que ouvia a conversa se manifestou. "Eu matei uma dessas uns dois meses atrás", teria dito Elizeu Pereira Alves, o Maninho. Minutos depois, ele voltava com as penas que tinha guardado. À noite, Sick, então com 68 anos e sofrendo com duas hérnias que fizeram seu médico proibi-lo de fazer aquela viagem, havia montado a cauda completa do animal. Ele estava perto.

Maninho levou a equipe até o então distrito de Cocorobó. "Ao final da tarde de 31 de dezembro, vimos à distância três araras azuis que se dirigiam ao dormitório", escreveram os pesquisadores anos depois. Gonzaga conta, porém, que naquele momento Sick ainda não tinha se dado por satisfeito. Só no primeiro dia de 1979 é que eles avistaram com clareza as araras. Ainda olhando pela luneta, o alemão levantou um polegar para Gonzaga e Teixeira. Era, com certeza, a arara-azul-de-lear. Depois de quase 30 anos de busca, essa era a maior manifestação de felicidade que a dor das duas hérnias permitia ao cientista.

PROTEÇÃO Na volta para o Rio de Janeiro, Sick tratou de contatar as autoridades ambientais federais e alertar para a necessidade de proteger a área. Em alguns meses, Maninho, que o guiou até as araras, seria nomeado guarda-parque da região. O trabalho se revelaria intenso: àquela época, estimava-se haver por volta de 40 araras na Toca Velha e o tráfico de aves corria solto. "Meu pai não podia ver gaiola com passarinho que ele pegava para soltar. Com ele, não tinha conversa", lembra Dorivaldo Macedo Alves, 49 anos, o filho mais velho de Maninho, falecido em 1998. Dorico, como é mais conhecido, e seu irmão caçula são dois dos três guarda-parque atuais da Estação Biológica de Canudos.

Dorico me apresenta Aderbal Nascimento de Farias, que acompanhou seu pai na busca derradeira de Sick pela arara-azul-de-lear. "Naquela época, a gente chamava o bicho apenas de arara. Não sabia que era azul", conta Farias. "Como elas não deixavam chegar perto, de longe, pareciam ter a cor verde." O sertanejo se lembra bem da parte da viagem em que a equipe passou pela Serra Branca. Diferentemente da Toca Velha, onde a vegetação é degradada por causa dos bodes e das cabras que circulam livremente, ali só entra gado quando algum vizinho derruba a cerca. Andando em alta velocidade em uma picape na estreita estrada arenosa - o único jeito de não ficarmos atolados -, não vejo o que há por trás da mata homogênea, que inclui facheiros, mandacarus e licuris. Essas espécies fornecem a maior parte da alimentação das araras.

CONSERVAÇÃOQuem garante a conservação da Serra Branca com mão de ferro é o fazendeiro Otávio Manoel Nolasco de Farias, que nos conduz aos dormitórios das araras. Aqui só entra quem ele permite. Embora o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) alegue que os paredões estejam dentro da Estação Ecológica Raso da Catarina, Nolasco afirma que a terra é dele e garante fazer sua parte. "Meus inimigos me chamam de coronel, mas a minha única causa é a conservação", costuma dizer. Ele me recebe em uma de suas fazendas, onde há pouco tempo plantou uma área com milho e licuri apenas para as araras. O apetite delas pelo cereal, porém, deixa outros agricultores furiosos. Um bando faminto pode acabar com uma plantação inteira. Um programa de compensação por lavouras perdidas, criado há alguns anos, não foi para frente, o que pode ser uma ameaça à espécie. Erica suspeita que a inclusão do cereal na dieta delas se deva à falta de licuri na região, derrubado para dar lugar a pastos e lavouras.

Uma vez por ano, Nolasco abre os portões de sua fazenda para o Cemave, órgão do ICMBio responsável pelo monitoramento dos animais, fazer a contagem das araras. Erica diz, no entanto, que o ideal seria que isso fosse feito quatro vezes mais: contar araras exige uma complexa mistura de matemática e zoologia, que precisa ser feita com frequência para obter estimativas mais precisas. Para saber o tamanho da população, considera-se que 25% dela é composta de adultos em idade reprodutiva. Não é fácil reconhecer os casais. Embora levem em média oito anos para atingir a maturidade sexual, as aves começam a voar em duplas bem mais cedo e chegam até mesmo a se comportar como se estivessem copulando. "Não se sabe por que elas agem assim", diz Erica. A solução é observar os ninhos. Para ser considerado ativo, é preciso que haja atividade nele por três dias, com pelo menos um dos membros do casal permanecendo no lugar. "É sinal de que eles estão protegendo filhotes ou ovos." Depois desse tempo, enfim sabe-se quem são os adultos reprodutivos e, como consequência, o tamanho da população.

Um próximo estágio da pesquisa é descobrir em que momento da história a variabilidade genética da população caiu. "Vamos tentar entender se esse momento coincide com algum evento, como uma grande seca ou mesmo a Guerra de Canudos", exemplifica Erica. Além disso, a bióloga vai poder saber o quanto a população é viável no longo prazo. "Como é um grupo pequeno e localizado, provavelmente está se reproduzindo entre si, o que é prejudicial à sobrevivência da espécie", diz. Por isso, conservar o hábitat e permitir que as aves se espalhem é fundamental. Erica pretende marcar de dez a 20 indivíduos da Toca Velha com transmissores que emitem sinais via satélite. Assim, poderá saber com precisão onde eles se alimentam, um dado fundamental para definir áreas prioritárias para a conservação.

Seria emocionante voltar em alguns anos e ver mais araras colorindo a Caatinga de azul. No entanto, é hora de partir. Em meu último dia na Toca Velha, não vejo as aves no céu. Apenas empacoto roupas e equipamentos e me despeço da equipe de pesquisa. Pela primeira vez durante toda a viagem, não acordo de madrugada para ir até os dormitórios das araras, a pé ou a bordo da velha picape Bandeirante conduzida por Dorico, parecida com a que Sick rodou pelos sertões nordestinos até chegar a Canudos. A história está viva. Que assim permaneça
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Mitos e verdades sobre o Lago Paranoá

Mitos e verdades sobre o Lago Paranoá

Saiba um pouco mais sobre a realidade, as lendas e os mistérios do grande reservatório

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Lilian Tahan
Veja Brasília - 

SXC.hu

Como abriga duas estações de tratamento de esgoto, o lago é poluído e impróprio para banho 
Mito. Mais de 90% de suas águas são consideradas limpas. O nível de poluição só é inadequado no braço do Riacho Fundo, próximo à Estação de Tratamento de Esgoto Sul.

Ainda que tenha trechos de pouca visibilidade, ele é considerado bom para a prática de mergulhoVerdade. A água doce, limpa e de temperatura amena atrai os mergulhadores. As ruínas da Vila Amaury e a profundidade nas cercanias da barragem são outros pontos a favor do mergulho. A cor da água é considerada pelos profissionais um desafio a mais para os praticantes da atividade.

Sucuris já foram encontradas por aliVerdade. Embora raramente observada no lago, essa grande cobra pode habitar locais como a desembocadura de riachos, em trechos pantanosos. O último registro foi em 1985, quando um exemplar da espécie, de 5,15 metros, foi capturado com 65 filhotes prontos para nascer.

Um ônibus foi afundado de propósito em suas águasVerdade. Em busca de aventura e para criarem um ponto de referência, mergulhadores organizaram o içamento de um ônibus velho e o colocaram a uma profundidade de 19 metros, próximo à barragem.

Desde sempre foi chamado de ParanoáMito. Antes da denominação atual, o reservatório levou o nome de Israel Pinheiro, o primeiro administrador de Brasília.

Fornece energia à cidadeVerdade. Representa menos de 1% da energia consumida, mas essa fonte se tornou estratégica porque é usada em momentos de pico e de apagão.

Há jacarés em vários pontosVerdade. O biólogo Victor Batista fez sua tese de mestrado sobre a distribuição e a concentração de jacarés no Paranoá. Em suas saídas a campo, sempre noturnas, ele avistou 92 répteis da espécie jacaretinga - todos nos braços do lago, onde o ambiente é mais pantanoso. Segundo ele, esses jacarés não são agressivos, a não ser quando se sentem ameaçados
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domingo, 26 de janeiro de 2014

WBB: estudo avalia bem-estar na cidade de São Paulo

WBB: estudo avalia bem-estar na cidade de São Paulo

Pesquisa inédita, que vai compor o Índice de Bem-Estar Brasil (WBB), revela o grau de satisfação do cidadão paulistano com relação a dez diferentes aspectos da vida na cidade. Entre eles, meio ambiente: o desagrado da população com a qualidade do ar, ruídos na cidade e limpeza das ruas são pontos críticos da avaliação

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Marina Maciel Planeta Sustentável - 
DavidCampbell_/Creative Commons

Quais são as necessidades e anseios do brasileiro? Esta pergunta motivou a criação do primeiro índice de bem-estar brasileiro, o WBB* (do inglês Well Being Brazil) -também conhecido como Índice de Bem-Estar Brasil - desenvolvido pelo Instituto de Finanças da FGV-EAESPe a rede social MyFunCity*, premiada pela ONU.

Hoje, 14/01, foram revelados os principais resultados doprimeiro relatório relativo à cidade de São Paulo, que teve como objetivo identificar o grau de satisfação e relevância que as pessoas atribuem para dez diferentes aspectos da vida na metrópole. "Vivemos um novo momento, com o cidadão como novo protagonista", disse Mauro Motoryn, idealizador do MyFunCity.

Enquanto a maior satisfação do paulistano vem da família, os maiores descontentamentos vêm do poder público, da saúde e do transporte, revelou a pesquisa. Abaixo, veja os principais resultados para cada indicador do WBB:
Meio ambientequalidade do ar, nível de barulho na cidade e a limpeza das ruassão os aspectos que mais interferem de forma negativa na vida do paulistano e também são os mais carentes de atenção;
Transporte e Mobilidade: a qualidade do transporte público e o tempo gasto no trânsito foram considerados os fatores mais críticos. "Os engarrafamentos pioram a saúde da população e, ainda, limitam o tempo com a família", disse Wesley Mendes Da Silva, professor e pesquisador da FGV-EAESP;
Família: apesar de ter pouco tempo para ela, a família é a que mais contribui para o bem-estar do paulistano, revela a pesquisa;
Redes de Relacionamento: a pior avaliação coube às opções de lazer na cidade, o que mostra que a baixa qualidade de lazer compromete o convívio social em São Paulo. Paulistanos indicam como preferência opções que incentivem a atividade física;
Vida Profissional e Financeira: o estudo revela que o cidadão está satisfeito com o trabalho, mas não consegue guardar dinheiro para a aposentadoria;
Educação: os paulistanos estão mais satisfeitos com universidades particulares do que com as públicas. Além disso, a qualidade das escolas públicas é o indicador com pior desempenho;
Poder Público: foi a variável da pesquisa que apresentou pior desempenho em termos de satisfação com aspectos de elevada importância para o bem-estar das pessoas. Destaca-se o descontentamento do cidadão com o trabalho de vereadores, deputados, senadores e com o funcionamento da justiça;
Saúde: paulistanos apontam insatisfação com a rede pública de saúde e à prática de atividades físicas. Enquanto homens atribuem maior importância à vida sexual para uma vida feliz, as mulheres estão menos satisfeitas sexualmente;
Segurança: o alto nível de violência na cidade e o trabalho da polícia receberam péssima avaliação, enquanto o trabalho do Corpo de Bombeiros é admirado;
Consumo: ao mesmo tempo em que alcançaram os maiores níveis de importância para o bem-estar, os indicadores de Planos de Saúde, Relação com Financeiras e Provedores de Serviços de TV apresentaram o pior desempenho em termos de satisfação dos paulistanos.

Elaborado com base nas respostas de 786 paulistanos a questionário aplicado em novembro de 2013, o relatório também tem como objetivo incentivar novos negócios e políticas públicas que promovam o bem-estar da população.

A intenção é que, no futuro, o estudo seja expandido para outras cidades brasileiras. "Com a pesquisa, criou-se um banco de dados importante para estudos acadêmicos", ressaltou Fábio Gallo Garcia, professor da FGV-EAESP
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FUTURO DOS RESÍDUOS :"Deus recicla, o diabo incinera"

FUTURO DOS RESÍDUOS

"Deus recicla, o diabo incinera"

Hoje, o processo de incineração de resíduos sólidos, com aproveitamento energético ou geração de vapor, começa a ser visto como uma alternativa viável na busca por tecnologias corretas para a disposição final do lixo

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Francisco Eduardo Pereira* National Geographic Brasil 
Wikimedia Commons

Por que ainda há tanta dificuldade para colocar em prática a primeira usina de incineração de resíduos sólidos urbanos no Brasil? É simples. No momento, há um conjunto de variáveis ambientais, científicas, tecnológicas, políticas e econômicas que inviabiliza a empreitada.

Da perspectiva ambiental, o histórico da incineração no Brasil relaciona experiências traumáticas. Talvez uma das piores tenha sido a contaminação causada pelo incinerador da Rhodia, em Cubatão (SP), entre as décadas de 1980 e 1990. Na época, a empresa instalou um equipamento para eliminar os resíduos industriais nocivos, mas a fumaça liberada também era perigosa à saúde. Isso porque foram colocados equipamentos obsoletos, sem tratamento eficiente das emissões de gases de dioxinas e furanos – substâncias químicas supertóxicas e prejudiciais à saúde e ao ambiente –, que influenciaram de forma negativa na formação de uma avaliação sobre o tema. A própria Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb) resistiu por mais de 20 anos à liberação de licenças para implantação das chamadas Usinas de Recuperação Energética (UREs), abastecidas com resíduos sólidos.

Hoje, esse processo, com aproveitamento energético ou geração de vapor, começa a ser visto como uma alternativa viável na busca por tecnologias corretas para a disposição final do lixo. As UREs já existem na Europa e no Japão, onde há mecanismos rigorosos de controle e redução da poluição do ar decorrente da produção dessas usinas. No Brasil, o avanço científico e o foco no aperfeiçoamento tecnológico para tratamento e limpeza dos gases no processo de queima têm feito as restrições ambientais diminuírem bastante.

A mudança significativa no tratamento de gases se deu com a melhoria na queima e na capacidade de limpeza dos filtros. Além disso, houve razoável conhecimento sobre o comportamento desses gases, que, inclusive, influiu na própria elaboração da legislação. Isso porque o que move as agências de proteção ambiental é a segurança de que essas fontes poluidoras sejam controladas com rigor para minimizar possíveis impactos à saúde. Com esses cuidados, por fim, em dezembro de 2012, a Cetesb emitiu a primeira liberação de licença provisória de funcionamento de uma URE, em Barueri (SP) – primeira desse tipo na América Latina. Quando funcionar, terá capacidade para processar até 850 toneladas de lixo por dia, gerando 17 megawatts (MW) de energia, suficiente para abastecer 500 mil habitantes. O problema agora é obter financiamento para viabilizá-la. Alguns empresários buscaram tecnologias no mercado, compraram patentes e iniciaram testes. Só não finalizaram suas intenções devido ao valor final da empreitada.

No caso da URE de Barueri, nas primeiras tratativas com fornecedores de equipamentos, o valor parecia razoável; porém, a avaliação dos riscos do empreendimento – que incluem operação e manutenção – faz com que o investimento chegue a R$ 400 milhões para uma planta que consome até mil toneladas diárias de resíduos sólidos, o que torna o negócio proibitivo. Com a nacionalização dos equipamentos, porém, o custo pode cair para algo entre R$ 260 milhões e R$ 280 milhões.

Há dificuldades também sob a ótica econômica. Lixo e energia são mercados fechados e complexos. Antes, é preciso estruturar um modelo de negócio bom para ambos, que considere o lixo como combustível e a energia como produto. Os detentores de contratos de resíduos sólidos urbanos com os municípios são, em geral, proprietários deaterros e querem continuar com seu negócio. Por outro lado, segundo a lei, só empresas credenciadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) podem vender energia no mercado de leilões. Portanto, conciliar os interesses e viabilizar o negócio é um grande desafio comercial. Os diálogos entre as partes seguem adiantados, e é provável que, no início de 2014, esse obstáculo seja eliminado e o negócio esteja configurado.

Mas qual será seu modelo? As receitas obtidas com o serviço de gestão de resíduos sólidos urbanos no Brasil – hoje, de cerca de R$ 70 por tonelada diária – e as vendas de energia elétrica devem tornar o investimento de uma URE viável. Com os preços mais atrativos, a discussão com o poder público sobre isenções fiscais, leilões específicos da energia gerada pela cogeração de queima de lixo com preço que a viabilize (estimado em R$ 200/MW, contra um valor de mercado de R$ 150/MW) fica mais fácil. O preço da energia é taxado pelo mercado, em especial pelos leilões promovidos pela Aneel. A geração de energia para uma usina de mil toneladas/dia de lixo, por exemplo, varia entre 13 MW e 20 MW. Considerando a média de 15 MW e o valor do MW a R$ 200, a URE, com certeza, atrairá empresários do setor de energia.

Mas ainda há outras questões: a necessidade de contratos longos de, no mínimo, 15 anos, e um volume mínimo disponível de 800 toneladas diárias de lixo. A prática atual é de contratos de 60 meses, o que impossibilita a venda de energia, que precisa ter garantias de fornecimento dos resíduos sólidos no tempo do contrato (15 anos) e no volume necessário. Assim, só cidades com 1 milhão ou mais de habitantes poderiam ter as UREs, o que demanda um consórcio de municípios que a prática já demonstrou ser inviável.

Esse conturbado cenário foi, certa vez, muito bem ilustrado em uma conversa sobre o assunto com um promotor de meio ambiente da região de Campinas. Em uma reflexão sobre o futuro dessa prática no país, ele não acredita na viabilidade das UREs. Para ele, enquanto houver áreas disponíveis para aterros sanitários ou controlados, será difícil alguém ter coragem para colocar em prática a primeira usina de cogeração de energia proveniente do lixo, ambientalmente correta e com elevado padrão de qualidade. Além disso, argumenta, a política atual incentiva a reciclagem, não a queima do lixo.

Como os especialistas costumam dizer: “Aqui, Deus recicla e o diabo incinera”. 
*Francisco Eduardo Pereira é filósofo pela Universidade de São Paulo, professor das Faculdades Cantareira, onde foi responsável pela elaboração do projeto de agronegócios e meio ambiente, e especialista em soluções para problemas de resíduos sólidos urbanos. É conselheiro do Planeta Sustentável.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Procedimentos para exportação do resíduo denominado carepa para a China em 2014.

Procedimentos para exportação do resíduo denominado carepa para a China em 2014.PDFImprimirE-mail
Brasília (14/01/2014) - A escória da fabricação de ferro e aço, conhecida como “carepa” (mill scale, em inglês), é listada como um dos resíduos de importação permitida como matéria-prima na China, conforme consta no “Catalogue of Restricted Import Solid Wastes that Can Be Used as Raw Materials in China”. A exportação deste resíduo para aquele país em 2014 está condicionada ao cumprimento das orientações a seguir:
1. A indústria chinesa usuária final do resíduo deve possuir uma licença de importação da carepa expedida pelo órgão ambiental chinês;
2. A carga de resíduos deve observar as normas ambientais chinesas (Environmental Protection Control Standard).
A licença de importação citada no item 1 tem validade anual e se refere ao código de mercadorias específico da 'carepa' (2619.00.00 - Escória e outros desperdícios da fabricação do ferro e do aço). Exigências de qualidade para a carepa são estipuladas conforme porcentagens a seguir: Fe >68%, total CaO e SiO2 <3 ao="" as="" cargas="" de="" devolvidas="" estas="" n="" normas="" o="" origem.="" p="" pa="" que="" respeitarem="" s="" ser="">
A carepa, nome comum para a camada de óxidos que ocorre na superfície do aço inoxidável ferrítico durante o processo de fabricação a quente, não é considerada perante a Convenção de Basileia como sendo um resíduo perigoso, mas tem sua importação restrita na China. Desta forma, o exportador brasileiro deve tomar todas as medidas para que a carga atenda os padrões de qualidade chinesa, pois o país proíbe a importação de resíduos perigosos e de resíduos que não possam ser reciclados.
Por se tratar de um resíduo cujo comércio exterior é controlado pelo Ibama, é obrigatório que a empresa esteja em situação regularizada perante o Cadastro Técnico Federal, e que informe anualmente o consolidado das quantidades exportadas no Relatório Anual de Atividades. Observadas estas exigências, informamos que para o ano de 2014 não será necessário cumprir com os procedimentos de notificação prévia da Convenção de Basileia.
Para mais informações sobre a exportação de resíduos para a China, consulte o perfil do país no seguinte link: . Em caso de dúvidas, entrar em contato com o Ibama pelo e-mail residuos.sede@ibama.gov.br

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Estudo destaca os benefícios climáticos das árvores velhas e grandes

Estudo destaca os benefícios climáticos das árvores velhas e grandes

Vanessa Barbosa - Exame.com - 

cifor/Creative Commons



Uma nova pesquisa publicada na revista Nature manda para escanteio uma suposição comum no meio científico de que as árvores se tornam improdutivas à medida que envelhecem. Pelo contrário. Quando o assunto é clima, quanto mais velho e maior o exemplar, melhor para o planeta.

Ao contrário dos humanos, as árvores não abrandam sua taxa de crescimento com o passar do tempo, diz o estudo. Em vez disso, seu crescimento continua acelerando, mesmo em idade avançada. Este aumento contínuo, de acordo com a pesquisa, também significa que árvores de grande porte e mais velhas são expert na absorção de dióxico de carbono (CO2) da atmosfera.

Por tabela, ao absorver ou "sequestrar" o gás efeito estufa, a árvore anciã reduz a concentração de CO2 na atmosfera. Esse processo ajuda a contrabalançar asemissões provocadas pelas atividades humanas, responsáveis pelo aquecimento do planeta.

"Em termos humanos, é como se o nosso crescimento continuasse acelerando após a adolescência, em vez de diminuir a velocidade", exemplifica o principal autor do estudo Nate Stephenson. "Por essa medida, os seres humanos poderiam pesar meia tonelada na meia-idade, e mais de uma tonelada na aposentadoria", acrescenta.

METODOLOGIA
A equipe internacional de pesquisadores compilou medidas de crescimento de 673.046 árvores pertencentes a 403 espécies de regiões tropicais, subtropicais e temperadas, em seis continentes.

Os resultados mostraram que, para a maioria das espécies de árvores, houve aumento da taxa de crescimento de forma proporcional ao tamanho da árvore - em alguns casos, grandes árvores parecem estar adicionando a massa equivalente de carbono de toda uma árvore menor a cada ano.

No entanto, os pesquisadores têm o cuidado de observar que a taxa de absorção rápida de árvores individuais não se traduz, necessariamente, em um aumento líquido dearmazenamento de carbono para uma floresta inteira. "Árvores antigas, afinal, podem morrer e perder carbono para a atmosfera ao se decompor", pondera Adrian Das, um co-autor do estudo.

"Mas nossos resultados sugerem que, enquanto elas estão vivas, desempenham um papel desproporcionalmente importante dentro da dinâmica de carbono de uma floresta. É como se os jogadores estrelas no seu time favorito fossem um bando de jovens de 90 anos", completa

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