domingo, 5 de janeiro de 2014

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Invasão silenciosa no Lago Paranoá

Em cinquenta anos, as margens do Paranoá encolheram 15%. Mas há boas notícias também para o futuro do nosso lago: pelos planos oficiais, a partir de 2016 ele pode se converter em fonte de água potável

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Lilian Tahan Veja Brasília 

FOTOS: Beto Barata / BRASÍLIA SUBMERSA / DIVULGAÇÃO

Foi o botânico francês Auguste Glaziou quem primeiro vislumbrou, em 1894, o imenso potencial da profusão de nascentes, córregos e rios na região do Planalto Central onde, 66 anos depois, se ergueu Brasília. O naturalista europeu integrava a missão Cruls, grupo de especialistas encarregado de buscar uma área adequada para construir uma grande cidade. A descrição deixada pelo estudioso para a posteridade anteviu o cenário que apareceria muito tempo depois em pleno cerrado: "Além da utilidade de navegação, a abundância de peixe, que não é de somenos importância, e o cunho de aformoseamento que essas belas águas correntes haviam de dar à no­va capital despertariam certamente a admiração de todas as nações". Décadas depois, a previsão de Glaziou se tornou realidade com o surgimento, no fim dos anos 50, de um dos símbolos mais fortes da aguardada cidade: o Lago Paranoá.

A cor esmeralda das águas represadas dos rios admirados pelo botânico francês é coerente com as riquezas acumuladas no maior reservatório do Distrito Federal. Os 40 km² do lago artificial transformaram-se em fonte de lazer, umidade, energia e multiplicação de dezenas de espécies animais e vegetais. Muitas originárias da própria região. Outras trazidas de diversos pontos do Brasil ou do mundo.

Abastecido por 21 córregos de cinco bacias diferentes, o Paranoá em breve poderá se tornar fornecedor de um bem precioso para quem vive na capital. Pelos planos oficiais, a partir de 2016 o lago também vai se converter em fonte de água potável para 600 mil pessoas, contingente superior à população prevista para a cidade no projeto original.

A despeito do crescente aumento de sua importância, o reservatório que abraça Brasília encolheu nas últimas décadas. Essa relação inversamente proporcional é considerada um risco de efeitos devastadores em caso de negligência dos moradores e, principalmente, das autoridades do DF. Desde que os rios foram represados, em 28 de setembro de 1959 (há exatos 54 anos), uma área gigantesca ficou alagada e uma onda de prosperidade se formou no coração da capital. Ao mesmo tempo, iniciou-se uma ação contrária. Em um movimento contínuo, a pressão urbana força as margens e come o Paranoá pelas beiradas.

Exposto a um ininterrupto processo de assoreamento, o reservatório já perdeu 15% de seu tamanho inicial. Mais de dois km de seu espelho-d’água deixaram de existir. Projeções mais catastróficas feitas por especialistas advertem que, se nenhuma providência for tomada, em 300 anos esse oásis poderá virar uma miragem. O cenário desalentador ganha contornos mais dramáticos nas previsões do secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, Eduardo Brandão. "Esse tempo será mais curto, porque a cidade hoje cresce em ritmo muito mais frenético do que há vinte anos", acredita o ambientalista, também presidente do Partido Verde no DF. O lago, evidentemente, não vai secar, mas nenhum especialista ouvido por VEJA BRASÍLIA deixou de ressaltar os perigos do processo de desgaste do Paranoá.

Diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), o geólogo Diógenes Mortari confirma que o aumento da população e o incremento das construções provocaram impacto direto no seu uso. A ponto de a Adasa, em conjunto com outras empresas do governo, como a Companhia de Saneamento do DF (Caesb) e a Companhia Energética de Brasília (CEB), ter de controlar sistematicamente a cota de água. Uma régua de medição revela o grau de gravidade do nível do reservatório. No estágio amarelo, significa atenção. No vermelho, determina que a vazão de água deve ser proibida. "O crescimento urbano explodiu, mais pessoas passaram a se valer do lago e então começaram os conflitos", diz Mortari.

O diretor da Adasa não acredita no desaparecimento, mas admite que as pontas atingiram um nível preocupante de assoreamento, nome técnico do acúmulo de sedimentos no fundo. "Em termos de volume é algo pequeno, mas, se olharmos os braços do lago, veremos um excesso fora do comum."

Diante desse cenário, a Adasa também passou a fazer o controle da drenagem pluvial por meio de bacias de contenção e de caixas de decantação, capazes de filtrar as águas que correm para o Paranoá. Cuidados como esses se tornaram obrigatórios para os novos empreendimentos da cidade. O procedimento ajuda a reverter o assoreamento associado à urbanização, que impermeabiliza o solo e impede a penetração de água no lençol freático. Mas isso não é suficiente para estancar o problema. Em um programa chamado Caminho das Águas, técnicos do governo percorrem o trajeto inverso ao do curso dos ribeirões que abastecem o lago do DF. Cada uma dessas veias de água será replantada com mata ciliar, medida cujo objetivo é reter boa parte dos sedimentos antes que eles cheguem à barragem.

O projeto está sendo custeado por meio de compensação ambiental paga pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), responsável por boa parte das recentesintervenções urbanas na capital. Dragar, ou cavar a terra das bordas do lago, é mais uma medida na contramão do processo de encolhimento da represa do DF, mas sua eficiência é questionada pelas próprias autoridades. "Quando vieram falar em dragar o Paranoá, eu fui o primeiro a dizer que compraria uma máquina, pois isso me renderia lucros até a quarta geração. Não resolve", afirma o secretário Eduardo Brandão.

Manter a extensão do Paranoá e o volume de águas é um desafio tão grande quanto o que enfrentaram gestores e ambientalistas no fim da década de 70. Na ocasião, o Paranoá chegou a ter quase 100% de poluição. A represa passou a ser depósito de águas servidas, processadas em nível secundário, ou seja, sem a remoção completa dos poluentes.

Naquela época ainda não havia no Brasil estação de tratamento de esgoto terciário, aquela na qual fósforo e nitrogênio são removidos. Em 1978, o excesso desses compostos orgânicos, conhecido como eutrofização, ocasionou a mortandade de milhares de peixes. "Era um cheiro insuportável, e o Paranoá passou a ser associado à poluição e à sujeira, marcas que levaram anos para ser desfeitas", lembra Fernando Starling, Ph.D. em ecologia aquática aplicada pela Universidade de Stirling, na Escócia.

Funcionário da Caesb, Starling é um dos maiores conhecedores do Paranoá. Ele participou de várias frentes do programa de despoluição do lago. A reversão das condições impróprias foi um sucesso e virou referência no mundo.

O nível de pureza conquistado a partir do fim da década de 90 encorajou estudos sobre a captação de água do lago para consumo. Tal projeto partiu das evidências de que os cinco sistemas que abastecem o DF (Descoberto, Torto, Santa Maria, Cabeça de Veado e Pipiripau) estavam em seu limite máximo. "Era preciso trazer água de outras fontes", diz Antônio Luís Harada, técnico que assessora a diretoria de engenharia da Caesb.

Segundo Harada, Corumbá IV, ainda em obras, foi a solução encontrada para garantir água ao sul do DF, embora ainda faltasse atender a população que vive mais ao norte da capital. O Rio São Bartolomeu surgiu como uma possibilidade, mas o abastecimento via Paranoá se mostrou mais central e viável. A captação se dará próximo à Ermida Dom Bosco, onde haverá uma estação de tratamento junto ao Parque Bernardo Sayão, pouco acima da QI 27 do Lago Sul. Dois conjuntos de tubulação, com braços de adutoras, chegarão a Sobradinho, Paranoá, Taquari e região do Grande Colorado.

Estima-se que sejam atendidas 600 mil pessoas com o novo sistema, a uma vazão de 2 100 metros cúbicos por segundo. "Não é a captação que vai afetar o nível do lago", assegura Harada. Ele informa que a barragem, já em grande parte despoluída, será submetida a um sistema moderno de tratamento de água, que inclui a decantação, a flotação, a filtração e a desinfecção ultravioleta.

Os editais para o sistema de captação serão lançados ainda neste ano. As obras, orçadas em 418 milhões de reais, têm início previsto para 2014. Se o plano for posto em prática, o sistema ficará pronto até 2016. Então, finalmente, o conteúdo verde-esmeralda do Paranoá será encanado para servir a milhares de moradores do DF. Pelo que se conhece dos grandes projetos públicos, no entanto, até tudo ficar pronto muita água ainda vai rolar
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Menos lixo, mais comida

NA PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO

Menos lixo, mais comida

Submetidos a um processo rápido de compostagem, o lixo vira matéria orgânica, que serve para o cultivo de alface, tomate, berinjela, ervas e até morangos


Zizi Carderari Casa Claudia -

Manu Oristânio

Todos os dias, cerca de 300 kg de restos de comida descartados na praça de alimentação do Shopping Eldorado, em São Paulo, são salvos do lixo. Submetidos a um processo rápido de compostagem, eles viram matéria orgânica, que serve para o cultivo de alface, tomate, berinjela, ervas e até morangos.

Esse círculo virtuoso acontece na cobertura do centro de compras, na Zona Oeste da cidade. É lá que, desde fevereiro de 2012, fica a horta de três mil m².

"As sobras não teriam outro destino senão o lixo. Enzimas desenvolvidas especialmente para esse fim as transformam em composto 100% orgânico, num processo que não gera mau cheiro", explica a agrônoma Cristina Signori, da empresa de gestão de resíduos Projeto Compostagem.

Fissuras natalinas

Fissuras natalinas

  • Assim vamos nós, manada humana, rumo ao consumismo, cientes deque nos arrancarão o dinheiro e a alma
FREI BETTO

A vida é breve; brevíssima. Eis que o Natal, de novo, chega. Se outrora a vida nos parecia mais longa, não se deve a que as pessoas morriam mais

cheias de anos. Pelo contrário. Hoje, nossa idade média dilata-se graças aos avanços da medicina, do saneamento público, dos excessivos cuidados com o corpo, propalados e propagados. Tudo faz mal à saúde, do cigarro ao ar que se respira, do sedentarismo aos alimentos envenenados pelos pesticidas. Até que se descubra como viver sem comer e respirar, vamos sobrevivendo entre percalços e esperanças.
Antes, os dias tinham ritmo cadenciado. Cada coisa no seu lugar — a casa, a cidade, o país, o mundo. E no seu tempo: infância, estudo, juventude, casamento, trabalho, aposentadoria. Hoje, tudo se embaralha. O mundo invade nosso lar pela tela de TV, as crianças presenciam atos sexuais antes de saberem o que é sexo, a publicidade exacerba o apetite insaciável do desejo. São tantos os apelos, as seduções e as preocupações que o tempo se nos faz breve.
Outrora, se um parente adoecesse em outra região do país, a notícia chegava em doses homeopáticas, via correios. Agora o celular nos alcança no banheiro e na rua, no bar e na igreja. Não há tempo nem espaço. Estamos condenados à simultaneidade. Em um único momento somos exortados ao prazer e à dor, à alegria e à tristeza, ao afeto e à indiferença.
Quando menos esperamos, as festas natalinas se acercam. O que suscita, no fundo da alma, um certo pânico. Não pelo significado do Natal, perdido nos porões da memória e escondido nos desvãos do sentimento religioso. Falo daquela sensação que o gado experimenta remetido ao matadouro. Rumam todos num empurra-empurra, como se disputassem o privilégio de morrer primeiro. Já não são bois e vacas, mas rebanho condenado ao atavismo de trilhar o caminho do próprio suplício.
Assim vamos nós, manada humana, rumo ao consumismo, cientes de que nos arrancarão o dinheiro e a alma. Bombardeados pela publicidade, ornada com sinos, velas, neves de algodão e belas mamães noeis, somos impelidos a comprar o que não necessitamos e a gastar o que não podemos.
Como é tempo de férias, há que programar a viagem, a praia, o sítio, arrumar e desfazer malas, enfrentar a maratona dos supermercados (leve um livro para ler na fila do caixa) e suportar os engarrafamentos na cidade e na estrada. E os shoppings? Ah, os shoppings! São os templos da concupiscência — palavra grega que bem expressa esse sentimento ambíguo de atração e repulsão. Entra-se fissurado e sai-se aliviado.
Por que o imperativo de dar presentes no Natal? A central única dos consumidores deveria decretar uma greve geral ao consumo. Em plena época de Natal. Não se compraria mais do que em outros meses do ano. E, em vez de presentes, daríamos carinho, atenção, alegria, apoio, solidariedade. Os pais levariam os filhos aos hospitais para doarem, no valor dos presentes, algo indispensável aos doentes mais pobres. A família ofertaria uma cesta básica a outra carente. Seriam presenteados os sofredores de rua, os presos, os loucos, os que se tratam de dependências químicas, os portadores do vírus da Aids e os que vivem sem terra, sem teto e sem pão. Trocar-se-ia Papai Noel pelo Menino Jesus, o shopping pela igreja, a mercadoria pela compaixão. Aquecidos pela fé, celebraríamos assim uma verdadeira festa, aquela que, no dia seguinte, não deixa ressacas de farturas, faturas e fissuras, mas enche o coração de júbilo.Leia


  em http://oglobo.globo.com/opiniao/fissuras-natalinas-11144789#ixzz2oaNwfuyM 
 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Vivendo de pescaria

Vivendo de pescaria

Só com a tarrafa, o pernambucano sustentou dez filhos em Brasília


Lilian Tahan Veja Brasília -

sxc.hu

Joédson Alves
Na Vila Telebrasília, onde mora, poucos conhecem Abiesel Alves Cavalcanti pelo nome completo. Lá ele é Bisa, o pescador. Há 35 anos, o pernambucano veio atrás do progresso na capital. Acompanhado pelo irmão, trouxe algumas roupas e a tarrafa, sua ferramenta de trabalho. "Eu falei para o mano: se lá tem água, tem peixe. De fome a gente não morre", lembra Bisa. 
Mais do que garantir a própria sobrevivência, o Lago Paranoá alimentou toda a família dele, composta de mulher e dez filhos. No começo, quando a pesca com tarrafa era proibida, Bisa saía na madrugada em uma canoa e trabalhava escondido. Depois, quando a captura com malha foi autorizada, ele se destacou entre os colegas. Chegava a voltar com até 300 quilos de peixe na embarcação.

Hoje, o lago já não é tão abundante quanto há uma década e meia, mas ele ainda chega com o barco cheio. Entre tilápias, tucunarés, carpas e traíras, soma 250 quilos por semana e perto de 2 mil reais por mês. "Vendo para restaurantes e para clientes do Entorno", conta Bisa. Ele rema quase sete horas para chegar até a altura da Ermida Dom Bosco e, às vezes, dorme na mata e retorna para casa só na manhã seguinte. "É uma vida de muito trabalho, mas necessidade eu nunca passei", diz o pescador Bisa.

Nenhum de seus filhos seguiu sua profissão. Assim como Bisa, outras oitenta famílias vivem da pesca no Lago Paranoá.

LIÇÕES DE CIDADANIA:A cidade que temos. A cidade que queremos

A cidade que temos. A cidade que queremos

Professora de Geografia em uma escola de Rondônia, Telma Oliveira Medeiros incentivou os alunos a elaborarem propostas de melhoria para o município de Ariquemes, onde vivem. O trabalho escolar foi um sucesso e acabou sendo apresentado à comunidade no auditório do Ministério Público Municipal

Paula Peres/Bruna Nicolielo  Nova Escola -

Ilustração: Melissa Lagôa/Foto: Mateus Andrade-Imagem News

Refletir sobre o desenvolvimento sustentável na prática era o objetivo da professora Telma Oliveira Medeiros quando propôs ao 9º ano da EE Heitor Villa-Lobos, em Ariquemes, a 198 quilômetros de Porto Velho, que elaborasse propostas de melhoria para o município. Assim, ela trabalhou os conteúdos previstos para essa etapa, como turismo ecológico, cidades e hábitos de consumo mundializados, além dos objetivos de desenvolvimento do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU) com base na geografia local. Também discutiu dois conceitos indissociáveis – economia e meio ambiente. “Fala-se muito sobre a importância de desenvolver o planeta do ponto de vista econômico, mas ao mesmo tempo colocamos na cabeça das crianças que é preciso preservá-lo. Isso cria um nó. A solução é apresentar o conceito de sustentabilidade”, explica André Mascaro Peres, professor de Geografia do Colégio Ítaca, em São Paulo.

A professora iniciou o projeto apresentando vídeos da coleção Patrimônios da Humanidade, da Unesco, que retratam iniciativas sustentáveis realizadas por algumas cidades europeias. Assim, ela pretendia mostrar possibilidades reais de mudança, fazendo com que os alunos percebessem que se trata de algo que depende de pequenas e grandes ações. Após a apresentação, eles discutiram sobre o que tinham observado. “A ideia era sair dos exemplos europeus que vimos nos vídeos e começar a pensar no nosso entorno”, diz Telma.

A princípio, os jovens não acreditavam na possibilidade de adaptar os modelos a Ariquemes. “Ela nunca vai ficar assim!” ou “Ninguém gostaria de conhecê-la”, lamentavam.

Em seguida, Telma levou os estudantes ao laboratório de informática, onde tiveram acesso a textos sobre desenvolvimento sustentável, turismo ecológico e os objetivos de desenvolvimento do milênio da ONU. Também leram trechos do livro didático. Com base nas pesquisas, todos fizeram anotações e produziram textos individuais sobre o que tinham entendido a respeito do conceito de sustentabilidade.

Na próxima etapa, a classe fez uma mesa-redonda para socializar suas descobertas. À medida que todos apresentavam as informações e discutiam, Telma estimulava paralelos entre o que tinha sido visto e a cidade, levando-os a refletir sobre os problemas locais. Ela perguntou, por exemplo, qual era a relação dos temas presentes nos textos, como coleta de lixo, tratamento da água, reciclagem e saúde, com a cidade.

A turma concordou que os assuntos tratados tinham tudo a ver com Ariquemes. Também ficou encantada com as possibilidades do turismo ecológico. “Quando os estudantes leram um artigo a respeito, começaram a pensar em alternativas. Algumas difíceis, mas possíveis”, explica a docente.

Nesse momento, é importante problematizar a viabilidade das ideias. “É possível fazer isso?”, “Como?” e “Que recursos financiariam nossas propostas?”. Essas perguntas levam a garotada a refletir sobre suas sugestões, considerando que as soluções nem sempre são simples ou dependem apenas da boa vontade das pessoas, mas também exigem a participação de outros agentes, como o governo.

A aula seguinte foi feita em parceria com a coordenadora de mídias da escola, Maria Cecília Correa de Andrade, que ministrou uma oficina sobre diagramação e publicação da revista digital em uma plataforma online.

ESTUDAR A REALIDADE LOCAL
Uma palestra com o promotor de Justiça foi organizada. Ele falou sobre a preservação da mata ciliar no município. A questão é muito debatida na região devido às novas leis de preservação. A vegetação nativa é a Floresta Amazônica e a economia, historicamente exploradora, se desenvolveu no ciclo da borracha e atualmente vive da extração de minérios e de madeira.

A agropecuária também é bastante presente na região, o que levou a mais desmatamento. “Estamos passando por um processo de aceitação dessa lei. Muita gente não admite preservar a vegetação, pois ainda tem aquela concepção tradicional de que área produtiva é floresta derrubada”, explica Telma.

Durante a palestra, os alunos entraram em contato com a legislação ambiental. “Assim, eles perceberam que havia muitas outras pessoas igualmente preocupadas em preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, com o desenvolvimento”, diz a professora.

Por fim, os jovens, divididos em grupos, passaram à formulação de suas propostas. O contraturno foi usado para reuniões e pesquisas em livros e na internet (o Planeta Sustentável é uma boa indicação).

Eles abordaram um leque variado de temas, como a construção de um aquário com peixes da região, a conscientização dos moradores para o uso adequado e o reaproveitamento da água, a implementação de cisternas para captação da chuva, a criação de áreas verdes e de lazer em terrenos abandonados e a preservação da mata nativa.

O grupo de Gabriela de Kassia Fogaça Rosário, 15 anos, escolheu repensar a coleta de lixo, sugerindo que a população fizesse a separação dos materiais em casa. Em Ariquemes, isso ainda não é uma prática disseminada. “A gente sempre ouve falar que tem de reutilizar o lixo, mas isso ainda não é feito.”

Na sala de informática, os grupos organizaram as propostas em slides, com a ajuda da professora e da coordenadora de mídias. Depois, realizaram uma apresentação, na qual a professora fez a primeira avaliação dos trabalhos. Todos receberam retorno do que deveria ser melhorado para a exibição final.

Nesse momento, vale problematizar formas de viabilizar cada proposta novamente. “Construir cisternas é fácil?”, “Como isso seria feito?”, “De que adianta separarmos o lixo em casa se a cidade não possui um programa de coleta seletiva?” e “Como faríamos para transformar os terrenos baldios em áreas de lazer?”, “O município compraria esses espaços?” e “Teria dinheiro para tanto?” são questões que contribuem para o debate.

Depois das correções, foi a vez de reunir os projetos e publicá-los na plataforma virtual. O material foi enviado ao promotor de Justiça, que sugeriu a apresentação dele no auditório do Ministério Público Municipal, com a participação de pais, professores, colegas e comunidade em geral. “Foi ótimo fazer isso. As autoridades puderam nos ouvir e conhecer nossas propostas”, comemora a estudante Gabriela
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As principais catástrofes naturais no mundo em 2013

 As principais catástrofes naturais no mundo em 2013

Veja os furacões, ondas de frio, calor e chuvas que devastaram cidades durante o ano

China Daily/Reuters
Mulher caminha sobre destroços após terremoto em Gansu, na China
Mulher caminha sobre destroços após terremoto em Gansu, na China: terremoto de 6,6 graus Richter em Gansu, na China, deixa 95 mortos, 1.001 feridos, 226.700 evacuados e derruba 51.800 casas
Terremotos
- 6 fevereiro.- Tsunami seguido por terremoto de 8 graus na escala Ritcher atinge as Ilhas Salomão, deixando 11 mortos e três aldeias arrasadas.
- 9 abril.- Um terremoto de 6,1 graus na escala Richter em Buhehr, no Irã, deixa 37 mortos, 950 feridos e 800 casas destruídas.
- 16 de abril.- Um terremoto de 7,5 graus de magnitude, com epicentro no Irã, deixa 32 mortos e 150 feridos em Baluchistão, no Paquistão, com o desabamento de cerca de 200 casas na aldeia de Zawat, e no Irã, um morto e 27 feridos em Saravan.
- 20 abril.- Um terremoto de 7 graus na escala Richter em Sichuan, na China, deixa 192 mortos, 25 desaparecidos, 12 mil feridos, 220 mil evacuados e 13 mil casas destruídas.
- 2 julho.- Terremoto de 6,1 graus na escala Ritcher na ilha de Sumatra, na Indonésia, deixa 35 mortos, 8 desaparecidos, 275 feridos e 4.292 casas destruídas.
- 22 julho.- Um terremoto de 6,6 graus Richter em Gansu, na China, deixa 95 mortos, 1.001 feridos, 226.700 evacuados e derruba 51.800 casas.
- 24 setembro.- Um terremoto de 7,7 graus de magnitude no Baluchistão, no Paquistão, deixa 375 mortos, 755 feridos, 150 mil afetados e 40 mil casas derruídas. Após o terremoto, emergiu a ilha de Zalzala Koh. Outro terremoto de 6,8 graus deixou 12 mortos no dia 28 mortos.
- 15 outubro.- Terremoto de 7,2 graus na escala Richter na ilha de Bohol, nas Filipinas, deixa 156 mortos, 22 desaparecidos e 3,3 milhões de afetados.
Ondas de frio
- 2-7 janeiro.- Uma onda de frio castiga a Índia e deixa 126 mortos, em sua maioria indigentes.
- 6 janeiro.- Temperaturas de até 40 graus abaixo de zero na China deixam dois mortos e 770 mil afetados.
- 23 janeiro.- Onda de frio de até 30 graus abaixo de zero atinge nordeste dos Estados Unidos e deixa três mortos.
- 5 março.- Uma onda de frio castiga a Rússia com temperaturas inferiores a 20 graus abaixo de zero, deixando quatro mortos.
- 18-25 julho.- Seis mortos após onda de frio que castiga Argentina, Brasil e Paraguai.
Ondas de Calor
- Junho.- São descobertos 27 corpos de imigrantes ilegais no deserto do Arizona, nos Estados Unidos, onde as temperaturas superam os 45 graus. No Arizona, Califórnia e Nevada houve centenas de pessoas hospitalizadas, somente 200 em Las Vegas.
Erupções vulcânicas
- 7 maio.- Cinco mortos após uma explosão que sacudiu as aldeias próximas ao vulcão Mayon, nas Filipinas.
- 12 agosto.- Uma nuvem de fumaça de 2 mil metros e a erupção do vulcão Rokatenda deixam seis mortos e 500 evacuados na ilha de Palue, na Indonésia.
Inundações
- 17-18 janeiro.- Graves inundações em Jacarta, na Indonésia, deixam 26 mortos e 33 mil desabrigados.
- 12-30 janeiro.- 48 pessoas morrem em Moçambique, 150 mil são evacuadas e 240 mil afetadas pelas inundações.
- 24-25 março.- As intensas precipitações em Petrópolis, no Brasil, deixam 33 mortos e dezenas de feridos.
- 2-4 abril.- Temporal que castigou cidades de Buenos Aires e La Plata deixam 54 mortos na Argentina.
- Março-6 maio.- 91 pessoas morrem, 98.500 são evacuadas, 700 casas são destruídas e 5.500 hectares de plantações danificados pelos alagamentos no Quênia.
- 1-20 junho.- 27 mortos, milhares de casas e hectares inundados, perdas milionárias e milhares de evacuados no norte e centro da Europa após os rios alcançarem níveis históricos, provocados pelas fortes chuvas e as águas do degelo.
- 17-26 junho.- As chuvas de monção deixam na Índia 882 mortos e 2 mil desaparecidos.
Furacões, ciclones, tufões e tornados 
- 14-17 maio.- 50 mortos, 50 desaparecidos e um milhão de evacuados após a passagem do ciclone "Mahasen" por Mianmar e Bangladesh.
- 20 maio.- Um tornado, de categoria EF5, arrasa Oklahoma City e deixa 24 mortos e 237 feridos.
- 13-16 julho.- O tufão Soulik deixa em Taiwan três mortos, um desaparecido e 123 feridos, e na China, 108 mortos, 183 desaparecidos e um milhão de afetados.
- 14-18 setembro.- A confluência do furacão "Ingrid", no Atlântico, e do furacão "Manuel", no Pacífico, deixam no México 157 mortos, dezenas de desaparecidos e 1,7 milhão de afetados.
- 7-11 novembro.- O supertufão "Haiyan", de categoria 5, deixa nas Filipinas 5.500 mortos, 26.136 feridos, 1.757 desaparecidos e 9,9 milhões de afetados. No Vietnã, o mesmo tufão deixou 13 mortos e 600 mil evacuados, além de oito mortos em Taiwan e 12 mortos e 12 desaparecidos na China.
- 9-10 novembro.- 300 mortos e centenas de desaparecidos e aldeias inteiras destruídas após a passagem de um ciclone tropical por Puntlândia, na Somália. 

Ricardo Abramovay e a riqueza do lixo


Ricardo Abramovay e a riqueza do lixo

Em 2014, a Política Nacional de Resíduos Sólidos entrará em vigência e, com ela, uma nova era para o destino do lixo e a forma como o descartamos. O sociólogo Ricardo Abramovay, que lançou publicação sobre o tema este ano, comenta como isso deve acontecer, destacando a urgência de frear o consumo de recursos naturais e estimular a reciclagem

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Afonso Capelas Jr. e Matthew Shirts Especial Lixo National Geographic -

Alexandre Severo

Responsabilidade compartilhada, poluidor-pagador, logística reversa. Daqui em diante vamos conviver com esses e outros termos até agora estranhos. Eles passam a fazer parte do cotidiano dos brasileiros e revelam uma nova era na destinação do lixo, com o início da vigência, a partir de meados de 2014, da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ela prevê o fim dos malcheirosos lixões a céu aberto e a certeza de que a sociedade terá papel decisivo na destinação adequada do lixo. Inclusive o cidadão comum.


Quem revela o significado dessas expressões e como será a vida quando vigorar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é Ricardo Abramovay, professor de economia da Universidade de São Paulo especializado em desenvolvimento sustentável.

Sobre o tema, ele e colegas lançaram o estudo Lixo Zero – Gestão de Resíduos Sólidos para uma Sociedade Mais Próspera, disponível em formato digital pelo Planeta Sustentável (que lançou Muito Além da Economia Verde, de sua autoria, em 2012), do qual é conselheiro. O economista alerta que se deve frear a exploração dos recursos naturais e estimular a reciclagem: “Lixo é riqueza, não pode ser desperdiçado”.

Qual é o ponto crucial da Política Nacional de Resíduos Sólidos?É a chamada responsabilidade compartilhada. Ela sinaliza que estamos todos incumbidos de dar destinação correta ao lixo produzido: as prefeituras, os governos estaduais e federal, as empresas e o próprio consumidor. É importante delimitar em que consiste o compromisso de cada um; sobretudo, saber quem paga a conta. Para o consumidor, a responsabilidade compartilhada exige que ele separe seu lixo, preparando-o para a reciclagem, sob pena de multa. A lei prevê também o conceito da responsabilidade estendida. Com ela, o produtor ou o importador (denominadospoluidores-pagadores) terão de responder pelo envio apropriado dos rejeitos do que venderem ao consumidor final, incluindo a estruturação da logística reversa – o recolhimento e a devida reciclagem desses produtos pós-consumo –, para que tenham destinação mais adequada que não os aterros.

Mesmo os aterros controlados não são apropriados?Não. Temos três tipos de aterro: os lixões a céu aberto, os aterros controlados e os sanitários. Todos são inadequados porque o resíduo sólido é uma riqueza que pode e deve, em sua esmagadora maioria, ser reaproveitada pela sociedade.

Será preciso fazer campanhas para conscientizar o consumidor?Sim. A experiência internacional mostra que o consumidor só faz a parte dele quando recebe boa educação ambiental. Na Europa, as empresas gastam muito dinheiro com publicidade pedagógica, e aqui será preciso fazer o mesmo. Também é necessário ter um sistema de coleta coerente com essa nova obrigação do consumidor. Em muitas cidades brasileiras é frequente as pessoas mais conscientes fazerem a triagem de seu lixo domiciliar e depois constatarem que o caminhão da coleta mistura todos os rejeitos de novo. Isso desmoraliza o processo. É mais um fator institucional, que precisa ser organizado de forma coerente nos municípios por três atores importantes: as prefeituras, os catadores e as empresas.

O senhor concorda com o pagamento de uma taxa sobre os resíduos produzidos pelo consumidor?É polêmico, mas creio que essa deva ser outra responsabilidade das pessoas. Na cidade de São Paulo, a taxa chegou a ser cobrada, anos atrás, e depois foi suspensa. Houve o erro de demonizar essa cobrança, e sua suspensão foi tratada pelos paulistanos como uma vitória da cidadania. Mas a taxa do lixo continua sendo paga, agora embutida no imposto predial e territorial urbano (IPTU). Sem a cobrança explícita, as prefeituras não podem premiar quem faz a separação correta de seu lixo nem oferecer incentivos às pessoas que produzem menos resíduos e promovem a reciclagem.

Quem irá financiar o sistema de logística reversa?Serão os fabricantes e importadores; por isso, agora são chamados de poluidores-pagadores. O sistema já é praticado, de forma eficiente, no Brasil, com pneus, embalagens de óleos combustíveis e de agrotóxicos, além de baterias automotivas. Esses cinco setores privados organizam e pagam os custos da coleta e da reciclagem dos produtos, antes mesmo da nova lei. Em meus tempos de criança, o que mais se encontrava nos rios Pinheiros e Tietê, em São Paulo, eram pneus velhos. Hoje, eles são reciclados. Há uma agência chamada Reciclanip responsável por essa tarefa. No caso das embalagens de agrotóxicos, o setor gasta R$ 80 milhões por ano para organizar sua logística reversa.
A dificuldade maior está em produtos com venda descentralizada e descarte domiciliar.

Quais são esses produtos?
São embalagens em geral, desde latinha de bebida até garrafa PET e caixinha longa-vida. Nesse ponto, a lei quer aguardar o que os respectivos setores têm a dizer. Aí, há uma queda de braço entre fabricantes e governo: a proposta das empresas é apenas auxiliar com recursos financeiros os catadores de rua, oferecendo a eles infraestrutura para melhorar o trabalho e a produtividade.

E só. No entender desses fabricantes, a tarefa de coleta e logística reversa ficaria a cargo das prefeituras, com os catadores.A alegação é de que não é possível ir aos domicílios recolher as embalagens descartadas. Acontece que esse tipo de argumento está enfraquecido. Ao contrário do que propõem no Brasil, essas mesmas empresas se comprometem com o pagamento da logística reversa nos países desenvolvidos.

Essa responsabilidade empresarial deve ser cada vez maior?Sim. A responsabilidade estendida não pode mais ser vista como excesso ambientalista ou exagero. É uma tendência de comportamento das grandes marcas globais. As empresas cada vez mais começam a pensar em sua cadeia de valor como um todo, e a reciclagem faz parte dessa crescente preocupação.

E o caso de pilhas, lâmpadas e eletroeletrônicos, que contêm substâncias tóxicas?A logística reversa de produtos de difícil manuseio e com grande potencial tóxico também será responsabilidade financeira do fabricante ou do importador. Mas ninguém sabe ainda como se organizará a reciclagem. Isso porque a lei brasileira foi sábia em esperar os próprios fabricantes fazerem suas propostas como ponto de partida. O governo está recebendo essas sugestões.

Qual é a tarefa de prefeituras, estados e União com a PNRS?As prefeituras continuarão respondendo pelo recolhimento do lixo domiciliar e, em parte, pela coleta seletiva porque são elas as primeiras responsáveis pelos resíduos gerados em seus municípios. Portanto, se esses resíduos serão recolhidos por organizações de catadores – além do trabalho das empresas de coleta contratadas –, deverá haver um acordo entre as partes constantes nos chamados planos municipais de gestão de resíduos sólidos. O problema é que, pela nova lei, as prefeituras já deveriam ter elaborado seus planos, e, hoje, menos de 10% delas têm eles prontos. Se não o fizerem, deixarão de receber os recursos para organizar seus sistemas de coleta. Isso revela como o poder público está atrasado, porque a base ainda não fez sua lição de casa.

Além disso, por questões legais, municípios com menos de 15 mil habitantes não podem ter aterros sanitários. Portanto, será preciso montar consórcios municipais e criar aterros conjuntos, o que, é certo, trará dois problemas. Primeiro, o orçamento do lixo no país tem a tradição de ser grande financiador de campanhas eleitorais. Assim, é muito difícil partilhar esse orçamento com outras prefeituras, até porque isso só pode ser feito sob absoluta transparência, o que não é o que vigora no Brasil. Segundo, há aquela velha questão do “no meu quintal, não”. Ninguém vai querer um aterro em sua cidade. Resumindo: os consórcios necessários para acelerar essa transição dos lixões para os aterros sanitários ainda estão muito atrasados e será uma grande dificuldade implementá-los. Hoje, no Brasil, pouco mais de 40% de todo o lixo tem destinação inadequada. A grande maioria está em cidadezinhas das regiões Norte e Nordeste do país.

Os estados também terão papel fundamental, mas, assim como as prefeituras, os estados do Norte e do Nordeste ainda não têm planos concluídos. Por fim, o governo federal está implementando a lei, tem recursos destinados para tal, mas o dinheiro está bloqueado, pois a maioria das prefeituras e muitos estados não fizeram a lição de casa. Esse cenário fortalece a tese de que é preciso haver maior responsabilidade do setor privado. Não se pode esperar que o poder público conclua suas pendências com rapidez e facilidade, porque isso não vai acontecer.

Como resolver a questão dos catadores? Melhor tê-los regularizados ou dar a eles atribuições mais dignas?
O melhor é tê-los regularizados. A cidade de San Francisco, nos Estados Unidos, tem 800 mil habitantes e dois mil catadores de resíduos sólidos regularizados e equipados. É um trabalho digno. O serviço ambiental que essas pessoas prestam à sociedade é inestimável. No Brasil, quem faz esse trabalho é vítima das piores formas de exclusão social; por isso, associa-se essa tarefa à degradação, quando não deveria ser assim. Em uma sociedade saudável, em que não há trabalho indigno, é preciso ter uma forma de coleta destinada à reciclagem como a dos catadores.

As associações de catadores estão procurando organizar a categoria, mas a grande maioria deles está na informalidade.

Incinerar lixo para gerar energia pode ser um bom modelo?Estudo recente compara biodigestores e incineradores convencionais. Biodigestores são mais adequados na produção de energia porque funcionam só com resíduos orgânicos, deixando os inorgânicos para reciclagem. É preciso comparar o valor potencial que provém da reciclagem com o valor do que é incinerado para produzir gás e gerar energia. Mesmo que haja vantagem ambiental e econômica em incinerar, não considero como a melhor solução. Queimar resíduos pode ser um estímulo ao desperdício para uma sociedade que ainda cultua o vício do “jogar fora”. Nós, brasileiros, e também os americanos somos sociedades assim. A vantagem de optar pela reciclagem é que esse fator incidirá também na concepção dos produtos. Até agora, não vi nenhum caso no Brasil de empresa que, com base na PNRS, tenha modificado o desenho de seus produtos em função da necessidade de facilitar a separação dos diferentes materiais para a logística reversa.

No Brasil, a quantidade de resíduos aumenta de forma vertiginosa à proporção do crescimento econômico. Como estancar isso?
Com o aumento na renda, a quantidade de lixo também cresceu. Não há orientação na publicidade ou nas políticas de crédito ao consumidor no que diz respeito ao destino do lixo. Dados recentes apontam que cada ser humano consome 10 toneladas por ano de recursos naturais. É a nossa chamada pegada material, e ela só faz aumentar: no início dos anos 2000, foram extraídos 60 bilhões de toneladas de matéria orgânica, minérios e combustíveis fósseis. Em 2008, esse número saltou para 70 bilhões de toneladas. Esses recursos não são infinitos. Se não tivermos inteligência para usar o que foi retirado do planeta, chegará o momento em que não teremos mais de onde tirar
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