sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A Amazônia pode mesmo virar cerrado?

FLORESTA TROPICAL

A Amazônia pode mesmo virar cerrado?

Segundo especialistas, a maior floresta tropical é capaz de resistir com bravura às mudanças climáticas. A questão é até quando

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Bárbara Pereira Libório Exame.com - 
Divulgação

As teorias sobre os feitos das mudanças climáticas e o aquecimento global na Amazônia são muitas. Em 2000, o meteorologista Peter Cox lançou um estudo de grande repercussão, que previa que a Amazônia poderia secar até 2050. A possibilidade foi reforçada anos depois por estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Ong conservacionista WWF.

Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) também considerou que uma área entre 10% e 25% da maior floresta tropical do mundo poderia virar cerrado até 2080.

Segundo Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), membro do IPCC e do Experimento de Larga Escala da Biosfera e Atmosfera da Amazônia (LBA), o primeiro estudo de Peter Cox baseou suas previsões em um único modelo climático que, se considerasse a taxa de precipitação da Amazônia atual, chegaria a um índice 30% abaixo do real.

"Se você propaga essa diferença para um aumento de temperatura de 3 a 4 graus nos próximos 50 anos, você não precisa nem ser modelador climático pra prever o resultado: a floresta morre", afirma o cientista.

FLORESTA É MAIS RESISTENTE DO QUE SE ESPERAVA
Em fevereiro deste ano, outro estudo publicado pela Nature, assinado pelo próprio Peter Cox e por cientistas como o espanhol José Marengo, pesquisador do Inpe, trouxe a tona uma teoria conhecida como "Resilience" ("resiliência", no português).

A pesquisa se baseia em 17 modelos climáticos e explica que os danos originados pelo aumento de CO2 na atmosfera - causado pelo desmatamento e queima de combustível de fósseis - serão minimizados pelo poder fertilizante do dióxido de carbono nas plantas.

Artaxo explica que a Amazônia atua hoje como um sumidouro de CO2 e absorve cerca de 0,9 toneladas de carbono por hectare ao ano.

Não quer dizer que a floresta está imune. O grande risco estudado pelos especialistas é que com as mudanças climáticas e a seca, as plantas entrem em estresse hídrico, deixem de fazer fotossíntese e percam biomassa, liberando carbono. Isso, além de causar um enorme dano à camada de ozônio, faria com que a floresta secasse.

O LBA, durante oito anos, realizou experimentos de exclusão de chuva nas regiões de Caxiuanã e Santarém, na floresta amazônica. Imensos painéis de plásticos foram colocados sobre as copas das árvores para coletar a água que cairia no ecossistema.

A descoberta foi que as florestas dessas regiões são resistentes a uma seca sazonal por um ou dois anos, mas começam a morrer depois de quatro anos. "Elas tem uma resistência natural. Conforme tem uma seca, a planta aprofunda suas raízes e tira água de lugares profundos, mas tem um limite pra elas fazerem isso", afirma o físico.

E quando chega ao seu limite, a floresta começa a perder biomassa. Isso também pode ser comprovado nas secas de 2005 e 2010, onde houve redução significativa na absorção de carbono pelas plantas, o que prejudica seu crescimento. Pior, com a morte das árvores, além de se reduzir a absorção de CO2, uma quantidade extra do gás é liberada na atmosfera pela decomposição.

ATÉ QUANDO A FLORESTA AGUENTA?
O que a teoria da resiliência vem mostrar é que, ainda que os efeitos nocivos das mudanças climáticas levem à liberação de bilhões de toneladas de carbono acumulados em terras tropicais, o dióxido de carbono estimularia o crescimento da floresta, levando a um aumento de até 319 bilhões de toneladas de carbono armazenado até o fim do século. Ou seja, as plantas continuariam acumulando CO2.

O pesquisador José Marengo explica que, dessa maneira, mesmo que a floresta fosse afetada, ela não entraria em colapso a ponto de secar. "Há possibilidades dela se transformar em outro tipo de vegetação", explica.

Mas o cientista deixa claro que a fertilização por CO2 tem limites. "A partir de um certo ponto, o CO2 não ajuda mais no crescimento da floresta", explica. Por isso, o que pode acontecer depois que o nível de dióxido de carbono chegar à sua saturação, ainda é imprevisível. O estudo se baseia em modelos climáticos com cenários até 2100.

Além disso, o estudo tem outras ressalvas. Marengo explica que a pesquisa não levou em conta outros gases do efeito estufa - como o metano -, e a capacidade de absorção de nutrientes do solo pelas plantas, um fator primordial para o crescimento da floresta.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) Paulo Brando também aponta algumas incertezas. "Mesmo com o aumento na concentração de CO2 na atmosfera, o crescimento que árvores pode ser restringido por outros nutrientes, principalmente o fósforo, que é escasso nos trópicos", alerta. Segundo ele, estudos mostraram que o nitrogênio teve esse efeito em florestas temperadas, e o composto é abundante em florestas tropicais.

Ele também conta que não há estudos sobre os efeitos de fertilização de CO2 na dinâmica de florestas tropicais, e que todo o conhecimento sobre esse assunto vem de experimentos teóricos ou realizados em laboratórios. "Os resultados da pesquisa devem ser interpretados como hipóteses interessantes e importantes, mas que devem ser testadas com a utilização de diferentes técnicas", ressalta
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Metalúrgicos agradecem empenho de Garotinho, que garantiu 3 mil empregos em Macaé




No final de novembro fui procurado por um grupo de empresários do setor offshore alertando para uma portaria da ANP (Agência Nacional de Petróleo) que desobrigava a PETROBRAS a manter nas licitações de contêineres um percentual de conteúdo nacional. Em reunião com a Presidente da República alertei sobre a mal fadada portaria da ANP e ela acionou o Ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel solucionando o caso após reunião da qual participaram os empresários, o representante do ministro que veio ao Rio para a reunião e a presidente da ANP. Isso garantiu o emprego de pelo menos 3 mil trabalhadores do setor na cidade de Macaé que perderiam seus postos de trabalho já que do contrário os contêineres seriam comprados da China. No próximo dia 17 estarei em Macaé recebendo uma homenagem de trabalhadores e empresários da cidade. Mas quero registrar com alegria a carta que me foi enviada pelo presidente da Federação dos Metalúrgicos.



Cohousings: vilas comunitárias chegam ao Brasil

ESTILO DE VIDA

Cohousings: vilas comunitárias chegam ao Brasil

Criadas na Dinamarca, as cohousings espalham-se pelo mundo e chegam ao Brasil, pregando um morar leve no planeta e que descomplica a rotina das famílias


Giuliana Capello Casa.com 

Divulgação


É quase um condomínio, no qual cada família tem se espaço privativo. A diferença está na possibilidade de reduzir o tamanho das casas ou dos apartamentos em troca de ambientes usados por todos. Um exemplo é a lavanderia comunitária, em que três ou quatro máquinas de lavar resolvem a demanda de dez ou mais grupos.

Nas cohousings - que surgiram na Dinamarca nos anos 70 e hoje são comuns principalmente na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá -, é assim também com a biblioteca, a horta, a oficina, a brinquedoteca, o refeitório, a sala de TV e, em alguns casos, até os carros. "Compartilhar diminui o consumo e o impacto ambiental, além de facilitar o dia a dia dos moradores, que ganham qualidade de vida, com menos necessidade de trabalho e dinheiro", afirma o arquiteto Rodrigo Munhoz, do escritório Guaxo Projetos Sustentáveis, de Piracicaba, SP.

"Desse modo, as pessoas se sentem mais seguras, num clima de vida no interior, embora tenham acesso a tudo o que a cidade grande oferece", completa Munhoz, que está formando um grupo para criar em sua cidade a primeira cohousing brasileira, com habitações sustentáveis, princípios de boa vizinhança e cotidiano menos dispendioso.

SELO VERDE
Abandonado, o projeto Eastern Village Cohousing, da Eco Housing Corporation, em Silver Spring, nos Estados Unidos, renasceu em 2004 com 54 apartamentos. Recebeu o selo do Conselho de Green Building pela boa performance ambiental, que inclui telhado verde, pátio interno com jardins no lugar do antigo estacionamento e soluções de reúso da água da chuva. Ah, as unidades são aquecidas com energia geotérmica.

CENTRO DE EDUCAÇÃO
Na zona rural de Gillingham, na Inglaterra, o The Threshold Centre organiza cursos para disseminar seu modo de vida partilhado, com alternativas que suavizam os danos ao meio ambiente das 14 residências e dos espaços comuns. Há placas fotovoltaicas, sistema de reaproveitamento de água da chuva para abastecer a lavanderia comunitária e hortas orgânicas. Na vila, inclusive bicicletas e carros são divididos.

VERSÃO COMPACTA
Dezenove apartamentos, um salão de encontros e uma área comercial se distribuem em apenas mil m². É assim que os moradores da Quayside Village, em Vancouver, no Canadá, desfrutam das trocas e facilidades de morar numa comunidade sem perder o que a metrópole tem de melhor. E de uma forma sustentável: reutilizando os materiais das construções originais do terreno e reciclando a água da chuva
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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Capivaras: as intrusas de Belo Horizonte

DESEQUILÍBRIO ECOLÓGICO

Capivaras: as intrusas de Belo Horizonte

Roedores instalados na orla da lagoa da Pampulha se alimentam dos recém-inaugurados jardins do paisagista Burle Marx, que adornam as obras de Oscar Niemeyer

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Natália Martino National Geographic Brasil -

JOÃO MARCOS ROSA

Que liberem a caça de capivaras. A sugestão foi de um radialista de Belo Horizonte. Inflamado, ele discutia um dos assuntos mais comentados na capital mineira: a retirada dos roedores do entorno da lagoa da Pampulha. A principal justificativa é a de que elas se alimentam dos recém-restaurados jardins do paisagista Burle Marx, que adornam as obras de Oscar Niemeyer. Ameaçam um investimento de R$ 4 milhões e o título de Patrimônio Histórico da Humanidade, que a cidade pleiteia junto à Unesco.

"As capivaras têm uma taxa de reprodução alta e repovoam rapidamente o local. Por isso o controle da população precisa ser periódico", explica Leonardo Boscoli Lara, especialista em animais silvestres da Universidade Federal de Minas Gerais. "Existe um desequilíbrioque já deveria ter sido acertado há pelo menos uma década."

A prefeitura vai escolher uma empresa para fazer um plano de manejo e retirar de lá até 90% dos animais. Não são apenas as capivaras que foram negligenciadas nos últimos anos. Os jardins e até a lagoa, que sofre com a poluição, não vinham recebendo os cuidados necessários. Agora, para agradar os técnicos da Unesco, todo esse conjunto recebe atenção especial
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40 dias sem jogar nada fora

ACUMULADOR

40 dias sem jogar nada fora

A experiência deixa claro o quanto consumimos e o tamanho do nosso lixo. E chama atenção para um novo distúrbio psicológico

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Felipe van Deursen
Superinteressante - 

Eduardo Svezia
O lixo da minha vizinha é limpinho. Ainda bem. Abri e fucei a sacola preta que ela põe na lixeira do andar. Embalagens de comida congelada, de itens de cozinha e de banheiro. Eu já tinha tudo aquilo de monte, não me interessava. Precisava só de seis garrafinhas de uma marca de cerveja conhecida. Como sei que ela sempre bebe essa marca, achei que poderia repor minha coleção. Por três dias, ao chegar do trabalho, dava um alô ao lixo da vizinha, com cuidado para não fazer barulho e provocar os estridentes latidos de seus mínimos cães. No quarto dia, consegui: ela tinha se permitido tomar umas a mais na véspera, e eu faturei as garrafas. Agora sim, poderia voltar ao meu acúmulo de objetos. Tudo isso porque vacilei ao ir a uma festa sem levar a mochila que vinha servindo para carregar o entulho particular para casa. Naquela noite, não tive onde guardar as garrafas consumidas e não poderia computar o acúmulo. Quando procurei um segurança para pedir uma sacola, ele fez uma cara petulante, como se pensasse "quem é esse trouxa?".

Passei 40 dias juntando tudo o que ganhei ou comprei, sem jogar nada fora, a não serrestos orgânicos. Juntei um bocado. Não me considero consumista, mas é mais fácil se achar uma pessoa econômica, sustentável e tudo mais quando você deixa de pensar no próprio lixo assim que põe os sacos para fora de casa. Se você passa a juntar tudo o que consome, o cenário muda.
Todo dia, somamos mais de um quilo de dejetos, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Sem essa quantia se acumulando debaixo do mesmo teto em que se dorme, fica mais difícil ter noção do quanto de lixo produzimos. Ao decidir não jogar nada fora, tentei aprender a conviver com a porcalhada pegajosa em casa. Se uma pesquisa do Ibope de 2012 diz que dos brasileiros não faz ideia de onde seu lixo vai parar, agora eu sabia para onde o meu ia: debaixo da pia ou, depois de não caber mais nada, ao lado da cama. Evitava olhar, mas ele estava lá, importunando olhos e narizes de quem chegasse perto.

LIXO DE EMERGENTE
A Abrelpe diz que em 2012 as cidades brasileiras geraram quase 64 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Lixo é decorrência de consumo, e consumo é termômetro de a quantas anda uma economia. De modo geral, quanto mais rica uma população, mais poder de consumo ela tem, logo mais lixo ela produz. Noruegueses, americanos, suíços e neozelandeses superam os 2,5 kg diários de lixo per capita. A taxa do Brasil, apesar do enriquecimento do País, ainda é menos que a metade disso. Há dez anos, nossa geração de lixo por habitante era de 955 g. Desde então, a população cresceu cerca de 10%, e o volume de lixo subiu 21%. Sinal do aumento do poder de consumo, graças especialmente às 40 milhões de pessoas que engrossaram a classe média no período. Com isso, dá para sentir o aumento do rastro de bandejas de carne, caixas de leite e sacolas de shopping no caminho. Efeito colateral do enriquecimento.

Consumir faz parte da vida, lindo. Mas precisa tanta embalagem? Fora isso, alguns produtos poderiam ter seu design repensado. Por que escovas de dentes não têm refil, para repor as cerdas gastas? Outro exemplo: dos 7,5 cm de um cotonete comum, 5 cm são a haste de plástico, que poderia ser usada de novo. Mas vai tudo para o lixo (embora eu tenha lavado e, bem, ele fica parecendo um inútil gnomo molhado). Há os excessos de pequenas embalagens, também. Quando fui almoçar em um restaurante japonês, os palitos vieram embrulhados em papel. Ao comer no trabalho ou na rua, se fosse "levar para viagem", invariavelmente eu ganhava de brinde dezenas de guardanapos - às vezes embalados. E sempre muito mais do que precisava, a não ser que fosse alimentar um filhote de urso. Canudos, então... Em todas as ocasiões me deram mais de um. A maioria embrulhada. Por que preciso de três canudinhos? Por que embalados?

Higiene, economia, preservação. Existem motivos para as embalagens existirem, é claro. E também existem profissionais especializados em buscar melhorias nelas, para que sejam mais úteis e menos dispendiosas. Enquanto isso, nós seguimos comprando e consumindo. A Associação Brasileira da Indústria do Plástico prevê que cada pessoa no Brasil consumirá 46 kg de plástico em 2015. Um aumento que acompanha a escalada global. Em 1950, a produção mundial de plástico era de 1,5 milhão de toneladas, coisa à toa. Atualmente, são 265 milhões de toneladas por ano. Com essas e outras, nós chegamos a bizarrices como a ilha de plástico do Pacífico, uma monstruosidade sem tamanho definido, com uma área maior que o Estado de Minas Gerais nas estimativas mais humildes. Um lixão formado pelo encontro mundial de pedaços pequenos da turma do polietileno: garrafas PET, tampinhas e sacolas, entre outros.

EMBRULHOS E ENTULHOSEmbalagens são um símbolo do consumismo. É algo que ficou mais claro nos anos 70, lembra Carlos Anjos, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp. Na época, surgiram os grandes supermercados e os sistemas de pegue-pague e self-service. "As mercadorias deixaram de ser vendidas a granel", diz. Foi a explosão dos saquinhos.

Nos últimos anos, tem gente querendo reverter esse lado menos útil e agressivo das embalagens. A maioria ainda são protótipos ou ações temporárias, mas já mostram um caminho. A Wikipearl, uma loja de Paris, vende sorvetes e iogurtes sem nenhumaembalagem plástica. Seus produtos vêm envoltos em uma tecnologia desenvolvida pelos criadores da empresa, que consiste em uma película feita de partículas naturais de comida que não absorve sujeira. Uma embalagem comestível, em suma. A Natura lançou uma linha de produtos cujas embalagens têm 70% menos plástico. Ano passado, o Bob’s embalou seus sanduíches com papel comestível. Todo ano, designers do mundo todo são premiados por criações que reduzem o desperdício, como o sul-coreano Yeong Keun Jeong, que inventou uma embalagem de manteiga com tampa em forma de faca. Mas são medidas pontuais. Ainda falta muito para termos embalagens mais inteligentes e funcionais em grande escala.

O lixo nosso de cada dia assusta, ainda mais quando não se abre mão dele. Foi o que ocorreu comigo. A mesa no trabalho ficou impraticável com tantos papéis e copinhos de uma água escura e doce que uma máquina no fim do corredor oferece como café. Não encontrava livros sob meus escombros. No 23º dia, a faxineira do andar levou uma bronca de seus superiores por, visivelmente, ter abandonado uma das mesas da redação da SUPER. Na verdade, ela só estava respeitando o aviso "por obséquio, não retire o lixo nem de cima nem debaixo da mesa". Tudo foi resolvido. Após os devidos esclarecimentos, meus dejetos e o emprego dela estavam a salvo.

Só que meu lixo (e o seu e o de todo mundo) é, por incrível que pareça, ridiculamente pequeno perto do que outros setores provocam. O especialista em resíduos sólidos Maurício Waldman, autor de Lixo: Cenários e Desafios, diz que o lixo urbano, aquele acumulado pelas cidades e seus habitantes, representa só 2,5% dos detritos mundiais. Os grandes sujadores do planeta são pecuária, mineração e agricultura. Há uma interseção de geração de lixo entre os setores, por isso a soma dá mais de 100% (veja mais ao lado). Mas como uma fazenda pode causar tanto estrago? Os dejetos dos 7,9 milhões de porcos de Santa Catarina poluem quatro vezes mais que o cocô de todos os brasileiros juntos. E uma mineradora? "Cada parte de ouro gera 5 milhões de partes de resíduos", diz Waldman. "Quem compra aliança pensa na montanha de lixo envolvida?". Por isso que, ao olhar para trás e analisar toda a cadeia de produção, especialistas dizem que cada saco de lixo que geramos representam 60 sacos produzidos anteriormente. Os meus seis grandes sacos de lixo representam, então, 360. O grosso do lixo pode estar longe da cidade, mas ainda é nosso. E, com tanto consumo, criamos um distúrbio psicológico.

A NOVA DOENÇATodo mundo é consumidor. Muitos são consumistas. E há os acumuladores compulsivos, uma das novas doenças descritas no DSM-5, o manual da Associação Americana de Psiquiatria, publicado no primeiro semestre.

O distúrbio, até então, era um subitem do transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Mas uma série de estudos mostrou diferenças entre eles, e agora os especialistas passam a vê-los de maneira separada. Acumuladores compulsivos são pessoas que juntam de maneira patológica objetos de tudo que é tipo. Há os acumuladores de roupa, de lixo e até de gatos. Eles não são colecionadores, pois não fazem a catalogação dos objetos típica de quem coleciona. Acumuladores não têm controle sobre suas coisas. Os pertences ocupam cômodos inteiros e influem drasticamente na vida deles. Muitos são abandonados pela família por não se livrarem de nada. Outros viram questão de saúde pública.

Todo esse problema está ligado a um distúrbio cerebral que deixa a capacidade de tomar decisões extremamente complicada. Sim, pode ser difícil para qualquer um se desfazer de algo. Mas, para essas pessoas, é quase impossível. Dói. Eles nunca sabem quando vão precisar daquilo, se jogam fora ou não, se vão ou não se arrepender. Então, postergam, deixam para decidir em um dia que nunca chegará. "Muitas vezes, o indivíduo sente uma necessidade de comprar objetos associada a uma sensação de culpa", diz o psiquiatra Eduardo Perin, do Consórcio Brasileiro de Pesquisa em TOC.

Existem relatos de acumuladores compulsivos desde o século 14, mas eles nunca estiveram tão em evidência. A abundância de objetos baratos e acessíveis talvez tenha transformado isso em um dos grandes distúrbios do nosso tempo, dizem os especialistas Randy Frost e Gail Steketee em Stuff ("coisas", sem edição no Brasil). Segundo o livro, nos Estados Unidos, há 40 anos, quase ninguém alugava depósitos externos para guardar objetos que não cabem em casa. Hoje, essas áreas ocupam o equivalente à cidade de Vitória, no Espírito Santo: 93 km2 servindo unicamente para acumular posses.

Os EUA têm duas vezes mais shoppings que escolas. Para os autores, é difícil desvencilhar isso do fato de os acumuladores compulsivos terem ganhado mais destaque: entre 2 e 5% da população americana tem a doença. Existem pouquíssimos dados a respeito no Brasil, mas se ela realmente estiver ligada ao comportamento consumista de uma sociedade, como já se vê nos EUA, estamos nesse caminho.

Alguns pesquisadores já começam a citar outro tipo de acúmulo. "Estamos nos transformando em acumuladores digitais", diz Russell W. Belk, especialista em consumismo e professor da Universidade York, no Canadá. "Músicas, e-mails, fotos...". Para ele, é uma forma de entulho que incomoda menos, já que não ocupa espaço físico, mas que não deixa de ser acumulismo. E a internet proporciona muito mais que posses virtuais, é evidente.

Nas três compras online que eu fiz em 40 dias, por exemplo, juntei uma quantidade considerável de papelão, papel, plástico e isopor. Em uma delas, um pote resistente veio todo envolto em plástico-bolha, como se fosse de vidro. Um desperdício. Pagamos o conforto de receber em casa com mais embalagens e mais lixo, talvez mais que o necessário para um transporte seguro.

Mas, para falar a verdade, eu estava menos preocupado com o excesso de papelão e plástico das grandes varejistas online do Brasil do que com a possibilidade de algum rato aparecer no meu quarto. Por mais que não houvesse comida e eu lavasse tudo, as embalagens ainda guardavam uma fração daquilo que preservaram um dia, quando reluziam em uma gôndola ou vitrine. Era uma lembrança nada cheirosa de seu passado recente.

Em um mês, meu banheiro estava impregnado com um cheiro forte de charuto misturado com jornal velho e margarina. Nenhum animal nojento foi visto em meus domínios, ufa, embora tenha recebido um ou outro olhar de estranheza ao viajar de ônibus com uma sacola de lixo. Virei motivo de piada para meus amigos e colegas de trabalho. Fui apelidado de lixão e rainha da sucata. Meus primos perguntaram se virei catador.
Não sou acumulador compulsivo, então se livrar do lixo não foi um dilema. Mas percebi que sou muito mais consumista do que achava. Ganhei ou comprei 20 livros, ainda não li nenhum deles e dificilmente me livrarei de algum em pouco tempo - curioso como acumuladores de livros não são vistos com maus olhos. Em vez disso, folheei um romance inspirado na história real de dois irmãos americanos do começo do século 20, excêntricos e milionários, os Collyer. Um deles, Langley, acabou virando, provavelmente, o acumulador compulsivo mais famoso dos EUA. A história é trágica. Após décadas acumulando objetos tão díspares como jornais, pianos e um Ford T em sua mansão, Langley foi encontrado morto pela polícia, preso entre uma cômoda e uma cama. Ratos já haviam comido parte do seu rosto. A causa da morte foi igualmente triste e estranha. Ele foi soterrado pelos seus próprios objetos. Foi morto pelo seu lixo.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sistema gera energia e dessaliniza água do mar

Sistema gera energia e dessaliniza água do mar

Vanessa Daraya - Info.com - 

Carnegie Wave Energy



Um grupo de australianos criou um tipo diferente de dispositivo capaz de dessalinizar a água do mar. O método promete gerar energia sem emitir gases poluentes e ainda deixar a água sem sal.

A tecnologia, chamada CETO, está sendo desenvolvida pela Carnegie Wave Energy Limited. O sistema é diferente porque opera debaixo da água e fica ancorado no fundo do oceano. Várias boias submersas ficam amarradas a bombas no fundo do mar.

As boias se movem com a oscilação das ondas do mar. As bombas pressurizam a água, que é entregue a terra por meio de um tubo que também fica debaixo da água. Já na praia, essa água é usada para acionar turbinas hidrelétricas, em um processo que gera eletricidade comemissões zero de poluentes.

Essa água também pode ser usada para abastecer uma usina de dessalinização porosmose reversa. Esse processo acontece quando o solvente se desloca no sentido da solução mais concentrada para a menos concentrada, isolando-se assim, o soluto. Isso permite, portanto, que a água doce vá sendo isolada do sal até transformar a bebida em algo potável.

Segundo a empresa, o sistema não prejudica o meio ambiente e tem o mínimo impacto visual por ser submerso. Isso também evita que o equipamento seja afetado por tempestades ou sofra pelo movimento de quebra das ondas.

A empresa afirma que o sistema é a forma mais eficiente e de baixo custo para dessalinizar a água doce a partir da energia das ondas. Não precisa enviar eletricidade para a costa e depois convertê-la em energia mecânica para bombeamento, o que implicaria em perdas de eficiência e custos adicionais para equipamentos e manutenção

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LIXO:Uma montanha que só cresce

Uma montanha que só cresce

O consumo em alta produz cada vez mais lixo. Com isso, os aterros operam no limite. Entre as soluções viáveis estão a reciclagem e a logística reversa.

Foto de Victor Moriyama
Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), foi o maior depósito de rejeitos da América Latina por 34 anos. O lixão foi fechado em junho de 2012

Nos últimos anos, com certeza ficamos mais ricos. A afirmação do engenheiro Nelson Domingues, presidente da Ecourbis Ambiental, uma das concessionárias responsáveis pela coleta de lixo na cidade de São Paulo, vem acompanhada de preocupante constatação. "Lixo é reflexo de poder aquisitivo e consumo. Pela quantidade e pelo tipo de resíduo gerado, é possível ter uma noção da economia de uma cidade", explica Domingues.

Enquanto diz isso, estamos no topo de uma verde colina, de quase 160 metros de altura, a cerca de 30 quilômetros do centro de São Paulo, na divisa com os municípios de Mauá e Santo André. Do alto do morro, pisando na grama, assistimos ao voo de carcarás, quero-queros, bem-te-vis, falcões peregrinos, entre outras aves. Mas não estamos em nenhuma área preservada da Mata Atlântica. Sob nossos pés há enterradas 29 milhões de toneladas de lixo. "Isso nos faz refletir sobre nossos hábitos e sobre a sociedade de consumo em que vivemos", observa o engenheiro.

Equivalente à altura de um prédio de 40 andares, essa "montanha", com uma área 500 mil metros quadrados, é o aterro sanitário desativado Sítio São João. De 1992 a 2009, ele recebeu uma média de 175 mil toneladas de lixo por mês, geradas por 4,5 milhões de pessoas (que habitam 1,2 milhão de domicílios) das zonas sul e leste da capital paulista. Mesmo fora de operação, o que está abaixo de nós continua vivo. A relação entre o que compramos, levamos para casa e consumimos, ainda que efêmera, não se encerra nos grandes sacos pretos ou azuis em que colocamos o que sobrou nem quando os caminhões de coleta passam pela rua. "Os resíduos não desaparecem em um passe de mágica. Por causa da decomposição, são necessários monitoramento e controle geotécnico do aterro 24 horas por dia, pelos próximos 30 anos, para que não haja contaminação do solo, do ar e do lençol freático", explica Domingues. Marcos georreferenciais mostram a movimentação do solo e medidores indicam a pressão e a temperatura interna do aterro. Da deterioração dos resíduos ali depositados são drenados cerca de 21 milhões de litros de chorume (líquido proveniente da decomposição de matéria orgânica) por mês, um pouco menos da metade em relação à época em que o aterro estava em atividade. Além disso, 20 mil metros cúbicos de metano são extraídos por hora para gerar energia na maior usina termoelétrica do país, a Biogás. Ela funciona desde 2007 e por ano produz 200 mil megawatts, suficientes para abastecer uma cidade de até 400 mil habitantes.

Como São Paulo - maior metrópole da América do Sul e a décima cidade mais rica do planeta - não para de crescer e de gerar lixo, soluções e espaços para aterros precisam ser criados para destinar as atuais 18 300 toneladas de resíduos geradas todos os dias. A cada dia, um paulistano produz cerca de 1,5 quilo, segundo dados da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb). Cerca de 12 mil toneladas diárias se originam nos domicílios (residências, condomínios e escritórios) e nas 871 feiras livres, realizadas todos os dias. O restante é resultado da varrição de ruas, do recolhimento de entulho descartado nas vias públicas e dos serviços de manutenção da cidade. Para dar conta de parte disso, ao lado do Sítio São João, desde 2010 opera a Central de Tratamento de Resíduos Leste, um aterro sanitário (veja as principais diferenças entre lixão, aterro sanitário e aterro controlado, no infográfico O Mapa do Lixo), com 1,1 milhão de metros quadrados, que, de segunda a sábado, recebe a visita de 250 caminhões - cada um deles deposita cerca de 30 toneladas de lixo. Estima-se que o aterro já tenha atingido um total de 7 milhões de toneladas e, segundo os especialistas, o fluxo não deve parar pelos próximos dez anos. "Esse aterro recebe pouco menos da metade do total de resíduos recolhidos em São Paulo", diz Silvano Silvério, presidente da Amlurb.

É preciso percorrer 35 quilômetros, a partir do centro da capital paulista, para se chegar ao maior aterro sanitário da América do Sul, localizado em Caieiras. Destino do lixo criado por quase 6,5 milhões de pessoas que residem no centro e nas zonas norte e oeste de São Paulo, a Central de Tratamento de Resíduos Caieiras, administrada pela concessionária Loga, ocupa uma área de 3,5 milhões de metros quadrados e tem capacidade para receber 36 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Quando foi aberta, em 2002, esperava-se que ela operasse até 2020, mas já recebeu 15 milhões de toneladas de lixo - média de 7 mil toneladas por dia. "O que temos agora não será suficiente no futuro, já que 98% dos resíduos sólidos vão para os aterros da cidade. A quantidade crescente de lixo tem reduzido os anos de vida útil dos aterros sanitários. Além disso, torna-se cada vez mais difícil achar outros espaços e os custos para a instalação de novos aterros aumentaram muito", alerta Silvério.

Segundo ele, os recursos necessários são proporcionais ao tamanho do problema. Em São Paulo, por exemplo, em 2013, o orçamento destinado à limpeza urbana foi de R$ 1,8 bilhão (aumento de 20% em relação a 2012). Ainda assim, o gasto per capita anual de R$ 73,63 do paulistano com limpeza urbana é bem inferior ao de outras metrópoles do mesmo porte, como Tóquio (R$ 1 036,48), Cidade de México (R$ 632,32) e Nova York (R$ 239,56).

Na capital paulista, todos os dias, um exército, formado por 3 200 pessoas a bordo de 500 caminhões, percorre uma área de 1 523 quilômetros quadrados, para coletar o lixo domiciliar ao menos duas vezes por semana durante o dia ou à noite. "Nos últimos dez anos, o lixo aumentou muito por causa dos condomínios e dos edifícios: onde antes havia uma casa, agora tem 100 ou mais", conta Odon Barbosa da Silva, de 57 anos, motorista de caminhão de coleta há 31, enquanto percorre as ruas do bairro da Vila Mariana, zona sul da capital. Seu turno, que é em média de seis horas de trabalho, começa às 5h30, na garagem da companhia, em Capão Redondo, extremo sul da cidade. O veículo que dirige, um caminhão compactador de 8 metros de comprimento e seis marchas, tem capacidade para 12 toneladas. Ele trabalha seis dias por semana e, em geral, faz de três a quatro viagens da área que deve percorrer até o local em que deixa o lixo coletado. "As segundas-feiras são os piores dias, porque o lixo se acumula no fim de semana. Após o Dia das Mães ou dos Pais e em dezembro, por causa do Natal e do Ano-Novo, faço até cinco viagens por dia", diz Odon.

Seu colega Antônio Clemente da Silva, de 39 anos, coletor há mais de 20, acrescenta: "As pessoas não se dão conta da correria que é limpar uma rua de 150 metros de comprimento em menos de um minuto. Temos de ser rápidos ou somos xingados pelos motoristas dos carros, que reclamam de o caminhão segurar o trânsito". De fato, pouca gente nota o impressionante esforço físico empregado nessa atividade. Segundo alguns especialistas, ele é comparável a um treino de crossfit, atividade em moda nas academias que une ginástica, levantamento de peso e corrida. Cada coletor percorre, por turno, entre 20 e 30 quilômetros, fora o peso dos sacos lançados na caçamba. Nos dias quentes, cada profissional perde até 2,3 quilos pela transpiração.

"Para trabalhar como coletor, é preciso passar por uma avaliação física rigorosa a cada seis meses. Quando um deles retorna de férias, não é incomum que volte com até 5 quilos a mais, o mesmo que acontece com um atleta de alto desempenho", explica Walter de Freitas, superintendente de operações da Ecourbis. Embora existam coletores de até 60 anos nas ruas de São Paulo, segundo Freitas, o perfil desejado nas triagens de admissão é de homens no ápice do vigor físico, que tenham entre 20 e 30 anos de idade, meçam de 1,70 a 1,80 metro e pesem entre 60 e 80 quilos.

O esforço desse exército é só o primeiro passo do processo, já que o serviço não acaba na hora em que o caminhão compactador se enche. Como os aterros ficam distantes, o lixo precisa ser levado a um local de apoio logístico, os chamados transbordos - os primeiros pontos de parada depois que os sacos são deixados fora de casa. Em São Paulo há três. Um fica na zona sul. Entre os prédios da vizinhança, o Transbordo Vergueiro, aberto em 1978, quase não é notado, mas movimenta até 2 100 toneladas diárias. Após um dia de trabalho, cerca de 175 caminhões despejam, em um fosso de 1 400 metros cúbicos, o lixo coletado nas regiões vizinhas. A seguir, uma ponte rolante com um braço mecânico transporta os resíduos para imensas carretas, que o levam ao aterro mais perto. Por dia, saem do transbordo cerca de 70 carretas vedadas com lonas escuras para que o lixo não incomode a vista de ninguém. Cheira mal? Não. Ele é disfarçado por meio de 3 mil litros de solução neutralizadora de odor perfumado, borrifados todos os dias.

O que se vê em São Paulo é reflexo da realidade brasileira. Nas outras 26 unidades da Federação, a quantidade de resíduos também explodiu. Calcula-se que, hoje, o Brasil seja o quinto maior gerador de resíduos sólidos urbanos do mundo. Em 2012, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), produzimos cerca de 62,7 milhões de toneladas - 1,2 quilo por pessoa ao dia. É muito se compararmos com a Índia, outro país emergente. Lá, cada cidadão gera 0,6 quilo/dia (metade do que produzimos). "O que mais preocupa no Brasil é saber como as tendências de consumo vão afetar o futuro, pois a geração de lixo cresce à mesma proporção do poder de compra da população", diz o grego Antonis Mavropoulos, CEO da consultoria em resíduos sólidos D-Waste e chefe do comitê científico e técnico da Associação Internacional Solid Waste, entidade independente que promove sustentabilidade no tratamento de resíduos em mais de 90 países.

A conta é simples. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos países emergentes, o avanço de 1% no poder de compra da população corresponde a um aumento de 0,69% na geração de resíduos. No Brasil, entre 2003 e 2012, o volume anual de resíduos cresceu 21%, acompanhando, bem de perto, a variação do PIB per capita no mesmo período, de 20,8%. A manter-se esse cenário de ascensão de uma nova classe de consumidores, aumentará, na mesma intensidade, o volume de recursos necessários para gerir os resíduos. O Brasil é, hoje, o maior consumidor mundial de cosméticos, segundo maior de cerveja, terceiro de computadores, quarto de carros e motos e quinto de calçados e roupas. "Até 2020, seremos o quinto maior mercado mundial. O que faremos com o que for descartado?", questiona Sabetai Calderoni, professor de economia e meio ambiente na Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Os Bilhões Perdidos no Lixo (Editora Humanitas). "Quando falamos de resíduos, os interesses são enormes, pois significa que todo o processo de produção industrial, comércio, serviços e tudo o que há na economia, mais dia menos dia, vai parar no lixo", observa Calderoni. 
O mapa do lixoA gestão dos resíduos é um dos maiores desafios das cidades brasileiras. Muito do que é gerado poderia ser reciclado, mas, infelizmente, não é o que acontece. Além disso, há no país muitos lixões, a prática menos recomendada. Veja o infográfico para entender o caminho do lixo. Ilustrações de Bruno Algarve.

A destinação inadequada do que se joga fora é outro grande problema. No momento, 60,2% dos 5 565 municípios brasileiros enviam tudo ou parte do que é coletado aos lixões ou aterros controlados. Em 2012, foram cerca de 23,7 milhões de toneladas de lixo (42% do total). Outras 32,7 milhões de toneladas (ou 58%) foram despejadas em aterros sanitários. Manter um aterro desses tipos, porém, é dispendioso - o que o torna impeditivo aos pequenos municípios. No Sítio São João, em São Paulo, por exemplo, calcula-se que R$ 190 milhões já foram investidos desde 2004. "Ocorre uma concorrência desleal entre o lixão, que é gratuito, e os aterros sanitários, uma tendência ainda cara", aponta Carlos Silva, diretor executivo da Abrelpe. Segundo ele, gastam-se entre R$ 60 e R$ 65 por tonelada aterrada em espaços seguros. "E esse preço é mantido de forma muito arriscada, embora os custos com mão de obra e equipamentos tenham aumentado. É preocupante, pois um aterro sanitário mal administrado se torna, com facilidade, um lixão", ressalta. Segundo a entidade, entre mão de obra e infraestrutura, seriam necessários R$ 884 milhões para universalizar a coleta e mais R$ 5,8 bilhões para que todos os municípios dispusessem de aterros apropriados.

Nesse cenário, a meta do governo federal parece ambiciosa: extinguir todos os lixões e aterros controlados até agosto de 2014. Espera-se atingir esse objetivo por meio daPolítica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (leia entrevista com Ricardo Abramovay). Entre os mecanismos previstos na regulamentação, exige-se de cada cidade planos de gestão para os resíduos sólidos que incluam, além da destinação para aterros sanitários, a coleta seletiva de recicláveis para que só uma fração daquilo que não pode ser aproveitado chegue a esses destinos.

"Como a lei não trata só de definir prazos, mas de uma mudança de comportamento, de direitos e deveres, uma preocupação no conceito da política é a responsabilidade compartilhada no pós-consumo. Ou seja, cuidar do que é descartado não será atribuído só aos municípios, mas também aos empresários e à sociedade", afirmaIzabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente. "O projeto de lei da PNRS demorou 21 anos e quatro mandatos para ser aprovado. O grande ganho é que, pela primeira vez, temos uma estratégia para a questão em âmbito nacional. Muita coisa poderá ser alcançada se for considerado que as 300 maiores cidades do país geram 80% de todo o lixo produzido no Brasil", destaca a ministra.

Parte disso pode gerar novos recursos ou ser reaproveitada. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 31,9% do lixo recolhido por ano no Brasil (cerca de 18 milhões de toneladas) é composto pela chamada fração seca: plástico, papel, metal e vidro. "Fazer com que essa fração seca retorne à cadeia produtiva e ao mercado é o grande desafio do modelo de responsabilidade compartilhada adotado no Brasil", diz Fábio Feldmann, ambientalista e, quando deputado federal, autor do projeto de lei que originou a PNRS.

Uma projeção realizada pela LCA Consultores, com base nos dados do Ipea e associações empresariais, revela que, no Brasil, em 2012, apenas 27% dos resíduos recicláveis foram recuperados para novo uso. Falta muito ainda para chegarmos ao índice da Alemanha, líder mundial no setor - lá, reaproveitam-se 48% dos resíduos. "Em alguns países, adotou-se um modelo de responsabilidade estendida, no qual fabricantes e setor empresarial são os únicos responsáveis pelos resíduos criados com base em seus produtos e serviços", comenta Feldmann, que também foi secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo entre 1995 e 1998.

Na PNRS, porém, ainda não está claro como a indústria fará isso e quais serão os estímulos dados pelo governo. "Articulação entre os diferentes setores da indústria e viabilidade econômica, como está previsto na lei, não são problemas pequenos para se implantar a chamada logística reversa. Uma latinha tem uma lógica de reinserção na cadeia produtiva bem diferente de uma geladeira", diz Victor Bicca, presidente do Compromisso Empresarial para a Reciclagem, associação que reúne várias empresas, como Tetra Pak, Carrefour, Nestlé, Ambev, entre outras. Segundo ele, a informalidade no processo de triagem dos resíduos sólidos secos e a necessidade de uma reforma tributária são os principais entraves para as indústrias criarem formas de produção com base nos pilares de prevenção de geração, redução e reutilização previstos na PNRS.

"Nos ciclos de alguns produtos, o material reciclável, do catador ao começo do processo, passa por até três intermediários para ganhar escala - tudo de maneira informal, sem nota de prestação de serviços ou contabilidade -, o que também revela um problema de falta de mão de obra. Apenas na quarta ou quinta venda, isso ocorre de maneira formal, com volume suficiente para a indústria aproveitar", revela o executivo. O que impacta nos custos. "Em alguns casos, esse processo faz com que o material virgem custe menos que o reaproveitado. Além disso, pagam-se os mesmos tributos duas vezes, como o imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) e a contribuição para financiamento da seguridade social (Cofins) para usar a mesma matéria-prima. A redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) em artigos fabricados com material reciclado comprado de cooperativas que fazem coleta seletiva seria um incentivo fiscal útil", comenta Victor Bicca.

Um bom exemplo de reciclagem no Brasil é o que ocorre com as latinhas de alumínio: 98,3% delas são recuperadas. Com outros materiais, porém, como papel e PET, são mais complicados, porque o valor agregado à embalagem recuperada não remunera toda a cadeia envolvida. É o caso do vidro incolor, cujo preço da tonelada reciclável é o menor entre os resíduos sólidos - de R$ 30 a R$ 100 -, mas há apenas quatro grandes centros de reciclagem no país - em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife.

Como o problema da gestão do lixo está diretamente relacionado ao consumo, há quem acredite que a política nacional é uma ótima oportunidade para redesenhar como são oferecidos os produtos e serviços. É o caso do bioquímico Mateus Mendonça, consultor da Giral Viveiros, que, nos últimos sete anos, tem criado programas de gestão inclusiva de resíduos e reciclagem para gigantes da indústria, como Votorantim, distribuidora de bebidas Diageo e Natura Cosméticos. "Em geral, o consumidor paga pelo produto e por sua embalagem. Mas, se a simples venda da embalagem após o consumo não remunera o serviço de sua recuperação, precisamos pensar em novas formas de negócio", diz Mendonça. "Por que vender uma geladeira nova e não apenas seu sistema de refrigeração? Eu poderia muito bem ter incluído nos custos o aluguel da plataforma física", comenta.

Seria uma saída interessante. O maior problema, porém, ainda reside na cultura do consumo desenfreado, sem que as pessoas se conscientizem de que os recursos utilizados na produção de todos os bens são finitos. Onde vamos parar? Calcula-se que, até 2030, em todo o mundo, serão aterradas cerca de 3 bilhões de toneladas de resíduos, uma quantidade supervaliosa de material que não terá todo seu potencial aproveitado e, um dia, terminará em imensas montanhas de lixo como a do Sítio São João, em São Paulo.

Para responder à pergunta, a pequena cidade de Houthalen-Helchteren, na Bélgica, lançou um projeto inovador. Lá, um aterro fechado na década de 1980, com 16,5 milhões de toneladas de resíduos, começou a ser escavado. "Esperamos reciclar até 45% do que está lá e converter o restante em energia suficiente para abastecer 100 mil casas por mês", conta Patrick Laevers, diretor do Machiels Group, a proprietária do local. "Na Europa ocidental, não há mais espaço para a exploração de matérias-primas, como carvão, gás natural, petróleo, ferro e cobre, exceto pelo que foi importado e agora está esquecido nos aterros. Não há outra escolha a não ser trazer tudo aquilo de volta", diz Laevers. No Brasil, ainda não se pensa nisso, mas pode ser uma ótima solução para um futuro próximo. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Alívio de carga

SINAL VERDE

Alívio de carga

Empresas apresentam novas soluções para resolver um problema dos elétricos: o tempo de recarga das baterias

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André Paixão Quatro Rodas - 12/2013
Divulgação

Abaixa autonomia e o alto tempo necessário para a recarga das baterias são dois fatores que dificultam a viabilidade dos carros elétricos. Montadoras e sistemistas trabalham em novas tecnologias para reduzir o tempo de recarga e aumentar a quilometragem percorrida antes de chegar à próxima tomada. A mais recente dela é a da Volvo: peças do carro regarregáveis pelo sol. Alguns componentes da carroceria, como portas, tampas de porta-malas e até o capô, foram confeccionados com fibra de carbono, material mais leve que o metal. Conectados a geradores por meio de capacitores integrados, essas peças funcionam como painéis solares que ajudam a alimentar as baterias.

O conjunto de peças de carbono é uma alternativa às pesadas baterias de íons de lítio, reduzindo o peso do carro em 15%, além de oferecer outras vantagens, como maior resistência a quebras e deformações e menor custo de produção. O desenvolvimento da tecnologia levou três anos e meio e contou com investimentos da União Europeia e do Imperial College, de Londres. Os testes já estão sendo feitos em um protótipo do sedã S80, mas ainda não há previsão para o início da comercialização.

Outra solução vem dos Estados Unidos. A empresa Hevo criou um carregador sem fio que ocupa o lugar de uma tampa de bueiro, capaz de recarregar os veículos estacionados sobre ele por ressonância. Para se conectar ao sistema, o veículo deve ter instalado um receptor compatível com o aparelho. O usuário recebe a conta da recarga pelo smartphone, por meio de um aplicativo que faz o gerenciamento do consumo. É possível até utilizar planos de uso, algo semelhante ao que há hoje no celular pré-pago. Ainda em testes, essas "tampas" serão instaladas nas ruas de Nova York em 2014 e os primeiros usuários serão duas unidades de Smart elétrico
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Projeto obriga condomínio a individualizar hidrômetros

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Laércio Franzon
As tarifas dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário deverão ser cobradas individualmente dos consumidores nos condomínios residenciais. Isso é o que determina projeto de lei, de autoria do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), que está pronto para ser incluído na pauta de votações da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).
Na justificação de sua proposta (PLS 179/2006), Raupp observa que a cobrança das tarifas do modo como se dá atualmente, baseada no consumo total do condomínio e repartidas entre os condôminos na proporção de suas frações ideais, dá origem a uma distorção pela falta de correlação entre os valores das contas de água e o consumo de cada unidade residencial, sendo importante fator de incentivo ao desperdício.
No mesmo sentido, em seu relatório favorável à proposta, o senador Paulo Bauer (PMDB-SC) chama a atenção para o fato de que, na ausência de equipamento de medição individual, ocorrem muitas injustiças na cobrança das tarifas, como por exemplo o caso de um pessoa que more sozinha ter que desembolsar a mesma quantia de uma família com muitos integrantes.
“Quando a água do condomínio não é cobrada conforme o consumo de cada unidade, é grande o incentivo ao desperdício, já que um consumo maior (banhos demorados, torneiras abertas, tubulações sem manutenção etc.) não corresponde a um aumento equivalente na tarifa cobrada. A medição e a cobrança individualizadas pelo consumo, além de criarem um incentivo para se economizar água, promovem uma adequada alocação do custo desse bem”, argumenta Paulo Bauer.
O projeto tem relatórios favoráveis à aprovação também na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR).